O Alvorecer do Inverno escrita por AzyButterfield


Capítulo 1
Aurora


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem :)



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Aurora

Já estavam no mar havia seis dias e seis noites, as ondas e marés altas apenas faziam atrapalhar o trajeto da galé até Ponta da Tempestade. Aurora não sentia-se bem com o sacolejar de Trovoada, pois dava-lhe enjoo constantemente. Meistre Cressen sempre dissera-lhe para ser forte, era uma Baratheon, deveria agir como tal. Ouviu o Capitão urrar lá de cima, informando já terem chegado as águas da Baía dos Naufrágios, não demoraria muito mais a pisar em terra firme, mesmo que esta fosse sombria e singela.

Bamboleou para fora da cabine estreita, em busca da mãe, Lady Lyanna. Ao passar pelo corredor muitos dos homens ali presentes fizeram pequenas mesuras e reverências, evitando olhar diretamente em seus olhos azuis. Aurora descendia dos Reis da Tempestade, dos Primeiros Homens, terceira nascida da união de Lorde Robert Baratheon I e sua senhora Stark, compartilhava do sangue dos Lobos e, futuramente, se casaria com algum grande Senhor sulista. Não almejava nada disso, todavia aceitara carregar o fardo da nobreza; nascera para isso, fora criada assim, deveria ter lindas filhas de cabelos castanhos, como os seus, e dar ao marido status e herdeiros homens.

Ainda não conseguia compreender como tudo mudara tão rápido. Se lhe segredassem que estaria saindo de Winterfell na surdina da noite, como uma fugitiva após realizar um saque, afirmaria desacreditar nas palavras levianas do locutor e ordenaria arrancar-lhe a língua fora com ferro quente. Todavia, aceitara deixar o frio, retornando ás raízes tempestuosas. E embora parecesse, não odiava Ponta da Tempestade, porém crescera ao lado dos primos, com cores dos Tully de Correio, e tecera e brincara junto de Arya, Sansa e Robb pelas criptas dos Reis do Norte. Também amava observar, da janela da Torre do Sino, os floquinhos brancos assentarem-se no chão. Lhe agradava pensar em passar o resto da vida lá, junto da senhora sua mãe e primos, rezando aos Deuses Antigos. Não vivia pela Fé dos Sete, por mais que o pai e irmãos, Argilac, Orys e Durran, adorassem aos Novos Deuses.

A ânsia de vômito fez-a estabacar-se no chão. Aurora estava demasiadamente fraca, não comera nada durante a ceia da noite passada. Detestava carne de cavalo curtida em pimenta tanto quanto odiava o mar! Levantou elegantemente, arrumando as mangas do vestido dourado e negro, cores Baratheon. Sabia não estar apresentável, porém não importava já que nenhum rapaz de alto nascimento veria-a naquele estado: fedida á mar e com roupas molhadas de maresia. Trataria das vestes e higiene quando ancorassem em Ponta Tempestade.

— Senhora Aurora?

Matthos era o terceiro filho do ex-contrabandista, Davos Seaworth, levantado Sor por Stannis Baratheon, segundo herdeiro de Lorde Steffon. Ele servia como escudeiro para com Sor Orys. Os olhos castanhos, ansiosos, piscaram com a demora da resposta de Aurora.

— Está bem? Precisa de água? Comida?

— Agradeço o apreço, Matthos, estou bem. Procuro pela senhora minha mãe — falou dando um sorriso educado. — Viu-a?

— Sinto muito, receio não te-la visto — suspirou, com pesar.

— Foi atencioso da sua parte. Agradeço, novamente — deu mais um sorriso, e alguns passos á frente.

Matthos cheirava tão forte à água salgada! Deixou-a com mais vontade de colocar o pão preto e bacon, comido duas noites atrás, para fora. Sua cabeça girava com o sacolejar frenético da galé, poderia desfalecer a qualquer momento.

— O Capitão informou já estarmos chegando — ele a seguiu, indo de um lado para o outro com o mover brusco da embarcação. — Logo, logo chegaremos.

— Isto é divino — sussurrou, enojada, ao subir as escadas que levavam para parte superior. — Por que veio nesta galé, Matthos? É escudeiro de Orys, não um guarda pessoal meu.

— Ora essa, Senhora Aurora, Sor Orys partiu do Norte três noites antes de vós, deixando-me para trás, não tive outra escolha.

— Orys foi recrutado pelo Rei Dragão, uma chamada de indiscutível honra — defendeu o irmão, captando o trabalho árduo dos tripulantes. — Por que saímos de Porto Branco com tamanha dificuldade?

— Uma tempestade havia começado — estendeu a mão enluvada, ajudando-a.

— Alguém ocupa aquela cabine?

— O Capitão — respondeu prontamente, guiando em direção a cabine.

Huedle Saan, O Capitão, era um lyseno de pele clara e cabelos esbranquiçados. Ele não tinha metade esquerda do nariz e seus olhos eram como o nevoeiro da Baía dos Naufrágios, brancos e turvos. Aurora evitava-o. Argumentou se valeria á pena rebuscar informações sobre sua mãe com o lyseno. Mas por sorte encontraram Lyanna antes mesmo de arriscarem adentrar os aposentos de Huedle Saan. Lady Lyanna antes Stark Baratheon jazia parada, observando o céu tempestuoso, na borda da embarcação. Seus olhos haviam adquirido uma coloração semelhante a do mar, cinzento. Os cabelos ainda estavam amarrados do jeito nortenho, meio presos, meio soltos e as vestes eram simples e quentes. Vestia um vestido de lã cinza-escuro, pesado, com uma capa negra atada ao pescoço, o Lobo cinza e Veado dourado tremeluziam em suas costas.

— Mãe.

— Sim, Aurora?! — sua voz estava leve e fraca, como o vento.

— Matthos, poderia fazer a gentileza de deixar-me...

— Claro, Senhora — disse antes mesmo da ordem. Ele saiu ligeiro, esvoaçando a capa negra com o símbolo do navio e cebola, ao fundo.

Aurora fincou os pés na madeira que rangia, ao lado da senhora sua mãe. Parecia tão absorta, tão sem vida. Era sempre assim quando retornavam. Algumas gotas de água salgada molharam-lhe a boca e olhos.

— Quando acordei estava sozinha— disse, baixinho. — Senti medo, mãe.

— Desculpe, filha. Avisaram-me já estarmos poucas léguas de casa, por isto subi. Não era minha intenção deixar-te assustada — alisou os cabelos dela, tão parecidos com os seus. — E detesto permanecer parada. Não suportava aquela saleta.

— E eu não suporto o mar. Como posso ser filha de um descendente de Senhores da Tempestade? — franziu o cenho.— Sou uma bastarda?

— Não questione minha honra, Aurora — Lyanna falou fria. Optava por agir assim quando se sentia humilhada ou rebaixada, o que era quase a mesma coisa.

A letargia do momento se implantou como a garoa que desceu do céu. Ficava mais escuro e frio, com o passar dos segundos, minutos, horas.

— Mãe... Aquele...?

— É, parece que chegamos em casa, querida.

Os sinos tocaram.

Observaram, de onde estavam,as enormes muralhas preenchidas com areia e escombros, lisas e curvadas, com as pedras tão bem encaixadas que não havia nenhuma brecha para o vento. A gigantesca torre redonda, com formidáveis ameias, dava a ilusão de à distância parecer ser um único e gigantesco punho com pontas de ferro desafiando o céu.

— Lar — sussurrou Aurora.

Lar. — Lyanna fez o mesmo, apertando as mãos da filha.

Tomaram velocidade, passando pelas falésias brancas, entrando na passagem de água gradeada em uma caverna que levava para debaixo do castelo. Tudo ficou escuro e silencioso por um tempo. Aos poucos a luz cálida das estacas iluminou o caminho. Muitos servos Baratheon receberam-as, com falso ânimo.

A tripulação de Trovoada descarregou todos os bens, deixando tudo a cargo dos homens vestidos de cota de malha e espada juramentada.

Em meio a agitação, um pequeno menino, claro, de olhos azuis e cabelos negros, emergiu carregando uma espada de treinamento na mão. Durran II, igualmente á Durran I o Rei da Tempestade, tinha menos de onze dias do seu nome. Era o caçula dos Baratheon de Ponta Tempestade. Seu lábio pálido tremia com o frio.

Lyanna se atirou aos braços magros do filho.

— Papai deseja as duas, na sala privada, agora — Durran disse, após se soltar do aperto exercido pela mãe.

— Acabamos de chegar, estou exausta.

— Aurora — Lyanna segurou o ombro da filha, — vamos. Sabe como seu pai fica quando nervoso.

Relutante Aurora seguiu Lyanna. As duas demoraram meia hora subindo pela escadaria de pedras, até o interior do castelo, passando pelos corredores frios, ecoando o barulho dos raios e trovões. A sala privada de Lorde Robert ficava no fim do corredor, na parte mais escondida e escura, iluminada por archotes de fogo dourado.

— Meu Senhor — Lady Lyanna deu dois delicados toques no arco.

— Entrem.

— Pai — Aurora moveu a cabeça em um cumprimento.

— Cresceu, desde a última vez — comentou estridente.

— Sim. Já fazem sete luas — replicou, ocupando um lugar à mesa.

— Bom — murmurou enquanto recebia um beijo cálido de Lyanna. — Outro corvo chegou, três dias atrás.

Aurora sabia o que deveria esperar, mas negava-se pensar nisso.

— Sobre? — questionou Lyanna a Robert. — Espero que sejam boas novas.

— E são — puxou o pergaminho d'baixo da gaveta. Continha o selo dos Greyjoy, de Pyke. — Balon Greyjoy fez uma proposta.

Mãe e filha trocaram olhares acuados. Aurora gritava por socorro, em seu interior.

— Meu marido, negociar com Homens de Ferro nunca é algo bom. Eles são traíras.

— Haverá um casamento em Porto Real, daqui alguns dias — fingiu não ter ouvido Lyanna. — Todos integrantes das Casas Reais foram convocados para prestigiar a união de Daenerys e Viserys Targaryen.

— No que isto envolve os Greyjoy? — Aurora elevou a voz, temerosa.

— Como sabem, os Homens de Ferro preferem se manter insolados, vivendo nas tradições do Costume Antigo, e eles nunca aceitariam viajar até Porto Real, embora dessa vez seja diferente. O segundo filho de Balon Greyjoy, Maron, pretende desposar alguma nobre e o interesse dele recaiu sobre você, Aurora — estendeu o pergaminho para ela. — Leia.

"Eu, Balon Greyjoy o Nono de Meu Nome Desde o Rei Cinzento, Filho do Vento Marinho, chefe da Casa Greyjoy de Pyke, lorde supremo das Ilhas de Ferro, capitão da Grande Lula Gigante, desejo que unifiquemos nossas Casas, por meio do matrimonio entre Maron, meu segundo filho, e sua única filha, Aurora, diante da fé.

Pagarei o dote com uma frota de Dracares e em cada navio navegara seu peso, Lorde Robert, em estanho, ferro e cobre..."

— Papai — parou de ler, fitando-o com os olhos cinzentos em espanto. — Sei que deseja meu casamento, logo, mas trocar-me por uma frota de Dracares não é justo! Cobre, ferro e estanho?!

— Deixe-me ler — Lyanna puxou a carta, analisando as palavras habilmente. — Robert, Aurora tem razão. Case-a com um vassalo, Swann ou Dondarrion, talvez.

— Mulher, entenda uma coisa: Balon Greyjoy pensa em se alto-proclamar Rei, de novo, precisamos ficar de um lado, e sabe que nunca ficarei ao lado dos Dragões imundos. Eles mataram Lorde Rickard e Brandon! — urrou, andando pela sala, de um lado para o outro. — Deveria me apoiar.

— Apoio — levantou-se, olhando-o de cima.

Aurora gostava quando a mãe desafiava-o, pois sentia ser cada vez mais como ela. Sangue do mesmo sangue; sangue gelado, sangue de lobos, sangue do Norte. Observou a discussão deles, imóvel. Não queria casar com ninguém! Tinha feito 15 anos alguns meses a fio, pretendia aproveitar sua juventude correndo nos campos congelados em Winterfell e desbravando as cavernas de Ponta Tempestade. Ás vezes achava o pai um grande hipócrita, afinal, nos tempos de moço vivia despreocupadamente, sem seguir regras e lá estava ele, gritando com a esposa, de face vermelha.

— Irá noivar em Porto Real.

Bateu à mesa com o punho fechado.

— Meu senhor, dê-a mais...

— Não, mulher. Já está em tempo de Aurora casar — esbravejou. — Sangrou o lençol, pode muito bem gerar filhos. Esse é o papel dela.

— Robert — Lyanna repreende-o, sem progresso.

— Não tardará para os Reinos comentarem sobre a flor de nossa filha. Dirão boatos; Aurora permitindo Robb Stark de deitar-se com ela, ou o próprio escudeiro de Orys. Dizem obscenidades até mesmo de mim — argumentou, relaxando o punho na mesa.

— Sem sua falsa moralidade tacanha, papai.

Pôs-se de pé, saindo do aposento privado do Senhor seu pai. Os passos foram precisos em direção ao quarto. Não iria ouvir mais nenhuma palavra grosseira vinda dele, não mais. Em si prevalecia o lado Stark, muito mais quê Baratheon. Era indomável, como o lobo gigante que reluzia nos estandartes do Norte.


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Notas finais do capítulo

Bem... A personalidade do Robert ficou algo bem diferente do que ele era na realidade, pois imagem bem: Robert não virou Rei dos Sete Reinos, apenas um Lorde, que deveria administrar suas terras, cuidar da família e afins. Casou com a mulher que queria, embora nunca pudesse mudar o jeito boêmio de ser. Mas, supondo, deixou de lado as prostitutas, ao menos um pouco. Eu sei que ele deveria ser mais possessivo com a filha e tudo o mais, todavia imagino que sua sede por vingança seja maior do quê qualquer outra coisa. Mas, então? Ressalvas? Palpites? Digam o que querem!