O Poder das Mudanças escrita por CuteMari


Capítulo 3
Uma Ajudinha




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    Quando finalmente acordei, custei a desgrudar as pálpebras. Confesso que pela minha mente eu ainda tinha a tola esperança de abrir meus olhos e perceber que foi um pesadelo, uma obra prima de minha mente mas que agora acabara. Eu simplesmente acordaria em minha cama, ouviria minha mãe me chamando para escola e Luciana viria correndo me acordar. Como sempre era.

    Mas, quando abri os olhos lembrei que esse "sempre" não existiria mais. Analizei outra vez o antigo quarto de minha mãe. Olhei para o criado mudo, em busca do meu celular, mas apenas encontrei a caixinha de música mostrada pela minha vó e sorri. Parecia ter sido deixada tocando durante a noite ao meu lado como fora feito muitas vezes para minha mãe.

    Talvez, tudo aquilo realmente fosse um pesadelo, mas um pesadelo do qual eu nunca acordaria. O que eu realmente precisava era encará-lo de frente. Coragem e força! Prometi para mim mesma que  de agora em diante eu seria forte e não mais choraria por meus problemas, eu batalharia até que a escuridão se tornasse luz, a tristeza virasse felicidade e o mais horrível pesadelo se tornasse meu mais belo sonho. 

    Me levantei, tentando pensar em qualquer outra coisa. Lavei meu rosto e troquei de roupa. Cuidadosamente prendi meus cabelos mal-cuidados, jurando que assim que voltasse daria um trato total no visual. Fiquei imaginando por quanto tempo dormi, agora já era noite. A casa estava novamente vazia, grande parte dos parentes desconhecidos já havia ido embora, felizmente. Resolvi então descer a cozinha quando fui surpreendida pelo alto "rosnado" de meu estômago. Fazia quanto tempo que eu não comia nada?

    Desci as escadas levemente e descalça. Parecia ser um pouco tarde, a sala de jantar recém arrumada me fez pensar que a janta já havia acabado. Resolvi então procurar minha avó, quando ouvi a voz de Lipe vindo da cozinha.

    - Não foi minha intenção D. Ana. - Choramingou ele. - Eu nunca passei por nada parecido com o que ela está sofrendo, eu simplesmente... Simplesmente não sei!

    Sua exclamação foi seguida de silêncio, achei que era minha deixa para ir até-la, mas quando apontei na porta, minha avó me sinalizou discretamente para que esperasse pra fora. Só havia os dois no aposento, D. Ana arrumava alguma coisa na pia, enquanto Filipe, sentado de costas para a porta, parecia desabafar.

    - Ela precisa de você nesse momento Lipe. - Sugeriu com voz simpática, Ana.

    - Eu a amo tanto... Queria muito poder ajudá-la, mas não sei como ela se sente, não sei do que ela precisa, não sei o que ela espera de mim. - A cada palavra que Lipe proferia sua voz ia ficando mais apertada, e pela sua cabeça baixa, apoiada pelas suas mão na mesa, tive impressão de que choraria à qualquer momento. - De uns tempos pra cá, ela se tornou tudo para mim, e agora me sinto tão inútil, tão impotente de não poder fazer nada.

    Tremi ao ouvir essas palavras. Tive vontade de ir lá e abraçá-lo, dizer que eu também me sentia assim e que eu precisava dele para estar bem. Mas apenas fiz força para me segurar quieta e imóvel onde eu estava, me sentindo muito mal por espiar um momento tão íntimo. Minha avó estava certa, eu realmente havia sido grossa e agora entendi porque ela queria que eu ouvisse essa conversa. 

    - Lipe... Você nunca pensou que o que ela realmente pode desejar é só seu carinho, seu amor, um tempo quieta com você? - Sugeriu. -  Não são mais insensíveis "pêsames" que ela precisa Lipe. Lembre-se disso.

    Filipe não respondeu, ouvi-o fungando e não aguentei mais. Passei discretamente pela porta e perguntei em voz alta e animada, um pouco contraditória à situação:

    - Boa noite, será que sobrou um pouco de comida por aí? - Sorri e, para completar a cena, esfreguei a mão na barriga indicando muita fome.

    - Acho que ainda tenho um pouco de macarronada, serve? - Ofereceu minha avó, já pegando um prato limpo na mão. Balancei a cabeça aceitando.

    Lipe apenas me olhou de relance e abaixou a cabeça de novo. Olhei para minha avó e ela me encorajou com um movimento de cabeça. Logo depois deu a desculpa mais esfarrapada que eu já tinha visto ela dizer:

    - Bom, então vou pegar a toalha de mesa que eu acabei de lavar. Ver se ela já secou. As que tenho aqui estão muito velhas. -  E saiu quase correndo, como se tivesse medo que eu a fizesse ficar aqui. 

    Balancei a cabeça, rindo silenciosamente pra mim mesma e depois, me aproximei lentamente de Lipe, que ainda se mantinha de costas pra mim. Quando cheguei bem perto abracei-lhe os ombros, como precaução se ele quisesse fugir, e aproximei minha boca de sua orelha. Mordi levemente a ponta dela e sussurrei:

    - Você tá bem?

    Senti ele se arrepiar sobre meus braços e estremecer. Pegou uma de minhas mãe que se cruzavam em seu peito e a levou até seu rosoto, usando a levemente para enxugar suas próprias lágrimas. Me sentei ao seu lado, e percebi que aquele gesto era sua resposta. "Não."

    Puxei delicada o rosto dele para que eu pudesse olhar em seus olhos úmidos. Ele tentou afastar a cabeça, mas fui firme e não permiti. Puxei-o para mais perto de mim e encostei meus lábios nos dele,e para minha surpresa, ele não me rejeitou como eu esperava. Pelo contrário, senti ele se entregando totalmente ao carinho e me amparando em seus braços fortes. Depois, soltou sua cabeça em meu ombro e sussurrou:

    - Desculpe, Jenn.

    Passei a mão pelo seu cabelo e respondi de maneira terna:

    - Com você ao meu lado eu consiguirei enfrentar tudo. Apenas não se preocupe.

    Mas antes que eu pudesse lhe dizer qualquer outra coisa, minha vó entrou na cozinha novamente. Sua expressão mostrava que ela parecia querer se desculpar por estragar o momento, mas logo percebi que era um motivo nobre.

    - Telefone pra você Jenn.

    Não hesitei e tentei demonstrar a ela que não tinha problema. Me sentei na sala de jantar ao lado a atendi.

    - Alô.

    - Jenn... - Respondeu uma voz penosa, mas ao mesmo tempo reconfortante.

    - Papai.


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