Trevor

Aquela cena foi uma das piores que eu já vi. Eduard sendo baleado, sangue escorrendo para todo lado, Mackenzie chorando, e eu ali parado sem fazer nada. Me agachei ao lado de Eduard, que sorriu.

– Dois ótimos amigos – ele sussurrou.

– Shh – disse Mackenzie – Eduard...

– Mack, ele não vai sobreviver – murmurei.

– Não diga isso! – ela berrou.

– A culpa não é minha se eu posso sentir a morte – falei.

– Ei, ele está certo Mack – Eduard sussurrou. Ficou quieto por uns instantes, onde só o que podíamos ouvir eram os soluços de Mackenzie. Ele nos encarou – Vocês foram os melhores amigos que eu poderia querer. Mack, eu te amo, te amo muito. Nunca vou te esquecer. Trevor... – ele tossiu – Um anjo negro que mais parece mortal de tão diferente. Um ótimo companheiro.

Abri um sorriso, e percebi que Mackenzie também. Eduard me puxou para mais perto.

– Cuide bem dela, por favor.

Eu ia assentir, mas o ruivo suspirou, fechando os olhos. Não respirava mais. Fechei os olhos, sentindo uma lágrima percorrer minha bochecha. Mackenzie se agarrou a mim, soluçando. Abri os olhos, e vi que o corpo do garoto não estava mais ali. Suspirei, peguei Mackenzie no colo, e voltei para a casa que estávamos. Mack pulou do meu colo, e socou a parede, fazendo os dedos sangrarem.

– Anjos brancos são inúteis! – ela berrou – Somos mais cruéis que anjos negros, mais cruéis que qualquer outra coisa que existe! Por quê? Por que tinham que matar o Eduard?!

Ela veio correndo e me abraçou. No meio dos soluços, vi que Mack abriu um sorriso.

– O que foi? – perguntei.

– Lembro da nossa infância juntos. Eduard era muito desastrado. Um garoto muito meigo e inteligente.

– Ele se sacrificou provavelmente por você – raciocinei – Mack, Eduard sempre vai ser seu melhor amigo, não importa em que lugar esteja.

Mackenzie me olhou confusa.

– Como...

– Meu melhor amigo foi morto também – suspirei.

– Sinto muito Trevor – ela aconchegou a cabeça em meu peito.

– Não sinta. Sinta pelo Eduard agora, não por mim, nem pelo meu... – hesitei. Quase falei irmão. Josh era como um irmão para mim – Amigo.

Mackenzie assentiu, e se sentou no sofá. Fechou os olhos por um bom tempo, acho que pensando em Eduard, e na sua infância com ele. Sentei na poltrona ao lado da TV, e fiquei pensando em Josh. Como aquele cara estaria? O Além deve ser bom, lá os anjos são todos amigos, não existem regras. Talvez Josh estivesse com Kylie, talvez não. Fechei os olhos.

Hum... aquela visão da guerra me veio à cabeça. Ah Deus, se Eduard estava morto, sendo que na minha visão ele havia morrido na guerra... provavelmente o corpo era eu, não o ruivo. Mas... minha lança, nas costas da Mackenzie... não fazia sentido, a menos que alguém tivesse enfiado aquilo nela. Mas quem, Trevor, quem?! O general do Mundo Branco? Não... ele não participa das guerras, só as fazem. O general do Mundo Negro também não, ele faz cada cagada que é de se impressionar. Ele consegue acertar anjos brancos só com uma metralhadora, se for outra arma, pode acertar anjos negros. Estranho, eu sei.

Suspirei, tentando parar de entender aquela visão. Abri os olhos, e vi que os dedos de Mackenzie ainda sangravam. Me levantei, e puxei-a para cima, a fazendo levantar do sofá.

– O que vai fazer? – perguntou ela.

Não respondi. Levei-a até o banheiro, lavei seus dedos, que no mesmo instante pararam de sangrar. A garota me olhou confusa.

– Trevor, tudo bem? Parece chateado.

– Estou um pouco – falei – Não consigo entender uma visão que tive.

Mackenzie pareceu compreender. Voltamos para a sala, sentamos no sofá, e ficamos agarrados um com o outro.

– Eduard... queria que estivesse aqui – Mack murmurou.

– Mas ele está – disse – Olha, vai ser muito clichê se eu falar, por isso acho que não vou mencionar nada, porém, acho que você sabe onde ele está Mack.

Ela virou-se para mim, e sorriu.

– Coração.

Abri um pequeno sorriso de aprovação. Estava muito preocupado com aquela maldita visão. E se eu só conseguisse descobrir o que ela significava pouco antes de morrer? E se só descobrisse quando chegasse ao Além?

– Trevor? – Mackenzie estalava os dedos na frente dos meus olhos.

– Ah, o que foi?

– Você desligou por uns instantes.

– Aquela visão inútil não me deixa pensar em outra coisa, a não ser nela.

Mack suspirou.

– Relaxa Trevor.

– É impossível relaxar com isso.

– Pode me contar a visão?

Pensei por alguns minutos, e balancei a cabeça negativamente.

– Melhor não. Se for para saber, melhor você saber por conta própria.

– Como quiser - Mackenzie disse, revirando os olhos.

Vi que ela queria chorar. Seus olhos estavam cheios de lágrimas. Não conseguia pensar em nada para consolá-la. Eduard se fora. Josh se fora. Teríamos que aguentar a próxima morte, seja ela quem for.