Aquele lugar era bem iluminado. Via mulheres estravagantes passarem de um lado para o outro a cada instante, além das quatro pessoas que a rodiavam para maquiagem, cabelo, manicure e outras coisas que nem sabia o nome. Se perguntou como é que tinha ido parar naquele inferno; a resposta foi imediata... Death the Kid.

Enquanto ele tinha decidido que ela seria sua acompanhante para o baile, Maka ainda estava se acostumando com a idéia do casamento. Mas mesmo assim eles tiveram que entrar em suas respectivas salas de aula às exatas 8h. E sair meio-dia, para a preparação. Ele deu um horário bem definido pra todas as atividades daquela tarde.

Estava no terceiro ponto da lista. "Salão de beleza - 16h às 18h". O próximo seria a escolha do vestido e preparações finais. Ela nunca gostou de se arrumar, e aquilo era quase uma tortura. Saiu do salão na hora certa, e Kid esperava pro lado de fora do estabelicimento.

- Vamos, não temos tanto tempo. - seu sempai disse impertivo, sem lhe deixar tempo para revidar... Mas ela ainda estava com rolinhos na cabeça!

- E agora? O vestido? - perguntou ainda seguindo-o - Você vai me ajudar a escolher?

- É claro que não. - uma garota um pouco mais velha que os dois saiu de dentro de uma loja de roupas. Era bem alta, cabelos castanhos e meio longos, mas com uma roupa estranhamente country. - Se ele fosse escolher o vestido tu iria ter que entrar dentro de uma caixa.

- OOOI! - uma menina que parecia ter a idade de Maka apareceu também, mostrando toda sua infantilidade naquela voz suave que combinava bem com a tipica imagem da garotinha loira de olhos azuis - Maka-chan, né? Eu sou a Patty, e ela a Liz! Somos as empregadas privadas do Kid-sama!

Maka se inclinou, seguindo as regras japonesas.

- Bem, levem-na logo. - Kid as interrompeu, parecendo irritado - Mais um minuto e meu horário estará acabado! - gritou, descabelando-se - Exatamente às 8h da noite eu a quero pronta, certo?!

- YEES! - as duas responderam em coro, já empurrando Maka para dentro da loja, enquanto Kid deu um suspiro de alivio por terem respeitado suas regras.

- Que fixação horrenda por horas e simetria. - Maka comentou em voz baixa, entretanto nenhuma das duas pareceu escutar.

- Bem, Maka-chan, vamos te deixar bem bonita, tá? Hoje o Kid-sama alugou esse lugar somente pra gente te arrumar. - Patty exclamou agarrando o braço da outra loira, enquanto Liz começava a colocar alguns vestidos e sapatos sobre uma mesa.

- Certo... - a garota concordou contra sua vontade, porém confusa demais para poder contestar qualquer coisa.





Kid esperava impaciente no Hall de sua mansão. Usava um smoking negro e com três listras brancas em cada ombro, enquanto a tipica gravata a borboleta vinha substituida por uma caveira igual ao simbolo da escola em que estudava.

Andou de um lado para o outro mais uma vez, olhando pro relógio a pêndulo que ficava no lado direito de tal local. 19h58min. 19h59min. Estava quase se atrasando, se o fizesse seria imperdoável.

Porém, assim que o ponteiro maior tocou o 12, alguém abriu as grandes portas que ficavam bem de frente para o recinto em que se encontrava.

Kid virou os olhos por um segundo. Ela estava linda. Tanto que quase não a reconheceu. Os cachos loiros caiam delicadamente sobre os ombros nus, enquanto um vestido azul-bebê cobria todo o resto de seu corpo além dos braços. Aquelas vestes evidenciavam sua cintura, pois o vestido era colado ao tronco até pouco abaixo do umbigo, onde deixava a monotonia e se alargava num leve franzido com volume. Nas mãos uma pequena bolsa de um azul ligeiramente mais escuro, assim como a cor dos sapatos que quase não se viam sob a parte inferior da saia rodada.

Ela caminhou lentamente, mostrando que não estava acostumada com aqueles saltos. Kid a olhava maravilhado, Liz e Patty realmente tinham feito um bom trabalho escolhendo um vestido tomara-que-caia como aquele.

- O que foi? - Maka perguntou assim que alcançou seu cavalheiro, vendo o rosto espantado do mesmo - Eu estou tão estranha assim?

- P-Pelo contrário. - gaguejou sem querer, ainda contemplando-a. Um empregado colocou sobre as costas da Albarn uma manta branca para ser seu capote aquela noite, e logo depois o mesmo abriu as portas principais da mansão para que o casal pudesse sair.

Kid ajeitou seu braço esquerdo e Maka timidamente o aceitou segurando-o com a mão direita. Por mais que tivesse algo de estranho dentro de seu peito e sentisse como se ir a este noivado seria uma grande perda de tempo, continuava com a cabeça erguida. Era um pedido daquele que se dizia seu dono - todavia ela não sabia se o fazia por ele ou por si mesma.



Os convidados estavam chegando um após o outro, e o salão de festas começava a se encher rapidamente. Soul estava encostado em um canto do mesmo, enquanto seu pai cumprimentava aquelas pessoas. Pro lado de fora inúmeras limousines estavam estacionadas, e a imprensa marcava sua presença com fotografos e jornalistas.

Tudo aquilo era sem sentido e desnescessário.

O Evans sabia que seu pai era um canalha, mas não ao ponto de fazê-lo se casar com alguém que não amava. Ele entendia os motivos... Mas eram todos superficiais; dinheiro, fama, sucesso. Ele iria acabar levando uma vida infeliz como a de seu genitor, e desconfiava até mesmo que não iria poder completar sua vingança depois daquilo.

Balançou a cabeça; nem pensar iria desistir de pagar aquele homem com a mesma moeda.

Escutou um barulho fino e irritante. Alguém estava batendo numa taça de vidro com uma colher; Olhou pro realçamento no canto do salão que antecedia as exuberantes escadas feitas inteiramente em marfim e cobertas por um tapete vermelho. Era Wes tentando chamar a atenção de todos.

- Estamos aqui reunidos para o noivado de meu irmão mais novo, Soul Eater Evans e da mais jovem e atual presidente das companias Nakatsukasa, Tsubaki. - aquele homem era alto e emanava um brilho diferente de todas as outras pessoas presentes. Usava um terno totalmente branco e preto, comum entre o resto dos convidados. Seus olhos eram negros, porém seus cabelos eram cinzas exatamente como os do resto dos integrantes de sua estreita familia. Sua voz era grave e séria, porém quem a ouvia parecia não conseguir tirar sua atenção da mesma - A noiva irá descer as escadas assim que seu partner estiver aqui para esperá-la. Soul? - perguntou, e todos olharam pro rapaz. Ele tentou fazer um rosto feliz, mas sentiu ter falhado amargamente.

Desencostou-se da parede e prosseguiu pelo salão. Pegou em consideração a possibilidade de correr dali agora mesmo - mas chegou à conclusão que seria perda de tempo. Levantou os olhos para o odiado irmão que o fitava com um maldito sorriso estampado no rosto.

Soul usava um terno preto e com listras cinzas, em constrate com a camisa social vermelha que estava por baixo, acompanhada de gravata e sapatos também negros. Subiu os dois degraus que o separavam de seu parente, passando por ele e avançando até o pé da escada aonde teve que parar de caminhar.

Quando levantou os olhos para ver Tsubaki, observou que ela estava ligeiramente atrasada, e ele pensou que ela deveria ter tido a sua mesma idéia.

Até que apareceu. Soul a observou com ar entediado. Estava bonita com aquele vestido de uma alça só branco e com detalhes dourados - além dos cabelos recolhidos em um coque deixando somente duas mechas soltas -, contudo não despertava absolutamente nada nele. Imaginou como Maka ficaria com algo assim. Olhou para trás e viu seu irmão e o resto dos ali presentes encantados com alguma coisa na porta principal. Virou seus olhos por alguns milimetros, tendo a mesma exata reação.

Maka Albarn e Death the Kid. Ela era a pessoa que mais brilhava naquele lugar, talvez até mais que o próprio Wes Evans. Sentiu um aperto gigantesco no coração. Ver ela com Kid o aborrecia, e saber que para ela aquela seria a melhor opção mais ainda. Quando viu sua noiva estava ao seu lado, e ele teve que lhe oferecer seu braço.

Wes chegou perto de Soul, abaixando-se um pouco para lhe dizer algo em seu ouvido - Soul, aquela ali é da sua escola também? Pelo menos dessa vez Kid teve bom gosto. - resmungou, voltando à postura normal.

O rapaz serrou o punho, mas não poderia socar seu irmão ali - tinham uma falsa imagem de familia feliz pra defender.

- Bem, aqui estão os noivos - o comandante dos Evans tomou a palavra, fazendo retornar a atenção de todos aos dois anfitriões - Que comecem as danças! - exclamou, e logo uma música instrumental começou a tocar, e muitas pessoas dirigiram-se ao centro do salão.

Maka e Kid estavam ainda de braços dados. A garota simplesmente não sabia o que fazer, via-se totalmente fora de lugar.

- Viu? - Death sussurrou - Todos preferiram olhar para você ao invéz da noiva. Quer dizer que está realmente bonita.

Ela observava de longe os sujeitos principais daquele baile dançarem no pequeno palco mais a frente. Por que se sentia tão mal? Talvez porque um pequeno laço entre ela e o Evans tinha se formado, contudo em pouco tempo poderia se despedaçar facilmente.

A garota não sabia porque, mas esperava que aquilo não acontecesse.

Um homem se aproximou dos dois com ar desinteressado, colocando-se perto de Maka e lhe estendendo a mão.

- Me concede esta dança? - perguntou ele a Maka, porém claramente esperando a resposta de Kid. Todas aquelas pessoas eram importantes, e dois ou três jornalistas documentavam a festa pelo lado de dentro. Naquela situação Kid simplesmente não poderia negar nada do tipo a um dos integrantes da familia Evans. Foi obrigado a assentir rapidamente e deixar o braço da loira ir.

Maka se limitou a aceitar a mão daquele homem assustadoramente bonito, que lhe lembrava em quase tudo Soul. Sim, aquele deveria ser Wes.

Ele apertou levemente a mão da Albarn, tomando também sua cintura. O braço da loira escorreu pelo seu ombro firmando-se no ponto mais alto, e os dois começaram a seguir aquela lenta melodia. Maka naquela tarde havia recebido um rápido curso de etiqueta e coreografia - foram os primeiros dois pontos da lista de Kid.

- Então, a senhorita é...? - Wes perguntou guiando-a com uma leveza incrivel.

- Maka Albarn. Seu nome é Wes Evans, certo? Eu te vi na TV uma vez.

- Sim, exato. - ele sorriu. Tinha o mesmo sorriso de Soul. Pensou de novo; dava raiva o modo em que coligava qualquer coisa ao colega de classe - Então é a mais nova namorada do herdeiro dos Death... Parabéns.

- Namorada?! - Maka elevou a voz, pisando levemente no pé de seu acompanhante, no entanto se recompôs intantes depois - E-Eu não sou nada do Death-sempai. Ele quis me trazer aqui hoje como agradecimento por eu ter feito um favor para ele.

- Sei. Me pergunto se ele está te educando direitinho. - disse, abaixando o tom de voz no fim da frase.

Soul dançava com Tsubaki, mas pensava em alguém que estava do outro lado daquele lugar. Sua noiva havia um olhar triste, e ele sabia muito bem o motivo. A canção acabou, e assim que outra iniciou ele lançou outro olhar à loira que tanto lhe interessava, e viu que Wes estava dançando com ela. Continuou observando; logo seu irmão afastou-se do resto dos convidados e estava com a Albarn perto de uma coluna em um dos pontos mais escuros do salão. Perguntou-se onde diabos Kid estava, e logo teve uma resposta; fazendo seu papel de herdeiro sociável.

Deixou a Nakatsukasa com a fúria pelos ciúmes que lhe subiu até a cabeça, e atraversou discretamente aquele lugar cheio de pessoas hipócritas. Chegou até seu irmão em poucos instantes. Segurou o braço de Maka, afastando-a do homem com quem dançava.

- Não ouse encostar sequer um dedo nela. - ordenou, imperativo, ainda segurando com força o pulso da loira - Ela não é como as prostitutas que você está acostumado.

- Ora, ora. - Wes comentou levantando as mãos como se não tivesse culpa de nada - Então ela é a última disputa de vocês, Soul? - Maka olhou espantada para o rapaz, o qual olhou pro lado sem saber o que dizer - Ei, Maka-chan... Sabe por que aqueles dois se odeiam tanto?

-  Você quer morrer, Wes? - Soul voltou os orbes carmin ao parente, que pareceu se divertir com aquela expressão indignada.

- Foi por que uma vez o S-... - um soco alcançou sua mandibula, fazendo com que o Evans caísse ao chão com sangue sobre o resto da boca e parte da roupa.

A festa toda parou para olhar aquilo - até mesmo a música -, enquanto Maka continuava incrédula vendo Soul que avançava contra o irmão mais uma vez, dando-lhe outro punho sobre a face.

Logo empregados apareceram de todas as partes, afastando os olhares curiosos e separando os dois irmãos. Maka acabou sendo arrastada pela multidão que se deslocava toda para fora da mansão Evans.

No dia seguinte aquilo se tornaria uma polêmica.

O garoto dos cabelos grisalhos e olhos vermelhos se jogou sobre sua cama depois de um bom banho. Levou uma bronca de seu pai e se desculpou milhares de vezes com Tsubaki, a qual simplesmente disse que não tinha problema. O casamento deles seria dali a dois anos de qualquer forma e tinham muito tempo para deixar a poeira baixar.

Mentiras.

Soul sabia muito bem que ela queria o anulamento daquele matrimônio tanto quanto ele.

Fechou os olhos, mas sempre vinha a mesma imagem em sua mente; o mesquinho motivo pelo qual odiava Kid. Mas talvez odiasse a si mesmo e descontasse no amigo.

                                           Flash Back

Francamente, a diferença daquilo que eu disse aos jornais, me lembro muito bem daquela tarde de verão em que me joguei debaixo do primeiro carro que vi pela frente. Depois de visitar minha mãe no hospicio e perceber que ela nunca mais voltaria a ser mesma, e que depois de somente poucas horas de terapia intensiva ela nem lembrava mais meu nome... Entrei em desespero.

Eu realmente queria dar um fim naquilo tudo. E achei que tinha conseguido.

Mas eu acordei uma semana depois no hospital. Descobri que tinha me salvado somente por um transplante imediato de sangue e de um rim. Me perguntei como poderiam ter conseguido, pois o meu sangue é O-.

Me lembrei logo da única pessoa que eu conhecia com aquele mesmo grupo sanguineo; Death the Kid. Ele tinha se sacrificado para que eu continuasse vivo.

Desde então eu comecei a odiar o fato que mesmo sabendo que eu não queria nada além de morrer, ele tinha me negado aquilo. Ele era meu melhor amigo, afinal. Eu tinha contado meus planos a ele. E ele também sabia que depois daquilo eu não teria mais coragem para me matar.

Perdão, Kid. Talvez teria feito a mesma coisa por ti, mas meu ego não me permite de desculpá-lo pelo o que fez.

Hoje me pergunto se um dia se arrependeu por ter feito este gesto de altruismo. Mas não importa. Lhe agradeço; pelo menos eu ainda posso completar minha vingança.

                                           Flash Back