Prelúdio da Tempestade

- Antes da tempestade vem a calmaria. - disse o homem que acabara de entrar na cabine de comando do navio.

O timoneiro olhou para ele e concordou, abaixando a cabeça.

- Sim senhor, capitão. Eu não esperava que o mar estivesse tão tranquilo hoje, não há nem ondas. A sorte sorri pra nós.

- Não era disso que eu estava falando, mas já que mencionaste, hoje os espíritos dos mares nos apóiam em nossa sagrada missão. Devemos cumpri-la com orgulho e sem hesitação.

O timoneiro concordou mais uma vez e olhou para o mar à frente. Nas águas escuras podia-se ver o reflexo das estrelas, que brilhavam intensamente no céu. No horizonte já era possível ver a luz dourada emanando da ilha. Era o fim do segundo dia da Calibração. Eles deveriam ter chegado lá no início do primeiro dia, mas uma grande tempestade os deteve por alguns dias e foi necessário o esforço dos melhores marinheiros para combater a fúria do mar. Ele não podia ver, mas sabia que dezenas - não, talvez centenas - de navios aproximavam-se discretamente da ilha, vindo de todas as direções.

Então o timoneiro olhou de volta para o capitão. Ele vestia uma imponente armadura vermelha que tinha jóias de várias cores incrustadas. Algumas das jóias brilhavam mais intensamente que as outras, mas de todas elas emanava uma aura sobrenatural. Um mortal jamais conseguiria sustentar aquela pesada armadura sozinho, mas o capitão do navio não era um mortal qualquer. Seus longos cabelos vermelhos pareciam labaredas de fogo vivo descansando sobre os ombros, seus vigorosos braços seriam capazes de partir um touro ao meio e suas cicatrizes eram preciosos troféus de batalhas travadas contra os inimigos da Criação. Lizanos Mnemon, mais conhecido como O Tigre de Fogo, era respeitado até mesmo pelos lordes Solares.

Mas uma coisa o pacato timoneiro ainda não compreendia. Por que aquele que foi considerado o maior herói de sua raça se voltaria contra os lordes que lhe deram riquezas e prestígio? Por que eles estavam arriscando suas próprias vidas para atacar os mais poderosos seres vivos sobre a Criação e quebrar a ordem estabelecida pelos próprios deuses?

- Atenção. - disse o capitão. - Segue em linha reta até estarmos a duzentos pés da terra. Eu estarei lá embaixo com meus homens.

- Sim senhor, capitão. - o timoneiro respondeu prontamente.

Então navio prosseguiu lentamente pelo do mar. A luz da ilha tornava-se mais forte à medida que o navio se aproximava. Quando o navio chegou à distância indicada, o capitão reapareceu na cabine e esperou mais alguns minutos. Os outros navios que faziam parte da esquadra aproximaram-se lentamente e pararam lado a lado. Então, como se tudo estivesse sincronizado, o soldados vestindo armaduras coloridas e portando diferentes armas reuniram-se ordenadamente no convés, formando círculos de cinco pessoas. Poderosas rajadas de vento começaram a circular cada um dos grupos até que todos saltaram ao mesmo tempo num único impulso. O timoneiro surpreendeu-se ao ver os soldados voarem pelo céu, indo em direção à ilha.

A mesma cena se repetiu simultaneamente em todas as centenas de navios que cercavam a ilha. Milhares de pontos coloridos rasgaram o céu iluminado pela luz da ilha indo em direção a um único ponto: o palácio de ébano e marfim.