Crônica do Fim do Mundo escrita por Sr Devaneio


Capítulo 1
Capítulo 1 - Quando o Mundo Derrete


Notas iniciais do capítulo

Eis o fim do gelo. Você está preparado?



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Tudo ao redor era de um azul intenso. Mais claro na superfície e à medida que ia aprofundando, o azul ia ficando mais forte, mais escuro, mais sombrio.

Sobre seu bloco de gelo, Pinguim observava a imensidão, e aguardava. Não fazia muito tempo que Pinguinha fora buscar algo para comer e ele já estava preocupado. A cada vez que a Bola Brilhante do Céu surgia do mar, a comida ficava mais difícil de encontrar. A cada novo resplendor da água gelada, mais longe as sardinhas iam.

Estava cada vez mais difícil de sobreviver ali. Não que ele se importasse tanto assim. Afinal, fazia um bom tempo que eram só ele e Pinguinha naquele grande – e ao mesmo tempo pequeno – pedaço branco flutuante. Ele se sentia tão minúsculo ali.

Rodeado de azul, um azul que não tinha fim, ele tentava entender como tudo fora acabar daquela forma.

Era simples: um dia, os outros saíram para procurar comida e nunca mais voltaram.

Pinguinha dizia que provavelmente eles se afastaram demais e acabaram no Além.

Onde o gelo e o frio não existiam. Para onde os peixes iam, sendo sugados dia após dia.

Ela supunha que todos os enormes icebergs haviam derretido devido ao calor que fazia (desde pequeno, Pinguim ouvia seu pai dizer que o clima estava muito quente, que quando ele era um simples filhote, ele e seus amigos se aqueciam confortavelmente em seus pais durante as nevascas), que a casa deles era o último ice do mundo, e que o mar havia engolido todo o resto.

Levando tudo, claro, para o Além.

O pior é que fazia sentido, pois num dia qualquer que Pinguim e Pinguinha caçavam, nenhuma sardinha foi encontrada em quilômetros. O mais suspeito, era que as focas também não – o que o deixou um pouco nervoso (e, ele admitia, até preocupado).

Onde estariam todos?

Há algum tempo, quando ainda havia alguns muitos pedaços pequenos de gelo flutuante por aqui e ali, um bloco novo surgiu. Nele, uma figura grande e branca se equilibrava quase precariamente para não cair na água. Um urso polar. O último que Pinguim vira, passou fitando ele e Pinguinha com olhos grandes e suplicantes.

Pinguim fora até ele, e eles conversaram por um tempo. Conversaram sobre o Além. Sobre o sumiço de tudo e todos. Sobre o Fim do Mundo.

Branco (esse era o nome do urso) disse que realmente, o Além havia sugado (e continuava sugando) tudo. Disse que os três eram os últimos seres vivos do planeta e que as sardinhas haviam acabado para sempre – nessa última parte, Branco deu uma risada histérica -. Eles tentaram pensar em alguma forma de Branco juntar-se a eles, mas infelizmente, seu iceberg já estava praticamente no fim e o de Pinguim era pequeno demais para algo tão grande como um urso.

Apesar de tudo, Branco pareceu entender e, antes de se despedir, disse que os esperaria no Além, quando todos tivessem parado de resistir ao Fim (dando uma risada histérica depois disso).

Sinceramente, Pinguim o achou meio maluco (apesar de ser um bom urso).

Enquanto Pinguim nadava de volta, Branco (e seu pequeno iceberg) foi diminuindo na imensidão, sem nunca parar de fitá-los com aqueles olhos enormes de dar dó.

Pelo menos, ele descobrira o mistério. Então era isso: tudo havia acabado. Ele, Pinguinha e Branco (se aquela altura, ainda estivesse vivo), eram os últimos seres do planeta. Aquilo foi angustiante sem deixar de ser excitante. Era estranho descobrir ser o último pinguim do Mundo de Água, e querendo ou não, o Além gerava muita expectativa.

Após mais algumas horas fitando o horizonte, seu devaneio cessou quando sua fome aumentou consideravelmente. Não que ele já não estivesse acostumado a ficar um longo tempo sem comida, mas desta vez Pinguinha estava demorando demais. Talvez a preocupação ajudasse. De qualquer forma, após andar de um lado para o outro incansavelmente, ele tomou a decisão.

A decisão que ele sabia um dia teria de tomar com Pinguinha. A decisão que o atormentava dia e noite, a cada nascer e morrer da Bola Brilhante do Céu.

Ele teria de deixar o iceberg. Teria de deixar sua casa.

Não seria como ele imaginou – quando o gelo ficasse preocupantemente pequeno demais, ele e Pinguinha pulariam juntos na imensidão azul e nadariam para o Além. Eles achariam os peixes, os outros e as focas seriam amigas – pois haveria peixe para todos -. Nunca mais ser ameaçado pelas bestas de dentes finos. O sonho de todo pinguim. E ainda iria encontrar Branco novamente.

E ele teria de fazer logo, pois não demoraria muito até a Bola Brilhante desaparecer e os primeiros Raios do Além chegarem.

Então, lançando um último olhar para sua casa, ele pulou...


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Notas finais do capítulo

Eu sei, é meio "infantilzinho". Mas, vamos... Até que não é perda de tempo... xDPor favor, comentem! ;)