A Saga de Ares - Santuário de Sangue escrita por Ítalo Santana


Capítulo 82
Capítulo 73 – Campo de guerra: Delfos


Notas iniciais do capítulo

Tithonos, o antigo Cavaleiro de Ouro de Câncer da Era Mitológica, discute com Asterion sobre o plano do Grande Mestre em relação ao exército de Ares, e o antigo Cavaleiro de Prata faz um pedido inusitado. Enquanto surgem revelações sobre os Berserkers, Tithonos mostra a Asterion as consequências do que está sendo solicitado. No topo das 12 casas, Delfos observa que a batalha contra Ares atinge seu ápice, enquanto uma nova ameaça se avizinha no horizonte, colocando em xeque o destino do Santuário e da humanidade.



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Capítulo 73 – Campo de Guerra: Delfos

 

Enquanto Ápis de Touro e os outros Cavaleiros de Ouro enfrentavam os Berserkers Sagrados de Ares que estão espalhados pelo planeta, o confronto no Santuário caminha para seu desfecho final.


Coliseu – Santuário de Atena, Grécia

No centro da coluna de cosmo que se erguia como um pilar de luz na arena do coliseu, encontrava-se Tithonos, o lendário Cavaleiro de Ouro de Câncer da Era Mitológica. O antigo combatente havia sido convocado por Delfos e Atena para “selar” o exército de Ares, algo que somente ele, um sobrevivente da Era Mitológica, poderia realizar sacrificando o seu grandioso cosmo acumulado ao longo de toda a sua vida.

O rosto velho, mas com um olhar vivo, de Tithonos fixou-se em Asterion, fazendo uma rápida leitura do caráter do antigo Cavaleiro de Prata de Cães de Caça.

— Então o Grande Mestre lhe enviou aqui para me pedir algo?! — questionou Tithonos. — Sacrificar a minha vida e o meu cosmo não é o suficiente?

— O senhor sabe o quanto o Grande Mestre lhe é grato pelo que o senhor está fazendo. O senhor Delfos passou anos articulando tudo isso. E para ele foi uma grande descoberta saber que havia um meio de encerrar essa guerra entre Atena e Ares. De uma vez por todas. — disse Asterion.

— O plano audacioso... — disse Tithonos. — É como ele gosta de chamar. O Grande Mestre chegou até mim com bastante esperança nessa ideia.

Esse assunto foi discutido no dia em que ele conheceu Delfos. Há 10 anos atrás.

Flashback:


Talnakh, península de Taymyr, Rússia – 1991 – 10 anos antes da Guerra Santa contra Ares

Talnakh é uma região predominantemente industrial. Sua população não é densa e é composta principalmente por trabalhadores da mineração e suas famílias. A infraestrutura da cidade fornece apenas os serviços básicos que essa pequena população precisa para enfrentar um clima ártico severo. A cidade resiste a invernos rigorosos e longos. As temperaturas podem cair significativamente abaixo de zero durante o inverno, tornando as condições climáticas bastante desafiadoras.

O crepúsculo pairava sobre Talnakh, tingindo o céu com tonalidades gélidas de azul e cinza. Dois homens, envoltos em pesados agasalhos, avançavam pela rua principal da cidade industrial, onde o frio cortante transformava cada respiração em nuvens saindo da boca.

O primeiro homem vestia um casaco de couro escuro que contrastava com a neve que se acumulava em seus ombros. Enquanto seu rosto, escondido sob um gorro de pele de urso, espiava entre as dobras de um cachecol que se estendia até a metade do peito. Seus olhos prateados, penetrantes como o aço, vigiava a paisagem ártica ao seu redor. O segundo homem trajava um sobretudo verde-oliva e um gorro de lã escura cobria seus cabelos loiros. Ele parecia estar mais acostumado com o frio da região, pois estava menos agasalhado do que seu companheiro.

A rua era ladeada por edifícios industriais. Os prédios eram feitos de concreto e havia tubos de vapor no teto lançando espirais de fumaça. A iluminação precária dos postes de rua lançava sombras sobre a calçada coberta de gelo.

— Estamos perto da sua terra natal? — perguntou o homem de casaco escuro.

— Não. — respondeu o homem de cabelos loiros. Ele estava atento, olhando para os lados. — Estamos na região de Talnakh. Essa cidade é também conhecida como “cidade fechada”. É um assentamento onde são aplicadas restrições de viagem, de modo que é necessária uma autorização específica para visitar. Esses locais podem ser estabelecimentos militares sensíveis ou instalações de investigação secretas. Talnakh é uma zona industrial, então não teremos tantos problemas com os militares, mas não podemos chamar atenção.

— Então tive sorte em chamá-lo para me acompanhar, Hyoga.

— Não seja modesto. Qual é a sua verdadeira intenção, Grande Mestre?

O ar em volta do representante de Atena mudou.

— Já que está sendo direto... Entre os Cavaleiros Lendários, você é o mais isolado e é o que eu menos conversei. E por ser um Cavaleiro de Ouro é importante que você esteja ciente de alguns assuntos... — havia cautela nas palavras do Grande Mestre. — Você já deve estar ciente de que há três anos, eu li as estrelas e vislumbrei a próxima Guerra Santa. Desde então, Atena e eu temos trabalhado incansavelmente para fortalecer o Santuário. Tomei a decisão de buscar pelos antigos cavaleiros que um dia serviram ao Santuário, mas que agora descansam, para que possam treinar um novo exército. Além disso, decidi localizar e reunir as 88 armaduras do exército de Atena. No entanto, ambas as tarefas são desafiadoras. Por isso, solicitei a ajuda de Luna, a jovem amazona de bronze de Sextante.

— Já ouvi falar sobre as habilidades especiais da armadura de Sextante. — disse Hyoga. — É uma armadura especial, com a capacidade única de localizar algo ou alguém através da constelação guardiã.

— A armadura de Sextante pode realizar muito mais do que isso. — disse Delfos. — É uma bússola capaz de guiar os cavaleiros nos caminhos traçados pelo destino de suas estrelas guardiãs. Além disso, Luna também é capaz de detectar a presença das armaduras perdidas através das estrelas e identificar aqueles que possuem fortes indícios cósmicos para se tornarem um dos 88 combatentes, de acordo com o destino e as probabilidades de suas estrelas guardiãs

— Então o que viemos buscar aqui? — perguntou Hyoga. — Uma armadura, um aspirante ou um antigo cavaleiro?

Delfos tirou uma carta do bolso e entregou a Hyoga.

— Aqui estão as coordenadas da localização de um jovem com grande potencial para ser um cavaleiro. Ele é protegido pela constelação de Baleia. Por ser russo, acredito que você é a melhor pessoa para recrutá-lo.

— Não irei treiná-lo. — disse Hyoga, friamente, segurando a carta.

Delfos sorriu.

— Vejo que não mudou de opinião sobre não ter discípulos.

— O senhor não me trouxe aqui apenas para recrutar um jovem aspirante. Da mesma forma, não me trouxe aqui para ajudar a carregar uma urna de armadura. Isso não condiz com o papel de um Cavaleiro de Ouro. Peço que seja direto comigo, caso contrário, irei me retirar e voltar ao Santuário. Quem é a pessoa que o senhor veio visitar?

Delfos parou de caminhar e encarou Hyoga.

— Um antigo sobrevivente...

— Da Guerra Santa anterior? — questionou Hyoga. — É algum sobrevivente da geração do Mestre Ancião?! Achei que apenas Shion e Dohko tivessem...

— Não. É alguém muito mais antigo. Um sobrevivente da Era Mitológica. — explicou Delfos.

— Mas isso é impossível!! Mesmo usando o Misopetha-Menos, não tem como um humano viver por milhares de anos.

— Eu pensei a mesma coisa. Mas durante as minhas leituras nos registros mais antigos do Santuário, descobri a existência de um antigo combatente que sobreviveu a primeira Guerra Santa e se tornou o primeiro Grande Mestre. Esse mesmo homem recebeu uma benção de uma divindade. A imortalidade. E não existe qualquer notificação de que ele tenha morrido ao longo dos séculos.

— E o senhor acredita que ele está aqui? Nessa cidade? — perguntou Hyoga.

— Não. Aqui está apenas o jovem que você deve recrutar. A armadura de Sextante indicou que o homem que eu estou procurando está a alguns milhares de km daqui. Na região norte da Rússia, na Ilha Bolchevique. Eu pedi para você me acompanhar porque você é o único cavaleiro que domina e supera o zero absoluto. Uma habilidade capaz de conter qualquer Cavaleiro de Ouro e até mesmo deuses. Se esse antigo cavaleiro se revelar como um inimigo... Você é a única pessoa do Santuário capaz de detê-lo. — explicou Delfos. — Um cavaleiro que acumula sabedoria e experiência de combate por milênios de anos, deve ser um homem extremamente poderoso.

Hyoga colocou a carta no bolso.

— Se quer minha ajuda, basta pedir. Não precisa me manipular em seus planos. Vou acompanhá-lo. Depois, eu recrutarei o jovem aspirante.

— Obrigado.

Delfos estendeu o braço para frente e abriu a fenda dimensional do Sekishiki com a intenção de cruzar a Rússia através do mundo espiritual. Mas de repente a fenda se fechou diante deles e o silêncio foi quebrado por um som peculiar.

Hyoga e Delfos avistaram um homem idoso de pele clara, cabelos e barba branca, caminhando entre os edifícios industriais. Seus passos eram marcados pelo suave toque da bengala no chão. Cada vez que a bengala do ancião tocava o solo, o som ecoava emitindo ondas de energia cósmica.

— Que cosmo poderoso! — pensou Hyoga, surpreso.

Após dar alguns passos, uma poderosa pressão cósmica emanada pela sua presença caiu sobre Delfos e Hyoga. Algo nunca antes sentido fluindo de um humano. Os únicos seres que emitiam uma energia tão antiga e ancestral eram os deuses.

 Esse cosmo... — pensou Delfos. — É superior ao de Hyoga, que é um Cavaleiro Lendário. Eu não tenho dúvidas... — Delfos curvou a cabeça e se ajoelhou. — É uma honra estar na presença de Vossa Excelência. O primeiro Grande Mestre do Santuário e também o primeiro Cavaleiro de Ouro de Câncer da Era Mitológica. Tithonos!

Diante do anúncio, Hyoga se ajoelhou em reverência.

— Fique de pé, Grande Mestre. — disse Tithonos. — O Senhor é a verdadeira autoridade aqui nesse momento. Deve se ajoelhar apenas para Atena.

Delfos se ergueu, enquanto Hyoga permanecia ajoelhado, mas era difícil para o Grande Mestre manter-se de pé diante dos olhos daquele homem. O olhar de um ser humano tão antigo quanto os deuses, era distinto dos olhos das divindades. Era um olhar de alguém que realmente viveu cada dia de sua vida ao máximo, sujeito a todas as adversidades pelas quais um humano passa durante o curso de sua existência. Era diferente dos deuses e sua soberba de que tudo é irrelevante por ser efêmero diante da imortalidade.

— Eu estava a sua procura. — disse Delfos.

— Estou ciente. Venho observando os dois desde quando partiram do Santuário. Assim como ouvi toda a conversa.

Delfos e Hyoga ficaram surpresos. Tithonos estava alguns passos à frente.

— Eu... — o Grande Mestre ia falar, mas foi interrompido pelo toque da bengala de Tithonos no chão.

— Se estou observando vocês, os deuses também estão. — alertou Tithonos. — Estamos na Rússia, na região Norte da Terra, onde os ventos nortes do deus Bóreas varrem a região. Tudo o que for dito, será ouvido pelo Olimpo. — Naquele momento o céu trovejou e o vento pareceu soprar mais forte, como se Bóreas e os Olimpianos tivessem ouvido e estivessem furiosos. — O Grande Mestre do Santuário de Atena, Lider do Batalhão da deusa da Guerra, se ausenta do Santuário e o senhor acha que os deuses não vão lhe observar?! O senhor é jovem, então tem muito o que aprender ainda sobre a seriedade do cargo que ocupa. — Tithonos olhou para Hyoga. — Recrute a criança que vocês estão procurando e depois nos encontre na Ilha Bolchevique.

Tithonos bateu com a bengala no chão mais uma vez e em seguida desapareceu com Delfos. Deixando Hyoga para trás.


Ilha Bolchevique, Rússia

Delfos foi teletransportado para o interior de uma cabana. Ele estava em pé no meio de um cômodo que seria a sala. O chão era revestido por tábuas de madeira desgastada pelo tempo, que rangem com os passos. As paredes pareciam serem feitas de troncos de pinheiro e a iluminação vinha de uma lâmpada suspensa no teto.

As janelas eram largas e tinham vistas para a paisagem vasta de neve e solidão da ilha. As mobílias eram simples e feitas de madeira. Havia uma lareira, a qual estava acesa, e ao lado dela havia uma poltrona onde um homem velho estava sentado segurando sua bengala.

— Todo esse tempo... O senho estava aqui! — disse Delfos. — Aquilo que apareceu diante de nós... Era apenas uma projeção cósmica!

— Seja direto ao assunto que o senhor quer tratar. — disse Tithonos, rispidamente. — Vossa excelência é o primeiro Grande Mestre que me procura após tantos séculos.

— O motivo da minha vinda até aqui, é porque o nosso próximo inimigo é Ares, o deus da guerra. — explicou Delfos, chamando a atenção do antigo combatente. — Há três anos, li as estrelas e previ a Guerra Santa. Ares estava prestes a despertar, e arquitetei uma forma de retardar seu retorno com a ajuda do deus Asclépio, pois na situação em que o Santuário se encontrava... não teríamos chances. Agora me restam 10 anos até que o efeito da doença cesse e Ares desperte por completo.

Os olhos pesados de Tithonos encararam Delfos. O antigo cavaleiro bateu com sua bengala no chão e uma rajada de cosmo arremessou o Grande Mestre para trás, forçando-o a pressionar os pés contra o peso para não cair de joelhos.

— Contou todo o seu plano para alguém que acabou de conhecer... E esse eu fosse um deus inimigo fingindo ser quem você procura após ouvir a sua conversa com o Cavaleiro de Ouro de Aquário? Em poucos minutos todo o seu plano estaria arruinado.  

A pergunta pegou Delfos desprevenido. Ele estava tão eufórico por ter encontrado Tithonos, que acabou baixando a guarda.

— Continue. — disse o antigo cavaleiro. — Você tem um bom plano. Mas o que quer de mim? Me recrutar?! Meu corpo não suporta trajar uma armadura.

— Sendo quem o senhor é... Minha intenção é outra. O senhor é uma fonte de conhecimento e talvez possa iluminar as minhas ideias. Eu li todos os registros sobre o exército de berserkers e sei o quanto eles são poderosos. Estou orientando o Santuário a treinar aspirantes poderosos, munidos de habilidades especiais, para não dependerem das Armas de Libra. Mas eu também preciso encontrar uma forma de destruir o exército de Ares.

— O exército de Ares já foi enfraquecido. — disse Tithonos. — Na era mitológica, a deusa Atena e a deusa Hécate criaram uma contenção contra o exército de Ares. As duas luas de sangue. São dois selos que restringem o poder dos berserker e dos deuses da Corte da Guerra. Dessa forma Atena e seus cavaleiros ganham um pouco mais de tempo na Guerra Santa. Agora que Ares e seu exército retornaram, a lua de sangue deve ocorrer em breve. Mas nem sempre Ares se importa com o selo, pois apesar da restrição, o seu exército continua sendo poderoso.

— Estou ciente disso. — disse Delfos, caminhando até a janela. — Mas não é suficiente. Quantos cavaleiros se sacrificaram para criar esse selo que não passa de uma contenção de danos?! A lua de sangue apenas retrata o sangue derramados pelos nossos antigos companheiros. E esse ciclo não para. Séculos após séculos esse derramamento de sangue se repete e a humanidade fica exposta ao poder apocalíptico dos deuses. Devemos dar um basta. — Delfos virou-se e encarou Tithonos. — Contenção não é suficiente. Eu quero destruir o exército de Ares. Para sempre. Mas a aliança entre Ares e Hades sempre impediu isso. Enquanto o acordo existir, os berserkers não morrerão definitivamente. Apenas entrarão em sono profundo.

Pela primeira vez Tithonos esboçou uma expressão diferente. Havia algo além de surpresa estampada no rosto do antigo Cavaleiro de Ouro. Fazia séculos que ele não via tanto ânimo e força de vontade vindo de um jovem e suas ideias de um mundo melhor.

Tithonos ficou pensativo olhando para as chamas que crepitavam na lareira.

— E por que Vossa Excelência veio tratar desse assunto comigo? — perguntou o antigo cavaleiro. — Atena poderia conversar a respeito.

— Não quero importunar Atena com uma ideia. Eu tenho que levar a solução para ela.

— Consigo sentir sua euforia. O senhor diz que tem uma ideia... E qual seria? Exponha sem medo de encontrar uma resposta negativa. O senhor é o Grande Mestre do Santuário. Deve ser incisivo em seus pensamentos e decisões. Uma ideia não pode ser a sua única fonte de esperança. E, se necessário, ela pode ser reformulada.

— Tem algo diferente das gerações anteriores. — Delfos deu um leve sorriso. — Pela primeira vez, Hades foi plenamente derrotado e o submundo foi destruído. As leis do Mundo dos Mortos não existem mais. Foram revogadas. As almas estão livres do sofrimento eterno e das prisões que as impediam de entrar no ciclo da reencarnação. Isso me faz pensar que o acordo entre Ares e Hades também não existe mais. O que o senhor acha?

Os olhos de Tithonos se arregalaram, enquanto sua postura se tornou mais rígida, refletindo sobre a linha de raciocínio de Delfos.

— Acredito que esteja certo. Hades não tem mais influência no pós vida. — respondeu Tithonos. — A morte voltou a seguir o seu rumo natural. As almas dos mortos agora caem em sono profundo.

— Então o que vai acontecer com as almas dos berserkers nessa geração? — questionou Delfos, olhando para as chamas na lareira. — Sem o limbo do Inferno resguardando as almas dos berserkers... Para onde vão as suas almas?

— As almas dos berserkers vão perder a proteção de Hades. Elas estarão sujeitas à mesma condição de todas as outras... O vazio da morte. O silêncio eterno.

— Então estarão ao nosso alcance. Como qualquer outra. Essa é a oportunidade ideal. — disse Delfos. — O meu plano é coletar as almas de todos os berserkers que forem mortos no campo de batalha e destruí-los. Para sempre! O senhor acha que isso é possível?

Tithonos ponderou por um momento, seu olhar se perdeu em pensamentos enquanto as palavras de Delfos ecoavam na cabana.

— Destruir as almas dos berserkers?! Sem o acordo de Hades talvez seja possível, mas... São almas poderosas. O senhor iria precisar de um grande poder espiritual e de uma energia cósmica divina... — Então, de repente, como se uma revelação tivesse iluminado sua mente, ele percebeu.

Houve um silêncio profundo no interior da cabana. Preenchendo o espaço entre eles com uma tensão palpável. Delfos ficou imóvel, seus olhos prateados refletindo as chamas da lareira enquanto Tithonos processava a verdade que acabara de surgir diante dele.

Era ele. Ele era o plano de Delfos. O jovem Grande Mestre não tinha dúvidas de que a ideia era possível de ser realizada. Delfos apenas buscava um meio de executá-la. E Tithonos, sem perceber, havia se tornado o recurso ideal para concretizar os planos. Uma surpresa inundou seu ser enquanto ele compreendia o papel que fora designado.

— Parece que chegamos no mesmo ponto de raciocínio. — disse o Grande Mestre. Sua postura mudou. De um jovem inseguro em busca de respostas, ele se transformou em um homem líder de um exército, emanando confiança e determinação. — Eu pretendia moldar o próximo Cavaleiro de Ouro de Câncer para cumprir essa missão, mas não teríamos garantia de que ele conquistaria o poder necessário. Seria arriscado confiar tanta responsabilidade a um jovem. Essa missão não admite erros. — Delfos encarou Tithonos. — O senhor é detentor de um poder imensurável, acumulado desde a Era Mitológica. Podemos até considerar como “divino”. E sendo um antigo Cavaleiro de Câncer, possui as habilidades espirituais essenciais para esta missão. É como se o destino o tivesse moldado para esse momento. — Delfos fixou seu olhar nos olhos de Tithonos e seus cabelos se agitaram com o ar de autoridade que o rodeava. — Estou aqui para convocá-lo a retornar ao Santuário e cumprir a missão de destruir o exército de Ares, sacrificando a sua vida!

Tithonos olhou profundamente para o Grande Mestre. Alguém tão velho como ele, coberto de experiência de vida, não conseguiria ignorar a petulância em querer tratá-lo como uma peça de xadrez no tabuleiro da guerra.

— Você é um jovem singular... E insolente. — disse Tithonos, se levantando. — É bastante audacioso, mesmo sendo o Grande Mestre. — o cosmo do Cavaleiro de Ouro se elevou, gerando uma sensação cósmica intimidadora. — Não mede esforços para obter os resultados que deseja.

Mas Delfos não recuou. Ele sustentou o olhar e a postura do corpo.

— É o que se espera de alguém que ocupa o cargo de Grande Mestre. E acredito que o senhor tem plena consciência disso.

Por trás de tanta audácia, Tithonos enxergava uma confiança inabalável e determinação, mas também um certo peso, como se Delfos carregasse consigo a responsabilidade de séculos. Ele reconheceu a sabedoria e a convicção do Grande Mestre em sua missão, mas também sua confiança na capacidade de Tithonos em desempenhar um papel crucial nesse novo desafio.

O antigo Cavaleiro de Câncer inclinou a cabeça em reverência:

— Eu aceito o seu chamado, Grande Mestre.

— Levarei esse plano para Atena. — disse Delfos, dirigindo-se até a porta. — Irei comunicá-la da sua colaboração.

— Espere. Preciso lhe alertar sobre uma coisa. — disse Tithonos, com seriedade na voz. Delfos parou e virou-se, olhando para o antigo cavaleiro por cima do ombro. — A partir do momento que o senhor colocou o elmo do Grande Mestre em sua cabeça, o senhor iniciou uma batalha silenciosa contra todos os deuses que miram as suas fúrias contra a humanidade e a Terra. Então, não se descuide. Ares pode ser o seu principal inimigo agora, mas não é o único. E seus outros inimigos são silenciosos, com visão privilegiada na plateia desta Guerra Santa. O Olimpo sempre estará ciente de seus passos, então é importante que o senhor também saiba como se esquivar. Afinal, no fim de toda essa odisseia que o senhor está planejando para essa Guerra Santa, as armas dos deuses estarão voltadas para o pescoço de vossa excelência.

— E o que sugere?! — perguntou Delfos, dando as costas. — Não me intimidarei só por saber disso. Sou o representante de Atena e líder do exército da deusa da guerra. Conheço minha responsabilidade. Não posso ser um covarde e devo liderar os cavaleiros com perspicácia.

— Não espero menos de Vossa Excelência, mas é necessário cautela e preparação. Por isso... Permita-me treiná-lo.

Delfos virou-se surpreso.

— Me... Treinar?!

— Posso ensinar coisas que competem ao seu cargo. Coisas que o seu mestre não pode lhe ensinar.

A conversa foi interrompida por uma batida na porta. Tithonos deu duas batidas do cajado no chão e a porta de madeira se abriu. Hyoga, trajando a armadura de ouro de aquário, estava acompanhado por um órfão de 9 anos de idade. A criança, chamado Cethus, tinha pele clara, cabelos curtos azul claro e olhos azuis.

— Tenho que retornar ao Santuário. — disse Delfos, colocando a mão na cabeça do garoto. — Preciso acompanhar a evolução da nova geração. Além disso... Aceito o seu treinamento. E já que o senhor preza pela discrição, a Colina do Yomotsu é um lugar ideal. Afinal, somos usuários do Sekishiki e podemos transitar livremente. Longe dos olhos dos deuses e debaixo da barreira de Atena.

Durante 5 anos Tithonos instruiu Delfos em meio ao silêncio da caminhada dos mortos, na colina do Yomotsu. Foi ensinado técnicas antigas utilizadas pelos representantes de Atena para impor a sua autoridade como líder de um poderoso exército, informações cruciais sobre os deuses, objetos de selamento, locais sagrados, habilidades especiais do traje do Grande Mestre, e outros pontos de interesse do cargo.

—...—


Coliseu – Santuário de Atena, Grécia

O selamento dos Berserkers então tornou-se possível devido à destruição do Mundo dos Mortos na Guerra Santa contra Hades.

As leis do Submundo, anteriormente regidas por Hades, favoreciam os berserkers do deus da guerra, abrigando suas almas em um Limbo especial que permitia o retorno de suas almas à vida após dois séculos, acumulando experiência de combate e conhecimento. Esse acordo entre Ares e Hades foi estabelecido na Era Mitológica e persistia desde então, prejudicando o exército de Atena.

— Então você era o homem que estava auxiliando Delfos esse tempo todo... — disse Tithonos para Asterion.

— Exatamente, senhor. E o Grande Mestre acredita que o senhor ainda possui algo de grande valor para o Santuário e para o futuro das próximas gerações. Algo que o senhor poderia passar adiante.

Tithonos voltou a avaliar o antigo Cavaleiro de Prata. Asterion era perspicaz, e esse era um traço forte que Delfos valorizava nele.

— E o que seria?

— A sua imortalidade. — respondeu Asterion.

 Entendo. Não quero questionar os planos de Vossa Excelência... — disse se referindo ao Grande Mestre. — Mas desde a Era Mitológica, eu carrego um fardo pesado, meu jovem, por causa da imortalidade. E nenhum de vocês estão capacitados para carregá-lo. Viver por muitos séculos e acumular memórias de uma vida milenar é um peso grande demais que eu sustento com todas as minhas forças, com receio de um dia perder a sanidade. Talvez seja melhor enterrar tudo aqui comigo nesse ritual de selamento.

— Seria um desperdício em um momento tão crítico como esse. E no que ainda está por vir. — disse Asterion. — Graças a imortalidade o senhor pôde exercer por vários séculos um posto que chamamos particularmente de “Mestre Vigia”. Uma autoridade silenciosa e essencial que observa o movimento dos deuses, das estrelas, do Santuário e das guerras. Agindo de forma oculta auxiliando o Grande Mestre. O senhor sabe que tal função é essencial para o Santuário em situações críticas. — Enfatizou o antigo Cavaleiro de Prata de Cães de Caça. — É uma autoridade que junto ao Grande Mestre e ao Mestre de Jamiel, formam uma tríade de grande importância para a manutenção do Santuário e proteção da Terra. Ao longo dos séculos houve vários Mestres Vigias. Homens e mulheres abençoados pelos deuses para viverem além do permitido. Sendo Dohko de Libra o último deles. O Mestre Anicão assumiu o Santuário após uma profunda crise que quase dizimou o Exército de Atena.

— Achei que Shiryu de Libra seria o eleito desta geração.

— Apesar de Shiryu estar em uma missão de vigilância em Rozan, ele não recebeu o Misopetha-Menos. — respondeu Asterion.

— O Mestre Vigia é uma consequência da necessidade, meu jovem. Cabe a Atena eleger um cavaleiro e conceder a ele o Misopetha-Menos, afastando-o de suas principais obrigações como guerreiro e colocando-o em uma missão de observação. — explicou Tithonos.

— Mas existe exceções, como é o caso do senhor. O senhor nunca foi eleito para tal cargo, mas sim para o posto de Grande Mestre na Era Mitológica. E ainda assim, após deixar de ser Grande Mestre, o senhor ocupou o cargo de Vigia em alguns momentos durante os séculos.

— Ocupei por ser um sobrevivente. Consequência da necessidade.

— Então talvez seja esse o principal critério. E com a imortalidade isso é ainda mais possível. O senhor foi agraciado com a imortalidade pela deusa Eos, a deusa da Aurora, na Era Mitológica. Foi um presente e não uma condenação. O senhor pode renunciar a vida eterna a qualquer momento caso queira abraçar a morte como um mortal. Assim como também pode passá-la para um sucessor, que terá a oportunidade de viver e exercer a importante função que o senhor também exerceu. Seria melhor do que desperdiçar esse dom nesse ritual.

— E para quem eu passaria?! — perguntou Tithonos, rispidamente. — Seria para alguém ingênuo como você?! Vejo que apesar de você almejar a imortalidade para cumprir as ordens de Delfos fielmente, você não compreende o que está pedindo e muito menos o peso de viver além do que é natural. — alertou Tithonos. — Ao longo dos séculos, muitos cavaleiros se corromperam pela frustração de viverem por tantos anos e não alcançarem seus ideais. Você precisa conhecer o passado, a História, para que não cometa os mesmos erros no futuro!

Os olhos de Tithonos brilharam e imagens aleatórias invadiram a mente de Asterion. A mente do antigo Cavaleiro de Prata foi arrastada por um turbilhão de lembranças até cair em um local aparentemente desconhecido.

— Onde... Onde eu estou? — perguntou Asterion.

— Estamos no Santuário. No início do Século XIII. — respondeu Tithonos, projetando seu espírito com a aparência de quando era mais jovem.

Seus longos cabelos eram azuis esbranquiçados, quase platinado, seus olhos azul-claros estavam cheios de vida e ele trajava a armadura de ouro de câncer com uma capa azul presa nas ombreiras.

— No... Santuário?!

— É uma mera lembrança. Uma visão de quando eu vigiava o Santuário de longe. Vou lhe mostrar o que pode acontecer com a mente daqueles que vivem além do que é permitido pela ordem natural da vida e que perdem a esperança em seus propósitos.

Tithonos guiou Asterion até um local de treinamento e ao chegarem lá se depararam com centenas de corpos caídos no chão, em meio a um rio de sangue que escorria pelas brechas do piso.

— Esses são...

— São aspirantes a cavaleiros. E a pessoa que os matou... Está ali.

No meio do pátio havia um homem alto, de pele clara, físico forte, longos cabelos escuros e com os trajes manchados de sangue. Mesmo sendo uma lembrança, Asterion conseguia sentir o cosmo poderoso que emanava daquele homem.

— Senhor Ionia! — gritou um homem espantado na entrada do pátio.

O rapaz era alto, pele clara e cabelos prestos escorridos até o ombro. Trajava a armadura de ouro de Libra. E estava acompanhado por outro Cavaleiro de Ouro. O guardião da Casa de Aquário. Um jovem de pouca idade, mais ou menos 13 anos, cabelos negros com mechas claras e olhos verdes.

— Itia de Libra! Krest de Aquário! — disse Ionia.

— O que foi que o senhor fez com os aspirantes? — perguntou o pequeno Krest.

— Atena reencarnou nesta Era e novos perigos se aproximam da nossa deusa. Após incontáveis Guerras Santas, eu prometi a ela que a protegeria de qualquer dor. Por isso eu reuni esses jovens e tentei moldá-los para que se tornassem cavaleiros que protegeriam Atena acima de tudo... No entanto, eles não se tornaram capazes. Apliquei treinamentos duros e severos para que desenvolvessem um cosmo realmente poderoso, mas ao invés disso, eles se rebelaram. E eu não pude perdoar a indisciplina dos meus discípulos com uma postura tão covarde que poderia comprometer a segurança de Atena. — Ionia virou-se para Itia e cerrou o punho. — Eu os matei.

— Se-Senhor Ionia... Eu... — Itia também cerrou o punho. — Você sabe que eu não posso ignorar isso.

Itia sacou uma das 12 armas de libra, a barra dupla de ouro, e avançou contra Ionia. O antigo cavaleiro de ouro não apresentou resistência. As correntes da arma dourada se enroscaram no corpo de Ionia e o prenderam.

— Mas quem é esse homem?! — perguntou Asterion.

— O nome dele é Ionia. Ele foi o Cavaleiro de Ouro de Capricórnio no século IX.

Asterion olhou com espanto para Ionia.

— Mas... Se estamos no século XIII, então esse homem tem mais de 400 anos.

— Sim. Ionia era um homem sábio e muito poderoso. Conseguiu desenvolver uma poderosa habilidade que permitia que ele vivesse por séculos sem precisar do Misopetha-Menos dos deuses. — explicou Tithonos. Asterion ficou surpreso com aquela informação. Se ele obtivesse aquele conhecimento, poderia talvez replicar a habilidade. — Mas o tempo venceu a sua sabedoria e ele caiu. Ionia foi preso em uma das celas da prisão do Cabo Sunion e viveu por vários séculos em total reclusão. Ele dedicou seu tempo escrevendo livros importantes que hoje compõem a vasta biblioteca do Santuário.

A imagem diante de Asterion se distorceu e o ambiente mudou. Tithonos e ele estavam agora no interior do Templo do Grande Mestre. As tochas do grande salão estavam apagadas e tudo estava mergulhado na escuridão da noite. Um forte estrondo veio do lado de fora, chamado a atenção de Asterion. Ele estava prestes a ir até lá quando dezenas de feixes dourados vindo do trono do Grande Mestre cruzaram o salão e irromperam a grande porta. Eram as armas de libra. Elas avançaram contra dois cavaleiros.

Em meio as sombras, surgiu um homem. Ele usava o manto de Grande Mestre por cima de sua armadura.

— Mas esse é... — disse Asterion, surpreso. — É o Itia de Libra, mas... O que é aquela marca escura de borboleta no seu rosto?

— Estamos no século XVI agora. — respondeu Tithonos. — Passaram-se 250 anos desde o último incidente. Itia de Libra e Krest de Aquário foram os únicos sobreviventes da guerra santa contra Hades. Itia foi consagrado Grande Mestre e Krest passou a vigiar o Templo de Poseidon. Itia era um homem justo e passou todos esses anos acreditando que os humanos poderiam ser capazes de criar uma Era de harmonia e prosperidade, mas após tantas Guerras Santas, ele perdeu a fé na humanidade e acusou a raça humana de desperdiçar os esforços dos cavaleiros. Ele se aliou aos deuses gêmeos da Morte e do Sono em troca de sua juventude e tentou implantar uma Era dourada na qual a Terra seria dividida em 12 regiões comandadas pelos Cavaleiros de Ouro. Itia queria extinguir a maldade da humanidade ao lado dos deuses, mas...

A cena mudou e agora o salão estava tomado por chamas prateadas. Itia de Libra estava sendo subjugado por dois cavaleiros. O Cavaleiro de Ouro de Câncer e o Cavaleiro de Prata de Altar. Do interior de Itia surgiram centenas de fadas do mundo dos mortos. A marca do elo de Itia com os deuses gêmeos. As chamas prateadas de altar estavam purificando o Cavaleiro de Libra.

O cenário trincou e em seguida tudo se despedaçou. Asterion e Tithonos voltaram para a realidade, frente a frente no coliseu.

— Ionia de Capricórnio no século XIII, Itia de Libra no século XVI, Krest de Aquário no início do século XVIII... Homens sábios e poderosos que foram mentalmente vencidos pelo tempo. — disse Tithonos. — Como você viu, isso é perigoso para o próprio Santuário. Como posso passar adiante um poder que está além da sua compreensão? Seria como colocar uma espada afiada nas mãos de uma criança cega. Você é perspicaz, mas também é imaturo e tolo! Então está fora de cogitação passar algo assim para alguém imprudente que desconhece o que está pedindo!! Além disso... — o cosmo de Tithonos se intensificou. —  Não vou atropelar a autoridade de Atena! Cabe a ela escolher quem deverá assumir a função de vigiar os deuses! Essa decisão não compete ao Grande Mestre!

As duras palavras de Tithonos desarmaram Asterion.

— Mas senhor... Eu...

— Mas não é só a imortalidade que querem de mim, não é? — questionou Tithonos. — Entre tantos cavaleiros promissores, o Grande Mestre elegeu você para esse serviço. Um excelente telepata que domina a habilidade de ler mentes. O que o Grande Mestre realmente quer... — disse apontando para a própria cabeça. — Está aqui. Ele quer as minhas memórias, o meu conhecimento. Seria realmente vantajoso dar a imortalidade para alguém que pudesse extrair tanta informação.

— Informação é poder, senhor. — disse Asterion tentando recobrar a postura de barganha. — E para nós, que enfrentamos seres milenares, é algo essencial. Eu sou o único que pode acessar a sua mente profundamente e vasculhar as suas memórias, obtendo informações de séculos de vida. O Grande Mestre acredita que é indispensável a preservação dessas informações. As quais talvez nem constem nos atuais registros do Santuário. É no seu conhecimento que o Grande Mestre tem interesse. Obter a sua imortalidade seria apenas uma forma de preservar por mais tempo a minha função.

Tithonos olhou para o Relógio de Fogo. A chama de Sagitário estava começando a enfraquecer.

— O Grande Mestre continua articulando essa Guerra Santa como se fosse um jogo de tabuleiro. E novamente eu sou o peão nas mãos dele. — disse Tithonos, reflexivo. — É um jogo perigoso que não será tolerante diante de falhas, mas tenha certeza... Uma hora ele vai falhar. — o antigo cavaleiro olhou para o Templo de Atena, onde Delfos estava. Ele tinha certeza de que o Grande Mestre estava acompanhando tudo de lá. Asterion sentiu o peso daquelas palavras e isso lhe deixou desconfortável. Era a experiência de vida de Tithonos falando naquele momento. — Talvez o Santuário nunca tenha tido um líder tão articulado assim, que não mede esforços e recursos. Apesar de achá-lo radical e temer que um dia isso se volte contra ele, ele é a autoridade máxima abaixo de Atena e por isso eu não vou me opor. Pelo menos não completamente. — Tithonos voltou-se para Asterion. — Eu não lhe darei a imortalidade. Isso está fora de questão. Você viverá o tempo que o destino o tem reservado, mas lhe darei conhecimento para que você transcreva. Existe informações importantes sobre deuses, exércitos, artefatos divinos e técnicas especiais dos cavaleiros que foram esquecidas ao longo dos séculos. Então, sente-se e aprenda o quanto você puder nas próximas quatro horas restantes. Vasculhe a minha mente com a mesma voracidade que um leitor folheia um livro após o outro em uma biblioteca. É só isso que eu posso lhe oferecer. Talvez você consiga extrair tudo de mim.

Asterion fez reverência com a cabeça e se sentou diante do velho Tithonos em posição de meditação elevando o seu cosmo.

— Obrigado, senhor.

Alkes de Taça, que fazia a guarda do Coliseu, olhou para Asterion com uma expressão de questionamento.

— Se ele está aqui, então foi o Grande Mestre quem o enviou. — disse Tourmaline de Capricórnio notando a expressão nublada do colega. — Temos que protegê-lo também.

Os cavaleiros de prata Shina de Ophiuco, Lacaille de Mosca e a amazona de bronze Mallia de Coma Berenice, que também estavam encarregados de fazer a guarda do Coliseu, assentiram com a cabeça.

—...—


Templo de Atena – Santuário, Grécia

No topo das 12 casas, Delfos observava atentamente os acontecimentos no Santuário. Utilizando uma das habilidades ensinada por Tithonos, o Olhar da Apreciação, uma habilidade rara que concede aos portadores de alto poder psíquico a capacidade de estender a mente e a visão para além dos limites físicos.

Fora dos limites do santuário, nas escarpas montanhosas do Leste, Draco, o filho de ares, e Tritão, o filho de Poseidon, estavam engajados em um embate feroz. No coração do santuário, um contingente formado por cavaleiros, soldados, marinas e guerreiros de Asgard uniam suas forças para enfrentar Makhai, o líder dos espíritos da guerra, que comandava os poucos berserkers remanescentes e centenas de soldados rasos de Ares.

Nas 12 casas, Ikki de Fênix e Jabu de Unicórnio, que estavam se dirigindo ao Tempo do Grande Mestre, estavam no interior da Casa de Aquário enfrentando um grupo restrito de guerreiros de Ares, posicionados estrategicamente nos templos zodiacais para obstruir o avanço dos aliados de Atena.

Aquela era a visão final da Guerra Santa contra Ares. Contudo, ao fitar o horizonte, além das terras da Grécia e da Europa, escapando das sombras da noite, Delfos avistou a nova ameaça que se dirigia ao santuário cruzando o céu. Se movendo segundo após segundo, acompanhando o rastro de luz solar na medida em que a Terra se movia.

Restam 4 horas para o relógio de fogo se apagar. Esse também é o tempo que levará para o Sol erguer-se no horizonte da Grécia, anunciando o fim do conflito contra Ares e o prelúdio do confronto celeste. O Prólogo do Céu.

— É uma paisagem magnífica. — disse Dionísio, sentado no trono de Ares, em meio às ruínas da estátua do deus da guerra que havia sido demolida por Atena. — Não concorda, Grande Mestre?

— É uma visão privilegiada. — respondeu Delfos, desfazendo a ampliação de sua visão.

— O destino da guerra pende em equilíbrio, entre a esperança e a iminência da destruição. — disse o deus. — Ao que parece... Essa guerra pode se estender mais do que o senhor imagina.

—...—

 
Informações e curiosidades:

1. Ionia de Capricórnio é um personagem exclusivo de Saint Seiya Ômega. Por ser um dos personagens mais velhos da franquia, eu reaproveitei a sua história, alterando-a para encaixar na fanfic. Mas a fanfic não está ligada a Obra Ômega.

2. O passado canônico de 1743 (geração de Dohko e Shion) que eu considero para a minha fanfic, é a geração de Next Dimension e não a de The Lost Canvas. Contudo, como a geração anterior a de Next Dimension ainda é um mistério, eu considero a geração do Grande Mestre Itia de Libra (Gaiden Volume 15 e 16 de TLC) como a geração anterior a de Next Dimension.


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Notas finais do capítulo

Olá meus queridos!!!

Estou aqui mais uma vez para expressar minha profunda gratidão por acompanharem essa jornada incrível ao longo dos últimos 10 anos. Escrever cada capítulo tem sido uma aventura única, e o apoio e o carinho de vocês têm sido minha maior motivação.

Hoje, gostaria de compartilhar um pouco da dificuldade que enfrentei ao escrever este capítulo, especialmente por se tratar de um personagem tão importante como Delfos. Foi um desafio e tanto capturar toda a essência desse personagem, tudo o que ele orquestrou, e transmiti-la para vocês da melhor maneira possível.

Estamos nos aproximando do final da fanfic de Ares, e a ansiedade para concluir essa história é imensa. Cada reviravolta, cada batalha e cada personagem foram cuidadosamente elaborados para proporcionar a vocês uma experiência semelhante.

Por isso, quero convidá-los a compartilhar suas opiniões e sugestões. Suas vozes são essenciais para guiar o rumo da história e me ajudar a criar capítulos cada vez melhores. Seus comentários são um incentivo importante que me impulsiona a continuar escrevendo e aprimorando essa fanfic.

Mais uma vez, muito obrigado por fazerem parte dessa jornada. Juntos, vamos desbravar os últimos capítulos e alcançar um estágio épico.

Com gratidão!! Até o próximo capítulo!!



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