Angeles NightWalker

A “reunião” deles era uma despedida para Amanda. Pelo que parecia, ela estava se mudando para a Suíça porque seu pai arrumou emprego lá e ela conseguiu passar na faculdade.

— Mas você quer realmente ir? — Al perguntou.

— Sim, eu acho muito legal a Suíça, é claro que vou sentir saudades daqui, mas eu acho uma ótima oportunidade.

Sorri para ela. Amanda era bonita, não extravagantemente bonita, mas era sim, de fato, bonita. Seu cabelo me lembrava chocolate e seus olhos eram verdes.

— Suíça... — disse, viajando no meu mundo — tem chocolate...

Allan rolou os olhos e sorriu para mim.

— Angeles, tudo para você é doce?

— É claro que não, Allan, querido. Se tudo fosse doce, o mundo seria muito melhor — disse como se fosse óbvio.

Jake não estava falando quase nada, parecia perdido em seu próprio mundo. Ele estava tomando coca-cola, Ash estava tomando suco de laranja assim como Helen e Amanda uma soda. Eu havia pedido uma coca, e Allan uma soda também.

Ficamos conversando e eu estava rezando para eu ter uma chance de me vingar. Quando Jake disse que iria ao banheiro, eu quase saí dançando de alegria. Enquanto ele estava no banheiro nosso prato (cada um escolheu uma batata recheada) eu peguei a coca que Jake havia pedido antes de sair que por um imenso acaso estava fechada e chacoalhei como se o mundo fosse acabar.

Ninguém falou nada, Helen parecia ter ficado brava, Amanda ficou espantada e os meninos seguravam o riso.

Peguei um sachê de sal e joguei na batata para deixá-la muito salgada, obrigando ao Jake-demônio a abrir a coca dele. Mas só isso estava muito sem graça. Eu peguei o pote que tinha pimenta e comecei a salpicar na batata.

— Por que você está fazendo isso, garota? — Helen-intrometida perguntou.

Me virei para encará-la. O que eu fazia não era da conta dela, e eu odiava quando me chamavam de garota, como se eu fosse sei lá... Uma coisa. Helen era bem mais bonita que Amanda. Ela era loira dos olhos azuis, olhos que deixavam os meus no chinelo, mas tudo bem, eu não ligo pra essa criatura.

— Porque Jake merece — disse, ficando com raiva — só não sei o que isso te diz respeito — acrescentei. Eu odiava ficar discutindo com pessoas que não mereciam meu tempo, mas ela precisava ouvir isso para sossegar.

Ela ficou quieta, Amanda ficou olhando para a situação como se fosse divertida, assim como Ash. Allan me mandou um sorriso torto e sincero como se ele estava dizendo “Não ligue para ela”.

Poucos segundos depois, Jake saiu do banheiro. Antes que ele chegasse na nossa mesa, uma menina pouco mais alta que eu, loira chegou até ele, parecendo insegura e começou a falar com ele, ele ficou olhando para ela com um sorriso malicioso enquanto ela falava, ela sorriu para ele da mesma maneira e entregou um papel para ele. Quando eu me virei para encaras as pessoas da mesa e minha batata, percebi que todos estavam olhando para Jake... Bem, todos menos a minha batata. Isso mesmo batata, esse cara não merece seu tempo.

Ele sentou-se na mesa parecendo satisfeito e tinha um sorrisinho arrogante que me fez ter vontade de sacar uma faca e tirá-lo daquela bela face dele. Respirei fundo. Percebi que de todos, Helen era a que mais estava brava, será que ela gostava dele?

Minhas deduções se cessaram quando eu vi que ele ia comer a batata. Eu olhei para todos, Helen estava perdida em sua própria irritação e os outros pareciam segurar o riso.

Ele pegou um pedaço, seus olhos se arregalaram e ele largou imediatamente os talheres e colocou uma mão em frente à sua boca, como se estivesse se obrigando a engolir aquilo. Suas bochechas estavam rosadas, por causa da pimenta, e ele se apressou em pegar a coca.

Isso, meu caro camarada, foi um erro.

A coca começou a espirrar em seu corpo inteiro. Helen se espantou porque aquilo fez ela sair de seus próprios pensamentos, Ash e Allan estavam rindo baixinho e Amanda parecia estar se divertindo mesmo que sua boca estivesse aberta num ‘o’ de choque.

Eu não me aguentei e comecei a gargalhar. Todos no restaurante começaram a olhar para a nossa mesa, mas eu não estava ligando.

Jake estava muito espantado, acho que eu nunca o vi daquele jeito (mesmo que eu só o conhecesse a menos de uma semana). Ele ficou olhando suspeito e imediatamente seus olhos me fuzilaram com um ódio que eu nunca tinha visto.

Ele estava uma fera. Meus risos se cessaram e foram substituídos por medo, parecia que ele iria me matar.

Ele imediatamente pegou uma coca e jogou ela na minha cara. Ele começou a rir, seguido por Helen e Ash, Allan ficou em choque e parecia preocupado, Amanda também estava espantada.

Eu fiquei com raiva, muita raiva. Coca-cola estava escorrendo pelo meu cabelo. Eu peguei um potinho de patê que vinha com torradinhas como entrada e atirei nele, ele desviou acertando numa mulher velha da outra mesa.

Todos ficaram em choque. Eu fiquei com mais raiva ainda. E peguei a batata dele e esfreguei na sua camisa.

A velha ficou com raiva que todos na mesa estavam rindo dela e ela começou a gritar com um cara que deduzi ser o marido e começou a jogar comida neles. Jake ficou fulo quanto à sua camisa e pegou minha batata e enfiou na minha cara, meu nariz e minhas bochechas ficaram sujas de cheddar e mais os acompanhamentos que vinham na batata.

Helen estava rindo, então eu peguei a sua soda e joguei na sua blusa. Ela imediatamente parou de rir e correu para o banheiro. Voltando minha atenção para Jake eu peguei um suco da mesa vizinha (desculpe, vizinhos) e joguei na sua cara, seu cabelo ficou sujo de suco de laranja.

Jake se preparou para acertar um pão na minha cara, mas eu me agachei fazendo com que o pão acertasse num homem. O homem, pensando que era de uma outra mesa, começou a jogar macarrão num casal.

Numa outra mesa, uma criança ficou animada e começou a jogar toda a comida do prato na própria família.

Amanda tinha saído para ver Helen e Ash e Al estavam desviando as comidas que vinham de todos os lugares. Jake pegou da bandeja do garçom uma torta e esfarelando ela com as mãos, jogou os farelos em cima de mim. Eu me irritei e peguei a própria bandeja e comecei a acertá-lo. Ele saiu correndo, comigo logo atrás, e ele começou a jogar coisas em mim para me fazer distanciar. Eu rebatia tudo com a bandeja como se fosse um taco de baseball.

Demorou um pouco para os empregados do restaurante começarem a acalmar todos. Helen e Amanda tinham ido embora. Ash e Al estavam conversando com o chefe do restaurante, e eu e Jake fomos proibidos de entrar naquele restaurante novamente.

Nós estávamos na calçada, sujos de comida, esperando os dois rapazes a voltarem da conversa. Ash saiu calmo, como sempre e Al parecia meio chateado.

Ele começou a dar sermão, falando que eu deveria ter pensado aonde toda aquela briga iria levar.

— Não fui eu que comecei com a briga, eu apenas estava fazendo uma travessurinha com o Jake. Esse demônio que começou a briga.

— Ah, cale a boca, Angeles, se você não tivesse estragado minha refeição nada daquilo teria acontecido.

— Tudo bem, tudo bem, é minha culpa, mas é mais sua!

— Minha? Como pode ser minha culpa?

— Se você não tivesse me transformado num protótipo de Papai Noel nada disso estaria acontecendo.

— Não é minha culpa que você não aceita brincadeiras.

— Olha quem fala! — disse, trincando meus dentes — você não aceitou minha brincadeira hoje, porque eu deveria aceitar as suas? VOCÊ DEVE FICAR BANGUELA, SEU ARROMBADO.

— Banguela? Por que eu devo ficar banguela?

— Pra eu finalmente não ser obrigada a te ouvir e bem, eu duvido que você iria ser tão chato e arrogante se você fosse um banguela. SERIA UMA INCRÍVEL PUNIÇÃO.

— Você percebeu que você não fala nada com nada? Você...

— Chega! — gritaram Ash e Al em uníssono.

— E eu ainda estou com fome — anunciei.

Com isso, acabamos parando num Burger King. Nada mais se disse entre mim e Jake. Chegamos ao dormitório se nos separamos. Eu corri para chegar primeiro do que Jake, não aguentava mais olhar pra cara daquele ser. Ele teve a mesma ideia e estava correndo também, quando tentamos passar pela porta, não deu, porque a porta não aguentava duas pessoas.

— Porra, Jake, sai.

— Sai você, Chi, que saco.

Eu corri para o banheiro, mas Jake me puxou, me derrubando e ele entrou no banheiro. Eu comecei a gritar com ele e a esmurrar a porta, mas ele ignorou. Eu sentei no chão, do lado da porta do banheiro.

Ele estava demorando muito, a água de toda Londres provavelmente iria acabar, mas eu não o culpava porque ele estava tão sujo quanto eu. O sono e abateu e eu acabei cochilando. Pouco tempo depois eu ouvi o barulho da porta, mas eu estava muito cansada que não conseguia nem abrir o olho.

Eu senti dois braços me segurando e percebi que estava sendo carregada. Era uma sensação muito boa. Depois eu senti uma coisa macia sob meu corpo e percebi que eu estava sendo colocada na cama. Não consegui fazer nada, meu corpo parecia desligado.

Eu senti que estava sendo coberta e ouvi algo como “Boa noite, Chi”. Em segundos eu já estava no último sono.