De longe se podia ouvir a batalha. Hela tinha em torno de cem mortos frágeis em seus lombos e Skye não tinha pena de jogá-los penhasco a baixo, lançando-os ao abismo. A dama de vestes rubro-negras pegava emprestado todo tipo de energia que conseguia achar, deixando Hela sem muitas alternativas. Ela precisava tomar medidas mais drásticas.

– Onde está Loki para ver isso? – Hela perguntava enquanto lançava uma nuvem negra na direção de Skye.

– Pra te ver perder? – Skye absorvia a nuvem negra e dava um suspiro, abrindo os braços. – Você precisa de plateia para isso? Ainda acha pouco esses zumbis fracos que mal conseguiram atravessar a barreira entre os reinos?

– Loki deveria ter visto o que eu fiz. Ele acha que eu não tenho capacidade para...

– Poupe-me de seus discursos melancólicos! – Skye batera o pé no chão, estremecendo tudo ao redor dela. – Eu não sou sua amiga! Eu não tô nem aí pra o que Loki fez com você! A única coisa que me interessa é te destruir!

– Então estamos quites com isso, queridinha. – Hela concentrava toda a força que possuía para criar um portal negro. – Veremos se você consegue fugir da Cavidade Sombria!

Skye sentiu os seus pés se moverem para frente sem a sua permissão. Ela estava sendo sugada por aquele portal que, por sua vez, estava sugando todo o resto atrás dela. Rochas, criaturas, poeira, tudo estava sendo varrido para dentro da Cavidade Sombria. Disso, Hela podia se orgulhar, afinal, ela estava nesse ramo há muito tempo.

– Vamos, Skye – Hela pronunciava com nojo. – Onde está todo o seu poder? Resista a isso, ó Grande Rainha de Niflheim!

Bem, ela não deveria tê-la desafiado.

– Você vai engolir essas palavras, sua impostora!

Skye bradou num misto de fúria e indignação, criando um campo de força que a fincou firmemente ao solo. A garota olhou para o batalhão atrás de Hela com furor, fazendo com que os mortos restantes levitassem. Ela estava com as palmas das mãos abertas e estendidas para eles, fazendo um movimento para tirá-los do chão. Hela assistia à cena, concentrando-se em não demonstrar o quanto ela estava apavorada com os poderes da novata. O pequeno batalhão – que já estava em menos de quarenta – começou a definhar, à medida que Skye ia fechando as mãos, como uma flor que murcha no fim da tarde. Um a um eles iam caindo ao chão e desaparecendo numa fumaça negra.

– Só sobrou você e eu, agora. – Skye dizia numa risada macabra, fazendo Hela sorrir com a mesma sincronia, afinal a Rainha de Niflheim nunca se deixaria ficar por baixo.

– Perfeito. – As duas se estudavam, andando uma em redor da outra. – Eu só os trouxe para testá-la, minha querida. Devo dizer que estou impressionada com os seus atributos.

– Você me elogiou? – Skye sorria ironicamente.

– Foi um comentário. – Hela respondeu com desgosto.

– Um comentário bom...

Os olhos de Skye mudaram de cor por um instante. Ela lembrava-se daquilo de algum outro lugar.

– Pare com essa gozação, sua criança tola! Você não está preparada para o trono. – Hela interrompia o momento de falsa descontração.

– Como sabe que não estou? – Skye cruzou os braços aproximando-se dela.

– Você é imatura demais para isso!

– Eu sou imatura?! Não fui eu que conjurou meia dúzia de mortos apenas para impressionar o papai! Você que agiu com irresponsabilidade quando os fez atravessar a barreira de Niflheim mesmo sabendo que eles definhariam horas depois.

– Você destruiu eles!

– Eu os mandei de volta pra Niflheim! – Skye gritava. – Essa luta é entre nós duas, não há o que envolvê-los! Quando eu tomar o meu trono, farei mais do que trazer alguns mortos fracos para Asgard. Eu os darei a vitalidade de que precisam para que possam reinar juntamente comigo e Loki. Niflheim será o novo centro do universo, os mortos reinarão eternamente, subjugando os deuses assim como eles fizeram conosco durante séculos!

Hela estava boquiaberta. Skye falava como se houvesse reinado por milênios em Niflheim, mesmo que tivesse passado sua pouca vida em Midgard, longe de seu passado e de sua família. “Loki com certeza implantou falsas memórias em Skye com aquele capacete.” Pensava, procurando um jeito mais sábio de assumir o controle da situação. Hela precisaria de reforços. De um lado ou de outro.

– Você não é a Rainha de Niflheim! Você é Skye de Midgard! – Hela gritava, tentando acordar Skye daquela louca linha do tempo.

– Insolente! – Skye lançou uma rajada de vento que quase a derrubava do penhasco. – Você quer provar da minha ira? Dessa vez os seus mortos não poderão encobri-la!

– Faça o seu melhor, querida. – Hela preparou-se para a batalha final. – Eu tentei alerta-la. Você não pertence a este lugar.

– Bom... É isso que veremos agora.

(...)

Ela corria desesperada e descompassadamente, como se houvesse uma manada de elefantes atrás de si. “Preciso contar aos outros!” Ela repetia na sua cabeça, enquanto levantava um pouco o seu longo vestido, ainda sujo de barro. “Thor, Odin... Alguém.” Continuava pensando, sua vista ficando turva. Aquilo não podia ser verdade. Não podia ser a sua irmã.

Passou pelo vale e desceu até o penhasco, avistando duas figuras em ponto de guerra. Aquilo ia ser feio. “Não vai dar tempo.” Passou despercebida pelas duas, há um tiro de flecha de onde a luta estava sendo travada. Seu coração apertou e ela diminuiu a passada. “Não, agora não.” Voltou a correr, sem olhar para trás, temendo que alguém a encontrasse e a interrogasse. Não era boa em mentir para os outros.

A linda dama de vestido azulado corria como um foguete em direção ao palácio de Odin, temendo o pior. Mesmo sendo da raça dos gigantes, não era lá tão alta assim, beirando aos 2 metros e meio de altura. Hela era mais alta do que ela, porém não chegava aos 3 metros. Ambas eram filhas de gigantes.

Suas longas passadas permitiram que chegasse ao palácio numa velocidade relativamente incrível. Já caía o pôr-do-sol quando ela adentou o lugar, procurando desesperada por alguém que a ouvisse. O coração quase saltando pela boca.

– Mãe?! – A jovem espantou-se ao ver Idunna deitada na cama para restauração dos deuses. – O que está fazendo aqui?

– Eu te pergunto o mesmo, Skadi. – Idunna respondeu docemente, estendendo a mão para que a filha a tocasse.

– O que está havendo aqui, Thor? – Skadi se voltou para o deus, exigindo por respostas.

– Duas Helas estão guerreando próximo aos penhascos do sul. – ele respondeu, enquanto Sif injetava nele um antídoto contra a toxina de Skye.

– Duas?! – a garota deu dois passos para trás, arregalando os olhos. – Havia tempos que não via Hela por aqui. Alguém pode me explicar a que se deve essa visita? – Skadi olhou ao seu redor e viu os novos rostos. – E quem são eles?

– Filha – Idunna fez sinal para que a filha se assentasse ao lado dela. – Esses são alguns visitantes de Midgard. Loki sequestrou um dos membros da equipe deles.

– Philip Coulson – Phil apressou-se em se apresentar. – E esta é minha equipe – ele apontou para o grupo. – Melinda May, Leo Fitz, Jemma Simmons e Grant Ward. Somos de uma organização da manutenção da paz em Midgard. A S.H.I.E.L.D.

– Muito prazer em conhecê-los. – Skadi estendeu a mão para Coulson e sorriu. Um sorriso que soou familiar para o agente. – Temo que não tenha boas notícias.

Todos ficaram apreensivos com a informação e a expressão de preocupação no rosto daquela que havia corrido quilômetros a fio.

– Eu ouvi Loki falando sozinho próximo a um desabamento. Ele estava todo sujo de poeira e dizia coisa como: “Falta apenas um teste” e “Derrotando Hela você se tornará única e soberana” e algo tipo: “E então não haverá mais volta”. Parecia estar se comunicando com alguém.

– O quê?! – Toda a equipe da S.H.I.E.L.D perguntou em coro.

– Quando você ouviu isso, filha?

– Faz vinte minutos. Usei aquele feitiço de camuflagem para que Loki não me visse e depois corri o mais rápido que pude até aqui.

– Então... Quer dizer que – Fitz tentava digerir a informação.

– Se Skye derrotar Hela...

– Não tem mais volta. Suas memórias como Skye serão apagadas e a linha do tempo criada por Loki será a única que ela terá. – Sif concluiu.

– Não! – Ward socou a parede. – Ele não vai fazer isso com ela! Eu não... Eu – ele estava desesperado. – Não posso permitir isso! Coulson! Thor! Precisamos fazer alguma coisa!

– O único jeito de impedir isso é Skye não vencendo a luta. – Coulson argumentava.

– Ou seja – May começava uma conclusão.

– Precisamos lutar ao lado de Hela. Da verdadeira Hela. – Fitz bateu na própria testa com a mão direita.

– Seja lá quem for, a amiga de vocês está em sérios apuros. – Skadi levantou-se do leito da mãe e encostou-se à coluna ao lado de Ward.

– Skadi – Idunna apertou os olhos com força antes de falar. – Essa garota em apuros... Ela é sua irmã. – A guardiã do pomar sagrado assistia os olhos da filha se arregalarem – Violet.