(Hiatus) The Soul escrita por Rose


Capítulo 7
Epílogo Parte Dois - Capítulo Três, Sono Eterno


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus queridos!! ..................espero que curtam o capítulo -sai correndo-
P.S.: Voltamos ao POV de Peg.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/489033/chapter/7

— Pelo amor de Deus, onde está Evan?! – exclama Sara, nervosa. Ela parece um dragão cuspidor de fogo, e eu sinto suas baforadas em minha pele.

— Está vindo, Sara, tenha paciência... – diz William, o ajudante, pelo o que eu saiba, já que foi a única coisa que me disse e que me permitem saber.

William é grande e corpulento, assemelhando-se a um grande urso pardo. É careca e sua cabeça é bem arredondada e lustrosa. Seus olhos são dois abismos pretos, e por muitas vezes, perco-me em suas íris ameaçadoras. Sua voz, no entanto, contradiz todo o seu porte físico; calma, segura de que tudo acontecerá como deve acontecer.

— Não me venha pedir calma! – ela grita em resposta – George está em prantos desde que acordou essa manhã... – sua voz agora assume um tom pesaroso, sinceramente lamurioso. Pergunto-me se Sara gosta de George romanticamente.

— O que os olhos não vêem o coração não sente – recitou William – Contanto que ela fique aqui, fora da vista de George, tudo ficará bem – ele falou entremeando suspiros, como se já estivesse farto de ter de escutá-la.

Se assim fosse, não era o único. Eu já não suportava mais olhá-la, fazia com que arrepios involuntários percorressem meu corpo e um sentimento horrível de medo e angústia me dominasse. De qualquer forma, não terei de aturá-la por muito tempo; Dois dias se passaram e não encontrei Margareth. Hoje é meu último dia, mas pelo visto, resolveram adiar minha proposta. Serei encaminhada para o Planeta das Algas Visionárias assim que o tal de Evan aparecer. Achei muito injusto, é claro, mas estou um pouco aliviada. Estou causando a mim mesma severas dores de cabeça que eu sei que não resultarão em nada além de noites mal dormidas. Nada de Maggie, nada de vida na Terra, nada de Ian, nada de Mel ou Jared. Já havia aceitado e quanto antes eu partisse, melhor.

Respiro fundo e me ajeito na cadeira metálica. Estou enfurnada neste laboratório, ou seja lá o que for, há muitas horas. É um cômodo prateado e gélido, cheio de máquinas, cadeiras, pequenos armários e uma maca. Tudo da mesma cor. Não é de se admirar que minha vista esteja cansada.

A porta é aberta brutalmente, e por um segundo chego a pensar que ela se desvencilhará da parede. Um homem alto, extremamente alto (talvez seja porque sou muito baixinha, mas de fato ele é muito alto) começa a caminhar lentamente, como se estivesse apreciando o momento. Ele tem cabelos fartos, lisos e loiros, que caem em sua testa conforme ele mexe a cabeça. Seus olhos são de um tom semelhante à cor da grama, e acho que ele cheira à grama também. Seu rosto é quadrado e cheio de linhas fortes, o que confere a ele um ar autoritário, sem mencionar em seu porte físico de lutador profissional. Kyle teria um medo imenso dele. Está usando uma calça esfarrapada e um jaleco branco por cima da blusa preta colada ao corpo, e ele todo exala deboche. No entanto, diferentemente do que eu esperava, ele apenas sorri quando põe os olhos em mim.

— Você deve ser a Peregrina – sua voz é adocicada e me dá a impressão de que estou imersa em um transe interminável. Antes que eu possa respondê-lo, ele continua a falar. – Sou Evan. Pode-se dizer que sou o “médico” daqui – ele exibe outro largo sorriso, que, aliás, é muito branco.

Resisto à vontade que cresce dentro de mim de perguntar onde estamos, o que é “daqui”. Como me vendaram – de praxe – para chegarmos até aqui, não pude ter uma noção muito boa do ambiente em que estamos. Mas, a julgar por esta sala, quem sabe uma clínica abandonada?

— É um prazer – eu digo, embora não seja tão prazeroso assim. Inicialmente, eu me vi envolvida em suas palavras, mas ao ouvi-lo se apresentar como Evan, pude identificá-lo como o homem que me destruirá a partir do momento em que me mandar para outro mundo.

— Diz isso agora – ele fala, meio ironicamente – Quero ver quando eu tirá-la daí – ele tenta sorrir, mas parece forçado. Evan está tão desconfortável quanto eu; talvez ele não goste da função que exerce por aqui.

Como eu fico calada, ele suspira e tenta se aproximar de mim. Sara o encara com maus olhos, mas ele não dá atenção.

— Eu sinto muito – ele me oferece um sorriso novamente, mas este é verdadeiro. Eu assinto rapidamente com a cabeça, segurando as lágrimas. – Estou atrasado, você deve saber... – ele agora está cochichando e Sara se esforça para nos ouvir. – Tenho de fazer isso depressa, infelizmente – ah, sim. Ele está tentando me dizer que é agora.

— Tudo bem – eu sorrio de volta, escondendo minha tristeza. Não sei se consigo, mas me esforço ao máximo para não deixar que ela transpareça. – Vamos, então – eu lhe ofereço minha mão, e ele a envolve com a dele delicadamente.

Evan nasceu para ser médico, se ele realmente for isso. Bondoso, eu vejo a bondade em sua pupila agora dilatada. É óbvio que vem a ser ele o responsável por me extrair desse mundo; ninguém poderia fazê-lo com mais carinho que Evan, provavelmente. Eu já me sinto segura e um pouco melhor por ser ele o homem que me segurará nas mãos. Ele não me matará, não me deixará cair.

Ele me ajuda a me levantar e me guia até uma das macas.

É agora.

Evan oferece a si mesmo como apoio para que eu possa me deitar. A maca é tão fria quanto o olhar de Sara pode ser, e os arrepios, também de medo, começam a correr uma maratona no meu corpo. Meu batimento cardíaco está acelerado, como quando Ian me beija. Tento não pensar nele agora – mas não seria bom tê-lo como meu último pensamento? Seria. Volto a pensar em seus lábios, na tentativa falha de me manter um pouco mais alegre. Estou indo embora por uma boa causa, não é? Claro que sim. Estou indo embora para honrar a filhinha para sempre perdida de um homem machucado pelas dores do mundo. Eu não mereço estar aqui, tampouco. Respiro fundo. Evan se aproxima de mim, ajeitando minhas pernas para que fiquem bem alinhadas. Leva seu rosto até o meu, permitindo que eu o encare uma última vez.

— Está pronta? – ele pergunta suavemente.

— Tenho que estar – não posso passar meu último suspiro no planeta que mais amo com uma mentira escapando dos lábios, portanto digo a verdade a ele. Não estou pronta, mas tenho que estar.

— Foi um prazer, Peregrina – ele sorri, genuinamente, o que acalma um pouco meu coração frenético. Pessoas como ele, verdadeiramente bondosas, como Ian, verdadeiramente generosas, são a esperança deste planeta. Não nós, as almas tolas, mas sim eles, os humanos bons, cuja amargura que se deposita em seu ser jamais irá superar a gratidão que sentem apenas por estarem respirando.

— Um prazer, Evan – eu lhe dou o meu melhor sorriso.

Ele se afasta e eu me vejo encarando o teto da sala metálica. Curiosamente, o teto é branco, branquíssimo. Dois filetes compridos estão grudados nele, as lâmpadas; elas me ofuscam, mas eu me recuso a fechar os olhos. Sinto uma picada inofensiva no antebraço esquerdo, e meu coração começa a palpitar novamente; estou apenas nervosa. Não se passa nem um minuto quando meus músculos se relaxam e eu já me sinto mais confortável. Na verdade, sinto-me bem sonolenta. Minhas pálpebras estão muito pesadas e não suportarão por muito mais tempo. Secretamente, agradeço por isso – desde que cheguei aqui, não pude desfrutar de uma boa noite de sono, infelizmente. É, Peregrina. Pense assim. Apenas uma noite de sono da qual você nunca mais despertará. Mas você mesma não precisa saber disso.

O sono está violento, puxando-me com força. Finalmente, entrego-me a ele. Boa noite, Terra.

Sinto um tremor. Eu deveria estar dormindo, e de fato não enxergo nada além da escuridão de meus olhos fechados, mas estou consciente. Ou um terremoto forte está ocorrendo, ou estão me destroçando. Espero que não seja a segunda opção. Quanto tempo se passou desde que senti a picada e o sono poderoso me atingirem?

— Peg! – ouço alguém gritar. Estão falando comigo, não estão?

— Acorde! – eu posso acordar?

Tento me localizar. Estou em um corpo, é claro. É Pet. As risadinhas dela estão aqui, estão. Também tenho uma facilidade enorme em me conectar a ela, seus braços e mãos, pernas e dedos, porque já fiz isso antes. Mas não acho seus olhos, não consigo abri-los. O tremor me assola novamente.

— Mantenha-se longe, por favor. Por favor – é a voz de Melanie, inegavelmente. Quem deve se manter longe? O que está havendo?

— Mas você disse... – Ian! Ian está aqui! Mova-se Peregrina, acorde. Você pode acordar.

Tremores. Ah. Os tremores não são tremores; alguém está me chacoalhando. Deve ser Melanie. Sinto leves choques... Estou eletrificada. Preferia os tremores, honestamente falando; os choques são bem desconfortáveis. Mas por um lado, estão me guiando... Estão me dando força, posso sentir meus cílios. Respiro fundo. Sinto o ar preencher meus pulmões.

Começo a abrir os olhos e ouço burburinhos exasperados estourarem meus tímpanos, mas não consigo levar as mãos até os ouvidos para tapá-los. Uma luz ameaça me cegar, mas me mantenho firme; abrirei os olhos agora. Reconheço este teto, teto da Caverna.

Meus olhos já estão bem abertos, mas minha visão está enevoada. Um vulto está bem encima de meu rosto, e pelas suas características, presumo ser Melanie. Quando a nitidez começa a voltar devagar para mim, posso ter certeza de que é ela. Estou ofegante.

— Bem-vinda de volta! – ela grita – Ah, estive tão preocupada que você não fosse acordar desta vez... – ela começa a se lamuriar, mas logo um sorriso largo se forma em seu rosto.

Jamie saltita em minha visão, arrancando-me meu primeiro sorriso.

— Peg, Peg! Você não sabe o que aconteceu, foi muito legal... – ele começa, mas eu não posso entender nada do que diz, tamanha sua pressa.

Tento me levantar, sentar-me pelo menos, mas meu corpo todo está dolorido. Suponho que a viagem até a caverna foi tortuosa. Sinto uma mão grande e áspera segurar minhas costas, e a reconheço como pertencente à Doc.

— Pronto, querida... – ele diz, ajudando-me a ficar sentada e confortável.

Estou mesmo na Caverna. Permito-me admirar cada detalhe como se fosse a última vez. Agora, não sei como cheguei aqui, mas não me interesso em saber. Não sei o que aconteceu a Evan, Sara ou William, mas não quero saber. Ao meu redor, estão Melanie, Doc, Jamie, Jared e Sunny. Tento encontrar Ian. Finalmente percebo que ele parece estar encolhido atrás de Jared.

— Ian? – eu o chamo. Devo soar igual a uma desesperada, mas de fato, estou. Por que ele não está aqui do meu lado? Ninguém me responde.

— Peg... – Melanie se aproxima com um olhar tristonho. O que está havendo? Eu a encaro, e minha expressão deve ser um provável misto de curiosidade e horror.

— Ian? – eu a ignoro e tento chamá-lo novamente.

Eu o vejo tentar se esgueirar para trás do muro de proteção que é o corpo robusto de Jared, mas este o impede. Cochicha algo para trás e volta sua atenção para mim, como se tudo estivesse bem.

— Deixe-me vê-la – Ian gagueja um pouco. Sua voz está muito tímida e amedrontada.

— Fique onde está – Jared diz a ele em um tom ríspido e severo. Estou tremendamente confusa e quero abraçá-lo imediatamente.

— Peg – Melanie me força a olhá-la quando ela envolve meu rosto com ambas as mãos. – Você se lembra do que aconteceu na estrada? – pergunta carinhosamente. Estou me sentindo uma criança e não gosto de ser tratada assim.

— Jared levou um tiro – eu respondo prontamente, na tentativa de terminar com aquele interrogatório que eu sei que serve apenas para me distrair.

— Sim. E você foi capturada por um grupo – ela completa. Parece uma professora explicando uma matéria complicadíssima. – Então, umas almas levaram Jared para o Hospital... – estou com um medo repentino de onde essa conversa nos levará.

— Saia da minha frente – Ian parece tomar um pouco de coragem e eu viro minha cabeça bruscamente, livrando-me das mãos de Melanie.

Jared tenta apartá-lo, mas ele parece decidido. Ele caminha até mim e eu não entendo o porquê disso tudo. Melanie se mantém na frente dele para que eu não o veja.

— Parem com isso – Jeb aparece na porta, recostado na parede com sua espingarda em mãos. – Uma hora Peg terá de saber – ele fala com serenidade. – Parem de ser tão infantis. Não é por isso que o trouxeram, afinal? Pensei que já tivessem tomado essa decisão – ele afirma com ironia, dirigindo-se até Jared e Melanie, que parecem formar um escudo humano em torno de Ian.

Jared suspira e Melanie bufa. Descobri que há uma grande diferença entre suspirar e bufar. Enfim, eles se afastam letargicamente de Ian, que começa a aparecer em meu campo de visão. Conforme ele se aproxima, começo a notar algumas coisas esquisitas: seu andar, que antes era confiante, agora é suspeito; sua expressão, sempre terna e ao mesmo tempo séria, agora parece estar assustada; até mesmo seus cabelos, penteados de uma forma esquisita que eu nunca notara antes.

Mas quando ele está ao meu lado, eu posso ver o que eu me recusei a enxergar. Estava tão absorta em tê-lo ali que simplesmente ignorei. Sinto uma dor profunda em meu peito, que parece estar prestes a me esmagar, como uma cobra enforcando sua vítima, enrolando-se nesta impiedosamente. Não consigo respirar, por mais que eu tente. Levo as mãos até o peito, como se elas pudessem chegar até meu pulmão de alguma forma e ajudá-lo. Doc se aproxima e pede para que Ian se afaste.

Ian não. Não posso mais chamá-lo de Ian.

Ele não é mais Ian. Seus olhos que costumavam me abraçar agora querem me matar. Estão envoltos por uma áurea, a mesma que carrego nos meus. Ian é um hospedeiro.

— Tirem ele daqui, ela está passando mal – Doc pede apressadamente, e Jared assume uma postura furiosa. Melanie me olha por trás dos ombros com os olhos marejados. Jamie parece assustadíssimo, e Sunny parece lamentar secretamente.

Preferia nunca ter acordado. Preferia ter meu sono eterno.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Por favor, não me matem nem me apedrejem. Acreditem, isso foi necessário e doeu em mim escrever cada palavra :( Faz parte da história, juro. -se encolhe-
Não se esqueçam de se manifestar, sem é claro me matar por isso. Vejo vocês na Parte Três??? Espero que sim, vai ser narrado pelo Ian... HAUAHUAH
Xoxo, darlings!!