Atraída por um Darcy escrita por Efêmera


Capítulo 17
O Momento Crucial — Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Oi, amores. Eu me apaixonei escrevendo esse capítulo e tenho certeza que vão amar. Foi mágico. Aproveitem bastante. *-*



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Já havia se passado quase uma semana desde o dia que “saímos” e tudo estava indo bem. Embora Darcy não tivesse me dado mais tanta atenção, ele ao menos não estava mais sendo rude comigo ou me ignorando intencionalmente... agora as coisas pareciam mais confortáveis para mim. Darcy havia ido para umas entrevistas durante a semana e ainda precisaria ir para mais outra, a mais importante para a família Darcy. Oxford sem dúvida seria a faculdade escolhida e todos sabiam que Darcy entraria sem qualquer dificuldade.

Repetindo o ritual do dia do exame, toda a família, com exceção do meu pai que já estava trabalhando (algo que ele vivia fazendo na busca de dinheiro para que pudéssemos nos mudar), estavam à espera de Darcy. Quando ele já estava pronto, todos se reuniram na entrada para desejar boa sorte. Ele se despediu de todos e, para minha surpresa, foi seguindo andando até o metrô. Eu não entendia o que estava acontecendo, estava achando estranho que de uma hora para outra o motorista e o segurança haviam sido dispensados. Não realmente dispensados, pois eles continuavam trabalhando para a família, mas agora não viviam à disposição de Darcy.

― Depois de me chatear sobre ele ir ou não, finalmente isso acabou! ― disse o duque.

― Isso é tão injusto! Por que eles têm que passar por algo assim em uma idade tão jovem? ― lamentou Maggie.

― O que você está dizendo, querida? Você se casou quase nessa idade. ― tornou o duque envolvendo a esposa com o braço e a levando em direção às escadas. Maggie riu diante de seu comentário e também envolveu o marido com o braço. Eu achava linda a relação deles. Embora não costumassem ter esses momentos em público, era notável o quanto eles se amavam. Enquanto eu ia também pela escada, ao lado de Georgie, algo me incomodava, e, quanto mais os segundos se passavam, mais eu ficava angustiada, até que me lembrei de todas as conversas que eu havia tido com Darcy nos últimos dias.

Era óbvio que ele não queria ir para a faculdade e talvez só estivesse fingindo que estava indo para a entrevista para acabar com toda aquela preocupação da família. Será que era isso mesmo? E se não fosse? Será que ele era confiável? Não, eu acho que não.

Apressei-me pela escada novamente, pegando minha bolsa e casaco e saindo correndo. Eu tinha certeza que ele ainda não ia tão longe, então se eu me apressasse um pouco poderia pegá-lo ainda a caminho do metrô, afinal a mansão ficava em uma área bem distante. E consegui. Quando avistei Darcy ele ainda estava bem distante da entrada do metrô. Continuei andando sem deixar que ele me visse, até que ele parou de repente e olhou para trás.

― Não adianta, Bennet, te vi já tem alguns minutos. O que pensa que está fazendo? ― ele questionou me deixando vermelha.

― E-eu só- ― gaguejei sem encontrar a melhor forma de explicar a minha presença ali. Eu parecia uma stalker idiota.

― Sei, sei... Você acha que eu não vou para a entrevista, por isso precisou assegurar a minha presença lá. ― ele disse calmamente. Eu fiquei ainda mais sem palavras.

― Descul- ― tentei falar novamente, mas ele me interrompeu.

― Faça como desejar.

E dito isso ele voltou a andar. Eu fiquei parada como uma idiota olhando para ele, até que despertei quando a distância entre nós dois tinha sido bastante ampliada e corri para alcançá-lo. Embora não fosse comum a ele, Darcy andou em uma velocidade razoável que eu poderia acompanhar calmamente. Depois de alguns minutos pegamos o metrô. Como estava um pouco lotado por causa do horário, tivemos que ficar em pé perto da porta. Quando anunciou a nossa estação, foi um pequeno tumulto para descer, mas nada que nos deixasse preso ali. Descemos e quando estávamos fora da estação, Darcy virou para mim e falou:

― Já é o suficiente, vá para casa.

Eu assenti, mas não iria aceitar realmente o que ele estava pedindo, só o fiz para que ele continuasse o seu caminho. Quando vi que já estava bastante próximo do lugar, virei-me e comecei a voltar a andar para a estação. Quando cheguei a uma via, que havia passado tinha apenas alguns minutos, esperei até que o sinal abrisse. Quando o fez, tornei a andar, mas a dor que senti quando algo duro chocou-se fortemente ao meu corpo foi enorme, levando-me direto para o chão. Depois disso não vi mais nada, pois tudo se tornou escuro.

@@@@

Eu sentia meu corpo despertando de algum tipo de sono que eu estava, mas o mal estar era tão grande que eu não conseguia compreender. Grande também era o desconforto que eu passei a sentir pelo meu corpo à medida que voltava a si e eu estava começando a desejar que eu voltasse a dormir.

― Oh, ela está acordando! ― escutei a voz de Georgie um pouco distante e isso me forçou a tentar me aproximar da voz dela.

― Lizzie! Lizzie! ― Agora era meu pai me chamando. Mas eles estavam longe demais.

Pouco a pouco, à medida que a razão voltava a mim, as vozes deles foram se aproximando, até que elas estavam ao meu lado, e foi quando finalmente abri meus olhos para me deparar com os rostos chorosos de Georgie, Maggie e meu pai, e um semblante preocupado do duque.

― Lizzie, minha querida. ― disse meu pai com uma mistura de alívio e desespero, mas eu não poderia dizer qual dominava mais, pois o incomodo no meu corpo me deixava sem qualquer capacidade de raciocínio.

― Pai... ― murmurei em um tom quase inaudível. ― Onde... estou?

― Em um hospital, minha querida. ― respondeu meu pai.

― Você esteve em um acidente, Lizzie. Não recorda? ― disse Maggie. Eu assenti, seria difícil esquecer.

― Mas não é nada tão grave, Lizzie, você poderá ir para casa amanhã. ― disse Georgie. ― Aquele motoqueiro idiota-

― Georgiana! ― falou Maggie em tom de censura.

― Ah, mãe. Ele era idiota mesmo, furou o sinal vermelho! ― respondeu Georgie emburrada e depois se voltou novamente para mim. ― Enfim, Lizzie, um motoqueiro ignorou o sinal vermelho e bateu em você. O médico disse que você não quebrou nada e que poderia ir para casa amanhã ainda se o exame não mostrar nada realmente preocupante, mas ele quer que passe a noite em observação porque desmaiou. ― ela finalizou sorrindo.

― Como... como vocês...? ― tentei começar novamente, mas era preciso um esforço muito grande para tentar buscar as palavras. E isso porque eu não havia quebrado nada!

― Fitzwilliam ligou para casa nos comunicando, querida. ― Começou Maggie. ― Você realmente nos preocupou, achei que era algo muito mais grave...

Ela continuou falando, mas minha mente havia parado bem no início.

― Darcy! Onde ele está? ― perguntei preocupada, não havia visto se ele tinha realmente entrado, mas acreditava que sim. Eu devo ter parecido bem desesperada, pois Maggie logo segurou minha mão e disse:

― Acalme-se, Lizzie. Ele deve estar na entrevista agora. Tenho certeza que a própria universidade está desesperada para tê-lo como aluno, assim como qualquer outra do Reino Unido, então não se preocupe.

― Isso é um alívio. ― suspirei.

― Vocês já chegaram! ― escutei uma voz que já conhecia muito bem, vindo da direção da porta. Em choque, toda a família se virou para ver Darcy que acabava de chegar. Ele, parecendo não entender o espanto, entrou calmamente e sentou em uma poltrona que ficava próxima à porta.

― Fitzwilliam, você não deveria estar na entrevista? ― falou o duque surpreso.

― Não. Eu estava com fome, então fui comer. ― ele respondeu calmamente.

― Então, como fica a entrevista? ― continuou o duque. Ele não parecia muito irritado, mas dava para ver que estava insatisfeito.

― Eu não fiz.

― Não... fez? ― sussurrei, pois quase não encontrava forças para falar. ― Você... não... É minha culpa. ― Minha voz saia sem força, meus olhos enchendo de lágrimas enquanto um sentimento de completa tristeza tomava conta do coração. Embora não conseguisse enxergar através das lágrimas, eu sentia todos os olhos em mim e desejava que todos desaparecessem. ― Desta vez a culpa é mesmo minha...

Sem poder segurar mais, as lágrimas começaram a descer por meu rosto e permaneci por tanto tempo quanto lembrava. Aos poucos, todos me deixaram sozinha. Depois de um tempo eu consegui me acalmar, mas o sentimento de inutilidade não me deixava. Inútil não, porque até isso seria melhor, pois não seria um atraso para a vida dele. Quando já estava sozinha há um tempo, Darcy voltou sozinho para o meu quarto, talvez mandado por Maggie para me acalmar. Isso sim era algo inútil, não existia nada que pudesse fazer eu me sentir melhor.

― Me desculpe... ― comecei depois de um tempo, uma vez que assim que ele chegou ficou sentado na mesma poltrona de antes sem dizer uma palavra, talvez me dando espaço. Eu não tinha coragem de o olhar, então fixava meus olhos no teto, mas eu precisava falar: ― Eu realmente sinto muito. Eu sei quanto é difícil conseguir uma entrevista em Oxford. Todos esperavam que você entrasse... Mas agora, por minha causa, por causa da decisão desnecessária de segui-lo. ― Parei um pouco, meus olhos se enchendo de lágrimas novamente. ― Você devia ter me deixado lá e continuado o seu caminho.

― Deveria, não é? ― Darcy interpelou, sua voz calma e levemente risonha.

― Você estava certo. Eu sou um obstáculo na sua vida.

― Geralmente eu tenho razão. ― ele falou, novamente me interrompendo.

Eu continuei:

― Não, essa palavra nem começa a me descrever. É mais como se eu fosse um desastre.

Ele novamente fez sinal que iria falar, mas eu fui mais rápida dessa vez:

― Saia, por favor. Quero ficar sozinha. ― falei, mas, como ele não fez sinal de que iria sair, tornei: ― Vá e descanse um pouco.

Assim que Darcy saiu eu pude novamente deixar que as lágrimas descessem por meu rosto. Eu não conseguia lembrar-se de um momento em que estive tão triste. Eu, em meu esforço desnecessário de ir atrás dele, havia causado uma tragédia na vida do homem que amava. Como se sentir bem depois disso? Ele agora teria que ir para qualquer outra faculdade ou até mesmo esperar mais tempo para entrar em Oxford, que era o desejo de toda família e algo que eles vinham tentando fazer Darcy aceitar. Depois de tanto esforço aparece eu, uma completa inútil, para atrapalhar a vida dele.

Eu levei algum tempo para me acalmar, mas uma vez que consegui, não voltei a me desesperar novamente. No entanto, aquele sentimento continuou comigo durante todo o tempo. Seja quando Maggie, Darcy e Georgie voltaram para o quarto (meu pai e o duque haviam ido por insistência de Maggie, pois precisavam trabalhar), quando o médico fez os exames e constatou que estava tudo certo comigo, ou quando eu deixei o hospital no dia seguinte, apenas com ordens para ficar três dias em repouso absoluto e caso estivesse bem no quarto dia, poderia dar algumas voltas pela casa, mas evitar subir escadas ou fazer muito esforço. Eu estava relativamente bem, mas ainda destroçada sentimentalmente.

Eu passei os três dias em repouso refletindo sobre tudo o que havia acontecido, foram dias que me deram muito que pensar, e finalmente tomei uma decisão. No quarto dia, quando já estava bem melhor, peguei o pouco dinheiro que tinha e fiz minhas malas... na verdade uma só, eu não havia chegado ali com muita coisa. Quando todos já deviam estar dormindo, deixei uma carta que havia escrito mais cedo para Maggie sobre o criado mudo do meu quarto e saí levando, com muito esforço, a minha mala. A dor não era algo realmente grande quando eu tentava andar normalmente, mas carregar a mala não era algo que ajudava muito e fazia com que tudo piorasse. Mas eu continuei andando e tentando arrastar tudo. Eu era muito grata a todos por tudo, mas eu não podia, nem conseguia, olhar para Darcy sem me culpar pelo que tinha feito. Quando finalmente tinha saído da mansão, mas estava frente à porta principal, ouvi passos e depois algo apareceu das sombras. No mesmo instante eu tive medo, afinal já era quase de madrugada, mas me acalmei quando reconheci quem era.

― Isso parece bem pesado, preciso lhe ajudar a levar? ― ele disse, sua voz casual como se estivesse dizendo que o céu era azul.

― Darcy?!

― Você ainda está se recuperando! ― continuou.

― Não me detenha, eu não posso mais...

Dando de ombros, ele tornou a falar:

― Esse pensamento nunca passou pela minha mente.

O quê? Como? Ele me via saindo de madrugada e não se importava?

Mas novamente eu lembrei o que tinha feito e achei que eu merecia aquilo.

― Você está indo embora porque não vou para Oxford, não é? ― ele voltou a falar, sua voz continuando casual.

― Por causa do remédio, mais o que houve dessa vez... Como você mesmo disse, eu sou um transtorno para você. Provavelmente atrapalharei ainda mais a sua vida se ficar. Eu não quero mais causar problemas para a pessoa que eu amo. ― apontei, minha voz quase inaudível.

― Saiba que não foi por sua causa que não fiz a entrevista. ― ele falou cruzando os braços. Depois, como se tivesse se lembrado de algo falou me estendendo um envelope: ― Ah, tenho isto para você.

Eu olhei atentamente, logo percebendo que era um envelope da Universidade de Derby. Quando retirei os documentos de dentro e procurei meu nome, fiquei surpresa por não vê-lo, mas sim o de Darcy.

― Eu teria chegado na hora mesmo depois que a ambulância chegou e lhe acompanhei até o hospital. ― ele voltou a falar. ― A verdade é que eu sempre me perguntei o que eu faria depois de entrar na Universidade de Oxford. Por mais que continuasse me dizendo isso, lá é um lugar onde você decide o que fazer. Mas, recentemente, ter você perto de mim deixou a minha vida mais interessante e excitante. Eu estava me perguntando se seria uma boa ideia seguir o fluxo e fazer o que todos os meus antepassados fizeram, indo para Oxford, ou ficar e viver coisas que nunca vivi antes, como não saber qual nota tirar no teste porque fiquei dormindo o tempo todo. Eu experimentei diversas coisas por causa de você.

― Você... está dizendo... que está indo para a mesma faculdade... que eu porque estarei lá? ― tentei, mas eu não poderia confiar realmente que tinha compreendido direito. Ele pareceu constrangido, mas se recuperou rapidamente e falou revirando os olhos:

― Você não precisa dar tanta importância justamente para esse ponto. Eu quero ao menos viver uma vida excitante até descobrir o que quero fazer. De qualquer forma, eu já disse o que queria, então pode ir embora. Como está frio aqui fora, estou entrando. Se cuide. ― Após falar, ele começou a andar na direção da porta principal e a abriu, já fazendo movimento para entrar. Eu me apressei, com medo de que ele não me ouvisse.

― Espere! ― Ele parou e voltou-se. Eu olhei para o chão tentando criar coragem para falar: ― E-E-Eu não lhe causarei problemas, então posso ficar um pouco mais?

― Eu realmente não acho possível que você não cause problemas.

― É, talvez você até tenha razão. ― concordei contra vontade, mas não podia negar que isso era mesmo impossível: ― Então eu prometo que a vida será cheia de alegrias. ― tornei, dessa vez olhando-o e sorrindo.

― Você realmente tem um ponto. ― ele respondeu, também sorrindo. ― Agora entre antes que a minha mãe veja que você saiu.

― Claro! ― respondi alegremente e ele se aproximou para levar a minha mala. Ele deixou a mala no meu quarto e saiu, mas eu o segui antes que ele pudesse entrar no quarto dele: ― Ei!

― O que foi agora? ― ele respondeu sussurrando para ninguém, além de mim, escutar.

― É... Bem... Eu amo você.

Ao dizer essas palavras meu rosto aqueceu, provavelmente ficando vermelho. Embora ele já soubesse disso, aquela era a primeira vez que eu dizia tão abertamente. Ele, diferente do comportamento que eu esperava, apenas sorriu e respondeu:

― Me diga algo que eu não saiba, Bennet.

@@@@

A emoção que eu senti depois de ficar sabendo de todas essas coisas me impediu de dormir o resto da noite. E, enquanto eu estava acordada, eu não consegui ficar presa dentro do quarto, determinada a fazer alguma coisa para passar o tempo, mas ainda assim eu não podia sair, pois tinha medo de acordar alguém. Mesmo que a mansão fosse enorme, ainda assim eu queria evitar coisas desse tipo. Quando já estava quase na hora do Sol nascer e eu sabia que os empregados já estavam acordados, eu, que já estava arrumada desde a minha quase fuga, desci as escadas e fui para a cozinha. Passei algum tempo preparando cupcakes, algo que eu não fazia tinha algum tempo, um deles era especial, pois eu queria muito dar a Darcy. Eu sei que isso parecia muito idiota, afinal até eu mesma achava isso, mas ainda assim eu queria dar algo a ele e sabia que o conhecia tão pouco que seria difícil dar algum presente. De qualquer forma, mesmo se o conhecesse, ele tinha tantas coisas boas que o meu mísero dinheiro não poderia pagar. Dessa forma eu só poderia tentar algo assim.

Passei algumas horas da manhã cozinhando e quando finalmente tudo estava pronto, saí sorridente na direção da mesa preparada para o café da manhã e deixei a bandeja com os cupcakes lá, levando um comigo até o quarto dele onde bati e fiquei na espera. Assim que ele abriu eu sorri e o entreguei:

― Darcy, fiz isto para voc-

― Não quero! ― respondeu e saiu, fechando a porta e seguindo na direção das escadas. Eu tive uma leve impressão que não era a primeira vez que ele dizia algo assim para mim...

― Eu sofri para fazer, então ao menos prove! ― falei o seguindo, mas ele era rápido demais.

― Eu não como coisas doces.

Droga, eu não sabia nada sobre ele mesmo! Isso era tão frustrante...

Foi enquanto pensava sobre isso que me lembrei de algo.

― Ei! ― Ele se virou e eu continuei: ― Aquilo que aconteceu antes... Quer dizer que você sabia sobre Derby o tempo todo e ficou fingindo não saber? Mesmo depois de saber o quanto eu estava arrasada?

― Sim.

Que maldito!

― Por quê? ― perguntei um pouco irritada, mas não completamente porque era algo quase impossível.

― Porque era divertido. ― respondeu calmamente cruzando os braços.

― O quê? ― o tom da minha voz aumentou um pouquinho, mas só um pouquinho...

― Você não gosta? ― indagou erguendo as sobrancelhas parecendo surpreso e começou a mexer no bolso em busca de algo... acho que era do celular. ― Se não gosta, então irei cancelar agora...

― Ei! Não, não, não! ― gritei tentando pará-lo, mas ele começou a gargalhar. ― Eu gosto, ok? ― falei sorrindo quando ele parou. ― Na verdade estou feliz...

― Eu sei.

E então ele se afastou rindo de mim, me deixando com aquela cara de idiota apaixonada que eu não poderia dizer que não gostava. A verdade é que eu realmente não era muito simpatizante de ainda sentir o que eu sentia por ele, mas uma vez que eu não podia deixar de amá-lo, eu achei que era melhor aceitar e apenas viver amando-o. E tudo ficava ainda melhor, ou pior, pois eu sentia que pouco a pouco ele estava se aproximando e isso me fazia ficar ainda mais óbvia sobre o que eu sentia.

@@@@

Como finalmente a nossa formatura estava chegando eu havia colocado na cabeça que iria dar alguma coisa de presente a Darcy, era algo normal para se fazer em ocasiões assim. E como ele não aceitou o doce, eu achava pouco provável que ele fosse gostar de qualquer outra coisa que eu pudesse cozinhar, afinal eu só sabia fazer esse tipo de coisa, ou seja, eu teria que recorrer ao dinheiro que eu não tinha para comprar algo para ele. Eu até tentei dar umas voltas pelas lojas que conhecia a fim de encontrar algo que se enquadrasse dentro dos três B’s, mas não obtive muito sucesso. Desistindo, comecei a traçar um novo plano e coloquei em pratica no mesmo dia.

Mas não foi assim muito fácil. No fim, levei quase uma semana para encontrar um emprego de meio-período. Como as aulas haviam acabado, só faltava a festa de encerramento, eu teria três semanas até precisar do dinheiro e finalmente consegui um emprego em uma lanchonete. Não era lá o melhor trabalho, mas ser garçonete pode render algum dinheiro, afinal eu sempre levava ótimas gorjetas! Depois de duas semanas, enquanto eu chegava cansada, Darcy me esperava na porta do meu quarto.

― Ei, Bennet! Você tem chegado tarde esses dias! ― sua voz parecia zangada, mas eu estava tão cansada que não havia prestado atenção e só abri a porta e me joguei sobre a cama, nem me importando em fechar a porta.

― Por quê? Está preocupado? ― indaguei já fechando os olhos.

― Preocupado? ― disse ele, sua voz se aproximando. ― Você não percebeu que minha mãe tem ido dormir tarde preocupada com você?

― Eu sei, mas não tenho opção... ― resmunguei já caindo no sono, depois disso não tive mais lembrança de nada.

Eu continuei trabalhando arduamente e finalmente quando o dia da formatura chegou eu estava com o presente que usei todo o dinheiro que recebi, assim como a minha mesada, para comprar. Foi caro, mas valeu a pena. Arrumei-me impecavelmente com o uniforme e fiquei à espera de Darcy em frente à porta do quarto dele segurando o presente que havia comprado.

― Ei... ― comecei hesitante.

― O quê? ― perguntou a contragosto. Ele era tão instável...

― Aqui. ― ofereci a caixa com o presente.

― O que é isso? ― ele indagou sem segurá-lo, apenas continuou me olhando.

― É só um presente de formatura, pelas coisas boas que você fez para mim, assim pelos transtornos que causei. ― respondi mordendo o lábio inferior e olhando para a gravata dele. Era difícil olhar nos olhos ainda, eu me sentia intimidada ultimamente.

― Humm. Então é assim? ― ele começou cruzando os braços e apoiando-se na porta do quarto dele. ― Você vai juntar tudo e me dar apenas um presente? Fácil desse jeito?

Eu sorri. Ele estava bem certo.

― Quer dar uma olhada? ― indaguei já abrindo a caixa e lhe mostrando. Ele se afastou da porta e descruzou os braços, olhando para o que tinha dentro. Eu não esperava que ele ficasse feliz, mas foi pior do que eu pensei, ele apenas ergueu a sobrancelha e me olhou.

― Que porcaria é essa?

― É um massageador de cabeça. Percebi que você estava reclamando bastante de dores de cabeça.

― Onde você comprou isso? É tão você...

― O quê? Não gostou? ― me apressei surpresa e receosa, eu poderia resolver aquilo bem rápido. ― Se não gostou eu posso trocar... ― Eu não consegui terminar, pois ele puxou a caixa de mim.

― Esqueça.

Quando ele estava entrando no quarto para guardar o presente, Georgie saiu do dela e viu nós dois.

― Ei, vocês dois. Finalmente chegou o dia! ― Eu sorri para ela e só então ela notou a caixa. ― O que é isso? Espera... Lizzie, você deu para ele? Deixa eu ver, irmão! ― e aproximando-se do irmão, ela abriu novamente. ― Que diabos é isso? Um capacete?

― Não, é um massageador de cabeça. ― falei sem graça, pelo jeito não tinha sido o melhor presente. Mas Georgie sorriu e me abraçou.

― Oh, Lizzie, você é um amor! Sempre tão preocupada com ele. ― Como Darcy deu de ombros e entrou no quarto para guardar, ela me olhou atentamente enquanto me perguntou: ― Aquilo foi caro, não foi? Como você conseguiu o dinheiro quando eu sei que não aceita a mesada que mamãe quer te dar?

― Eu só... arrumei um trabalho de meio período.

― Ah, sim. Agora está explicado. Agora vamos que precisamos sair logo, mamãe já veio no meu quarto mais cedo me acordar. Ela está elétrica hoje!

Eu e Georgie descemos antes de Darcy, que ficou mais tempo do que a gente esperava no quarto. Partimos para a cerimônia de abertura cedo, mas não tanto, uma vez que o duque não queria chegar cedo demais e chamar atenção... parecia que algumas pessoas tinham mania de se aproximar sem serem convidados ou até mesmo apresentados. E embora a família Darcy fosse bastante calorosa comigo, com o meu pai e com as minhas amigas, eu percebi que eles eram bastante fechados para a população em geral, falando o mínimo possível quando tentavam conversar com eles. Georgie era a pior. Se eu não tivesse convivido com ela e com toda família, eu poderia dizer que eram orgulhosos, mas o tempo me mostrou que eles na verdade eram tímidos. Maggie era a mais extrovertida, sempre tão boa com todos, mas até ela não era muito sociável quando na presença do marido ou com certas pessoas, para não deixa-lo desconfortável. Parecia que os dois filhos haviam puxado ao pai nesse aspecto.

Uma vez que estávamos lá, a cerimônia foi rápida. Um representante de cada sexo de cada turma subiu para pegar o diploma. Da minha turma foi Darcy e uma aluna que eu não conhecia muito bem, apenas de vista. Ela aproveitou para sorrir bastante para as fotos, agarrada demais no braço de Darcy. Eu quase subi no palco para retirar aquele sorriso idiota da boca dela. À força! Mas, uma vez que tudo estava terminado, meu pai e o duque tiraram fotos com nós dois e depois foram trabalhar, pois tinham muitas coisas a fazer cada um do seu lado. Eu, Georgie, Char, Jane e Maggie estávamos no pátio olhando todo o movimento.

― Sinto tanta falta do meu tempo de escola... ― lamentou Maggie.

― Eu não sinto a mínima! ― Georgie resmungou. Todos sabíamos que ela detestava escolas. Maggie deu de ombros para o comentário dela, provavelmente sabendo que não valia a pena discutir com a filha sobre isso.

― Os uniformes, os amigos, os beijos de formatura... Sabe, Lizzie, eu e meu marido estudamos aqui...

― Sério?

― Sim. Não namoramos na época, mas ele já era muito apaixonado por mim desde muito cedo. Ele era bem popular entre os outros alunos, mas como sempre foi muito tímido não tinha coragem de se aproximar de mim, já que eu era muito extrovertida e alguns anos mais nova. No dia da formatura dele, no entanto, que eu vim porque sempre gostei bastante, ele me ofereceu o segundo botão do uniforme... Você sabe o que significa o segundo botão, não é?! ― ela indagou me olhando e eu fiz sinal de que “não sabia”. Georgie estava distraída olhando os outros alunos e tirando fotos, talvez para estudar futuramente os relacionamentos humanos uma vez que só podia se ver casais se beijando e famílias reunidas. ― É uma lenda. Dizem que a garota que receber o segundo botão do cara estará destinada a ele, nada poderá separá-los.

― Ual, não sabia! ― respondi completamente pasmada. Eu tinha que conseguir o botão de Darcy!

― Acreditei que não... É por isso que tem tantas meninas tentando arrancar o botão dos garotos... e tantos casais se beijando. O beijo no dia de formatura quer dizer a mesma coisa... E quem fizer os dois estão realmente destinados! ― ela suspirou. ― Assim como eu e meu querido... Ele me ofereceu o segundo botão e eu aceitei, afinal o achava muito lindo. Quando ele estava se afastando, no entanto, eu o puxei e roubei um beijo dele.

― Estou surpresa...

E estava. Não poderia de forma alguma esperar algo assim da mulher que eu passei a ver como mãe. Ela riu, compreendendo perfeitamente.

― Já fui jovem um dia, minha querida. Mas nós não começamos a namorar depois disso. Ele tinha responsabilidades e eu também. Como ele foi para a faculdade ainda ficamos algum tempo separados, até que nos encontramos em uma festa na casa de amigos em comum. A essa altura ele já estava formado e começamos a namorar, o que só durou dois meses e logo ele me pediu em casamento. Foi algo realmente rápido, mas até hoje nunca discutimos ou deixamos de nos amar sequer um dia! Discordamos, claro, mas sempre encontramos uma forma de resolver nossos problemas sem levantar a voz para o outro.

― Isso é realmente lindo, parece mais algo como encontrar o príncipe encantado. ― sorri sonhadora. Maggie também riu.

― O duque está longe de ser um príncipe, ele tem determinados defeitos que muitas vezes eu me pergunto como aguento, como, por exemplo, sua pouca vontade de socializar. Passamos mais tempo na mansão do que eu gostaria! Mas eu já sabia disso quando casei e passei a aprender a viver com isso, até me tornei um pouco como ele, da parte dele ele aprendeu a sair mais do que ele gostaria. Vivemos no meio termo e somos felizes assim.

― Isso é lindo. É mais como ele ser o homem dos seus sonhos...

Ela gargalhou, chamando atenção de mais algumas pessoas ao redor (notoriamente, pois muitas outras estavam se esgueirando para ouvir nossa conversa, embora a gente tentasse falar o mais baixo possível).

― O homem dos meus sonhos, minha querida, está mais para ser Sir Olivier, mas ele era exatamente o homem certo para mim, capaz de me moldar até que eu virasse a mulher que sou hoje, e os meus sonhos passaram a ser preenchidos por ele. ― ela falou sorrindo e eu entendi completamente o que queria dizer. Mas embora a conversa com Maggie estivesse maravilhosa, minha atenção foi chamada para o lugar de onde Darcy havia saído, pois um círculo formado por garotas se formou ao redor dele e eu só pude ouvir os pedidos pelo botão e fotos, pois ele havia sumido no meio de tudo aquilo.

― Essas loucas... ― começou Georgie, obviamente também notando o estardalhaço em torno do irmão. ― Elas pensam que vão conseguir chamar atenção dele? Meu irmão nunca se rebaixaria... ― pausou revirando os olhos, mas logo algo mais chamou sua atenção, pois ela apontou e tornou a falar dois tons mais alto? ― Ei! Aquela não é Caroline Bingley? Droga, meu irmão detesta ela. E ela está se atirando sobre ele!

O quê? Caroline Bingley? Embora eu tentasse, o círculo de pessoas em torno dele não me permitia ver perfeitamente, apenas pequenas partes, mas Georgie conhecia bem a Srta. Bingley.

― Eu não entendo por que ela apenas não desiste? Ela não tem chance!

Eu suspirei. Se Caroline, que era linda, rica e popular, não tinha chance, que dirá eu? Era um caso a se pensar. Talvez Darcy quisesse ela, ou talvez ele poderia me querer... ou talvez eu estivesse ficando louca.

Como algumas meninas saíram chateadas, talvez por não ganharem uma foto com ele, pois Darcy não tirou nenhuma, conseguimos acompanhar tudo o que estava acontecendo. O que não foi muito bom, pois senti meu coração apertar quando a tal Caroline se posicionou ao lado dele para tirar uma foto. Talvez ele a quisesse...

Ou talvez não, pois ele se afastou rapidamente e ficou mais perto da gente, até que outro dos garotos da sua turma o parou e começaram a conversar. Nós rimos bastante, principalmente Georgie que começou a gargalhar dizendo que a Bingley precisava começar a procurar o lugar dela. Eu ri mais ainda, mas só até que ela me olhou, segurando firme meu braço.

― Agora é você, Lizzie. Vá lá tirar uma foto com ele!

― Eu? Foto? Darcy? Não!

― Sim, vá! ― ela tornou, me puxando na direção dele.

― Não! Ele vai me rejeitar e todas irão rir de mim!

Georgie revirou os olhos e olhou para a mãe, Maggie se aproximou e segurou meu outro braço.

― Lizzie, vá lá e mostre como faz! Rápido. Fitzwilliam! ― e as duas me empurraram, fazendo-me parar na frente dele. Darcy me olhou dos pés à cabeça, fixando por fim nos meus olhos.

― O que foi? ― perguntou sisudo.

― É... ― resmunguei sem encontrar palavras, minha mente estava pensando se valia a pena levar o fora que eu iria sem dúvidas levar. Não é porque ele estava falando comigo que iria querer tirar uma foto em público.

― Você quer tirar uma foto também?

Eu precisava criar coragem...

― Sim... ― respondi olhando para a gravata dele.

― Está me dizendo que quer tirar uma foto justamente agora? ― indagou novamente sério.

― Si- Não...

Minha coragem tinha ido para o ralo, então eu só abaixei mais ainda a minha cabeça e comecei a andar na direção de Georgie e Maggie. Darcy, no entanto, foi mais rápido e segurou meu braço.

― Espera, venha, vamos tirar. No entanto, será apenas uma foto, nada além disso. ― ele falou, seu braço que antes me segurava envolvendo meu corpo e parando na minha cintura. Ele estava muito, muito próximo... E era tão bom senti-lo perto de mim novamente. Ele nos posicionou na direção de Georgie e passou a falar com ela: ― Está bom assim?

― Claro, irmão. Está maravilhoso! ― respondeu Georgie animada, provavelmente com o fato de ele estar me abraçando.

Mas eu não entendia aquilo. O que havia dado nele? Por que ele estava se comportando daquela forma? Será que era um milagre? Ele realmente havia me escolhido?

― Seja bem-vindo! Um waffle com calda de chocolate! ― ele sussurrou depois de se abaixar um pouco e pousar seus lábios na altura do meu ouvido, mas ainda olhando para Georgie.

O quê? Reconheci totalmente algumas das frases que eu falava na lanchonete!

― Não! ― gritei surpresa, me afastando dele e cobrindo meus lábios com ambas as mãos, e foi nesse justo momento que Georgie tirou a foto. Droga! O filho da mãe estava rindo de mim novamente!

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Depois de concluída a cerimônia de formatura, toda a turma se reunião para ir a um clube. Ao que parecia, ele havia sido fechado para que os alunos pudessem comemorar. Eu não estava muito inclinada a fazer parte daquilo, mas Mary, Gê, Kitty e os meninos insistiram tanto que eu acabei indo. Não que eu não quisesse mesmo ir, mas estaria cheio de granfininhos e era a primeira coisa que eu detestava irritar. Como não tinha saída, forcei-me a me sentir confortável enquanto todos sentavam em torno de algumas mesas pelo salão de clube e começamos a comer. Na minha mesa estava apenas eu, Mary, Gê, Kitty e Seth, um amigo de Gê que pediu para nos fazer companhia, Charles e Richard vindo vez ou outra para conversar conosco, pois eles estavam na mesa ao lado com Darcy e outro amigo deles, um tal de Denny. Para meu desgosto, Seth começou a conversar comigo, aproveitando que estava do meu lado. Por mais que eu não gostasse de conversar com meus “amigos” riquinhos, apenas com poucos deles, tentei ao máximo dar atenção a ele. Embora ele passasse uma aparência de presunção e arrogância, depois de alguns minutos de conversa passei a me divertir e rir das piadas dele. Não demorou muito e estávamos bastante confortáveis em nossa bolha, rindo de acontecimentos passados e ignorando completamente os outros presentes na mesa. Até aí tudo estava perfeitamente suportável, até que vi quando duas garotas se aproximaram e sentaram nos lugares de Richard e Charles, que haviam saído, ambos ao lado de Darcy, levando-o a conversar. Como a nossa mesa ficava lado a lado, pude ouvir atentamente cada palavra, por mais que tentasse ignorar:

― Darcy, é verdade que vai frequentar Derby? ― indagou uma das garotas. Eu não levantei meus olhos para ver quem era, tentando ser discreta. Seth me falava algo do lado, mas estava sendo impossível prestar atenção.

― Sim. ― ele respondeu.

― Não acredito! ― começou uma segunda garota. ― Mas eu acreditava que você iria para Oxford, assim como toda a sua família! Até já me matriculei lá, eu deveria ter esperado...

Darcy não falou nada, e a cada instante a concentração de garotas em torno da mesa deles aumentava atraídas pelo assunto... ou por ele.

― Isso tem alguma coisa a ver com a entrevista que você não conseguiu fazer? ― falou novamente a primeira garota.

― Como assim não conseguiu fazer a entrevista? O que o impediu? ― outra voz indagou.

Cara, quem elas achavam que eram? Mas Darcy permanecia calado, talvez achando que isso não era da conta delas.

― Estão dizendo que foi por causa da Bennet. Primeiro ela o faz dormir durante as provas, depois o impede de ir para a entrevista. ― disse uma voz ressentida. Eu estava ficando triste ao lembrar, aquilo era meu ponto fraco. Até que me lembrei da conversa que havia tido com ele... Era óbvio que ele preferia Derby, então sorri.

― Ela é mesmo um fardo, hein? Ouvi uma história sobre ela está morando na sua casa. É verdade, Darcy? ― indagou outra voz. Era tanta mulher em torno dele que parei de tentar identificar a quem pertencia cada voz. Darcy permanecia calado e eu sorria cada vez mais.

― Se ele não responde, é porque deve ser verdade... E como mais ela conseguiria causar tanto transtorno? Talvez tenha aprontado alguma coisa para ir morar lá, agora prejudicou para sempre o futuro dele. ― disse uma voz abafada.

― Não é culpa dela... ― falou Darcy depois de um tempo, sua voz demonstrando que não aceitava nenhuma objeção. Mas sempre tem aquele idiota... Ou aquela.

― Mas, Darc-

― Achar que alguém tão idiota tenha algum poder sobre o meu futuro e decisões é muito humilhante. ― tornou. Quando ele disse isso eu precisei olhar na sua direção e ele olhava fixamente para mim, seu olhar demonstrando desprezo. Senti um aperto por dentro, não esperava isso dele. Não conseguindo me segurar, me ergui olhando-o com raiva.

― Ei, como ousa me chamar de idiota? ― gritei.

― É verdade, não é? ― respondeu ele despreocupadamente sem se levantar, seu olhar ainda o mesmo.

― Você é muito arrogante...

― Arrogante? Você que é uma inútil.

― Por que você é assim? ― indaguei furiosa. ― Você não tem coração? Você é frio demais para ser um humano, no máximo é um robô que tem um bloco de gelo no lugar do coração!

Ele gargalhou, depois falou com voz de desprezo, que combinava perfeitamente com o olhar dos últimos minutos, além de um sorriso que eu não veria problema nenhum em arrancar cada dente.

― Mas você está apaixonada por um robô frio e sem coração como eu, não é mesmo?

Eu não consegui rebater aquilo, era tão humilhante saber que ele usou algo que eu achava tão lindo para me humilhar. Por que ele fez aquilo? Por que justamente naquele dia, quando ele havia sido uma ótima pessoa nos últimos tempos, fazendo-me até dizer que o amava pela primeira vez? Por que Darcy tinha que ser tão infantil comigo?

Senti uma dor no peito, magoada pelo que ele tinha feito, mas me obriguei a não chorar, me humilhando ainda mais na frente das adoradoras dele.

― Ah! É verdade... Agora lembrei! ― uma voz irritante cortou o silêncio. ― Bennet é a tal garota que tentou se declarar para Darcy uns anos atrás! Sim, agora lembrei, sabia que a conhecia de algum lugar!

― Sim, foi ela mesma! Ela tentou entregar uma carta e ele não aceitou, tão humilhante!

― Você ainda vem tentando, Bennet? É bem persistente mesmo, hein? ― riu a garota que havia me reconhecido.

― Ela é cheia de coragem sem sentido, acredito. ― disse a outra garota.

― Sem sentido mesmo, não é?! ― riu Darcy e todos começaram a gargalhar.

Quanto mais o tempo passava e eles diziam aquelas coisas, eu tentava me segurar. Ao meu lado Seth me olhava chocado, assim como Mary, Kitty e Gê, que não entendiam o que estava acontecendo (elas não estavam na mesma escola na época). Eu tentei criar coragem diante das palavras cruéis que eu ouvia. Eu já havia passado por aquilo, aquelas eram as mesmas garotas que riram de mim e me fizeram agradecer por deixar aquela escola. Eu aprendi a ser forte por causa delas, em parte. Eu poderia fazer isso. Então, no lugar de chorar, eu me peguei sorrindo para ele. Ele iria se arrepender por rir dos meus sentimentos!

― Isso foi realmente muito cruel, mas deixa eu contar uma coisa antes... Eu conheço muito bem os seus sentimentos por mim. E se não o conhecesse antes, essa sua demonstração de infantilidade e arrogância poderia facilmente abrir meus olhos. ― minha voz era normal, como se nada daquilo tivesse me atingido. Darcy ficou sério de repente, olhando-me como se pressentisse o perigo. Parabenizei mentalmente a sua percepção. ― Se conseguiu chegar até esse ponto, acho que eu também posso fazê-lo... Mesmo que tenha que descer alguns níveis para chegar ao seu.

― E o que você pretende fazê-lo? ― ele indagou erguendo-se, alerta. Seu queixo parcialmente para cima mostrando todo o seu orgulho em apenas um olhar.

― É... ― comecei, mexendo no meu bolso para alcançar algo que sempre andava comigo, sempre como uma moeda de troca para o caso de eu precisar dele no futuro. Eu não poderia dizer que tinha palavra, então tirei a foto dele quando criança e estendi para que todos ali pudessem ver. ― Isto!

― Quem é essa fofa?

― Que linda!

― É sua filha, Darcy?

Eu ri demais quando todas aquelas frases surgiram entre as garotas. Darcy ainda estava mortificado do outro lado da mesa, olhando-me chocado.

― Apresento-os, queridas, Fitzwilliam Darcy criança!

Todas ficaram chocadas olhando para a foto, até que Darcy deu a volta na mesa e tentou tirá-la de mim.

― Como você conseguiu isso de novo? ― ele gritou tentando alcançar a foto.

― Eu falei que eu sabia usar bem a impressora do meu quarto. ― sorri para ele. Foi nesse momento que as outras pessoas pareceram despertar e vieram para cima de mim tentar ver a foto, infelizmente Darcy puxou meu braço e me tirou dali, levando-me para um dos cantos mais escuro do clube, que eu nem sabia que existia. Foi só nesse momento que eu não segurei mais e deixei uma lágrima solitária rolar.

― Pare! Me larga! Você não tem o direito! ― falava enquanto ele continuava me arrastando, até que me largou contra uma parede. Meu braço doeu quando se chocou contra a dura superfície. ― Ai! O que pensa que está fazendo?

― O que pensa que está fazendo? Você tem ideia do que fez? ― ele indagou bravo, seus olhos escuros de fúria... ou apenas porque estava tudo escuro mesmo e eu não conseguia ver direito. Mas sua voz era clara: ele poderia arrancar meu pescoço.

― E você tem? Tem? De qualquer forma, não tenho medo de você! Pode até me ameaçar, não me importo! ― repliquei petulante. Ele colocou um braço encostado na parede, na altura da minha cabeça e continuou me olhando. Por mais que eu disse que não tinha medo, comecei a ter. Ele deve ter notado, porque fechou os olhos por um tempo, até que os abriu e eu percebi que estava mais calmo. Eu, no entanto, não estava. Ele havia me humilhado, rido de mim!

― Você não sabe brigar. ― ele falou mais calmo.

― Você fez com que meus sentimentos por você fossem motivos de piada na frente de todos, então eu só retribuí o favor! ― minha voz estava desesperada, furiosa, repleta de lágrimas não derramadas. Mas por pouco tempo, pois quanto mais eu falava, mais a ânsia por chorar aumentava. E pouco a pouco as lágrimas começaram a cair. ― Já chega para mim! Eu vou parar de te amar!

A voz dele, no entanto, estava perfeitamente calma enquanto replicava:

― E você consegue fazer algo assim?

― Consigo! ― repliquei convicta, meus olhos furiosos presos nos olhos dele e as lágrimas completamente esquecidas, embora ainda continuassem a rolar pelo meu rosto. ― Eu te conheço tão bem que me dá nojo! Assim que acabar essa formatura, todos os sentimentos não correspondidos que eu guardei por você irão ficar para trás!

― Então você irá me esquecer. ― ele falou novamente, enquanto seus olhos abriram mais um pouco enquanto me olhavam.

― Isso mesmo! Eu vou te esquecer. Quando chegar à faculdade, irei procurar alguém que se importe comigo!

― Então ― ele começou, seu olhar sério fixado em meus olhos: ―, vá em frente e tente.

Depois disso só vi quando ele abaixou o rosto e seus lábios se encostaram aos meus. No começo foi um toque leve, meus olhos permaneciam abertos sem acreditar no que estava acontecendo, até que ele passou a movimentar seus lábios sobre os meus, fazendo o que eu me entregasse àquela sensação que eu esperava talvez nunca sentisse. Sua língua pousou entre meus lábios e instantaneamente eu os separei, permitindo que ele introduzisse a língua na minha boca e conduzisse aquele beijo para algo mais íntimo, mais intenso. Eu era uma completa inexperiente naquele campo, então permiti que ele tomasse todo o controle, embora tentasse movimentar a minha língua em torno da dele de forma desajeitada. E, quanto mais o tempo passa, o beijo se tornava mais possessivo, levando-o a apoiar a mão que antes estava encostada na parede na minha cabeça e a outra na minha cintura, prendendo-me mais a ele. Eu fiquei paralisada por um tempo, sem saber o que fazer com as minhas mãos, e quando eu finalmente havia decidido colocá-las sobre o ombro dele, o beijo parou.

― Você realmente vai me esquecer, não é? ― ele sussurrou contra meus lábios. ― Estou louco para vê-la tentando...

Quando eu finalmente achava que ele iria se afastar, ele aproximou seus lábios do meu ouvido para sussurrar:

― Você mereceu isso, Bennet.

E se afastou. Simplesmente se afastou, deixando-me sozinha sem compreender o que tinha acontecido naquele momento. Minhas pernas fraquejaram e eu cedi ao chão, sentando-me de qualquer jeito, minha mão direita tocando meus lábios em total descrença. Era completamente estranho que ele tivesse me beijado... Ele não poderia ter feito isso, não é? O meu primeiro beijo... Darcy... Ele... me beijou!


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Notas finais do capítulo

Escrevam o que acharam! Esse Darcy, hein... *suspiro* Agora nossos amores são universitários. *---* Até, bjs.