Mystical escrita por Eduardo Mauricio
Kevin não sabia o que fazer, parado no meio da sala, olhando para os corpos sem vida daquele casal. Pegou o celular e discou o número de polícia, quem atendeu foi um homem, com uma voz grossa.
– Departamento de polícia – A voz masculina do outro lado da linha disse.
– Eu quero informar um assassinato na Rua Faith, 56 – Kevin respondeu.
– Qual o seu nome, senhor?
– Kevin.
– Tá bom, Kevin, fique calmo, já vamos mandar uma viatura.
– O autor é o mesmo das pessoas assassinadas em Misty há alguns dias
– Como assim? Senhor, como você sabe disso?
– Eu sou policial de Misty, este é o meu caso e uma das vítimas era testemunha chave do caso.
– Você acha que o assassino ainda está na casa?
– Eu não sei, acho que não.
– Mandarei duas viaturas, fique aí.
– Ok.
Kevin desligou o celular e escutou um som de pneu queimando no asfalto. Quando viu pela janela, percebeu que uma caminhonete azul-bebê corria a toda velocidade.
– É ele – Kevin falou para si mesmo e saiu correndo pela porta da frente.
Ele foi até o meio da rua e tentou enxergar o carro, mas ele já havia entrado em alguma esquina e sumido. Tudo o que havia deixado para trás eram marcas de pneu, fumaça e um pedaço de papel, no qual Kevin pisou.
– O que é isso? – Ele perguntou para si, pegando o pedaço de papel do chão.
Na folha, havia nomes escritos, nomes de pessoas, em uma ordem. Michael Knight, Emily Jenkins, Barbara Camry e Jason Camry. Todos esses estavam riscados com uma caneta vermelha, com exceção do último. Foi então que Kevin percebeu que aquilo era um grande e bem elaborado plano, e de acordo com aquela folha, só faltava mais uma vítima. O único nome que ainda não havia sido riscado.
Joshua Reeves.
Kevin entrou em seu carro apressado e deu partida. Ele está indo para a casa de Joshua para realizar o grand finale, mas porque as outras vítimas? O que elas tinham em comum? E porque terminar com Joshua? Kevin tinha a impressão de que descobriria se chegasse antes do assassino à casa de Joshua, que, felizmente, ficava em Crawford mesmo, no limite da cidade.
***
Duas viaturas chegaram à casa de Jason com suas luzes vermelhas e azuis piscando freneticamente e, de dentro delas, saíram vários policiais, com armas em punho. Eles entraram na casa e depararam-se com a cena. Alguns até cobriram a boca com a mão ou viraram o rosto.
– Parece que a testemunha foi embora – Disse um dos policiais, referindo-se a Kevin.
***
Kevin dirigia rapidamente por uma larga rua de Crawford, estava chegando ao limite da cidade, já podia ver uma placa dizendo “Misty, 20km”, quando encontrou a pequena estrada de barro que levaria à casa de Joshua, ele entrou sem ao menos avisar a algum motorista que pudesse vir atrás – Não vinha nenhum.
Nenhum sinal do assassino, a estrada estava vazia. Pelo menos era o que parecia.
Kevin dirigiu por alguns minutos, até chegar à casa de Joshua. As luzes estavam apagadas e isso dava um ar assustador àquela grande casa.
Kevin parou seu carro em qualquer lugar na frente da casa e desceu rapidamente. Nenhum sinal da caminhonete. Ele colocou a arma em punho e entrou na casa – Estranhamente, a porta estava destrancada. Ele ficou nervoso. Acendeu a luz da sala, esperando encontrar o corpo de Joshua sem vida, como havia acontecido com Jason e sua esposa, mas, felizmente, não havia nada ali. Ele suspirou e continuou andando.
– Josh? – Ele chamou, mas não obteve resposta. Continuou andando.
Kevin subiu as escadas e andou pelo corredor vazio, com medo de ser surpreendido a qualquer momento pelo assassino.
Andou até o quarto de Joshua e bateu na porta, ele poderia estar dormindo. Não houve resposta, então ele falou:
– Josh, você está aí? Sou eu, Kevin.
Mais uma vez ninguém respondeu, então ele girou a maçaneta e percebeu que a porta estava aberta.
Entrou no quarto.
Quando Kevin acendeu a luz, ficou chocado com o que viu, não era o corpo de Josh, mas era algo ainda pior. Na parede do quarto, havia várias manchetes de jornais, noticiando os dois assassinatos. Havia também várias fotos das vítimas e folhas com informações sobre elas, além de vários objetos religiosos, como crucifixos, velas e imagens de Jesus Cristo. Tudo isso grudado na parede. E na cama havia uma roupa preta e uma máscara de bruxa.
Kevin deu um passo para trás e levou a mão à boca. Joshua é o assassino. Mas por quê?! Ele se perguntava, enquanto tentava assimilar as coisas.
Joshua é o assassino.
O pensamento ecoava na sua mente, era difícil de acreditar.
– Não pode ser – Ele disse baixinho e então saiu do quarto às pressas. Precisava informar a alguém e ir atrás de Joshua. Precisava matá-lo.
Ao descer as escadas, encontrou Joshua sentado no sofá, todo ensanguentado, segurando uma arma na mão esquerda – A faca ensanguentada estava ao seu lado, sujando o sofá.
– Seu desgraçado!!! – Kevin gritou, sacando sua arma – Eu vou te matar.
Joshua sorriu.
– Eu te peguei não foi?
– Você é um doente!
– Sim, mas você precisa admitir que sou um doente criativo, não? – Joshua continuava a sorrir.
– Eu posso perguntar o porquê? – Kevin continuava mirando a arma. O assassino parecia não ter medo de morrer – Por que matou aquelas pessoas?
– Porque é isso o que Deus quer, que somente os puros e pecadores arrependidos vivam e aqueles não se arrependeram Kevin.
– O que? – Kevin estava perplexo. O que diabos ele quer dizer?! Pensava.
Joshua começou a desabotoar a camisa.
– Pare! – Kevin ordenou.
– Só quero mostrar uma coisa – Ele continuou a desabotoar. Kevin podia ver uma cicatriz no seu peito.
Quando Joshua finalmente tirou a camisa, Kevin confirmou o que pensava. Era uma cicatriz. Uma cicatriz estranha em forma de cruz.
– O que é isso?
– Isso – Ele olhou para o próprio peito. A cicatriz começava quase no pescoço e descia até o umbigo. – É a nossa marca.
– Você é um psicopata.
– Eu acho que você não andou fazendo sua pesquisa corretamente, então não sabe nada sobre as vítimas.
– O que?
– Elas foram apenas o começo de algo grandioso, um movimento que vai mudar o mundo.
– Do que está falando?
– As mortes, Kevin, elas têm um significado. O adolescente, Matthew, era um pequeno traficante – Ele andou de um lado para o outro, na sala. – Alguém daquela idade no mundo do crime?! É o começo do fim meu irmão! – Ele falava em um tom grandioso, como padres ou pastores.
– E você precisava matá-lo?! – Kevin gritou. As veias ficaram visíveis na sua testa.
– Precisamos purificar o mundo! Aquele garoto nunca havia pisado em uma igreja!
– Eu não posso acreditar.
– A garota! – Ele exclamou, ignorando Kevin – Era uma verdadeira vadia! Só Deus sabe a quantidade de homens para quem ela se oferecia! Não ia à igreja também.
– Mas e quanto às outras vítimas? De anos atrás?
– Não era eu.
– Como assim não era você?
– Kevin, eu não estou sozinho.
– Quem são vocês? – Kevin precisava ouvir um pouco mais sobre aquela história absurda.
– Nós somos aqueles que mudarão o mundo, com a ajuda do Senhor – Ele sorriu – Você pode se juntar a nós.
– Você quer começar uma revolução matando pessoas que a sua religião considera impura?
– Não há revolução sem derramamento de sangue.
– Mas porque os contos de fadas?
– Como eu disse, eu sou criativo – Ele achou engraçado e sorriu.
– Você é um doente, você e eles!
– Você está falando de servos de Deus.
– Deus não é justo, a vida não é justa, nós vivemos em torno Dele e o que ganhamos? Nada!
– Cuidado com suas palavras! – Joshua tirou o sorriso do rosto e tomou a expressão de um fanático religioso – o que ele realmente era – em seu rosto.
– Você não acha que se ele estivesse preocupado conosco, ele mesmo viria eliminar essas pessoas impuras como você mesmo disse?
– Ele não precisa, por isso nós existimos.
– Eu vou acabar com vocês, já chega de mortes!
– Eu não posso deixar que isso aconteça – Joshua disse e, em um movimento rápido, pegou sua arma e atirou contra Kevin, que fez o mesmo.
Os dois caíram para o lado, ambos atingidos pelas balas. Kevin ficou ferido na virilha, enquanto Joshua estava deitado com a mão na barriga, na altura do estômago.
Kevin arrastou-se até onde Joshua estava e jogou a arma dele para longe. Continuou segurando a sua, apontando para a cabeça dele.
– Você não vai conseguir – Ele disse – Eu já avisei, eles estão vindo, estão vindo atrás de você.
Kevin ignorou aquela última frase, apenas olhou para o rosto dele uma última vez, lembrando-se do quanto havia sido ingênuo em confiar nele, e então puxou o gatilho. O sangue de Joshua sujou o carpete inteiro.
Havia terminado.
Kevin, apoiando-se no sofá, levantou-se e conseguiu ficar de pé, depois, caminhou até a porta da frente, ainda segurando sua arma, e saiu. Não sabia se era noite ou madrugada, mas estava claro o suficiente para perceber que ele não estava sozinho ali. Sua visão estava turva e ele queria desmaiar, mas conseguiu ver quase nitidamente que havia vários homens saindo da floresta.
Os homens estavam descamisados e tinham cicatrizes no peito. Cruzes.
Eles estão vindo, estão vindo atrás de você, ele se lembrou do que Joshua havia dito.
– Quem são vocês?! – Perguntou, mas já sabia a resposta.
– Nós somos servos de Deus – Um dos homens respondeu, aproximando-se.
Kevin estava tonto, mas levantou sua arma e apontou para o homem que falou.
– Vamos ver se seu Deus vai lhe salvar disso – Ele disse e então atirou, mas errou o tiro. Estava muito fraco.
O homem, que portava um revólver, aproximou-se e deu um soco no rosto de Kevin, que caiu no chão. Depois, mirou sua arma na cabeça dele e disse:
– Você não deveria ter se aprofundado tanto nesse caso.
– Vocês não podem mudar o mundo matando pessoas, não é isso que o seu deus quer – Kevin disse.
– É exatamente isso o que ele quer – O homem disse.
– Vocês não podem continuar com isso!
– E você – O homem destravou a arma – Não pode parar a revolução – E atirou.
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