Tempestade escrita por J S Neto
–O que exatamente foi tudo isso? – perguntou Lucas quando as viaturas começaram a chegar e um policial questionava ao Sr. Carvalho sobre o ocorrido.
Rafael começou a tirar o colete, pensando em varias coisas ao mesmo tempo. Se deveria contar a Lucas que a deusa da Lua está foragida e a poucos instantes ela estava ali dentro informando ele de um inicio de uma época difícil; em como iria para o acampamento o mais rápido possível; quem era a garota a qual Artêmis havia citado e o que de tão especial ela tinha?
–Olha... Eu não sei do que se trata, mas acho melhor irmos ao encontro de Quiron. – foi o que ele disse quando resolveu enfim dar atenção ao irmão-semideus. – Procure pela Ivy. Vá para o acampamento assim que puder.
–Tá, mas e você? – perguntou Lucas ajeitando o violino dento da case, apressadamente e pegando o colete que Rafael havia entregado a ele.
–Vou procurar Matheus... E preciso falar com a minha irmã.
Luana se tornou uma das varias pessoas que Rafael perderá o contato depois do ultimo retorno do acampamento. Tivera alguns dias em que ela retornou para casa, depois de uma caçada ou algum trabalho para Ártemis, mas logo esses retornos começaram a perder a frequência e ultimamente se tornaram raros.
Matheus já estava esperando por Rafael no ponto de ônibus como havia planejado pelo celular, com a mochila pronta nas costas e a espada presa na cintura despreocupadamente. Rafael saltou do transporte e seguiu andando sem cerimonias para o amigo, fazendo Matheus adiantar os passos para manter o mesmo ritmo das pernas dele.
–O que aconteceu? – perguntou ele com a voz tremula. Matheus nunca havia sido a pessoa mais corajosa a qual Rafael conhecia.
–Precisamos passar na minha casa... Precisamos falar com a Luana. – falou ele olhando para a sinaleira que acendera em amarelo.
–Por quê? O que aconteceu? –perguntou Matheus enquanto atravessavam a rua, sem receber a atenção de Rafael – Me responde!
–Ártemis veio até mim. – A fala de Rafael fez Matheus arregalar os olhos e quase parar no meio da faixa de pedestre.
***
–Anda, atende. – sussurrava Rafael que tentava pela terceira vez fazer uma ligação para Luana pelo telefone fixo.
–Cadê sua mãe? – perguntou Matheus que se encolhia franzindo o cenho, enquanto a gata de estimação do amigo se enroscava em sua perna.
–Ela está na casa de uma tia minha. – disse Rafael desistindo de continuar ligando e se dirigindo para dentro do quarto, começando a arrumar a mochila para partir – Preferimos não arriscar deixa-la aqui sozinha enquanto eu estou no trabalho. Não quero ter a minha mãe como refém... Já chega de pontos fracos.
Matheus era um bom amigo. Ele podia ser sem noção em questão de comportamento, mas sabia o que devia ou não falar sobre determinados assuntos e Camilla era um o qual ele respeitava lealmente a posição de Rafael.
–Então... – disse Matheus pegando a gata com desprezo pela barriga e colocando um pouco mais distante dele – O que Ártemis foi fazer lá no restaurante?
Antes de poder responder, Rafael foi interrompido por um barulho de helicóptero que começou a soar bastante próximo. Ele e Matheus imaginaram que devia ser alguma emissora de televisão ou algo do tipo indo para o local do acidente, entretanto, o barulho irritante persistia e parecia se aproximar cada vez mais de onde eles estavam.
Matheus se levantou da cadeira o qual estava sentado na sala e se dirigiu para a janela. As plantas que rodeavam o edifício balançavam loucamente em uma ventania inexplicável. Quando Matheus olhou para cima vacilou em um sorriso glorificante e tentou gritar por Rafael que não conseguia escuta-lo.
–Você tá surdo?! – gritou Matheus mais uma vez, quando enfim Rafael apareceu na sala.
–O que é isso?! – perguntou, colocando a mochila nas costas e pousando a aljava com as flechas e o arco no sofá, se dirigindo até a outra janela.
–Veja você mesmo! – disse Matheus sorridente, fazendo Rafael estranhar.
Os olhos castanhos buscaram no topo do prédio o que estava fazendo aquele barulho e , depois de um pouco irritados com a luz do sol, focaram em uma garota que se pendurava pela porta aberta de um helicóptero de guerra estilo Tiger.
–Bom dia, Raio de Sol! – gritou Alice, os cabelos curtos, mais castanhos que ruivos, esvoaçando no rosto.
–Alice?! – gritei para ela de volta – Como assim?
–Cala a boca e subam logo! – disse ela depois de uma escada de cordas surgir bem próxima à janela do apartamento de Rafael.
A graça da Nevoa é que você não precisa se preocupar com o que ela vai mostrar para os mortais. Ela simplesmente faz e você nem se quer se preocupa com o que está diante dos seus olhos na frente de todos. Mas para Rafael dessa vez foi um pouco absurda a ideia de que um mortal não perceberia um helicóptero ameaçador planando em cima de um prédio aleatório. Mortais gostam de serem enganados.
***
–Minha nossa... – sussurrou Matheus quando entrou na aeronave logo depois de Rafael – Como você conseguiu assaltar a Força Aérea sem mim?
–Nós não assaltamos nada. – disse uma voz da cabine do piloto. Era Lena Maia, filha de Ares. Matheus já havia conhecido Lena em uma batalha amistosa a qual no final ele fora reclamado como filho de Hermes.
–Ora, ora se não é a perdedora da Lena... – disse Matheus.
–Ainda terá a revanche, seu ladrão de merda...
–Como vocês conseguiram um Tiger?– perguntou Rafael arrumando a aljava no ombro. – Nunca imaginei que fosse ver um desses...
–Não é um helicóptero de guerra nacional. Ele é nosso. – disse Alice. – Bem... Do acampamento.
–Acabou a tinta ruiva para o seu cabelo, foi?– perguntou Matheus para Alice, em um sorriso sarcástico.
–Ares tá fornecendo helicópteros agora?– perguntou Rafael impedindo que Alice explodisse contra a pergunta de Matheus – E eu achando que o Olimpo estava na pior.
–Não. Ninguém forneceu. – disse Alice um pouco confusa. Parecia perdida nos pensamentos sem saber por onde começar explicar algo muito importante. – Olhem, vocês dois, o acampamento está um caos ultimamente.
***
O helicóptero planava totalmente acima do mar o que indicava que já seguiam rumo à Praia do Forte. Alice parecia diferente desde a ultima vez em que Rafael a tinha visto, não só pelos cabelos que começavam a aderir a cor natural, mas sua feição parecia menos infantil e mais séria. De uma forma inexplicável, transmitia um comportamento diferente, meio que determinada a enfrentar qualquer coisa que possa surgir a sua frente.
–Zeus enviou uma segurança reforçada de Ventis para o acampamento– disse ela se sentando ao lado de Rafael que se localizava no assento em frente ao que Matheus estava. –Passamos por vistoria quando chegamos ao acampamento e todos os dias pela noite, antes de se dirigir aos chalés. Não entendemos muito ainda o que a presença deles significa, mas ainda mantenho o meu palpite de pé. Zeus não está nem um pouco feliz.
–Não brinca... – disse Rafael, sarcasticamente surpreso – Nunca desconfiaria se não tivesse citado.
–Quiron vive preocupado ultimamente. Os Venti participam de reuniões de vez em quando na Casa Grande e ele se quer nos informa dos problemas questionados lá dentro. – continuou Alice – E além de tudo, o numero de campistas veio diminuindo desses tempos para cá.
–O que você quer dizer com isso? – perguntou Matheus – Não me diga que...
–Os monstros estão mais arriscados que o normal. A quantidade de semideuses mortos e desaparecidos vem crescendo de forma deprimente. – disse Alice em um suspiro – O que Zeus teme está realmente acontecendo, todos estão achando que o Olimpo está começando a cair, por isso os monstros estão atacando com mais frequência. Acham que estamos desestabilizados e fracos.
–Tudo isso por causa de uma constelação que caiu do céu? – perguntou Matheus – Serio? Não já se foi resolvido o problema com Orion? Ele já voltou pro lugar dele.
–Por causa de quem fez tudo isso. – corrigiu Alice. – Provavelmente Orion tenha sido apenas o inicio dos planos de quem está por trás. Só não temos ideia de quem seja.
–E quanto aos monstros. As caçadoras não estão à procura deles? – perguntou Rafael lembrando imediatamente de Ártemis no restaurante.
–As caçadoras sumiram. Nenhum sinal de nenhuma delas. – disse Alice olhando seriamente para Rafael. – Por onde anda Luana? Você que deveria saber a resposta dessa pergunta.
Ártemis refugiada... É claro que suas companheiras não ficariam para responder a interrogatórios ou sofrer consequências pelo desaparecimento da “procurada”. Luana não vinha de encontro a Rafael exatamente desde o momento em que as mudanças começaram a acontecer e ele estava se sentindo um inútil por não ter reparado na situação que a irmã estava neste momento passando. Pensou se deveria contar sobre o que Artemis havia lhe dito no restaurante e concluiu que iria esperar um pouco mais.
–Eu... Eu não sei. – disse ele por fim, olhando para as mãos que entrelaçavam os dedos uns nos outros.
Um rápido silencio tomou conta do local, deixando soar apenas o barulho das hélices.
–O helicóptero é do acampamento.– disse Alice por fim, para quebrar o gelo que havia surgido de repente.
–O que? – perguntou Rafael que parecia estar momentaneamente fora dali, pensativo.
–Onde vocês estão guardando ele? E desde quando o acampamento tem helicópteros?
–Há! – esnobou Lena da área do piloto – Vocês realmente não fazem ideia das mudanças do acampamento... Se acharem que terão lindas e tranquilas férias de verão, assando marshmallows e contando historias ao redor da fogueira, pode avisar que dou meia volta e os deixo em suas casas outra vez.
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