3° Desafio Sherlolly - Os Olhos do Pai escrita por Leticiaps


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Foi bem difícil escrever essa história. Espero que gostem.



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Molly não sabia o que fazer, havia acontecido... O que? Três, quatro vezes sem preservativo - nenhum dos dois tinha um em mãos - e na hora não importava. Claro que não. Não se importaram nem com o local, por que se importariam com um detalhe como camisinha? Ela achou que não, por que aquilo iria acontecer com eles? Apoiada na pia, olhando para os três testes, todos os sentimentos do mundo passavam por ela. Mas havia um que se destacava dos outros. Meio tímido no começo, mas que depois dominou todo o seu ser: amor.

Nas últimas semanas estava com mais sono do que o normal. Ela não era uma pessoa que gostava de dormir, só o fazia porque, bem, porque precisava. E então de uma hora pra outra dormia em qualquer tempinho que tivesse. E quando não dormia, comia. Se deixassem ela comeria pedras.

Não foi trabalhar naquele dia. Vomitará seu café da manhã e achou que mexer em cadáveres poderia piorar a situação, então deu a Sherlock uma desculpa sobre um suposto mal estar e que ia ficar dormindo, apenas para que ele não se preocupasse.

– Tem certeza que não quer que eu fique com você? - perguntou meio sem jeito.

– Não se preocupe comigo - ela respondeu, levando sem querer a mão a barriga - vou ficar bem. - E sorriu. Ele pegou seu sobretudo e o mini cachecol azul, deu um beijo em sua testa e saiu.

E lá estava ela, naquele banheiro na Baker Street - passava cada vez mais tempo ali do que na sua própria casa - encarando a própria imagem do desespero. Não fazia ideia de como contar a Sherlock sobre o bebê. Ele mal sabia como lidar com o relacionamento dos dois, como lidaria com um filho?

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Foi tudo tão repentino. Eles ficaram juntos umas vez antes dele desaparecer por dois anos e isso mudou alguma coisa dentro dele. De alguma forma as barreiras que Mycroft sempre fez com que ele levantasse começaram a ruir. Molly havia feito isso. Justo ela, que ele nunca dava muita atenção. E o mini John em sua mente dizia que ele não devia ter transado com ela e saído no dia seguinte, sem nem mesmo dizer adeus.

Então ele se pegava o tempo inteiro pensando nela e naquela única noite. Até sonhava com ela. E depois, quando voltou, Molly estava noiva. Aquilo foi como uma pancada na cabeça. Ele realmente achou que depois de dois anos sem notícias ela ainda esperaria por ele? Mas ela esperava, e ela teve certeza disso quando viu Tom. Uma cópia mal feita de Sherlock Holmes. Suspirou aliviado.

Com o fim do noivado, era como se não houvesse outra possibilidade. No fundo ele sabia que não podia ficar longe dela, mesmo que isso não fizesse nenhum sentido para ele.

Foi a coisa mais estranha do mundo chamá-la para sair. Não, a coisa mais estranha foi ter saído com ela na primeira vez. Como se eles não tivessem feito sexo antes. Ficou um silêncio constrangedor durante todo o jantar. Ela mal conseguia olhar pra ele e Sherlock só conseguia pensar no que faria em seguida.

Bom, é claro que em seguida eles fizeram sexo. Não, não no restaurante. A partir daí as coisas ficaram mais fáceis, ou menos constrangedoras. Ela passava muito tempo na Baker Street e no começo praticamente só ela falava. Ele tentava prestar atenção, mas era meio difícil. Até que começou a ficar interessado de verdade. Quando se deu conta estava falando de sua própria vida para ela. Talvez tenha sido aí que percebeu que estava apaixonado. Mas ele nunca havia se apaixonado antes pra ter certeza.

As vezes ele ficava só a observando: o jeito como ela se encolhia quando falava sobre a família, a felicidade em sua voz quando ele perguntava como havia sido o dia dela, o jeito que ela mexia no cabelo quando ficava sem graça. Até vê-la dormindo ele gostava. Tinha algo de bizarramente relaxante em ficar só prestando atenção em sua respiração quando ele mesmo não conseguia dormir. Ela ficava lá, parada a noite inteira na mesma posição. Menos quando tinha pesadelos - o que estava meio frequente ultimamente - é a respiração dela se alterava, enquanto agitava os pés sem parar. Aquilo o preocupava, mas depois da quinta vez em que a acordou no meio de um pesadelo e teve com resposta uma travesseirada na cara, decidiu que era melhor não interferir.

Mas Molly estava meio estranha de uns tempos pra cá. E ele tinha sete teorias a respeito disso.

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Ela praticamente esvaziou a geladeira. Em parte devido a gravidez e em parte devido a ansiedade. Não conseguia pensar em um jeito de contar a Sherlock. Não conseguia vê-lo tendo uma reação feliz a notícia.

Quanto a ela, não poderia estar mais feliz - mesmo que não parecesse naquele momento. Finalmente tinha Sherlock ao seu lado e por mais que tivesse que ter uma enorme paciência para não jogar o que quer tivesse em mãos em sua cara, cada segundo valia a pena. Estranho, ela sabia. E agora com um bebê - o bebê deles - não cabia tanta felicidade em seu coração.

Depois de decorar cada canto da cozinha, ainda sem ter ideia sobre como falar sobre o filho deles, foi ficar rodando em círculos na sala. Como se aquilo fosse iluminar sua mente com uma ideia brilhante.

Senta no sofá. Levanta.

Senta na poltrona. Levanta.

Senta na outra poltrona. Levanta.

Mexe no violino.

Mexe nos papéis em cima da mesa.

Mexe nos livros, nos quadros, na TV e corre de volta pro banheiro, devolvendo tudo que havia acabado de comer. Respirou fundo e começou a chorar. E chorou até não poder mais.

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Ele voltou para casa depois de mais um dia sem um caso realmente desafiador e com cinco teorias sobre a esquisitice de Molly eliminadas.

– Cheguei. - foi direto para o quarto, largando os sapatos e o sobretudo no chão. Achou que ela estaria dormindo, mas a cama estava do mesmo jeito que eles deixaram quando levantaram. - Molly. - ela não estava em lugar nenhum e não havia deixado nenhum bilhete. Ligava no celular dela e caia direto na caixa postal.

– A Molly está com você? - ligou desesperado para Mary.

– Não, não falo com ela desde segunda. - era uma quarta. Seria inútil perguntar se ela tinha alguma ideia de onde Molly poderia estar, então ele desligou.

Entrou no banheiro novamente. Percebeu que a cortina da banheira estava entreaberta.

– Molly? - abriu a cortina e lá estava ela, deitada sobre o braço, cochilando. "Por que diabos ela está dormindo aqui com uma cama gigantesca logo ao lado?" Mas ao invés de tirá-la de lá, se juntou a ela e a envolveu com seu corpo.

– Sherlock? - perguntou ainda meio zonza de sono.

– Olá. - percebeu que seus olhos estavam inchados. - Por que você estava chorando? - a preocupação nos olhos dele foi suficiente para fazê-la se debulhar em lágrimas de novo.

– Oh, Sherlock! Eu... - ele a abraçou mais, e ela afundou o rosto em seu peito. - Sherlock, eu estou grávida!

– Molly, querida - ele levantou o rosto dela, para que pudessem olhar um nos olhos do outro - eu sei.

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Talvez tenha sido o uso da palavra "querida", talvez fossem os hormônios - apostaria na segunda opção se pudesse - o fato é que quando ele disse aquilo, um simples "eu sei" a irritação a atingiu como uma bomba. Se afastou dele, ou quase isso, já que estavam em uma banheira, e começou a gritar.

– Molly, Molly, por favor me escute - ele falou, puxando-a de volta para si, deu um beijo em seus lábios e continuou - você não precisava ficar brava, não precisava se desesperar. - Respirou fundo, havia pensando muito nessas palavras - talvez não pareça - e agora ele estava sorrindo. Sorria de um jeito que ela sabia que ele não sorria para mais ninguém. - mas eu estou feliz por isso. Ainda não acredito e definitivamente não sei lidar com a ideia de ser pai - isso a fez rir - mas não poderia estar mais feliz por seu pai do seu filho. Nosso filho - e o sorriso no rosto dele aumentava. Aquilo soava musical aos seus ouvidos. - e além disso, há três testes de gravidez dentro da pia. - ela começou a rir com a própria estupidez. E ele riu junto, aliviado por ela não estar mais brava.

– Eu te amo, Sherlock. - falou, olhando no fundo naqueles olhos azuis.

Levou um tempo, enfim ele respondeu, meio sem jeito:

– Eu te amo, Molly.

Sete meses depois...

Ela não tinha reparado o quão intensas eram aquelas cores. As vezes até doía abrir a geladeira, com tantas frutas e cores e enjoos soltando aos olhos. E os cheiros, ah, os cheiros eram os piores. As vezes tinha que expulsar Sherlock da cama. Não aguentava o cheiro dele. Sem falar das dores. Tudo doía, principalmente as costas. Ela estava enorme. A gravidez havia sido relativamente tranquila, mas com quase trinta quilos a mais ficava difícil até de andar. Era difícil de acreditar que aquele corpo magro agora tinha forma de uma melancia. Seus peitos pareciam duas bolas de boliches, era inacreditável. Sherlock não parecia se importar com isso. Depois de quase cinco meses sem que ela deixasse ele encostar nela, ficava cada vez mais excitada, mesmo que o sexo fosse meio complicado.

Agora tudo que ela conseguia pensar era se o menino seria parecido com ele ou com ela. Passavam horas falando sobre isso. A criança nem havia nascido e Sherlock já era o pai mais bobão do mundo. Ficava o tempo inteiro falando com a barriga e a acariciando. Sempre a abraçava e quase toda noite dormia abraçado a sua barriga. Mal conseguia reconhecer aquele Sherlock do começo. Esse Sherlock se preocupava em deixá-la confortável, em fazer suas vontades - que eram muitas - e em arrumar o quarto do bebê. Ficou furioso quando Molly o proibiu de montar o quarto inteiro de azul. Quase virou o pote de tinta na cabeça dele quando viu que ele pretendia pintar as paredes do quarto de azul. E daí que era um menino? Ele não podia gostar de rosa?

Mas o mais difícil foi o nome. Eles simplesmente não chegavam em um acordo.

– Andrew. - ela falou, de repente.

– O que? - ele estava estudando um caso, e se virou pra ela sem entender.

– Quero chamá-lo de Andrew. - ele parou pra pensar um pouco e sorriu.

– É, acho que Andrew é um bom nome. - voltou aos papéis.

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Alguns dias depois de decidirem o nome do menino - Andrew, esse nome tinha algo de poderoso - Molly acordou no meio da noite completamente apavorada. A bolsa havia estourado! Ela gritava de dor e ele não sabia o que fazer.

– John, a bolsa estourou! - ele berrava desesperado no telefone.

– Estamos indo - respondeu ainda meio sonolento.

Cinco minutos depois - que pareceram durar horas - John e Mary chegaram com o carro e foram voando para o hospital, com Molly gritando de dor durante todo o caminho.

Mal chegaram no hospital e Sherlock já estava berrando com todos.

– Ela está tendo meu filho, alguém a ajude! - com Sherlock Holmes pelo hospital, em um piscar de olhos haviam cinco pessoas para levá-la a sala de parto.

Na hora do parto ele estava tão fora de si que não quis entrar. Ninguém entendeu o porque, mas a irritação era tão evidente - parecia até que era ele o grávido - que ninguém perguntou nada. Ele só queria ela sentisse o mínimo de dor. E que os dois sobrevivessem, é claro.

Mary Watson acabou entrando. Não que Molly tenha notado. A dor era tanta que ela só conseguia pensar que estava prestes a morrer.

Três horas depois estava tudo acabado. Molly já estava no quarto com Sherlock ao seu lado, segurando seu mão e John e Mary sentados do outro lado do quarto. Não havia nada para falar. Só queriam ver o bebê.

Sherlock, porém, ainda era uma pilha de nervos. Apesar da felicidade - jamais achou que sentiria tamanho amor por alguém, ainda mais alguém que ele sequer havia visto. "Não entrou na hora do parto porque não quis". Agora não importava. Ele só queria ver o filho logo.

Quando todos estavam todos começando a ficar preocupados com tanta demora, a enfermeira finalmente entrou no quarto com Andrew no colo, dormindo. Sherlock ficou hipnotizado. Aquele pacotinho no colo da enfermeira ficava ainda menor em seus braços. Aliás, foi só pega-lo que o garoto acordou, mostrando aqueles enormes olhos azuis. Isso e mais os cabelos pretos espetados o faziam o joelinho mais lindo do mundo. Ele não sabia o que falar. Na verdade, não havia o que falar. Depois de oito meses de espera, ele finalmente era pai. E nunca se sentirá tão completo.

 

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Notas finais do capítulo

E então?