A última Noite escrita por Sbertolin


Capítulo 1
Capítulo Único!


Notas iniciais do capítulo

A Kitty espera que todos gostem!! n_n



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A Última Noite


 


E ali estava eu outra vez, sentada pela terceira vez em uma semana naquele enorme sofá da torre T, tão macio, tão confortável e tão familiar para mim. Sentia um vento forte entrar pela janela aberta e bagunçar um pouco meus cabelos vermelhos. Nem ligava para isso, sequer sabia que horas eram! Olhei para o relógio pendurado na parede a minha esquerda, e não me assustei ao perceber que passavam de quatro horas da manhã. Não. Não me assustava mais com nada, nos últimos dias.


 


Alisei o estofamento arroxeado ao meu lado, estava simplesmente imersa em meus próprios pensamentos. Alguma coisa me dizia que algo realmente ruim viria a seguir. Talvez... instinto? É. Talvez fosse o que os terráqueos chamavam de "intuição feminina". Levantei-me e bati minhas mãos em minha saia, como se tentasse arrumá-la. Aquela saia, que Robin odiava - e ao mesmo tempo amava - tanto! Corei levemente com essa lembrança... O dia em que nós finalmente nos beijamos, em Tókio. Definitivamente, foi um bom dia, e a semana fora melhor ainda! Suspirei e, silenciosamente, caminhei até a janela aberta. Apoiei minhas mãos na parede e suspirei pela segunda vez naquela madrugada. Olhei para baixo, sentindo algo como uma garra apertando fortemente minha garganta e, ao mesmo tempo, meu coração. Balancei a cabeça algumas vezes, sentindo meus olhos esverdeados começarem a ficar irritadiços. Sabia que eles estavam se enchendo de lágrimas, só não sabia o motivo daquilo! Abri-os e fechei a janela o mais rápido que pude. Abracei meu próprio corpo logo depois, enquanto encostava-me na parede e olhava para fora, para o mar ali em baixo. Ouvi passos, embora que baixos, e virei-me de súbito. Arregalei os olhos ao reconhecer aquele cabelo negro um tanto espetado, aquela máscara que escondia tão lindos olhos - que eu sabia bem, eram azuis - e, o mais assustador de tudo, o uniforme colorido daquele garoto que eu, Estelar, tanto amava.


 


- Deveria estar dormindo. - Ele me disse, com um tom de voz um tanto frio demais para a ocasião. Estranhei ele não arregalar os olhos e não me chamar pelo nome, como sempre fazia em dias como este.


 


- Não consigo. - Respondi, sentindo os olhos começarem a arder novamente. Ele continuou com sua expressão impenetrável, o que era praticamente um milagre para mim. Sorri para ele, mas ele não me correspondeu o sorriso. Foi aí que eu percebi a mala aos pés de Robin. Arregalei meus olhos pelo que me parecia ser a terceira ou quarta vez naquela noite e dei dois passos em sua direção, ainda abraçada a mim mesma. Parei a poucos centímetros dele e apontei para a pequena maleta marrom aos seus pés, quase imperceptível naquela sala iluminada apenas pelo luar lá fora. - Aonde vai?


 


- Voltar para Gotham. - E o que mais me assustou não foi à notícia. Não, eu sabia que o tal Batman tinha enviado uma carta para Robin há uma semana atrás. O que me assustava era a expressão ainda impenetrável em seu rosto pálido.


 


- Voltar para Gotham? Agora?!


 


- Sim, agora. Estelar, vá dormir. É a terceira noite que passa em claro.


 


- Não pode esperar até mais tarde?! Não quer se despedir de seus amigos, Robin?! - Senti meus olhos encherem-se de lágrimas novamente, e amaldiçoei-me mil vezes por ser tão fraca a ponto de chorar por uma notícia tão simples. Ele me respondeu com um simples e frio "não", enquanto se abaixava para pegar a alça de sua maleta. Finquei minhas finas unhas em meus próprios braços, causando uma pequenina e passageira ardência, que eu não liguei muito. - Por que não?! Por um acaso o tal Batman é mais importante do que seus amigos, Robin?


 


- Talvez seja. - Ele virou-se enquanto falava, e pude notar que ele cerrava os punhos envolto com as costumeiras luvas esverdeadas, apertando aquela alça com demasiada força.


 


- É mais importante do que eu?


 


Talvez minha questão não tenha tido o impacto que eu queria, pois ele não vacilou um passo sequer em direção à porta. Apenas virou-se levemente ao colocar a mão na maçaneta de aço, e eu pude perceber que ele semicerrava os olhos. Decidi segui-lo e caminhei em passos decididos em sua direção.


 


Nenhuma palavra foi dita - embora eu quisesse muito perguntar a ele o que havia acontecido para tão brusca mudança de comportamento - até chegarmos à garagem e ele prender firmemente sua pequena mala marrom em sua moto e pegar o capacete. Olhou para aquele objeto que eu tanto adorava por algum minuto, antes de estendê-lo a mim com as duas mãos. Ele olhava para a moto quando falou:


 


- Fique com isso, Estelar. Eu não vou precisar.


 


- Mas você não pode...


 


- Eu disse para pegar. - Desesperei-me com seu tom de voz repentinamente agressivo, e pude sentir meus olhos lacrimejarem novamente, agora com mais força do que às vezes anteriores. Fechei-os com força e mordi meu lábio inferior enquanto pegava trêmula, o maldito capacete. Abracei aquele objeto e olhei para Robin, que continuava com uma expressão impassível, embora eu estivesse vendo perfeitamente uma pequena gotinha cristalina brilhar em sua bochecha esquerda sob a luz do luar, que entrava pela garagem aberta.


 


- Estelar... - Ele aproximou-me de mim e tocou levemente meu cabelo. Bagunçou-o um pouco, como costumava fazer a dois dias atrás, quando, subitamente, meu amado se fechou para o mundo e trancou-se em seu próprio quarto.


 


- Robin... - Encarei-o na máscara, nos olhos, e ele baixou os olhos e se afastou. Sabia que ele era realmente tímido, mas não poderia, ao menos, dar-me um beijo de despedida?! - Robin, por favor, espere. Espere só mais uma semana, por favor. Fique só mais uma semana! - Comecei a implorar a ele enquanto tentava, em vão, conter as lágrimas que manchavam meu rosto um tanto dourado.


 


- Você sabe que não posso. Ele me deu um prazo de uma semana. - Robin montou na moto e deu a partida, preenchendo o silêncio da madrugada com um enorme ronco. Não me assustei com isso, mas sim com o fato de ele sequer olhar para mim durante o ato.


 


- Quando você volta? - Sussurrei, sentindo minha cabeça rodopiar. Ele apenas olhou para mim e eu pude ver outra gotinha cristalina, agora na bochecha direita. Foi aí que eu percebi. - Você não vai mais voltar, não é?! Claro... TUDO PRA VOCÊ É MELHOR DO QUE VOLTAR PRA GOTHAM, NÃO É?!


 


- Você não entende... Se eu não voltar, ele... Estelar, ele vai te matar. Eu... Eu não posso deixar ele te matar. Ele só vai te pegar se eu estiver com você. É a mim que ele quer não a você! Eu não vou mais deixar ninguém se machucar por minha culpa.


 


Agora, sim, eu sabia o motivo de tamanho aperto no coração. Robin estava fugindo. Fugindo de mim, fugindo de Batman, fugindo da vida! Eu fechei com força os olhos, sentindo minha cabeça latejar com força. Isso sempre acontecia comigo quando eu brigava com alguém, mas sempre era muito, muito pior quando era com ele a briga. Ouvi o ronco aumentar de intensidade e, lentamente, desaparecer, dando lugar ao silêncio mórbido da escuridão. Abri meus olhos com força a tempo de ver a moto do menino-prodígio sumir no horizonte. Deixei o capacete cair no chão, e meu mundo desabar lentamente sobre minha cabeça.


 


Ele não tinha dito nada... Não tinha dito as três palavras que eu só gostava de ouvir da boca dele, com aquela mesma voz. Podia ser até mesmo no mesmo tom frio!


Eu só queria que ele voltasse. Só queria que ele dissesse "eu te amo" de novo. Só... Só uma vez. Uma vez sincera. Um beijo de despedida, algumas palavras doces para que eu me lembrasse, para o resto de minha existência, quem era homem que eu amava. Era só isso que eu precisava só isso.


Mas parecia que até mesmo aquilo era caro demais para ele.


 


E o silêncio da madrugada foi preenchido pelos meus soluços descompassados, pelo som de meus passos desengonçados pela torre T. Eu procurava chegar à laje, no topo da torre, e assim o fiz. Cheguei lá em cima ofegante e quase sem respirar, devido às lágrimas que banhavam meu rosto e aos meus soluços, cada vez mais altos. Engoli em seco e abracei-me novamente enquanto sentia o vento gelado da madrugada invadir-me os pulmões. Foram precisos apenas dez passos para que eu chegasse à beirada da torre. Senti novamente uma enorme mão com garras e espinhos apertar-me fortemente o coração ao olhar para baixo, para as pedras - algumas um tanto afiadas - banhadas pelas ondas do mar negro, sempre indo e vindo, indo e vindo. Sempre inabalável tal como a lua cheia que o iluminava com seu brilho prateado. Não suspirei. Não hesitei, sequer pensei no que estava fazendo. Não conseguia voar, não com a tristeza e o desespero que assolavam meu coração. Eu sabia que nunca mais o teria em meus braços novamente. Eu sabia que nunca mais sentiria seus beijos e abraços, e que nunca mais ouviria sua voz, seja brincando ou falando seriamente.


 


Eu simplesmente havia perdido a razão de minha existência.


 


Foi fácil. Eu simplesmente deixei o peso de meu corpo exausto cair para frente. Não fechei os olhos como qualquer terráqueo faria. Não. Eu queria que meus olhos fossem a primeira coisa, a primeira parte de meu corpo, a bater no chão, pois eu nunca mais o veria. O vento parecia empurrar-me, fazendo com que eu ganhasse mais velocidade em minha queda, e as ondas do mar, inabaláveis, continuar banhando as enormes pedras abaixo de mim, enquanto eu continuava caindo, e caindo, e caindo...


 


... Por toda a eternidade, enquanto as palavras não-ditas por Robin martelavam em minha cabeça.


 


"Não deixe de demonstrar seu carinho para com quem ama. Pois, no fim, talvez seja tarde demais."


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Notas finais do capítulo

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