Contos!!! escrita por Peregrino das Palavras


Capítulo 2
A Vestidinho de Pano


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem...



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A Senhora Vestidinho de Pano encontrei entre meus tesouros. Já encontrei o Batonzinho, ele, às vezes, me pinta, mas mamãe fala para eu não por na boca porque ele pode ter muitos bichinhos maus, afinal não sei por onde o Batonzinho passou...
Também encontrei o Senhor Canivete em uma busca, mas ele está sozinho, botei ele de castigo, porque me machucou quatro vezes, mamãe tirou ele de mim, eu disse pra ele que foi um mau garoto, igual a mamãe fala pra mim quando eu machuco ela, não de propósito, mas é porque eu não sei o que eu faço, igual o primo Joey fala...
Aqui as flores não nascem. Eu já vi uma Flor, elas são raras, mas muito lindas, é porque aqui não tem o que é necessário para elas serem felizes, mas eu tenho, por que elas não têm? Elas devem ser muito exigentes...
Mamãe me ajuda todos os dias a procurar meus tesouros por nossa casa, que para falar a verdade é muito grande, é porque temos de dividi-la com outras famílias, diz a mamãe. O pessoal aqui de casa é bem legal, eles são todos diferentes, mas somos todos uma família, diz ela pra mim quase todo dia, e fala que tenho de cuidar de todos, mas quando tento fazer algo para ajudar acabo estragando tudo.
Hoje não fomos buscar tesouros. Fiquei do meu lado da casa sozinha, estava ventando muito, mas por sorte a Senhora Vestido de Pano me protegia do frio. Por sorte ouvi os pássaros cantarem hoje, mamãe fala que quando os pássaros cantam algo bom está ocorrendo, e os pássaros nunca cantam aqui em casa.
Mamãe não está aqui, os trovões estão me assustando! Cade ela? Ela nunca demora tanto? Ele sempre chega como o Papai Noel, com uma sacolona cheia de coisas, no natal ela diz que é o Papai Noel! O natal é muito divertido, todos se reúnem e trocam presentes feitos de tesouros. Não gosto de dar meus tesouros para os outros, mas mamãe diz que é essencial e muito importante, é porque mostra a gratidão que temos uns com os outros e algo do tipo. O primo Joey está com o Senhor Bola de Futebol, dei ele pra ele porque não gostava desse tesouro, não me era tão... divertido, não fazia nada...
Outro trovão, to com medo! Cade a mamãe? Quero que ela me abrace, to com muito medo. Seus braços me protegem de tudo. Quero que ela chegue, e me mostre os tesouros que encontrou, normalmente os delas são mais sem graça, papelões, garrafas de plastico verde musgo, e coisas do tipo. Os meus são bem mais legais! Mas agora eu quero a mamãe, com ou sem a garrafa sem graça! Faz tempo que eu não digo que a amo...
Mais um trovão e o primo Joey chega no mesmo instante, diz que tenho que me arrumar... Arrumar? nunca me arrumei antes, o que é arrumar? Eu não entendi nada, ele estava derramando lágrimas pelo rosto, lágrimas são gotas de água cheias de sentimentos ruins, por isso são salgadas, elas devem sair do nosso corpo para não carregarmos os sentimentos ruins conosco. Mas também tem as lagrimas com sentimentos bons, que é quando choramos por estarmos felizes, a mamãe diz que não devemos chorar quando estamos felizes, para guardarmos os sentimentos bons com a gente.
O primo Joey acaba colocando a Senhora Vestido de Pano em mim, espero que ela não se importe de eu visita-la por dentro. Acho que não se importou, pois o vestido coube certinho no meu magrelo corpo, como o primo Joey fala.
Ele pega o pequeno Batonzinho também, e passa em meus lábios
–Ei, não! Não sei por onde isso passou!
Ele cochicha umas palavras com um rosto muito triste, não estou entendendo nada, os pássaros cantaram, não devia ter ocorrido algo bom? Essas lagrimas não teriam de ser lágrimas com sentimentos bons?
Ele puxa meu braço, e andamos por toda nossa casa, atravessamos campos e campos de tesouros...
De repente eu lembro que a mamãe disse que os nossos tesouros são os lixos dos outros, e o que os nossos tesouros serão nosso lixo no futuro. Eu imagino que a Senhora Vestido de Pano tenha sido um tesouro muito importante para outra pessoa, e que de uma hora para outra virou um lixo. Ela deve ter sido amada e depois esquecida, como o dia vira noite. Agora ela é minha tesouro. E vou amá-la para sempre, não virará lixo...
Nossa casa tá bem vazia, cade a família? O tio Joey aperta meu braço muito forte, e me arrasta para todo canto, até que, enfim, eu encontro todos em um só local. Um aglomerado de gente, todos diferente e com suas sacolas-guarda-tesouro onde cada um guarda o que acha. Enfim chegamos ao bolinho de pessoas, a Tia Lucy me olha, também com lágrimas nos olhos, e me abraça muito forte, e diz:
–Você era o maior tesouro dela.
Atrás da tia Lucy minha mãe estava deitada, dormindo. Ela nunca dorme fora de casa? O que ela estava fazendo aqui? Deve ter sido uma má garota, deve ter machucado alguém, talvez todos que estão chorando devem estar machucados.
–Diz tchau para sua mãe, Helena
Por que dizer tchau? Nunca digo tchau para a mamãe, ela tem que se arrumar para irmos para o nosso canto dormir, e amanhã buscarmos mais tesouros!
Ela não acorda, eu a sacudo eu chamo ela, mas ela não abre os olhos!
–Mamãe! Mamãe!!! Mamãe?!
Por que ela não acorda?
Quatro homens pegam a mamãe no colo e levam ela para longe até desaparecer por completo da minha visão
–MAMÃE?
Eu era o melhor tesouro dela, agora eu virei um lixo.


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Notas finais do capítulo

feito com coração!



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