Antes que eu me apaixone rápido demais, me beije, mas faça durar. Assim eu posso ver o quanto isso vai me machucar quando você disser adeus. — Demi Lovato, Catch Me

As noites seguintes foram exatamente como Olivia pensou que seriam. Nada de sono; apenas ela, suas músicas e seus pensamentos. Se revirava na cama enquanto lembrava da sensação de ter os lábios de Nico nos seus. Olivia se odiava por ter o deixado beijá-la, e se odiava mais ainda por se sentir tão atraída por ele. Não parava de abrir pequenos sorrisos involuntários quando pensava naquela maravilhosa sensação de ter o corpo de Nico sobre o dela de um jeito de tirar o fôlego. Era como se o simples toque do corpo dele no dela a excitasse. E quando ele falava daquele jeito baixo e sedutor que Olivia tinha certeza de que ele usava com todas as garotas, ela enlouquecia.

Ela definitivamente o odiava. O odiava por ser tão canalha; tão canalha mas tão sexy que ela simplesmente se sentia em chamas quando ele a tocava. Olivia suspirava enquanto imaginava os dois juntos. Sempre se pegava imaginando o que aconteceria naquele dia se ela o tivesse deixado seguir em frente e levado-a para o chalé 13. Ela ansiava por aquilo, mas nunca admitiria.

Ela precisava fazer Nico se afastar. Precisava mostrar para ele que definitivamente eles não ficariam juntos. Lily não pretendia ceder, mas Nico era muito insistente. Precisava de algo que o parasse; algo que o fizesse realmente desistir dela. Olivia precisava de um namorado.

*****

— É só por um tempo, Matt — Lily insistia. — Você é meu amigo, não é? Amigos fazem favores uns aos outros. Prometo te recompensar depois.

— Não gosto disso, Olivia — Matt a olhou feio. O filho de Hermes era seu melhor amigo. Lily não conseguia imaginá-lo como mais do que isso, mas precisava de um “namorado de aluguel” até Nico decidir deixá-la em paz.

— Por favor, Matt — Lily fez um biquinho. O garoto revirou os olhos, mas não conseguiu evitar um sorriso.

— Só por um tempo. Depois você vai ter que me ajudar com uma garota.

— Jade? — Lily o olhou, sorrindo. Estava tão na cara que Matt tinha uma queda pela filha de Deméter, mas ela nunca tocara no assunto.

— Como você…? — ele parecia perplexo.

— Acho que todos do acampamento já perceberam — Lily riu. — Eu não sou filha de Afrodite, mas acho que posso te ajudar com isso.

— Essa é Olivia Smith: ela sabe dar conselhos amorosos para os outros, mas não dá conta nem de um filho de Hades atiradinho — Lily o encarou, sem achar graça, enquanto Matt ria. — Qual é, foi engraçado.

— O fato, meu querido Matt, é que o problema não sou eu — Lily revirou os olhos. — Nico me persegue. Eu não posso fazer nada, além de tentar afastá-lo. Mas, para isso, vou precisar de sua ajuda.

— Tudo bem — Matt suspirou. — E como isso vai funcionar?

Lily sorriu.

— É o seguinte…

*****

— Ele está lá — Olivia sussurrou enquanto apertava a mão de Matt. Ela fez sinal com a cabeça em direção a Nico, que estava sentado na arquibancada, em um canto isolado. Ele fitava a fogueira, que de uma forma sombria dava cor ao seu rosto normalmente pálido. — Não solte minha mão — Lily não sabia o porquê de estar tão nervosa.

— Calma, Lily. Desse jeito vai arrancar meu braço — Matt riu.

— Matt, se ele descobrir…

— Ele não vai descobrir. Se todos no acampamento pensarem que estamos juntos, ninguém vai saber. Ninguém vai poder contar a ele. Então apenas não conte a ninguém. E pare de apertar minha mão.

Olivia mordeu o lábio. Ela respirou fundo e os dois entraram no anfiteatro. Sentaram em um lugar na arquibancada ao lado oposto de Nico, fazendo com que Lily tivesse visão perfeita dele através da fogueira, e vice-versa.

Nico ergueu uma sobrancelha quando viu Lily ao lado de Matt. Provavelmente ele não estava entendendo. Ainda.

A cantoria começou, e, de repente, Lily se sentiu relaxada. Todo aquele nervosismo se esvaiu de seu corpo enquanto ela conversa e ria com Matt e alguns filhos de Hermes que estavam sentados ao seu lado. Sentia o olhar penetrante de Nico encarando-a e aquilo a incomodava um pouco, mas não estava nervosa. Simplesmente conseguia agir naturalmente ao lado de Matt, como se ele realmente fosse seu namorado.

Apesar disso, Lily não conseguiu ficar lá por mais de vinte minutos. Ela nunca se sentia a vontade com tanta gente cantando, falando e rindo. Ela não se sentia a vontade no meio de tanto barulho.

— Matt, acho que vou pro chalé — Lily murmurou perto do ouvido do garoto, olhando rapidamente para Nico, que ainda a encarava. Ele estava sem expressão, como se sua mente estivesse longe dali.

— Quer que eu te leve? — ele a olhou.

— Não precisa — Lily sorriu e beijou a bochecha do garoto. — Nos vemos amanhã.

— Espera aí — Matt a puxou antes que ela se levantasse. Então ele a beijou. Lily ficou tão surpresa que demorou a corresponder o beijo. Isso não estava nos planos dela.

Apesar de tudo, Matt beijava muito bem. Fora um beijo lento e típico de namorados apaixonados. Quando o ar se fez necessário, Lily se afastou de Matt, mas seu rosto ainda estava próximo ao dele.

— O que raios foi isso? — ela perguntou baixo, erguendo as sobrancelhas. Os filhos de Hermes, irmãos de Matt, agora riam e soltavam piadinhas e assovios para eles, deixando Lily um pouco desconfortável.

— Se vamos fingir ser namorados, quero fazer isso direito. Acha que Nico iria se convencer com um beijo na bochecha?

Lily ponderou sobre o que ele havia falado, e então suspirou.

— Boa noite, amor — ela deu um ultimo beijo no garoto apenas encostando seus lábios, e então se levantou.

Lily olhou para onde Nico estava sentado, mas ele não estava mais lá, o que ela estranhou, já que ele estava bem ali antes de Matt a beijar.

Assim que saiu do anfiteatro, Lily colocou os fones de ouvido. Caminhou silenciosamente em direção aos chalés enquanto pensava. Matt beijava bem, mas não tanto quanto Nico. Quer dizer, Lily simplesmente não sentira aquelas borboletas irritantes no estômago quando Matt a beijara, como fora com Nico. Não se sentia em chamas com o toque do filho de Hermes. Era uma coisa vaga, muito diferente de como era com Nico.

Suspirou quando chegou ao chalé 7. Colocou a mão na maçaneta, mas antes que pudesse abrir a porta, sentiu alguem a empurrando e a virando, prensando seu corpo na parede do chalé, ao lado da porta.

— Você só pode estar brincando — Nico arrancou os fones de ouvido de Lily.

— Ficou louco? Me solta, seu imbecil — Lily tentou o empurrar, mas Nico segurou suas mãos.

— Não é engraçado? — Nico riu de uma maneira insana. — Nos beijamos, e três dias depois você aparece com um namorado novo.

— Não vejo graça nenhuma — Lily rosnou.

— Acha que me engana?

— Eu não devo nada a você, di Angelo — Lily riu em desdenha. — Eu avisei que não conseguiria nada comigo. Agora me esqueça. Eu estou feliz com Matt, e assim vou ficar.

— Pare de mentir! — Nico falou alto, batendo a mão com força na porta do chalé ao lado da cabeça de Lily, o que a assustou. Nico parecia completamente nervoso, fora de si. Lily olhou em volta para ter certeza de que ninguém já havia voltado.

— O que você quer comigo? Mas que droga! — Lily gritou e bateu no peito de Nico. — Me deixe em paz! Você não entende?

— Não entendo o que? — Nico falava tão alto quando Olivia. Eles estavam gritando, tão próximos um do outro que Lily sentia o hálito de hortelã dele.

— Não entende que eu não quero ser mais uma? Não entende que eu simplesmente não quero me magoar? Não entende que eu não quero ser lembrada por você como “mais uma filha de Apolo que eu peguei” — Lily percebeu que estava com lágrimas nos olhos, mas ela não sabia o porquê. Sentia raiva.

Olivia empurrou Nico, que dessa vez não resistiu, apenas se afastou, atônito com o que ela havia dito. Ela se virou e abriu a porta, mas, antes de entrar, o olhou.

— Me deixe em paz, Nico di Angelo.

— Não. — Nico disse, sério. — Não vou te deixar em paz, Olivia Smith.

— O que você quer de mim? — Lily gritou, com raiva.

— Você já parou para pensar que talvez eu não seja o babaca que você pensa que eu sou? — Nico gritou, tão alto quanto ela, já começando a perder a paciência. — Ou talvez já tenha passado pela sua cabeça que eu gosto de você?

— Como quer que eu acredite em você se desde o dia em que nos conhecemos você age feito um babaca? — Lily, tremula, o empurrou. Estava consumindo em raiva. — Eu odeio você! Odeio você por ser um babaca. E te odeio mais ainda por simplesmente não conseguir te odiar.

Lily não percebeu as lágrimas escorrendo de seus olhos. Ela não sabia porquê, mas se sentia completamente invulnerável e frágil perante a Nico.

Ele a encarou como se tivesse levado um soco no estômago. Depois de alguns segundos, Nico piscou algumas vezes, como se estivesse saindo de um transe.

— Me deixe te provar que você não vai ser só mais uma — ele tentou se aproximar, mas Lily deu um passo atrás, se afastando. Ela não conseguia encarar o garoto nos olhos.

— Me poupe das suas mentiras — Lily soltou uma risada seca. — Só… Só me deixe em paz. Me esqueça.

Lily se virou para entrar no chalé, mas antes que pudesse fechar a porta, Nico colocou o pé, impedindo-a.

— Não, Olivia — ele falou, entrando no chalé e batendo a porta. — Não vou deixar você ficar com aquele idiota.

— O que? — Lily riu. Riu muito. — Quem você pensa que é para me dizer com quem eu devo ou não ficar?

— Eu me importo com você! — Nico gesticulava freneticamente com as mãos.

— Cala a boca! — Lily gritou.

— Não, Olivia! — Nico gritou ainda mais alto. — Não vou calar a boca! Eu preciso de você. Preciso te ter.

Olivia sentiu suas pernas vacilarem. Ela teve vontade de bater em Nico por estar tentando iludi-la dessa forma, mas simplesmente não teve forças.

Nico se aproximou. Ele passou a mão pelo rosto de Olivia, limpando algumas lágrimas que caíam. Então ele tentou beijá-la.

Não, Olivia pensou, empurrando-o.

— Nunca mais toque em mim! — Lily gritou.

— Você é louca! Eu acabei de dizer o que sinto! — Nico a olhava, indignado.

— Vai pro inferno! — Lily pegou um travesseiro e atacou nele.

Nico a encarou com raiva por um instante. Então sua expressão suavizou e ele se virou, abrindo a porta. Antes de sair, ele deixou as palavras pairarem no ar:

— Eu não vou desistir de você — Nico não olhou para ela. Saiu, batendo a porta com força.

Lily caiu na cama, irrompendo em lágrimas. Ela estava convicta de que Nico estava mentindo. Ele devia jogar a mesma conversa para todas as garotas que queria “pegar”. Lily não era especial, e ela sabia disso.

Apesar disso, Olivia temia que estivesse errada. Tudo o que queria era que Nico fosse embora; que ele a deixasse, que desistisse dela. Se ele fizesse isso, Lily saberia que estava certa. Então não teria nenhuma chance de Nico ter o sentimento correspondido por ela. E não teria nenhuma chance de Lily ter o coração partido, de novo.