A expressão de Mark mudou logo que abri os olhos. Ele ficou me olhando com a lança em suas mãos prestes a se soltar dos dedos frouxos. O peso do meu novo corpo me ajudou a abaixar alguns metros, mas ainda mal tocava o chão com as pontas das garras dianteira. Então comecei a tentar alcançar a corda com as garras.

—Roan... -Mark me chamou e eu vi observando a copa da arvore. -Você não devia se mover tanto, se não...

Pra que ele foi mencionar... O galho se partiu e terminei de cair no chão com um estrondo. Levantei-me e me chacoalhei para tirar as folhas e galhos que grudaram em mim. Então olhei o pequeno rapaz de preto sorrindo com o que via.

Uma nova sequencia de som ecoou.

—O que esta acontecendo agora?

—Estão começando. Escolheram os servos.

—Em que direção?

Ele apontou e me preparei para correr.

—Espera, não é bom você ir assim. Os outros podem achar que você é uma caça.

O olhei e pensei: Eu ser caça... Isso soa meio impossível para mim.

—Me deixa ir com você. -Mark se aproximou em uma corrida e começou a me escalar sem aviso. Dei alguns passos meio surpreendido e logo depois ele estava acomodado.

—Eu não sou um cavalo. É melhor sair dai antes que eu resolva te destruir...—ele estava retirando o que restava da minha paciência.

—Não Roan, se os outros me verem com você vão saber que esta comigo. Ou que eu já estou te capturando.-ele riu do que disse- Então não vão de atacar.

Droga, me sentia com um carrapato no dorso. Mas ia ao menos me permitir fazer o que quero sem correr o risco de ser acertado por um flecha ou qualquer coisa assim... Tomei um folego, vamos ver o que vai dar.

Segui na direção que ele indicou. Os arbustos me atingiam até certa altura e eu tinha uma melhor visão do espaço sobre eles. Segui em uma corrida rápida sem fazer barulho até que vi o que eles estavam buscando e passei a andar mais divagar encarando as três criaturas. Além dos cervos tinha alguns dos caçadores de preto perto, esperando o melhor momento.

—Mark onde você arranjou isto?!- disse alguém em um sussurro admirado ao meu lado. Olhei quem era rapidamente, outro desconhecido de preto, que se aproximava de meu flanco irresponsavelmente.

—Eu não sou uma coisa. - e a cauda teve vontade própria e o acertou, fazendo-o sumir no meio dos arbustos. Voltei a olhar em frente, eu queria experimentar o sangue daquelas criaturas.

—Ele era meu amigo Roan. -protestou o meu carrapato.

—Se não quer se juntar a ele, fique quieto.

Ele me obedeceu. Por um tempo. Mas pelo menos o que disse foi útil.

—Eles vão cerca-los, separar o que esta mancando e leva-lo para uma área de armadilhas. Querem que eu e você o espante até lá.

—Como você sabe disso?

—Estou vendo a maioria dos outros e eles já te notaram. Estão dizendo com sinais...

Ri e balancei a cabeça.

—Eu não vou espantar nada.— fiquei sobre as duas patas traseiras para ver quem eram os que faziam essa proposta para Mark. — Isso é uma caçada não é?— notei que todos me olharam. —Vamos atrás deles.

Me abaixei e comecei a me aproximar com passos cada vez mais rápidos, até que estava correndo e aquelas criaturas também, logo na minha frente em direção a um campo aberto. Os animaizinhos corriam rapidamente e era mais divertido que surpreender uma caça e acabar tudo rapidamente. Escolhi uma e a perseguia.

—Roan! Esse não é o que eles querem!- alguma coisa gritou sobre mim. Ah, era o Mark, eu tinha me esquecido dele.

—Esse é o que eu quero, Mark. Eles que peguem os deles.

Logo fiquei próximo o suficiente para acertar o cervo com uma patada e o derrubei. A criatura castanha capotou e rodopiou alguns metros sobre o capim alto. Forcei-me a parar bruscamente e Mark não conseguiu se segurar e voou para o chão á alguns metros. Mas eu não liguei e fui até a minha caça e finquei a garra prateadas da para direita e o animal parou imóvel.

Me destransformei e olhei onde Mark tinha ido parar. Ele se levantou e estava tirando algumas folhas de capim enquanto corria para ver o cervo que eu tinha pego. O cheiro no ar era até que parecido com as outras caças que tive, me abaixei e experimentei o sabor daquele sangue ensopando a mão em uma das feridas. Mark me olhou com nojo a seguir

—Hum, não é tão ruim... Mas não pode ser comparado com o sangue humano. - me levantei e o encarei com um sorriso perverso. Ele deu um passo para trás e desviou o olhar para os outros vestidos de preto no fim da campina e se aproximando. Alguns já estavam bem próximo.

***

Quando chegamos na casa a maioria se aproximou para me atormentar com perguntas da minha habilidade e conversas sobre o que eu era. Não dei conversa para eles, mas ouvi o comentário que eles até tentaram pegar aquele cervo que eles queriam, mas o bicho acabou sendo mais rápido que qualquer um deles. Quando ja não suportava ter aquela pessoas á minha volta puxei Mark e disse para conversarem com ele e ponto final.

Entrei na casa e fui me deitar em um sofá qualquer. O sabor do animal não me abriu apetite, então resolvi esperar para saber o que eles iriam fazer com aquilo. Jennifer passou por mim alguns minutos depois que cheguei, ela apenas me olhou muda e com a cara amassa e de sono seguindo para cozinha. Depois dormi sonhando em correr novamente caçando algo, por que foi divertido.