Sentimentos Humanos escrita por Akira H


Capítulo 1
Solidão


Notas iniciais do capítulo

Tive a ideia de escrever algo do tipo já faz um tempo, mas apenas esses dias surgiu a inspiração de repente. Não tenho certeza se vai ou não ter próximos capítulos, tudo depende da minha inspiração e se tiver quem queira ler, é claro.



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De manhã, pelas tardes e mesmo ao anoitecer escuto essa voz que me assombra. Um leve sussurro desesperado que repete as mesmas palavras todos os dias, uma voz rouca e tremula, mas cheia de convicção. Implora-me por algo que, sem escolha, sucumbo e sempre o faço, talvez por medo das consequências do depois.

Da direção desses sussurros sinto um gélido toque, uma brisa cortante que persegue-me e é capaz até de atravessar minhas cobertas durante a noite, tenta acompanhar-me sem convite a minha terra dos sonhos, assombrando até mesmo o lugar intocavel. Essa minha terra mágica, minha terra do nunca onde a infância se colore e olho o brilho deslumbrante que a paisagem proporciona... uma terra sem fronteiras, um lugar sem limites, uma utopia que desconheço de verdade.

Aos poucos, quando acordo, esse gélido toque desliza voluptuosamente por meu corpo. Esse deslizar que percorre cada região de meu ser, explorando-o e deixando esse rastro frio por todas as partes, enquanto eu, impotente, apenas aceito e permito-o condusir esse ato que persegue-me toda a manhã após o despertar.

Um ato rápido, passageiro e leve, mas que deixa uma marca que vai além de meu corpo, cicatrizando as partes mais intimas de meu ser. Um percorrer tão intenso que desnuda cada parte da alma com seus toques íntimos e impudicos, todavia por instantes tão rápidos que chega ao cumulo da inocência. Toques que me deixam a mercê da duvida e o temor desse ato ser viciante demais para nos, meros mortais, suportarmos. Pensamentos latentes que causam o arrepio, nenhum humano pode se salvar dessa perdição.

E essa voz que me persegue tenta me alertar, abandonando minha alma para ao menos salvar minha mente. E o gélido toque com o passar da torna torna-se mais cínico, provocando-me com sua ousadia e seu rápido deslizar em qualquer momento, deixando-me a deriva da sanidade, apenas para testar minha reação e rir em uma diversão muda, é assim que satisfaz seu próprio prazer, levando-me ao ponto de duvidar de minha religiosidade, que Deus por favor não me castigue por questionar sua onipresença. Sei que está ao meu lado, mas pelo impudico toque em minha alma, percebo quem cada vez se aproxima mais, afastando-me de ti.

De tarde minhas lágrimas escorrem por cada parte de meu corpo onde sinto a fria sensação, meu sorriso gritando por uma salvação, minha risada chora e ninguém escuta seu eco, ninguém me salva desses toques pecaminosos. Meu Senhor, me abandonastes a quanto tempo? Ou, todavia permaneces a meu lado? Mande-me um sinal e salve sua prole de se afundar nessa amargura. Porque não podemos apenas nos dar as mãos ao caminhar pela terra do nunca?

Apenas essa voz que me acompanha permanece me seguindo. Esse meu extinto de proteção, esse meu orgulho que não me deixa gritar aos céus esse ato que me obrigam a consumar todos os dias. Essa libertina vida que se prossegue sem que eu possa ver o fim, as cores desses dias em minha utopia foram tão resplandecentes que me cegaram, agora já não vejo nenhuma cor, apenas estou a deriva desses toques e obedeço essa voz, os únicos que me acompanham através do caminhar de meus dias.

Ao anoitecer, apenas faço o que a voz me manda, não há mais como fugir desse algo que me persegue. Enquanto sinto o congelar de minha pele passar para minha alma, encolho-me no canto de minha cama, esperando que tudo acabe, desejando que não ocorra, implorando para que alguém me salve. Mas eu sei, não há quem me salve, pois não há quem esteja salvo. Com esse pensamento de desespero, sabendo que não há mais como fugir, sinto a gélida sensação penetrando intensamente minha alma, afundo-me nessa agonia.

A intensidade e força constantes que o frio invade meu ser nem me dão tempo de massagear o local dolorido, mesmo sabendo que não importa quanto eu tente, as memórias não vão se apagar. O suor frio escorre por minha face, penetra meu corpo e meu coração, até que meu grito mudo e o contorcer frenético de meu corpo sucumbe a invasão e sou levada para a inconsciência acolhedora, em meu mundo protegido por minha mente.

O branco puro que deixa meu corpo é substituído pelo preto obscuro. Essa cor foi manchando e aproximando-se cada vez mais, chegando sorrateiramente por minhas noites tranqüilas, manchando-me de dentro para fora com essa sensação de desespero. Talvez não seja preto, apenas o vazio absoluto que se alojou em mim, pois mesmo o obscuro pode preencher, mas o vazio é simplesmente a falta de algo, a falta da pureza que a vida me roubou.

Maldito seja o dia em que minha agonia falou mais alto, não suportando a dor aguda em meu coração causado por essa invasão de um desconhecido, um ser que não sei quem era pois nunca me permiti observar, talvez pelo medo de reconhecer tal face encoberta pelas sombras da noite e que se escondia entre o sol deslumbrante das tardes calmas.

Quem era esse ser ao meu lado? De quem pertencia esses toques libidinosos? Minha respiração cortante vinda de uma agonia crescente, a voz deixou o sussurrar e gritou em minha mente, ecoando por meus ouvidos. “Não olhe para o lado...”, repetiu como sempre.

Através de meus olhos semicerrados e a névoa da inconsciência embaçando minha visão, fitei o ser que me acariciava todos os momentos. Paralisada, deixei a sensação gélida tocar meu rosto, desde os olhos até o queixo, em um tortuoso acariciar suave, que se repetiu por incontáveis vezes.

Contorcendo-me mais, deixei o contato se tornar mais intimo, envolvendo-me até não poder mais. Após encarar aquilo que me assombrava, abri a porta para a aceitação, não havia mais como escapar, nunca houve. Existia apenas a esperança, que foi apagada aos poucos pela brisa dos toques.

Revirando-me pela cama, soltando leves suspiros e gemidos de dor, encarei novamente aquele que me tocava: o nada, o vazio... Escutando o escorrer das lágrimas do sussurro que dessa vez, mudou a frase. Não escutei as palavras, um silencio ensurdecedor tomou conta de mim, mas o sentimento que tal frase me passou foi o bastante para a compreensão.

Essa frase que sempre obedeci, mas nunca ousei pronuncia-la em voz alta se repetia em gritos e lágrimas, misturadas com soluços. “Não olhe para o lado... Se não, notara que não há ninguém...”


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Notas finais do capítulo

Pra quem já leu minhas outras fics essa daqui tem um estilo meio diferente. Como minha outra original, Cinzas da Vida, ela segue um certo padrão metafórico, mas dessa vez dando mais ao que pensar.É um tema um pouco mais serio e eu quis dar um ar mais sombrio, espero que tenha dado certo e traga pelo menos um pouco de impacto. Por favor comente se possível, comentários são sempre bons pra melhorar!! Ainda mais que sou nova nesse tipo de escrita... Ah,e espero que eu não tenha feito muitas partes sem sentido, se fiz, desculpa...



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