Say Something escrita por thaismsouza


Capítulo 1
When She Leaves


Notas iniciais do capítulo

Aconselho ler a fic com a música de fundo, ela foi minha inspiração enquanto eu escrevia. http://www.youtube.com/watch?v=-2U0Ivkn2Ds
Desculpa se tiver algum erro, eu fiz um 2 horas e nem revisei direito :/
Espero que curtam.



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Recostado em sua poltrona ele encarava o nada. As mãos posicionadas em forma de prece em baixo do queixo, como de costume, o olhar vago e o seu palácio mental se tornaram mais habituais e presentes nos últimos dias.

Ele não conseguia parar de pensar.

Pela primeira vez as portas do apartamento B em 221 Baker Street estavam trancadas. Ele não permitiu ninguém mais entrar ali. As pessoas só iriam lhe atrapalhar ou provavelmente lhe julgar. Iriam apontar cada erro que ele cometeu e lhe acusar de estragar tudo. Era o que John iria fazer, Sherlock não tinha dúvidas disso! Era o que ele já tinha o feito quando passou por lá na ultima semana.

“Não adianta se isolar do mundo e fingir que você não fez nenhuma merda!” Sherlock se lembrou de ouvir a voz do amigo pelo outro lado da porta. John havia insistido para que o amigo abrisse a porta, mas ele não teve nenhuma palavra em retorno. Dentro do apartamento só era silêncio. “Você não pode fugir de suas responsabilidades. E principalmente, você não pode fugir dela!” logo o barulho dos passos de John se afastando reconfortaram Sherlock, mas as palavras ditas por ele ainda o assombravam.

Ele com certeza não podia fugir dela. Ele sabia disso. Mas talvez se ele se mantivesse ali, isolado de tudo que mudou lá fora, ele pudesse negar para si mesmo os fatos. Ali, em seu apartamento, onde tudo permanecerá como era, como ela havia deixado, fazia-o esquecer do mundo que desmoronara á um mês atrás.

Ele não queria se lembrar disso, não queria sofrer mais uma vez aquele momento em sua cabeça. Ele queria que sua mente fingisse que nada havia acontecido.

Sherlock preferia se lembrar dela com um sorriso, aquele sorriso que há um ano ele finalmente tinha percebido e que o fizera notar todo o tempo que ele já havia perdido. Ele preferia se lembrar dela tímida, ele já admitira secretamente para si mesmo que ela fica linda tímida. Ele preferia se lembrar do perfume dela, aquele cheiro inebriante que lhe arrepiava a pele e lhe provocava sensações que ele nunca havia experimentado antes. Preferia se lembra do seu rosto pacifico enquanto dormia nos braços dele e em como ela parecia se sentir tão segura apesar da pequena proteção que ele podia oferece a ela.

Ele preferia se lembrar dela antes dele a quebrar, porém a única imagem que ele tinha em sua mente era dos seus olhos marejados o encarando com raiva.

Deus, como aqueles olhos mostravam dor.

Dor que ele causou; ele tinha total ciência disso!

Mas ele avisou, para ela, e constantemente para si próprio, “Eu vou te machucar.” Ele dizia com olhos pesados de dor, “Eu sei que no final eu só vou conseguir estragar esse seu sorriso perfeito.” O polegar dele esfregava contra a bochecha dela em uma forma de carinho desesperador.

Ela apenas fechava os olhos e descansava nos braços deles, que haviam lhe puxado para mais perto na cama de uma forma possessiva. Ela abria um pequeno sorriso que derretia o coração dele, “Você é a razão do meu sorriso.” Neste momento Sherlock iria a puxar para mais perto, seus braços envolveriam o corpo dela de uma forma afobada, e o seu corpo iria esconder o dela, em uma tentativa insensata de protege-lá.

Protege-lá dele.

Mas isso não aliviava sua dor. Lembrar disso não fazia diferença. Sherlock ainda não conseguia conter o sentimento que cismara em se instalar em seu coração no último mês. Ele não conseguia se redimir da culpa, mesmo sabendo que ele havia avisado a ela.

De qualquer forma, em qualquer pensamento e em qualquer teoria ele sempre era o culpado. Ele se sentia culpado. Ele não conseguia mais pensar de forma racional, e em seu palácio mental só existia uma porta e ela estava trancada, pois ele sabia o que tinha atrás daquela porta. Ela se escondia lá, tudo que lhe mantinha em estado são iria por água a baixo se ele se atrevesse abrir aquela porta.

Todas as lembranças, todas as promessas que ela fez, todas as promessas que ele queria ter feito, todos os dias que se passaram até ele conseguir coragem para admitir o que sentia e chamá-la para sair; o primeiro beijo, a primeira risada que ele conseguirá arrancar dela, a primeira noite em que ela resolveu ficar e a primeira manhã que ele abriu os olhos e encontrou os olhos castanhos dela vidrados nele.

Essa porta escondia as palavras que ela falará pela primeira vez naquela manhã, e essa mesma porta guardava o arrependimento dele por não ter respondido quando a voz suave dela ecoou pelo quarto, “Eu te amo”.

Como ela podia amá-lo? O que, no meio de tanta escuridão, ela havia achado de bom para poder amá-lo? Sherlock tinha consciência de que não tinha feito nada para que ela cativasse esse sentimento por ele, mas mesmo assim ela encontrará, no meio da bagunça, algo que valia a pena amar. Ela achará nele algo que ele negava para todos que existia: uma parte que se importava e uma parte que achava lindo aquelas palavras saírem da boca dela.

Por um momento aquele olhos castanhos pareciam ser sua redenção. Algo que ele nunca acreditou que um dia iria querer.

Agora ele se perguntava por que ele não conseguia mudar. Por que ele conseguirá cumprir suas premeditações. Como ele desejou profundamente estar errado. Teria sido melhor que pela primeira vez ele tivesse errado; ele podia lidar com o erro melhor do que com aquela casa vazia.

Ele se lembrou da primeira briga, e de todas as que foram seguindo essa. Sempre fora pelo mesmo motivo, ele sempre fazia algo de errado. Ou melhor, era o que ele não fazia. Ele nunca a incluía de verdade, ele não aprenderá a viver em conjunto, ele não sabia o que era ser um casal. E às vezes parecia que ele não queria.

Talvez não quisesse mesmo. Admitir sentimentos por ela já fora um passo enorme que ele nunca imaginará tomar um dia; permitir que ela entrasse em sua vida, dividir sua intimidade e deixar crescer um sentimento em seu coração foram as coisas mais assustadoras que ele já havia permitido acontecer.

Ele nunca se permitiu estar tão próximo de alguém como ele se permitiu com ela.

Mas talvez a deixar entrar em sua mente ou de vez em seu coração era algo que ele estava incapacitado a fazer. Deixar que ela se tornasse por definitivo parte dele seria completamente aterrorizante. Ele sabia que não podia fazer isso, que ele era incapaz de fazer isso. Ele nunca iria conseguir amar alguém, não do jeito que ela amava ele.

Eu não posso ser quem você precisa se você não me disser o que precisa Sherlock” ele se lembrou das lágrimas que corriam pelo rosto dela e como suas pequenas mãos seguram as deles de forma desesperadora. “Eu só posso ser sua se você me quiser de verdade. Não posso me entregar se você não se entregar também.” Ela cobrava a única coisa que ele não podia dar para ela, ou que talvez ele não quisesse dar.

Sherlock nunca deu seu coração a ninguém. E que a verdade seja dita, ele tinha medo disso.

Ele nunca contou para ela, Sherlock preferia que todos achassem que ele não tinha um coração. Mas no fundo de sua mente ele tinha certeza de que ela sabia do seu medo, e que talvez fosse por isso que ela insistia nele. Talvez ela tivesse mais fé no sentimento dele por ela do que ele.

Talvez não! Ele tinha certeza!

Depois que ele se apaixonará por ela, Sherlock perderá toda habilidade de lê-la como um livro aberto. Ele conseguia ver as coisas triviais que via em qualquer outra pessoa, mas os pensamentos delas, que eram tão fáceis de deduzir antes, se tornaram incógnitas no momento em que ele passou olhar para ela do mesmo modo que ela olhava para ele.

Sentimento! Ele sempre soube que isso iria estragar suas habilidades.

Mas havia uma coisa que ele sabia sobre ela, que ele conseguirá deduzir somente pelo seu olhar: ela sabia do sentimento dele por ela, até mais do que ele mesmo conhecia. Sherlock não precisava falar, ela só precisava olhar nos olhos dele e ler tudo que ela queria saber, e tudo aquilo que ele queria esconder dela e de si mesmo.

Porém, por mais que o silêncio ainda revelasse toda e qualquer palavra não dita por ele, ela precisava mais. Não bastava ela saber, ele tinha que mostrar. Ele tinha que se importar. Ela não podia conviver com aquele silêncio, e depois da primeira briga veio a segunda, e terceira e muitas outras.

Todas eram iguais, ela falava, implorava, “Por favor, diga algo Sherlock!” e ele sempre era impassível, ficava a ouvindo a seguindo com olhos em todos os movimentos e em todos os sentimentos que explodiam dentro dela na frente dele. Mas ele nunca falava, ele nunca dava uma solução. As palavras pareciam escassas, ele não tinha argumentos, e talvez se ele falasse a única coisa que sua mente o faria dizer era: “Corra. Antes que seja tarde demais”.

Sherlock eu preciso de você, e eu sei que você precisa de mim,” ela sempre falava isso quando se acalmava. Ela iria estar do lado dele nestes momentos, olhando nos fundos dos olhos azuis-esverdeados dele, buscando no fundo de seu ser todo aquele sentimento que ele tentava manter escondido, “Mas eu preciso de você comigo. Depois de tanto tempo....por que você só não se permite? Por que você não me coloca na sua vida?

Por quê? Por que ele não permitia de uma vez por todas ela entrar na vida dele?

Medo!

Ele não queria ficar a mercê de alguém, não do modo que ele sabia que ficaria se deixasse tudo que ele sentia por ela sair do lugar de onde ele escondia. Sherlock seria capaz de tudo por ela, ele iria viver por ela, iria ser somente ela em todos os lugares do seu ser. E ele não podia deixar isso acontecer. Ele sempre fora um homem racional, deixá-la entrar seria estragar tudo que ele construiu, toda barreira que ele levantou em torno de si; seria se tornar mais vulnerável do que John já havia lhe tornado.

Só que com ela seria pior.

Com ela não teria volta. Ele nunca mais seria o mesmo. Isso era certo! Ele arriscaria encontrar sua remissão nos lábios dela, ele procuraria encontrar um novo mundo em seu corpo, e tentaria construir algo diferente em torno do carinho dela.

Porém ele sabia o quanto isso era arriscado e instável. Ele talvez nunca suportasse a dor dela o deixar se ele tivesse se entregado desse modo. Seria o seu fim!

Mas o engraçado era que agora ele não se sentia tão longe daquilo que ele imaginou que seria se ele tivesse se apaixonado totalmente por ela. Aquela dor de não tê-la no apartamento era quase igual à dor que ele havia imaginado, e qual ele tentara evitar todo o tempo.

Doía tudo. Não havia uma parte do corpo que não reclamava pela falta dela, não havia uma parte do seu ser que não gritava pelo seu nome. O sono não vinha mais, a fome era algo que ele esquecerá de como era, a paz de espirito era um sentimento que ele sabia que nunca mais teria. Ela nunca iria deixá-lo em paz, ele tinha certeza disso; sua mente nunca iria deixá-lo esquecer dela.

Ele fechou os olhos tentando fazer com que todas essas lembranças deixassem de assombrá-lo, que o deixassem em paz, que o deixassem voltar a ser o homem que ele era há um ano trás.

Ele não seria tão feliz o quanto fora naquele ano, mas com certeza ele estaria melhor do que estava agora. Não estaria triste, não estaria feliz.... ele estaria normal. E quanto mais ele apertava seus olhos mais ele desejava voltar a ser normal, voltar a ser racional.

Mas a mente de Sherlock parecia gostar de tortura-lo. Ele começara a vê-la, vagando mais uma vez pelo apartamento, só que dessa vez ela não falava. Dessa vez seus olhos não estavam cheio de raiva e ela não o encarava. Ele estava como sempre sentado em sua poltrona, e a via ir e voltar no corredor, cada vez trazendo uma bolsa ou algo diferente para deixar no meio da sala.

Essa era a imagem dela há um mês a trás, e única coisa que essa imagem tinha em comum com as últimas vezes era as lágrimas que rolavam pelo rosto dela. Eram lágrimas silenciosas, que caiam sem que ela conseguisse controlar, e por mais que ele quisesse se levantar e enxugar cada uma delas ele não o fez.

Ela parou no meio da sala, ao lado das bagagens. Sherlock pela primeira vez naquele dia teve coragem de olhar nos olhos dela, e aquilo o machucou mais do que ele poderia ter previsto. Os olhos dela estavam desolados, sua boca formou um sorriso triste e ela resolveu de aproximar dele. Ela parou em sua frente e se agachou para ficar na altura que na poltrona lhe dava.

Por um momento ele pensou que ela não iria embora, ele pensou que era exatamente como nas últimas vezes. Que ela iria ficar do lado dele, ver em seus olhos tudo que ele queria dizer e o perdoar. Mas não foi o que ela fez, “Me desculpa Sherlock,” a voz dela o rasgou, uma voz cheia de sofrimento de dor, “me desculpa por desistir de você, por desistir de nós.” Ela disse juntando a testa dela com a dele, fechando os olhos com força e deixando as lágrimas caírem, “Eu apenas não consigo fazer mais isso. Eu não posso mais viver assim....

Ela abriu os olhos e encontrou os olhos azuis dele fixos nela, eles pareciam incrédulos, desesperados e por um momento ela até achou que eles estivessem marejados. Ela pressionou os lábios dela contra os deles com força, em um beijo casto. Sherlock parecia querer mais do que aquele beijo, ele parecia desesperado com aquele beijo.

E de fato ele estava

Eu teria te seguido a qualquer lugar. Eu teria feito qualquer coisa por você” ele a ouviu dizer quando ela afastou os lábios dos deles. Os olhos de Sherlock ainda estavam fechados e ele só podia sentir as mãos delas abandonando o seu rosto. Ele forçou seus olhos o máximo que conseguiu na tentativa de segurar sua sanidade, mas quando ele abriu os olhos ele viu a sala vazia.

Quando ele abriu ele viu a mesma coisa que ele via ao abrir os olhos um mês depois. Ele sentia a mesma coisa que sentiu quando viu que ela tinha ido embora, ele sentia a mesma coisa que ele vinha sentindo a cada maldito dia que se passará desde aquele dia.

Uma única lágrima conseguiu se libertar e descer pelo rosto dele.

E os seus lábios deixaram escapar a mesma coisa que eles deixaram escapar naquela noite, mas que só escaparam quando ela já tinha ido, quando já era tarde demais.

“Eu te amo, Molly.”


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Notas finais do capítulo

Espero que vcs tenha gostado. Sei que termina meio triste, mas não consegui dar outro final. Eu só consegui imaginar o Sherlock relutante a todo custo aos sentimentos e só admitindo quando ele via que não tinha mais jeito.
Enfim, espero que vcs tenham curtido o tanto quando eu curti escrever.



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