Filho da Mentira escrita por Sirena


Capítulo 23
Trust Me


Notas iniciais do capítulo

# Repostado (Embora com algumas pequenas mudanças)
#Sorry por algum erro de português
##Estou de volta! Alguém sentiu saudades?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/490297/chapter/23

CAPITULO VINTE E TRÊS

Trust me

HRETHEL

Haviam trancando-me em uma sala escura e pequena, uma espaço claustrofóbico, onde o único volume mínimo e insignificante de luz era o que transpassava pelo vão diminuto e retangular de uma abertura lateral.

Não sabia quanto tempo estava ali. O tempo parecia não passar quando você estava consumida pela dor. Uma dor que vinha de varias partes do meu corpo, mas principalmente do membro que não existia mais. Era estranho descrever ou mesmo dizer algo assim. Falar de algo que não existe. Porém juro-lhe perante a cripta dos deuses que ainda conseguia sentir um formigamento na mão, como um pequeno choque, uma sensação angustiante que me lembrava da perda. Algo que eu não tinha.

Por vários momentos, senti minha cabeça pendendo. A inconsciência tomando conta do meu sistema nervoso, ameaçando entrar em colapso. Se isso ocorresse, se realmente perdesse a lucidez, consequentemente perderia a chance de falar com alguém que não via há muito tempo. O individuo que estava por trás de tudo isso.

A pessoa que estava preste de entrar por aquela porta.

–Você não poderia ter se escondido em um lugar melhor?

Levantei a cabeça no mesmo instante que uma gota de agua fria, provinda da chuva escorreu pelo teto de uma goteira circular.

–Eu imaginava que você viria- Murmurei, sentindo o gosto de sangue.

–Por quê? O que a levou a pensar que isso ocorreria?- Ele perguntou, os olhos azuis reluzindo com sua comum e conhecida impaciência.

Sorri. Um sorriso travesso demonstrando minha perspicácia e o conhecimento interior.

–Por que eu conheço você Odin. Conheço você há muito tempo...

Ele fechou a porta com desespero, como se ao invés de proferir seu nome houvesse rogado uma praga que destruiria Asgard transformando-a em cinzas, varrendo-a do mapa.

–Tem certeza que me conhece?- Ele era incapaz de olhar em meus olhos.

–Conheço o suficiente para saber que não foi o responsável pelo que aconteceu com meu povo.

Odin se caminhou para mais perto de mim, uma proximidade aterradora.

–Então você realmente não me conhece. - Rebateu, cerrando os dentes brancos.

–Sei que o homem que está parado na minha frente não seria capaz de mandar milhares de soldados para o lugar, para o reino que seu filho estava vivendo. Não seria capaz de ver o garoto que amava sangrando no chão como um animal e...

–Você não sabe de nada!- Gritou.

–Você o amava. Talvez a única pessoa que você amou!

–Cale a boca!

–Seu primogênito ao contrario do que todos pensam. Três anos mais velho que Balder. O menino que você escondeu de todos a sua identidade, exceto de mim e do meu marido, ao qual você implorou proteção e silencio.- Suspirei- Mesmo observado vocês juntos uma única vez eu pude ver... Pude sentir que você o amava mais do que qualquer coisa. Mais do que a própria vida.

–Aonde você esta querendo chegar, Hrethel?

Observei o seu rosto, frio como o mais poderoso e rigoroso inverno. Mesmo com sua face dura e concentrada era possível encontrar sinais de expressividade, sentimentos enterrados naquela camada inquebrável de gelo.

–Não foi você o responsável pela destruição do meu mundo- Afirmei, com mais certeza do que alguma vez já tive- Não acredito que teria coragem de nos trair, nem mesmo de matar aquele garoto.

–O que está querendo dizer?- Ele estreitou o olhar, a sobrancelha uma linha reta.

–Que tem alguém por trás de tudo isso. Mesmo eu ter afirmado em voz alta para outras pessoas, e até para mim mesmo por algum tempo... Nunca, jamais realmente acreditei que foi você.- Ele abaixou os olhos, estava alcançando o seu ponto vulnerável-Alguém o está controlando você como uma marionete, planejando todas as coisas que estão acontecendo.

–Hrethel... –A voz estava frágil e doente, partida como jamais presenciara antes.

–Quem está por trás disso?- Exigi.

–Você está querendo se envolver em uma situação muito complicada, Hrethel. Algo maior do que pode imaginar e muito mais grandioso do que sua mente poderia suportar. – Falou distante e soturno, num tom de voz sombrio- Não faz ideia do que está acontecendo e muito menos do que irá acontecer.

–Odin...

–Eu nunca fui uma boa pessoa. E... Mudei mais ainda após o ocorrido com meu filho.- Confessou- Tem coisas que não se pode voltar atrás. Situações que ás vezes somos obrigados a enfrentar.

–Me diz o que está acontecendo- Estava quase implorando.

–Eu vendi minha alma e ainda estou pagando por isso. Por pecados que apenas aumentam dia após dia. - Olhou para as próprias mãos, analisando-as- Eu não tenho nada para dar além de dor e morte, um mar de sangue aos meus pés, me afundando em ossos e crânios e me cegando com a mais densa escuridão. Estou doente como meus segredos, como um vírus que corrói e mata lentamente. Segredos que nunca irei dizer.

–Por que?- Moldei as palavras, sem dizê-las em voz alta.

–Meus segredos são mortais. Assassinos.- Ele levantou a cabeça lentamente- As pessoas tendem a morrer quando o descobrem e não apenas elas, mas tudo que esta ao seu redor. E a verdade e meus segredos não são algo que eu esteja te devendo minha cara.

–E o que seria?

–Uma divida de sangue. Infelizmente eu não posso salvar sua vida ou diminuir sua dor, tirar seu sofrimento. Mas ainda posso fazer algo por seu filho. Posso fazer algo por Beowulf.

Era como se ele atingisse uma flecha em meu coração.

–O que vai acontecer com meu filho? O que iram fazer com ele? Por favor, me diga!- Uma lagrima discreta e salubre escorreu pelo meu olho direito, como uma pequena e invisível cascata numa montanha distante.

–Confie em mim, Hrethel. Eu não iria deixar que nada aconteça com ele. Mas você tem razão quando afirma que ele será perseguido eternamente; enquanto seu coração continuar batendo- Concordou- Para que isso não aconteça quero que entenda que sacrifícios devem ser feitos.

–Que tipo de sacrifícios?

–O que for necessário.

–Odin...

–Confie em mim- Repetiu, a mesma frase que dissera a alguns instantes.

–Não estou entendendo... – Gaguejei, repetindo mentalmente suas ultimas palavras.

–Por favor- Os olhos se focavam para baixo dando enfase a frase.

Ele se levantou dirigindo-se ate a porta com determinação. Ao sair e me fechar ali de novo, os sons externos se tornaram abafados, porem consegui ouvir com clareza as palavras “Tragam ele”, proferidas com calma por Odin.

E por um momento, fiquei com medo do significado daquelas palavras.

Pouco depois o rangido característico da madeira ressoou, a audição se tornando um sentido secundário quando meu pior pesadelo surgiu perante mim.

Eles estavam trazendo Beowulf.

–Por que ele está aqui?- Berrei, olhando para o menino com um saco preto cobrindo a face, o cordão que Hoder dera se sobressaindo em suas vestes.

–Todos gostam de uma entrada dramática.- Ele falou, irônico.

–Por favor, me diga o que irão fazer com meu filho!

–Você ainda não percebeu?- Perguntou Odin, o soldado ao seu lado, alto e musculoso, retirando a espada da bainha.

–NÃO! Você acabou de me falar que iria protegê-lo! Que iria arrumar um jeito para salvar meu filho! - Estava histérica, desesperada, incapaz de manter o controle, a razão- Falou sobre sacrifícios necessários para que ele pudesse sobreviver!- Articulei, buscando razão nas palavras desconexas que pronunciava- Jurou que Beowulf não iria morrer!

–E você ainda acreditou vadia estupida! Acreditou em minhas historias? Em todas aquelas enormes e intermináveis mentiras- Ele riu- Sabe eu adoro isso nas pessoas... Dar esperança a elas, mostrar para elas o sol e a luz e depois afoga-las no mar frio e traiçoeiro sem fim de desespero...

–Você não seria capaz...

–Tem certeza?- Desafiou, se virando para os guardas- Segurem-na. Não quero que ela atrapalhe a decapitação do garoto- Ele falou, cada palavra como uma chicotada contra meu corpo, esmigalhando minha mente.

Mãos humanas me seguraram, enquanto me debatia, embora não sentisse que meu corpo estava nesse plano de existência. Parado e perdido em um mundo paralelo, irreal. Um pesadelo complexo, um mundo de monstros e de mortes que era obrigada a permanecer contra a minha vontade.

Ele fez o sinal com a mão. Breve e rápido. Sua palma descendo lentamente. Segundo por segundo, cada milímetro visto pela minha mente desesperada, enquanto gritava, sufocada, um gemido assustador cortando a minha garganta, enquanto observava impotente o machado descendo...

Descendo...

E cortando a cabeça do meu filho, matando-o instantaneamente.

Sem cerimonias.

Sem pensar.

Sem perdão.

Então, os olhos tão focados na face do meu primogênito, meu único filho, se desconcentraram por um instante dos seus restos, do que restava dele para se fixar nos olhos do seu assassino.

Odin.

O homem que eu por um instante confiei e que agora... Somente agora pude ver realmente quem ou o que ele era.

Um monstro.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bem, espero que estejam gostando da fic. Se não... Bem, ela irá continuar!
Obrigada a todos que estão lendo e comentando!