Sentado na varanda do quarto estava Kai, finalmente mais um ano acabou. Agora ele só tinha que apreciar as férias de verão.

Pensava em todos os acontecimentos  do decorrer do ano, deveras sua vida tinha mudado de algum modo desde que a conhecera na escola.

Sim ele pensava naquela menina boba e que vivia se metendo em confusão e o arrastando junto. Aquele sorriso contagiante e aqueles olhos de um castanho violeta intenso. Allany Katherinne, sua “amiga”. Alguém que por incrível que pareça ele admirava!

Uma garota de personalidade forte, que sofrera tanto quanto ele, mas que ao contrário deste ela não se afastou de todos, pelo contrário tentava se relacionar com novas pessoas, queria demonstrar que tudo estava bem!

Ele passou a noite pensando que tinha algo diferente naquela menina, algo que o atraia.

No dia seguinte ele acordou cedo, não  era habituado a dormir até mais tarde.

Foi tomar café, por sorte Voltaire não estava em casa, comeu sossegado se trocou e decidiu dar uma volta!

Caminhou pelo parque perdido em pensamentos até que a viu!

Allany estava sentada em um banco da praça alimentando os pássaros. Ele se aproximou dela, não demorou a ela notar sua presença e o olhar sorrindo:

-Bom dia Kai!-Disse animada!

-Bom dia!-Respondeu se sentando ao seu lado.

-E ai está curtindo as férias?-Pergunta a ele sem olhá-lo.

-Sim, logo começa o campeonato e tenho que me preparar! Você vai participar? –Indagou ele.

-Acho que sim!

Ficaram em silencio um tempo, ela então se se encostou ao banco olhando para o céu!

-Sabe Kai, eu tenho que te dizer uma coisa...

-Fale! –Disse ele olhando o chão.

-Não sei por que, mas quando estou com você me sinto estranha. Como se...

-Completássemos um ao outro de alguma forma!-Respondeu ele em seguida recebendo um olhar indagador de Allany

-Você se sente assim também?-Perguntou ela surpresa.

-Sim, não sei por que!-Respondeu Kai corando um pouco.

Ela riu baixinho e devagar pousou sua mão sobre a dele.

Ele a olhou, mas não disse nada. Gostava dela, queria ficar com ela... Para sempre!

Eles se aproximaram aos poucos e logo seus lábios revelavam seus sentimentos!

Kai voltou para casa sorrindo, se sentia muito feliz. De tal forma que nunca se sentira antes. Entrou e ia indo para o quarto até ouvir a gritaria vinda do escritório do avô!

Curioso como sempre foi se aproximou ficando ao lado da porta ouvindo a conversa toda,  a voz de um homem que parecia ser familiar de alguma forma:

-Eu fiz o que fiz por uma boa razão!

-Abandonar tudo, emprego, sua vida, seu filho... ME diga qual foi o bom motivo?-Era a voz de Voltaire.

Kai ficou tentando entender o que se passava.

-Eu não abandonei! Estou aqui para levá-lo comigo.

-O meu neto não vai com você para lugar nenhum!-Bradou Voltaire mais alterado que antes.

Kai ficou paralisado, seus lábios tremiam:

-Pai...

-Eu vou sim, ele é meu filho! –Insistia o homem.

-Klaus, você fugiu deixando-o para trás. Você o separou da irmã! 

Irmã? Kai tinha uma irmã? Sim, agora estava se lembrando. Uma menina muito parecida com ele, rosto sorridente e muito brincalhona...

Qual era mesmo o nome dela? Ele não se lembrava, fazia tanto tempo.

-Duvido que sinta falta dela! Ele provavelmente nem se lembra. - A voz de Klaus era fria e cruel.

-Você não vai fazê-lo sofrer  mais ainda! Eu não vou permitir!

-Ora pai, não fui eu quem o trancafiou por anos em uma “abadia” para ser torturado por um lunático psicótico! –Havia ironia em sua voz.

Voltaire o encarou com ódio mais do que visível:

-Klaus, eles são gêmeos! E você os separou sem se importar com todo o mal que isso poderia causar a ambos. Não fui eu quem tornou a vida de Kai um mar de solidão. – Disse Voltaire.

Klaus sorriu friamente e irônico respondeu:

-Mas contribuiu para isso!

Kai do lado de fora estava aturdido, sua cabeça girava. Cheias de lembranças dele e da irmã brincando, conversando. Eram realmente unidos e foram brutalmente separados.

Mas por que ele não lembrava o nome dela?

-Onde está o meu filho?-Questionou Klaus a Voltaire.

-Não sei! Provavelmente treinando por aí!

Voltaire o encarava, até que quebrou o breve silêncio:

-Por que fez aquilo?

-O que?

-Não seja idiota, sabe ao que estou me referindo. Como você disse o Kai não se lembra dela, e duvido que ela se lembre dele! Então por que a colocou perto dele?Por que aproximá-los novamente se eles nem sabem de nada!

Kai sentia o coração acelerar repentinamente, não podia ser!

-Eles não se lembram, qual é o problema em estudarem juntos? Sabe ela me contou sobre a forte amizade que tinham. Até disse que estava gostando dele!-A ironia de Klaus era algo doentio.

Voltaire estava estarrecido:

-Incesto! Você é louco?Allany e Kai são irmãos gêmeos!

Kai  deixou o corpo escorregar para o chão, não estava acreditando. Irmãos gêmeos?

Ele sempre a achou muito parecida com ele, mas pensava que era apenas coincidência.

Lembrou-se do encontro com ela no parque e do beijo...

Sentia-se sujo, um maldito... Como pode? Tinha que admitir que amava, mas não era aquele amor. Ou será que era?