Tempestade escrita por J S Neto


Capítulo 1
Um - A Representante


Notas iniciais do capítulo

Bom pessoal, aqui está como foi prometido a segunda temporada de O Lamento da Lua! Ainda não tenho um dia fixo de postagem (muita coisa pra fazer :/), mas vou tentar seguir a frequência de uma ou duas semanas.
Enfim, não esqueçam de comentar! :D o/



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Os pingos da chuva caiam rápidos em um tipo de cortina de água contínua, despencando do céu noturno em pancadas fortes quando tocavam as superfícies na terra. As sinaleiras da Avenida Tancredo Neves piscavam em amarelo e o defeito refletia no transito que se mantinha congestionado em um alvoroço de buzinas de diferentes tipos de carro.

O ponto de ônibus estava lotado e guarda-chuvas diversos se abriam para proteger os respectivos donos que não conseguiram uma vaga debaixo da cobertura do local. A chuva engrossava e trovões estremeciam assustando muitos dos que aguardavam ansiosamente pela chegada do seu transporte. Todos pareciam temer a tão inesperada reviravolta no tempo, menos uma garota.

A figura feminina estava passando na frente da Casa do Comercio e vestia uma jaqueta de couro preta que fechava por cima de uma camisa cinza. Cobria a cabeça com um capuz que escondia o rosto deixando poucos fios dos cabelos castanhos para fora e a calça jeans escura que usava estava encharcada, se tornando mais colada no corpo que o normal. Seguia indiferente quanto aos pingos pesados e os raios que cruzavam assustadoramente os céus, andando com as mãos nos bolsos da jaqueta sem olhar pros lados.

Na passarela que cruzava a avenida, logo ali perto, passava um único individuo que chamou a atenção dos olhos da garota que disfarçou para observa-lo. O homem usava uma jaqueta jeans azul claro por cima de uma camisa branca simples ensopada. Os cabelos negros grudavam na testa e no pescoço pingando como se ele tivesse acabado de sair do banho.

A garota, que devia ter no máximo 17 ou 18 anos, procurou pelo termino da plataforma por onde a figura estava passando e encontrou com o ponto de ônibus lotado. Provavelmente ele demoraria a alcança-la, pensou, e isso a fez, indiferentemente, continuar os passos, dobrando a esquerda em uma rua na lateral do prédio de arquitetura original.

O homem enxugou o rosto e adiantou os passos para alcança-la. A grande quantidade de pessoas no ponto dificultava seus passos e muitos murmúrios de reclamação soavam quando ele encostava os braços da jaqueta molhada nas figuras que tentavam se manter secas. Os carros parados não o impediram na travessia para o outro lado da avenida, permitindo-o chegar à frente da Casa do Comercio e dobrando à esquerda por onde a garota tinha tomado rumo, sem muita dificuldade.

Ela sequer olhava para trás, não se importava se o tal homem a seguia ou não, e parecia não ter medo com o que pudesse acontecer quando os dois se encontrassem. A rua ali estava vazia, poucos eram os carros que tentavam desviar do engarrafamento por aquela via que no normal apenas possuía carros estacionados ou escancarados vendendo alimentos.

O som dos dedos do homem nas grades pretas que cercavam o prédio da Casa do Comercio soavam intencionalmente altos o suficiente para a garota ouvir e perceber que ele estava no seu encalço.

Ela prosseguiu olhando para frente, conseguindo ver um pouco do vulto do Shopping Salvador que, de onde ela estava,se escondia por trás da parede de pingos seguidos que caiam das nuvens pesadas e cinzentas.

Antes que chegasse à Rua Alceu Amoroso Lima, a garota parou inesperadamente, fazendo o som das grades cessarem, indicando que o perseguidor também havia parado onde estava.

–O que você quer de mim? – perguntou a garota por debaixo do capuz com uma voz neutra, se virando para observar o homem de cabelos escuros e molhados.

–Calma ai, garotinha... – ele tinha no rosto um sorriso doentio.Os dentes eram afiados de forma estranha e possuíam um tom amarelado que não se disfarçavam por debaixo da chuva. Os dedos magros possuíam unhas consideravelmente longas,justificando como o som das grades conseguia sobressair sobre os outros barulhos. Nada parecia anormal para a garota que continuava parada observando-o de onde estava – Por que eu estaria te seguindo? Só estou indo ao shopping fazer umas... Como vocês mortais dizem? Comprinhas?

–O Shopping está fechando mais cedo, se você não sabe. – disse ela tirando uma das mãos do bolso para ajeitar o cabelo que caia pra fora do capuz e molhava com a chuva.

–Ah é mesmo... – disse ele olhando o grande edifício do shopping que se encontrava atrás da garota – Alguém está realmente bravo esses dias... Não está economizando nem um pouco nas chuvas e raios.

–O que você quer? – repetiu ela ignorando o que o estranho homem havia falado. Sua boca, a qual era a única parte do rosto que podia ver por debaixo da sombra do capuz, se mantinha rígida e fina como se nunca se quer curvasse em um sorriso.

O homem de garras e dentes afiados se aproximou um pouco mais a ela e os carros que passavam por ali não notavam o momento de estranheza em uma rua deserta. Um trovão estrondou no céu, seguido por um raio que clareou um pouco o rosto da garota, permitindo ao homem que visse um pouco do seu semblante.

Ela tinha olhos escuros e sua expressão era séria. Os cabelos castanhos caiam um pouco no rosto tornando-a uma figura clássica de rebeldia. Os passos de avanço do perseguidor não a afetaram e seus pés continuaram firmes enquanto ele se dirigia até ela.

–Não tenho um motivo claro quando faço isso, na maioria das vezes. – disse ele a um metro de distancia da garota. Ela cruzou os braços e descansou o peso na perna direita, observando-o misteriosamente por debaixo do capuz. – Eu simplesmente... Faço. Entende?

–Então experimente... – disse ela com uma voz arrastada em tom de desafio. O homem franziu o cenho e soltou um rosnado baixo quando seu rosto começou a mudar de forma. A jaqueta jeans e a camisa branca rasgaram e os sapatos estouraram, deixando pés escamosos e com nadadeiras entre os dedos saírem. O tronco que rasgara a jaqueta e a camisa era negro e liso e lembrava o corpo de uma foca. O cabelo negro tomou conta de todo o rosto crescendo da maneira mais estranha possível até que enfim transformou o crânio humano em cabeça de cachorro.

A garota não parecia apavorada em ver um homem foca com cabeça de cachorro, garras nas mãos, pés de pato e usando calça jeans. Ela não havia mudado de posição, estava exatamente como quando havia desafiado a figura medonha que há alguns minutos antes era apenas um cara com dentes mal cuidados e unhas mal cortadas.

Ele rosnou e em seguida pulou para cima da garota que desviou tirando uma adaga de bronze de dentro da jaqueta preta com grande agilidade, golpeando-o durante o bote. O corte no peito da criatura expeliu um pó dourado que o fez grunhir em um choro de cachorro abandonado. A figura encapuzada segurava a adaga esperando outro golpe que logo veio em uma sequencia de arranhões que ela impedia com golpes de defesa da lamina.

As garras trincavam na adaga como se fosse igualmente laminas e tentavam sem sucesso alcançar o corpo da garota.

–Não sabia que telquines frequentavam essa área da cidade. – disse ela golpeando-o inusitadamente na perna, fazendo-o cair no chão, choramingando e uivando fraco ao mesmo tempo.

–O que você é exatamente? – disse ele com uma voz grave através da boca de cachorro cheia de dentes amarelados. A expressão da criatura era assustada, com as orelhas pontudas abaixadas e a respiração ofegante. – Uma das Caçadoras?

–Não significa que um semideus andando sozinho seja uma presa fácil. – disse ela segurando o cabo da arma com mais gentileza e com o dedo indicador da outra mão na ponta da lamina. – Leve essa lição para o Tártaro.

Em um movimento rápido ela lançou a lamina contra o peito do hibrido, transformando-o totalmente em pó dourado. Os carros continuavam a passar despercebido quando ela se agachou para pegar a adaga caída no chão.

–E a proposito, não gostava muito do seu cheiro de peixe. – disse colocando a adaga de volta dentro da jaqueta preta e em seguida baixando o capuz.

Os cabelos castanhos estavam presos em um coque bagunçado e alguns fios tingidos em branco e cinza se misturavam aos outros de cor natural. Aos poucos eles começaram a molhar com os pingos de chuva. Raios seguidos caíram no momento em que ela olhou para o céu, fazendo bastante barulho e assustando ainda mais as pessoas que esperavam o transito andar.

–Eu vim mostrar que nós ainda estamos no poder. – disse a garota ainda com o capuz abaixado, para ninguém exatamente, olhando em direção à lama dourada que o pó havia se transformado e que simbolizava a morte do telquine – O Olimpo não está fraco. E eu estou aqui justamente para provar isso, pois não sou uma semideusa qualquer andando sozinha pela cidade – disse ela e um estrondo alto de um trovão tomou posse da pausa de sua fala que continuou logo quando ele silenciou – Eu sou Julia Araújo, filha de Zeus.


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