House ainda estava deitado na cama, pela primeira vez em anos, a vontade de não sair dali e não ver nada e nem ninguém era impossível de ignorar. Desde que receberá a noticia que Cameron estava grávida, seu mundo havia desmoronado e sido rapidamente reconstruído pela esperança de poder ter algo com Cameron.

Mas quando ela disse-lhe que o filho não era dele, seu mundo desmoronou novamente. No fundo, ele acreditava que tudo não passava de uma mentira. Mas o resto de seu corpo, de sua mente, dizia-lhe que Cameron estava falando a verdade. Aquele filho era de outro.

House virou-se para o lado e observou o pequeno frasco laranja de Vicodin sobre o criado mudo.

Ele ouviu o irritante bip tocar, mas como nas outras cinco vezes, apenas ignorou. Sua mente vagava por momentos que, para muitas pessoas, passavam despercebidos, mas para ele eram importantes. Ele se lembrava de todos os pequenos gestos de Cameron. Tudo que ela fazia perto de House ficava registrado na mente do mesmo.

Ele suspirou pesadamente diante de seus pensamentos. O filho não era dele. Mas a questão que mais o atormentava no momento era: Se ele não era o pai, quem era? House não sabia de nenhum relacionamento que Cameron tivera além de Chase no último ano. Mas tudo era possível. Ela poderia ter conhecido alguém.

O bip tocou novamente, deixando House completamente irritado. Ele resmungou enquanto se levantava da cama e pegava sua bengala; ele caminhou até a mesinha no canto do quarto e pegou o bip. O visor mostrava que quatro chamadas haviam sido feitas pelo hospital e duas por Wilson.

House decidiu ir para o hospital, realmente, por mais que estivesse sentindo-se daquela maneira, não podia deixar seu trabalho de lado. Ele foi se arrumar.




Wilson estava preocupado. Ele não havia visto House desde ontem, depois ele fora falar com Cameron, Wilson voltara para o consultório do médico, mas ele desaparecera. E nenhum dos seus chamados havia sido atendido também. O telefone da casa de House parecia estar desligado.

– Ele logo irá aparecer, Wilson. – Cuddy disse sentando-se ao lado do oncologista no pequeno sofá que o mesmo possuía em sua sala. – Não é a primeira vez que isso acontece. Você sabe, é o House. – Ela deu de ombros, como se aquilo explicasse tudo.

– Mas sempre quando ele desaparece assim acaba fazendo alguma besteira. – Wilson suspirou exasperado. Três batidas na porta foram ouvidas. – Entre. – Wilson disse.

– Wilson – Cameron entrou na sala, mas ficou ali mesmo ao lado da porta, com a mesma aberta ao ver Cuddy e Wilson juntos. – Oh, desculpem-me. Não queria atrapalha-los.

– Não está atrapalhando nada, Cameron. – Cuddy disse educadamente enquanto levantava-se. – Eu já estou indo mesmo, tenho muitas coisas para fazer. – Cuddy pousou uma mão sobre o ombro de Wilson. – Ele logo estará de volta nos enlouquecendo, ok.

Wilson assentiu minimamente para ela. Cuddy retirou-se da sala, deixando apenas ele e Cameron.

– Quem voltara? – Cameron perguntou enquanto tomava o lugar ao lado de Wilson que outrora fora de Cuddy. – Wilson?

– House não atente minhas ligações e ainda não apareceu no hospital. – Wilson levantou-se e começou a caminhar de um lado para o outro na pequena sala. – Estou realmente preocupado, Cameron.

– Era sobre isso mesmo que eu queria falar com você. – Cameron mordiscou nervosamente o lábio inferior. – Eu bipei ele várias vezes e nada. Será que aconteceu alguma coisa?

– Não sei. – Wilson disse sinceramente. – Ele ficou extremamente abalado quando você disse que o filho não era dele. Nunca o vi daquela maneira, ele estava muito triste. E tenho medo do que ele possa fazer quando está assim.

Cameron ficou em silêncio. O pânico de pensar em House causando mal a si mesmo a consumia. Ela não queria nem imaginar isso, preferia pensar que ele apenas havia ficado triste e decidira ficar um tempo longe de tudo. Ela não se perdoaria se algo acontecesse com ele.




Foreman olhou tristemente para um porta-retratos que estava no canto leste da sala de diagnósticos. Na foto, que fora tirada um ano atrás, em uma festa do hospital, estavam Cameron, House, Chase, Foreman e Wilson. O moreno suspirou fortemente ao se ver ao lado do oncologista. Ele tentou afastar aqueles sentimentos, mas era impossível. Já fazia dias que Wilson tomava-lhe totalmente os pensamentos.

Foreman desviou sua atenção para House, surpreso por vê-lo na sala de diagnósticos naquela hora. Todos achavam que ele não viria.

– House – Foreman chamou quando o médico passou por ele como se não tivesse visto-o e foi diretamente para a cafeteira.

– Mas que droga! – House exclamou enquanto verificava o bule. - Cameron não faz mais café, não?

– House – Foreman voltou a chama-lo, dessa vez conseguindo um olhar irritado da parte de House. – Onde você estava? Nós te ligamos várias vezes, mas seu telefone parece estar desligado.

– É, está mesmo. – House deu de ombros enquanto sentava-se em uma das cadeiras. – Mas que eu saiba, não temos caso algum, então não sei por que a urgência em me chamarem.

– Mas você sequer avisou que não viria. – Foreman disse irritando-se. – Todos ficaram preocupados.

– Tenho certeza que sim. – House ironizou.

– House, você já sabe? – Foreman perguntou cauteloso. O médico lhe lançou um olhar confuso. – Sobre Cameron.

– Ah, sobre a gravidez? Sei. – House disse sem emoção alguma na voz ou na expressão. – O que tem?

– Sabe quem é o pai? – Foreman perguntou sentindo uma pontada no coração ao lembrar-se de quanto fez a descoberta.

– Não. E nem me interessa saber. – House tentou expulsar a dor e a curiosidade.

– Tudo bem. – Foreman disse desviando o olhar para o corredor.

– Ok, me conte, Foreman. – House disse dando-se por vencido. – Sei que você não conseguira dormir a noite se não espalhar a fofoca.

Foreman riu sem humor. Ele não iria incomodar-se com as brincadeiras de House. Estava quebrado demais para pensar em qualquer coisa que não fosse Wilson.

– Wilson é o pai. – Foreman disse calmamente. Mas quando aquelas palavras foram ditas em voz alta, os dois homens que ocupavam aquela sala sentiram seus corações se despedaçarem de vez.