Magia Negra escrita por Elliot White


Capítulo 13
Kamome


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!

A história está quase no final.



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Segui a gata pela área ao ar livre da escola, passando por um extenso campo de gramado cercado pelos corredores das salas de aula, que tinham pilares amplos mantendo as estruturas.

Atrás de um deles a morfelina parou, sacudindo a cauda e soltando um breve miado. Seus pelos estavam alvos esta noite, fazendo com que eu pudesse visualizá-la bem. Eu ia chamá-la pelo nome (Alergia), mas acabei espirrando um sonoro Atchim por coincidência.

Pude perceber que interrompi a conversa de alguém quando espirrei, mas não consegui ver quem era atrás dos pilares. Uma voz familiar sussurrou “o que foi isso?”.

– Você tá machucando ela! – uma voz feminina gritou enquanto um gemido se alastrava pelo ambiente; tive que dar um passo a frente pra matar a curiosidade.

– Cala a boca! – outra voz de menina exclamou, e era a Shirley, segurando uma corrente que enforcava uma garota loira que não me era estranha.

– O que vocês estão fazendo?! – falei pausadamente, impactada com a cena.

Todos os olhares então se voltaram para mim, e eram quatro. Shirley, segurando a loira no chão acorrentada pelo pescoço, sua irmã Nina segurando pelo braço outra morena, que eu identifiquei como a primeira que falou.

Seus rostos não estavam tão claros na noite, mas o local tinha uma tímida iluminação que me fez lembrar as duas garotas; Jhynn e Daiana Maicoom, a fada e a sereia que praticaram bullying comigo nos meus primeiros dias de aula.

– Sunori. – a Kent me saudou – é melhor fingir que não viu essa cena.

– O que está acontecendo aqui? – insisti, assistindo a loira ainda acorrentada e gemendo de dor no chão.

– Essas duas tentaram aprontar uma pra gente – disse Shirley, que segurava as correntes de ferro.

– Não é novidade que elas querem roubar nossa popularidade – continuou Nina, prendendo a outra menina, a morena.

– Mas fomos rápidas e arranjamos ferro. – a mesma abriu um sorriso – ele queima a pele de uma fada.

– É melhor deixar ela em paz, ou vai acabar em confusão – intervim.

– Nem vem, Su.

– Por acaso vocês querem ir pra diretoria de novo?

Desta vez consegui chamar a atenção das duas, que pararam pra pensar.

– Ela tem razão, podemos lançar um feitiço de apagar a memória nelas. – sugeriu a mais velha das Kent.

– Esse é um feitiço muito delicado e ainda não aprendemos na Academia. – a mais nova advertiu.

– Nos deixem ir, não vamos contar nada.

– Quieta sereia estúpida. – Nina xingou Daiana.

– Vão acabar matando ela. Ai! – a morena estava sendo tendo os cabelos puxados pela bruxa.

– Nem tentem o feitiço, não vai funcionar. – uma voz aguda se pronunciou, surgindo da escuridão.

De trás de outro pilar saiu o vestido preto que eu já conhecia, e só uma pessoa tinha um gosto tão peculiar.

– Kamome? – perguntei.

– Quem é essa? – as irmãs questionaram em uníssono.

– Não se lembram de mim? – a minha colega de quarto prosseguiu. Seus lábios se movendo enquanto seus olhos negros fitavam as duas.

– E deveríamos nos lembrar? – Shirley perguntou enquanto a irmã foi mais direta:

– Sunori, quem é ela?

– Kamome London, é minha colega de quarto, ela também é bruxa. – respondi, sendo fitada de longe pela mesma com um sorriso de orelha a orelha que não me enganava – ela escondia alguma coisa. Mas não era nenhuma surpresa, eu ainda não a conhecia tão bem quanto gostaria.

– Kamome? – a Kent repetiu parecendo processar o nome.

– Se recordam agora? – a morena começou, ainda sorridente – Su, há um ano eu era a garota nova na Academia. E assim como você as irmãs me acolheram como amigas. Pelo menos eu acreditei que elas eram minhas amigas.

– Devia se considerar muito sortuda, se não fossemos nós você ainda seria a recalcada que era! – Nina começou, enquanto a mais nova a acompanhava:

– Kamome London. Não era pra você ter saído do colégio?

– Era, mas eu continuei aqui. Não é irônico? E vocês nunca nem notaram a minha presença. – ela deu uma risadinha e eu me lembrei do dia em que os pais das Kent mencionaram outro incidente com as duas que as levou à diretoria. – quando eu notei que a famosa Kimonno era minha colega de quarto, sabia que ela seria a próxima.

“Sunori, as irmãs Kent não inseriram você no grupinho delas por amizade, elas queriam alguém poderosa o bastante pra evocar o Baphomet. Ano passado, elas acharam que essa pessoa fosse eu.”

– Espera, então não acharam aquele ritual ao acaso? – questionei as duas, que nada falaram apenas fizeram uma cara de paisagem e vergonha.

– Nada foi por acaso, querida. Tudo foi planejado e calculado por essas maníacas obcecadas por poder. – a mesma me olhou com seus olhos negros.

– Tudo bem, você já nos entregou! O que mais você quer?! – Shirley gritou.

– Vingança, o que mais eu iria querer? Depois do ritual de evocação do demônio, vocês saíram ilesas, mas eu me feri, e muito. Eu era só uma garotinha inocente, eu realmente achava que tinha conquistado a amizade das ricas e importantes irmãs Kent, mas me enganei. Então decidi que não iria deixar vocês tentarem mais uma vez ganhar poder e sair impunes debaixo das asas dos seus pais!

– Espera aí, aquele dia na festa. Quem nos atacou, foi você, não foi? – Nina interrogou.

– Isso foi só o começo. Eu precisei espioná-las também. Jhynn! Daiana!

As duas que estavam quietas o tempo todo durante a conversa se libertaram das bruxas e as prenderam da mesma forma. Houve protestos e berros.

– Essas duas são mesmo populares. – ela continuou dando ênfase no adjetivo – mas não tanto pra ameaçar a popularidade de Nina e Shirley. Elas só mexeram com vocês desde o início das aulas até hoje, porque eu as manipulei.

– Sua vaca, vai pagar por isso! – a bruxa insultou a outra, com os braços presos nas costas pela garota que há pouco era a vítima, enquanto sua irmã gritava pra soltarem-na das correntes que antes ela mesma segurava.

Jhynn, que era a fada, empurrou Shirley e levantou as mãos, e enquanto gesticulava vinhas brotavam da terra e amarravam as duas irmãs, agora gritando apavoradas e pedindo ajuda.

– Eu não preciso mais de vocês.

– Sunori, socorro! Faça alguma coisa! – as ouvi implorando, mas permaneci imóvel por medo. O solo estava se elevando em volta delas, como se as engolissem, ao mesmo tempo em que as vinhas às puxavam pra baixo como tentáculos, as forçando a descer.

– O que vai fazer?! – exclamei, mas a bruxa apenas gargalhava e as Kent já haviam sumido na areia movediça e seus lamentos não podiam mais ser ouvidos.

Depois que terminou, Jhynn, a fada, permaneceu imóvel assim como a amiga com o olhar distante e as marcas no pescoço deixadas pela corrente ainda visíveis.

– O que está havendo com elas? – perguntei, mas não obtive resposta. Estava um pouco amedrontada, mas pronta para agir.

– Você pode se sair bem dessa, bruxinha. Pense no que podemos conseguir juntas. – ela falou se aproximando de mim e eu recuei.

– Não chega perto!

– O que foi? Nós somos amigas, não se lembra?

– Éramos até agora há pouco. Não sei mais quem você é.

– Eu não mudei só não te contei do meu passado antes porque tinha medo. Eu fui a vítima aqui.

Tentei fugir, mas ela foi mais rápida. E agarrou minha mão e a cortou arrancando-me um grito de dor e tirando sangue, que caiu em gotas até o chão. Ela estava sem armas, de mãos nuas, e apesar das unhas serem compridas não seriam cortantes. Kamome usou magia.

– Você não queria apenas vingança. Quer evocar o demônio assim como as irmãs queriam.

A morena cortou sua mão também, derramando na terra abaixo.

– Pois é, mas eu tenho objetivos claros e não apenas sede de poder para uma vida fútil como elas.

– Abra seus olhos, Baphomet não existe! Essa vai ser mais uma tentativa em vão!

– É aí que você se engana Sunori. Não andou tendo sonhos? – ela me fez parar pra pensar por um momento, porém não me convenceu.

– Isso mesmo, foram só sonhos. Nada mais do que isso.

– Quando eu fiz o pacto, não tive nenhum sonho. Se ele apareceu pra você, é porque é a pessoa certa. – a encarei sem cessar até que ela pegou em meu braço – além disso, ele deixou uma marca! Quer prova maior que essa?

Eu estava prestes a dizer poucas e boas para a bruxa, mas algo interrompeu nosso diálogo; no solo onde o sangue tinha adentrado, o mesmo que engoliu as Kent agora estava se movimentando e circulando a terra em uma extensa área formando uma enorme cara no chão. A bocarra de barro se abriu e um berro gutural se alastrou pelo ambiente.

– Mestre, eu te chamo! – a minha colega de quarto exclamou, e quando a vi estava segurando um livreto e ela lia palavras em latim dele, evocando o monstro. Eu precisava impedi-la.

– Não! – toquei o livro longe com um tapa e estava prestes a empurrá-la, mas ela foi mais rápida me fazendo levitar pra longe e bem alto. Pensei rápido e transformei a umidade do ar em bolhas d’água e as lancei contra a mesma, densas. A derrubei, estourando as bolhas e eu sofri uma queda, já que Kamome não pôde mais sustentar o feitiço. Lamentamos de dor as duas.

– É uma pena que não vê o quão lucrativa seria a união de nossos poderes. Jhynn! Daiana! – as duas servas me prenderam e eu tentei me soltar sem sucesso. – é realmente uma pena!

Ela retomou o livrinho e sua leitura, enquanto eu me debatia e vinhas brotavam do solo e me envolviam. Precisava me livrar delas.

– Acordem vocês duas! Voltem a si! – exclamei, olhando a fada e a sereia nos olhos, esperando que o feitiço que as mantinha manipuladas caísse já que Kamome estava ocupada.

– Onde eu estou?

– Quem são vocês?

Sorri, percebendo que havia funcionado. Entretanto era tarde demais. Um pequeno tremor ocorreu e a minha oponente soltou guinchos estridentes e longos, depois lançou um olhar pra mim e eu pude ver que não era mais ela, era algo demoníaco.


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Notas finais do capítulo

Pretendo escrever mais dois capítulos apenas, aproveitem.