Começou quando éramos crianças. Eu nunca entendi bem o porque. Sempre fomos tão próximas. Ela era minha única amiga. Minha melhor amiga. E então tudo desapareceu. Como se nunca tivesse existido. Ela se fechou para mundo. E para mim. Em todos esses anos, foram raras às vezes em que a vi. E nessas vezes ela nunca deixava que eu me aproximasse. Ou outro alguém. Sempre fugindo.

Quando papai e mamãe morreram eu tive uma esperança. Acreditei que a dor fosse nos unir novamente. Trazê-la de volta para mim. Mas isso pareceu fazer ela se fechar ainda mais e agora nem os relances de cabelo loiro - quase branco - eu vejo sumir no corredor ao ir tomar café. Não ouça mais seus passos a noite, caminhando sozinha pelo castelo pensando que todos estavam a dormir.

A última vez que a via foi m sua coroação.

Ela estava tão bonita. Linda como eu já nem lembrava mais que ela era.

Minha irmã. Minha amada irmã que me abandonou para sempre. Sem nenhuma explicação.

Será que, sem querer, sem saber, eu fiz algo que a tenha magoado? Será que eu a feri de alguma forma? Se foi, eu só queria que ela conversasse comigo. Gritasse comigo. Eu pediria desculpas e prometeria recompensá-la pelo resto dos meus dias.

Eu só queria minha irmã de volta.

Queria poder sentir novamente o calor de seus braços quando ela me abraçava sem nenhuma razão. Queria ouvir de novo o som da sua risada. Ela costumava sorrir o tempo todo. Queria ouvir de novo sua voz. Ah, como era linda sua voz, tanto quanto seu rosto. Quando ela cantava era o som mais bonito que alguém poderia escutar. Ela sempre cantava para mim antes de dormir.

“Você é a minha irmãzinha, Anna. Vou cuidar sempre de você. Eu te amo.”

Eu rolo em minha cama como todas as noites. Pensando. Tentando encontrar uma razão para tudo. Tentando entender quando tudo mudou.

Desisto de dormir e saio do quarto.

O castelo é tão escuro e sombrio à noite. Tão frio e silencioso. Como ela.

Eu paro quando me vejo em frente a porta branca com desenhos de cristais de gelo. As lembranças de dias inteiros brincando na neve me atingem com força e sinto vontade de chorar.

— Elsa! - Eu chamo. Implorando. — Elsa, por favor. Abre aporta. Só uma vez, me deixa entrar.

Eu bato algumas vezes. Tentando chamar sua atenção. Precisando desesperadamente que ela me escute, e venha em meu socorro. Que me pegue em seus braços e diga que tudo esta bem. Que não passou de um sonho ruim.

Sinto meu coração acelerar ao perceber a luz passar por debaixo da porta.

Eu espero, ansiosa, que a porta se abra para mim. Finalmente depois de tanto tempo.

Eu vejo a luz se apagar e os minutos passarem assim como toda minha esperança.

O aperto em meu peito se torna demais e é impossível impedir que a lágrimas caíssem por meu rosto.

Penso escutar um pequeno soluço ao me virar para ir embora.

Tolice. Era, provavelmente, o eco dos meus.

A cada passo que me distancio sinto meu coração afundar cada vez mais.

Para jamais ser encontrado novamente. Deixando apenas o buraco.

Frio, vazio, escuro. Como o castelo.

Como ela.