A Saga de Ares - Santuário de Sangue escrita por Ítalo Santana


Capítulo 73
Capítulo 67 — Campo de Guerra: O poder obliterador de Kiki


Notas iniciais do capítulo

Enquanto Kitsune de Raposa vasculha o Santuário e o mundo em uma busca desesperada pelo Mestre de Jamiel, Kiki se vê diante de um inimigo portador de grandes poderes e habilidades, e sua vida corre perigo. O berserker Clown de Pennywise se encontra com as correntes do destino, e alguns cavaleiros terão que enfrentar seus próprios companheiros que foram corrompidos pelos deuses.



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Capítulo 67 – Campo de Guerra: O poder obliterador de Kiki


Minutos antes da chegada de Ikki no Santuário – Região sul do Santuário de Atena

Por detrás da grande montanha onde ficam as doze casas e o templo de Atena, existe um vasto bosque verdejante que se estende até a montanha do Star Hill. A região é cortada por braços de rios e ruínas de templos antigos.

E foi acima de uma dessas ruínas, próximo a margem de um rio, que surgiu uma distorção dimensional no céu e repeliu o corpo de Kiki. O jovem Cavaleiro de Áries foi arremessado em grande velocidade e caiu rasgando o solo. O berserker Serenus de Baku surgiu em seguida, atravessando a fenda dimensional, que desapareceu posteriormente.

Serenus permaneceu no céu, flutuando, observando Kiki. Se não fosse os seus cabelos longos e loiros sendo agitados pelo vento, seria impossível enxergar o berserker devido a escuridão da Onyx se fundir com o negrume do céu noturno.

— Ainda estamos na região do Santuário. — constatou Kiki, enquanto se levantava. Ele avistou a grande montanha e o templo de Atena no topo. — Poderia ter nos enviados para qualquer outro lugar.

— Não há necessidade de irmos tão longe. Só queria um lugar menos movimentado. — Serenus estreitou seus olhos roxos mergulhados na esclera negra. — Afinal, eu esperei muito por esse encontro. Você estar vivo hoje é consequência de um erro cometido pela deusa Ênio.

Kiki enrugou o cenho.

— Ênio?! A deusa aliada à Ares que invadiu Jamiel?!

— Eu era um dos berserkers que seria enviado para Jamiel com a missão de matar você e os outros cavaleiros. Mas a senhorita Ênio preferia trabalhar com as Amazonas da Guerra e com alguns ratos de prata e bronze que o senhor Phobos e o senhor Anteros usavam como marionetes. Ter deixado os berserkers de lado foi um erro. Devíamos ter ido para Jamiel com todas as forças disponíveis. 

— E você acha que se estivesse lá naquele dia... Teria me derrotado?!

— Assim como você, eu sou mestre em poder psíquico. Eu posso ler a sua mente em frações de segundos. Posso conhecer as suas técnicas e estilos de luta antes mesmo que você as execute. Posso distorcer a dimensão e manipular energias. Não existe um berserker mais apropriado do que eu para derrotá-lo.

— Então é isso... Está me enfrentando por questões técnicas.

— O Senhor Ares reconhece seu potencial e a sua relevância. No tabuleiro de Atena, você é um peão importante demais. E como tal, acaba recebendo uma atenção especial. Tanto de Atena, quanto dos seus inimigos.

— Sendo assim, podemos poupar nosso tempo. Você foi enviado como meu carrasco, e a essa altura acredito que você já me conhece completamente. Sabe o que posso fazer, assim como também conhece as minhas fraquezas e limitações.

Serenus sorriu.

— Exatamente. É como um livro aberto e desgastado depois de tantas leituras. 

— Então... — o cosmo de Kiki se elevou e se intensificou, agitando seus cabelos castanhos. — Terminamos a nossa conversa.

Kiki avançou em direção a Serenus, deixando para trás uma cratera aberta pela pressão do seu deslocamento, mas o berserker logo atacou movendo o braço e desferindo um feixe de luz cortante. Kiki se esquivou flutuando e disparou na velocidade da luz. Enquanto isso o golpe atingiu o solo em cheio, provocando uma explosão que abriu uma fenda e espalhou destroços.

O Mestre de Jamiel já estava próximo ao berserker quando se teletransportou. Por um instante Serenus ficou surpreso, pois esperava por uma investida direta, mas o berserker previu os próximos passos do seu oponente como disse que era capaz de fazer. Serenus sorriu com uma expressão de desdém e virou-se para o exato local onde Kiki surgiu. Com o cosmo elevado, o Cavaleiro de Ouro ergueu seu braço direito, criando centenas de estrelas douradas que rodopiaram no céu, e em seguida as lançou contra o berserker.

— Revolução Estelar!! — gritou Kiki.

As estrelas foram disparadas simultaneamente contra o alvo. Parecia uma chuva de meteoros cruzando a atmosfera da Terra.

— Barreira! — As palavras de Serenus emitiram uma força incomum ao serem proferidas, e uma parede cósmica cristalina se materializou diante dele bloqueando o ataque que bombardeou a defesa. — Um truque barato como esse vindo de você?! Com quem você acha que está lutando?

A barreira foi desfeita e Serenus avançou na velocidade da luz concentrando cosmo em sua mão e cerrando o punho. O berserker desferiu um soco no rosto de Kiki, que teve o elmo arrancado, e se preparou para mais um golpe, mas o Cavaleiro de Áries ergueu a Muralha de Cristal e bloqueou o ataque.

— Eu já lhe falei... Eu conheço os seus truques. Inclusive as falhas dos seus golpes.

Serenus pressionou seu punho contra a barreira, investindo mais força no ponto fraco da defesa, e logo a Muralha de Cristal começou a rachar até se despedaçar por completo em uma explosão que lançou os dois para trás. O berserker partiu para o ataque novamente, mas Kiki se teletransportou e surgiu alguns metros acima, disparando mais uma chuva de estrelas. 

O berserker desviou dos golpes enquanto avançava subindo, e disparou uma rajada de cosmo que atingiu Kiki em cheio, arremessando o Mestre de Jamiel em direção as nuvens. Serenus surgiu por cima, saindo de uma fenda dimensional, e desferiu outro golpe, mas Kiki moveu os braços reunindo os fragmentos da Muralha de Cristal que ainda flutuavam no ar, e criou dezenas de barreiras cristalinas sobrepostas.

O golpe de Serenus foi bloqueado pela primeira camada da defesa, empurrando Kiki para trás, mas o berserker elevou o cosmo e aumentou a velocidade dos seus punhos, desferindo centenas de rajadas simultâneas. Na medida em que seus golpes atingiam a barreira de Kiki, as camadas iam se rompendo e o Cavaleiro de Ouro ia sendo pressionado cada vez mais em direção ao chão.  Restando apenas uma barreira, Serenus ergueu os dois braços, reunindo uma gigantesca concentração de cosmo, e disparou. O escudo foi totalmente destruído e o guardião da Casa de Áries foi lançado contra o chão com tanta força que uma cratera se abriu na colisão e a onda de destruição se alastrou revirando o solo.

— Que decepção, Áries. Sinceramente, eu esperava mais de você. Talvez eu tenha colocado expectativas demais nessa luta.

— Não sou responsável pelas suas frustrações. — disse Kiki se levantando.

— Matá-lo dará um fim a elas.

Serenus estendeu a mão e disparou centenas de rajadas de cosmos que desfigurou a região. Kiki rapidamente desviou de cada uma levitando e em seguida saltou, atravessando a coluna de poeira que se ergueu, e disparou em direção ao berserker. Eles se encontraram no céu e seus punhos se chocaram. Armadura de Ouro e Onyx rangeram emitindo faíscas, e socos foram trocados na velocidade da luz.

Diferente de Serenus, Kiki era versado em combate corpo a corpo graças aos rígidos treinamentos impostos por Shiryu. Mas a vantagem de conhecer o estilo de luta do Cavaleiro de Ouro dava ao berserker a oportunidade de lutar em pé de igualdade.

Tomando distância, Serenus disparou dezenas de socos que emitiram rajadas de cosmos, e em seguida girou, criando um arco cortante com o deslocamento da sua perna. Kiki desviou dos golpes na medida em que avançava, e disparou a Revolução Estelar mais uma vez, gerando estrelas douradas ascendentes.

O berserker girou no ar e abriu os braços invocando um arco de esferas ao seu redor que dispararam rajadas de cosmos, colidindo com a Revolução Estelar. Alguns golpes miraram Kiki, que prontamente se defendeu criando duas projeções de escudos cristalinos em seus braços, bloqueando os ataques.

A nova tática de defesa de Kiki não deixou Serenus surpreso, pelo contrário, deixou  entusiasmado. Era uma nova abordagem de luta que Kiki havia acabo de criar. Algo que ele não tinha visto nas memórias do Mestre de Jamiel.

— Ibra K’dibra... — proferiu Serenus. — Selo do Colapso!

Mais uma vez Kiki sentiu uma força poderosa sendo emitida pelas palavras do berserker. E antes que pudesse reagir, um círculo de coloração roxa formado por runas antigas apareceu no céu acima de sua cabeça. As runas brilharam com intensidade e dispararam uma coluna de luz. Kiki cruzou os braços para se defender, mas o golpe não era de dano físico. 

O cosmo de Kiki oscilou em seu corpo e uma descarga cósmica gerada pelo seu próprio poder o afligiu, arrancando gritos de dor. Era como se estivesse sendo atingido por dezenas de raios, mas produzidos pelo seu próprio cosmo. Seus membros e sua cosmo energia não respondiam à sua vontade. Sem conseguir se equilibrar, Kiki caiu em queda livre.

O sorriso de satisfação no rosto de Serenus foi interrompido por um forte clarão vindo da região central do Santuário. Um gigantesco par de asas flamejantes se abriu cruzando as nuvens, emanando uma cosmo energia poderosa e divina.

— Esse cosmo... 

— O Fênix veio para o campo de batalha. — disse Kiki, se levantando cuspindo sangue. — O exército de Ares será reduzido a cinzas. 

— Um só homem não pode causar tanto estrago. 

Kiki deu um leve sorriso no canto da boca.

— Mesmo depois de séculos enfrentando os Cavaleiros de Atena, você pelo visto desconhece as nossas capacidades... “Ibra K’dibra”... É hebraico, não é? Significa...

— “Eu crio enquanto falo”. Exatamente, Áries. Eu posso criar qualquer coisa que eu imaginar. Inclusive técnicas que respondam a minha necessidade em batalha. Basta falar. Por exemplo... Correntes. — correntes escuras se enroscaram no corpo de Kiki e o apertaram obedecendo aos movimentos dos dedos do berserker. — Você desenvolveu um recurso que não tinha antes. Está tentando mudar o seu estilo de luta para ter vantagens... — disse estendendo o braço e concentrando cosmo na palma da mão. — Mas é inútil. Eu tenho constante acesso as suas memórias.

A rajada de cosmo foi disparada e acertou Kiki em cheio, jogando o dourado contra as ruínas antigas de um templo.

— Mas você não pode fazer duas coisas ao mesmo tempo. Ou será que pode? — perguntou Kiki, ainda acorrentado, ficando de joelhos.

— Do que está falando?

— De concentração e multitarefas. De uma coisa você já deve saber... Primeiro pensamos e depois falamos. E isso acontece em uma fração de segundos. Mas você não consegue ouvir o que eu estou falando e ler o que estou pensando, já que são duas leituras bastante distintas. E ainda conseguir manter o foco naquilo que você materializou. Pelo menos não ao mesmo tempo. — Kiki elevou o cosmo e rompeu as correntes. — É aí que mora o seu limite. É nessa divisão de tarefas que está a sua falha, a sua perda de velocidade e consistência. Basta lhe atacar no momento certo.

— Você...

— Eu posso não ter a sua capacidade telepata, ainda, mas sei ler um oponente baseado nas suas ações. — disse se levantando.

Kiki ergueu o braço e elevou seu cosmo com mais intensidade, emitindo uma onda cósmica que se transformou em uma cúpula dourada ao seu redor e se expandiu, isolando ele e o berserker em uma área gigantesca que cobria quase todo o bosque.

— O que pretende com isso? — questionou Serenus.

— Dar um fim a essa luta. — rebateu Kiki, levitando e subindo até ficar na mesma altura que Serenus. — Estamos isolados aqui dentro. Agora é só eu e você. Ninguém do lado de fora poderá intervir. E a partir de agora... Você não conseguirá mais ler a minha mente.

— Não fale bobagens. É impossível que você...

Serenus se concentrou para invadir a mente de Kiki, mas para sua surpresa algo bloqueou seu acesso. Era como se uma barreira tivesse sido erguida mentalmente.

— Como...

— Se você leu a minha mente, deve saber que você não é o primeiro homem que eu conheço que possui essa habilidade. Existe dois cavaleiros neste Santuário com igual poder. Por mais de um mês eu tive que manter a minha mente em constante vigilância, para que um desses cavaleiros não a invadisse e tivesse acesso aos planos do Grande Mestre. Foi um treinamento diário para mim.

— Estou ciente disso, mas ainda assim não justifica. O rapaz era um Cavaleiro de Prata, alguém inferior a você. O seu próprio cosmo já era suficiente para barrá-lo. É diferente do que você está fazendo agora.

— Sou mestre em poder psíquico entre os combatentes de Atena nessa geração. Criar esse bloqueio não é um problema para mim. Só faltava compreender a complexidade da habilidade do meu oponente. Mas agora podemos lutar em condições iguais.

— Eu ainda conheço seus métodos de luta e suas habilidades. Além disso, você não vai conseguir sustentar essa barreira por muito tempo. Lembre-se do que você disse sobre fazer duas tarefas simultaneamente.

Kiki elevou o cosmo.

— Então terei que continuar me reinventando e intensificar a vigília.

— Estou ansioso. — O cosmo de Serenus se elevou

—...—


Região central do Santuário – Grécia

Após a chegada de Ikki, os cavaleiros se espalharam por toda a montanha do Santuário seguindo a ordem de aniquilar os berserkers e soldados rasos de Ares. Nenhum berserker deveria ficar vivo, e seus cadáveres deverão ser levados ao Coliseu, onde Tithonos, o antigo Cavaleiro de Câncer, está esperando.

A região central do Santuário é composta por edifícios de arquitetura grega antiga e ruas estreitas. É nessa região onde fica as enfermarias, biblioteca, dormitórios, a base dos Cavaleiros de Prata e outras acomodações para aqueles que treinam e residem no Santuário.

 Lino, o Cavaleiro de Prata de Lira, entrou correndo em uma viela ladeada por edifícios que servem de alojamento para os aspirantes do Santuário. Ele estava perseguindo um grupo de soldados berserkers que tentavam fugir dos fios dourados da Lira. Mas era uma fuga inútil. O Cavaleiro de Prata atravessou o grupo tocando sua melodia, enquanto os fios serpenteavam os guerreiros e os envolviam em um aperto mortal, quebrando seus ossos e pescoço.

Lino olhou ao redor garantindo que não havia deixado inimigos vivos, mas foi surpreendido quando um grupo de soldados saltaram de cima dos edifícios armados com espadas e lanças. Lino preparou sua Lira, mas chamas vermelhas romperam pela viela e se ergueram incinerando os guerreiros.

— E mais uma vez Lino de Lira, o queridinho do Senhor Ikki, foi salvo por Nicolas de Fornalha. — disse o Cavaleiro de Bronze se aproximando e estampando um sorriso. — Se queimou, amigão?

Nicolas era um jovem alto, de cabelos vermelho-arroxeado na altura do ombro, olhos violeta e pele clara.

— Onde está Kitsune e Acher?

— Se esconderam na sede dos Cavaleiros de Prata. Kitsune está se concentrando para achar o Senhor Kiki, como o Senhor Ikki pediu. Acher se comprometeu de protegê-la.

— Então vamos cuidar das redondezas. — disse Lino, caminhando até o amigo. — Eu já...

Lino se calou ao sentir um perigo eminente se aproximando nas sombras.

— Nicolas...

— É... Eu senti.

Os dois se viraram, ficando um de costas para o outro, fazendo a retaguarda. O cosmo era gigantesco e maligno, e se espalhou rapidamente pela área.

— Ele está aqui. — disse Lino, furioso. — O desgraçado está aqui.

A risada escarnecida de Clown arrepiou os cavaleiros. O berserker saltou sorridente das sombras da noite e ficou parado na entrada da viela. Fazendo uma reverência teatral.

— Por que está me seguindo? — perguntou Lino. — Já disse que o seu oponente não sou eu.

— Seja lá quem for o miserável, deve ser um covarde, pois até agora não apareceu. Então, enquanto ele não aparece... — Clown preparou suas garras afiadas e disparou em direção a Lino. — Eu vou matar você, Lira!! 

— Hoje não. — disse Nicolas, se lançando na frente. — Fornalha ardente!

Com os braços estendidos Nicolas disparou uma rajada de chamas que rodopiou como um turbilhão feroz. As chamas liberavam um calor insuportável, capaz de derreter o solo e convertê-lo em lava.

O golpe atingiu o berserker em cheio e Nicolas se gabou sorridente, mas Lino desconfiou de que aquele golpe não seria suficiente para vencer alguém como Clown.

— É realmente quente. — disse o berserker, caminhando em meio as chamas. — Mas não o suficiente para atravessar a minha Onyx e queimar a minha pele.

— Por que minhas chamas não surtiram nenhum efeito?!

— São os guizos dele. O som purifica os golpes e os repele. Ele fez a mesma coisa com as chamas sagradas do Senhor Takeshi. — explicou Lino.

— Chamem um Cavaleiro de Ouro, ou o Fênix. — Clown elevou o cosmo. — Duas crianças não vão me vencer com esses truques. Guizos de fobia!

Os guizos pendurados em seus ombros e no seu elmo vibraram emitindo um som ensurdecedor, extinguindo as chamas e atingindo os dois cavaleiros violentamente. As armaduras foram danificadas e Nicolas e Lino foram arremessados.

Lino tentou se levantar, mas não conseguiu. Seu sistema nervoso central não respondia. Os sentidos também foram afetados, deixando-os impotentes para atacar ou se defender. Nicolas se curvou de dor e tentou afastar o som tampando os ouvidos, mas era inútil. O som atingia diretamente o seu cérebro.

— Se eu não fizer algo, ele irá nos matar no próximo golpe. — pensou Lino.

O Cavaleiro de Prata segurou a Lira com força e se esforçou para tocar as cordas, emitindo uma doce melodia. A música se propagou com o cosmo e entrou em conflito com o som dos guizos de Clown, aliviando os efeitos do golpe do berserker no corpo de Lino. Com isso os sentidos foram retomados e o prateado teve forças para se levantar e se empenhar na melodia que estava tocando. Seu cosmo então se expandiu, envolvendo Nicolas e libertando ele do ruído agonizante.

— Valeu amigão.

— Sabe Lira... Você é um verdadeiro incomodo.

O cosmo de Clown explodiu e ele abriu os braços, ampliando a vibração dos guizos e disparando uma onda cósmica. O golpe revirou o solo durante seu avanço, pulverizou dois templos que ladeavam a estreita rua, e rompeu a barreira de Lino, arrastando os dois cavaleiros para trás e os arremessando violentamente para fora da viela até colidirem contra alguns pilares.

— Ele é muito... forte. — disse Nicolas caído e cuspindo sangue.

— Meio óbvio. — disse o berserker diante dele.

Clown segurou o cavaleiro de fornalha pelo pescoço e o jogou contra outro pilar, virando-se em seguida para Lino, que tentou se esquivar, mas novamente o som dos guizos o paralisou e ele foi golpeado por uma sequência de soco, sendo arremessado para o alto.

Ainda sem conseguir se mexer completamente, Nicolas conjurou chamas azuis e as ergueu em volta de Clown, como se fosse uma muralha circular, mas o berserker desfez a parede de fogo sem sofrer qualquer dano e avançou com suas garras, mas foi detido por uma forte lufada de ar que o afastou dos cavaleiros e o arremessou para trás rasgando o solo.

Eu fui arrastado. pensou Clown, surpreso. Isso por acaso foi obra de um Cavaleiro de Ouro?!

— Desculpa pela demora. — disse um jovem de cabelos longos verde-amarelado e olhos azuis. Ele estava trajando a armadura de Prata de Cefeu. — Podem deixar o resto comigo.

— Perses! — disse Nicolas, reconhecendo o filho de Shun e June.

— O quê?! Um Cavaleiro de Prata?! — rosnou Clown, incrédulo. — Um Cavaleiro de Prata... me repeliu?

Perses fitou o berserker.

— Nicolas, Lino... Vocês precisam sair daqui.

— Perses... — disse Lino. — Você por acaso pretende...

— Isso é algo que eu devo fazer sozinho. Preciso que vocês dois se afastem. Eu cuidarei do berserker. Garantam que nenhum cavaleiro irá se aproximar desta região. Nem mesmo vocês.

— Está bem. Mas tome cuidado. Lembre-se do que conversamos. Não se deixe levar pelos medos de Clown. Você não pode alimentá-lo. E tome cuidado com os guizos.

— Está bem.  Agora saiam daqui.

Enquanto Lino e Nicolas se retiravam, Clown se aproximou sorrateiramente analisando o Cavaleiro de Cefeu.

— O que pensa que está fazendo mandando eles irem embora? Tanta confiança vai acabar lhe matando.

— A luta será entre nós dois.

— Então você é o meu tão prometido algoz. — disse o berserker. — Mas é só mais um Cavaleiro de Prata. Eu esperava mais. Podia ter deixado aqueles dois aqui. Eu mataria os três rapidamente. Só que... Tem algo em você que me é muito, mas muito, familiar. — Clown passou mais alguns segundos investigando Perses até achar o traço que procurava. O traço que lhe lembrava uma de suas vítimas. O sorriso do berserker abriu de um canto a outro em seu rosto. Havia satisfação em seu olhar. — Criança, esses seus olhos... Qual a sua relação com a amazona de Camaleão?

— June... É a minha mãe.

Os olhos de Clown se arregalaram de prazer e o berserker rasgou uma gargalhada louca e descontrolada.

— Então é isso?! Um acerto de contas?! — perguntou sorrindo. — O Fênix é um tolo por ter achado que uma criança como você vingaria a morte da mãe. Eu não tenho paciência para acerto de contas familiares. Mas tenho que concordar que é uma guerra de sorte. Matei a mãe, e matarei o filho. Seu eu for rápido talvez você encontre a sua linda mãe na Colina do Yomotsu.

Clown deu um largo sorriso e partiu para o ataque. Perses não ficou esperando seu oponente se aproximar, e também avançou desferindo um soco, mas o berserker desviou do punho do cavaleiro com extrema facilidade e aplicou um golpe no rosto do prateado jogando-o para trás.

Em uma nova investida o elmo de Cefeu foi arrancado quando Clown desferiu um chute no queixo de Perses. Cambaleando, o Cavaleiro de Prata tentou recuperar a postura, mas Clown não lhe deu brecha. O berserker aplicou um soco no peito de Perses, arrastando o cavaleiro para trás, e disparou em sua direção aplicando dezenas de golpes, finalizando com um chute que lançou o oponente para o alto.

Clown então elevou o cosmo, concentrando a energia entre suas mãos, e disparou uma poderosa rajada mirando Perses ainda no ar. O golpe engoliu o Cavaleiro de Prata e se expandiu como uma gigantesca esfera, provocando uma forte explosão que atingiu os edifícios mais próximos e desintegrou os tetos e algumas colunas provocando desabamento.

— Criança idiota. Ousando brincar comigo. Nem teve tempo para dizer o nome do pai. — disse sorrindo. — Eu poderia ter enviado a família inteira para o outro mundo.

— Você quer mesmo saber o nome do meu pai?

—  O-O quê?! — Clown virou-se incrédulo olhando para o céu.

Ele procurava o Cavaleiro de Prata, mas a nuvem de fumaça ainda estava muito densa devido ao vento fraco naquele momento.

— Como pode estar vivo?!

— Mesmo se você soubesse o nome do meu pai e saísse vivo da nossa batalha, você nunca iria conseguir ao menos se aproximar dele. — a nuvem de fumaça se dissipou, revelando Perses parado no ar rodeado por um camada de cosmo que cobria todo o seu corpo como se fosse um escudo. — O nome do meu pai é Shun de Andrômeda. E você é um berserker morto.

O cosmo que rodeava Perses se expandiu, repelindo os danos que o cavaleiro suspostamente havia sofrido. A expansão gerou um forte deslocamento que arrastou Clown para trás, forçando o berserker a rasgar o solo.

— Que poder é esse que eu sinto vindo desse garoto?! O desgraçado criou uma defesa em volta do corpo que não só o protegeu, mas também acumulou os danos e os repeliu. — pensou o berserker. Por fora Clown parecia se divertir, mas por dentro havia um pouco de apreensão. — Além disso... O miserável é filho de um dos Cavaleiros Lendários, e com certeza deve ser discípulo. Agora eu entendo por que o Fênix mencionou o irmão naquele momento... Terei que matá-lo o mais rápido possível.

— Por que ficou calado tão de repente?

— Estava pensando em como posso matar você de uma forma que sofra tanto quanto a sua mãe sofreu. Ela foi forte até o último suspiro. Estou curioso para saber se o filho tem a mesma ferocidade da mãe, ou se herdou a famosa benevolência do pai.

Perses pousou na borda do telhado de um dos alojamentos e olhou para os lados. Ele estava se certificando de que estavam sozinhos naquela área. Os pontos de combates estavam afastados. Não havia cavaleiros, berserkers ou soldados próximos. E era disso que ele precisava.

— Você quer mesmo saber?

— Como?!

Perses elevou o cosmo e materializou um par de correntes negras. Elas eram semelhantes as correntes de Andrômeda, mas havia uma diferença: ambas eram pontiagudas, ainda que em formas diferentes. Correntes de ataque.

Clown deu um leve sorriso.

— Seja um bom garoto e faça essa luta ser tão emocionante quanto eu possa desejar. — os olhos de Clown brilharam e seu cosmo se elevou. — Mas pode se certificar de uma coisa... Eu não vou pegar leve. Quebrarei essa sua defesa e farei uma carnificina com o seu corpo.

Clown saltou e avançou, mas para a sua surpresa o Cavaleiro de Cefeu girou uma das correntes cósmicas e a lançou. O berserker moveu a mão para repeli-la, mas a corrente transpassou o seu braço sem atingi-lo fisicamente e penetrou em seu peito, atravessando a Onyx como se fosse espiritual. A sensação que o berserker teve foi de ter um ponto gélido formigando em seu peito.

Perses então puxou a corrente e instantaneamente Clown sentiu como se a sua alma estivesse sendo arrancada do seu corpo. Seu peito estufou pra frente e ele viu na ponta da corrente um aglomerado de energia cósmica.

A corrente recuou para o Cavaleiro de Prata, que ergueu o braço fazendo a corrente girar ao seu redor enquanto fundia a cosmo energia roubada de Clown com o seu próprio cosmo. O berserker se sentiu atordoado, e viu sua velocidade e força se esvaírem. Clown interrompeu a investida e caiu de joelhos.

— O que foi que você fez comigo?

— Corrente Espiritual¹. — disse Perses. — Essa corrente do braço direito tem o poder de drenar a energia vital do meu oponente. O seu cosmo. Já a corrente do braço esquerdo tem a função de infligir dor. E é com ela que eu vou matar você.

— Esse garoto pode ter um rosto de anjo, mas seu instinto é de um demônio. Seu poder é de um Cavaleiro de Prata, mas sua habilidade lhe dá vantagem.  — pensou Clown. — Ele pode se tornar um empecilho. Mesmo se eu o golpeasse agora, meu golpe não sairia com força total. Tenho que ganhar tempo...

Clown se levantou e virou-se correndo em direção a um edifício próximo. Ele adentrou no prédio e desapareceu na escuridão. Desconfiado, Perses pousou no chão e caminhou lentamente em direção ao interior da construção.

Dentro do edifício havia um salão amplo e vazio. Perses parou na entrada e estreitou os olhos para enxergar o interior. A luz da noite penetrava até um certo ponto. O resto estava mergulhado em trevas.

— Posso escutar as batidas do seu coração. — disse Clown com desdém. A sua voz ecoou. — Está acelerado. Tum-dum... Tum-dum... Tum-dum... Você tem medo do escuro?

— Não! — respondeu Perses, com firmeza.

A voz saiu sem embolar. Perses não queria demonstrar fraqueza. Mas a reação do seu corpo não acompanhou as suas palavras. A voz sussurrante de Clown provocou alterações involuntárias em seu corpo, fazendo ser tomado por uma ansiedade intensa, e sua respiração estava começando a ficar acelerada. Tanto quanto seu coração. Sua pupila dilatou tentando enxergar Clown em meio àquela escuridão, e seus lábios ressecaram.

— Eu não tenho medo do escuro. — reforçou. Estava tentando convencer mais a si mesmo, do que o seu inimigo.

— Bom garoto. — sussurrou Clown. Os pelos dos braços de Perses ficaram arrepiados. — Sua mãe então deve ter lhe ensinado que não é do escuro que você deve ter medo, mas sim do que há nele.

— Eu também não tenho medo de você!

Clown sorriu.

— Então por que seu coração não para de acelerar? O medo é inevitável. Todo mundo sente. Talvez você precise da mamãe para se acalmar... — das sombras do salão surgiu June, usando um vestido branco florido e com um afetuoso sorriso no rosto. — Olá filho...

Perses cerrou os punhos.

— Berserker... Mesmo sabendo que eu estou ciente da morte da minha mãe pelas suas mãos, você zomba de mim imitando a imagem dela. — o cosmo de Perses se elevou. — Você me perguntou se eu sou feroz ou benevolente... Mas eu só posso dizer que não herdei nada do meu pai... Além do poder.

— Que excitante. — disse Clown, ainda se passando por June, apalpando os seios. — Seria um pecado dizer que estou molhada com isso?

— Desgraçado!! Você vai pagar por isso!! — gritou Perses.

— Isso garoto!! Se enfureça!! Deixe que seu ódio por mim ganhe forças! Deixe que o seu medo me penetre e me alimente!! — Clown voltou a sua forma original e elevou o cosmo, agitando seus guizos e criando um tornado cinzento ao seu redor. — Venha para mim e flutue!!

O berserker abriu os braços e fez seu cosmo explodir, ampliando o tornado. A força arrasadora devorou o teto do edifício na medida em que o turbilhão se erguia como uma devastadora coluna. Tudo ao redor começou a ser puxado e devorado. E apesar de todo o barulho provocado pela destruição e pela força de rotação, choros e gritos podiam ser ouvidos vindo de dentro do tornado.

De repente o turbilhão cessou os seus violentos giros, se movendo lentamente enquanto tudo flutuava dentro dele e ao seu redor, mas Perses ainda estava sendo sugado. Seus pés rasgavam o solo tentando resistir a força que o puxava.

— Não adianta resistir, garoto.

— Eu não vou.

— O quê?!

Perses relaxou o corpo e deixou ser sugado, mas quando ele se aproximou do turbilhão o seu cosmo explodiu e liberou potentes jatos de ar e cosmo ao redor do seu corpo, ampliando e se transformando em um turbilhão de vento.

— Tempestade Nebulosa!!

As duas técnicas colidiram e desencadearam uma força esmagadora e destrutiva, que se espalhou e tragou o edifício por inteiro. Era como se dois furacões se encontrassem em uma tempestade.

— O que pretende com isso, moleque? — perguntou Clown. — Mesmo que copie a técnica lendária do seu pai, não será suficiente para superar o meu golpe. Você será engolido!!

— Então enfraqueça e me fortaleça!! — gritou Perses, no centro do turbilhão. — Corrente Espiritual.

A corrente cruzou os dois golpes e atingiu o peito de Clown. O berserker arregalou os olhos e cambaleou ao ver Perses puxar a corrente carregando sua energia vital e fortalecer o próprio cosmo. O golpe do berserker então oscilou, diferente da Tempestade Nebulosa que ficou ainda mais forte e ampliou ainda mais o seu tamanho.

— Desgraçado!! — disse Clown atordoado. — Eu vou matar você!!

Furioso Clown abriu os braços sugando todo o seu golpe para o centro do seu peito e o concentrou entre as mãos, disparando em seguida em uma rajada concentrada. O golpe atingiu a Tempestade Nebulosa provocando um forte estrondo. Por um momento a técnica de Perses suportou o impacto, mas o grito de fúria do berserker alimentou sua força e o seu cosmo, perfurando a técnica e atingindo Perses em cheio.

Tempestade Nebulosa foi desfeita e Perses teve sua armadura de prata gravemente danificada, sendo arremessado violentamente para o outro lado da rua, colidindo com um templo.

Clown caiu de joelhos ofegante.

— Miserável. — Clown se levantou e cerrou o punho. Estava determinado a encerrar aquela luta na força do braço. — Não passa de um Cavaleiro de Prata. Como pode me causar dano?!

— Se eu não tivesse drenado o seu cosmo momentos antes, certamente eu teria morrido com esse golpe, mas não ache que eu sou fraco por causa da minha patente. — disse Perses se levantando cambaleando. Havia sangue escorrendo em sua testa e sua boca. Sua armadura estava rachada e uma de suas ombreiras havia sido totalmente destruída. — Nesta Era os cavaleiros estão sendo instruídos a serem fortes e irem além dos limites de suas patentes.

— Tolice.

— Eu não espero que entenda. —  Sem qualquer aviso Perses disparou sua corrente novamente. Clown não teve tempo para se esquivar. Estava cansado e sem forças. — Mas agora preciso me recompor. — disse puxando-a e drenando para si o cosmo do berserker. — ... pois a guerra continua. — e mais uma vez disparou a corrente enquanto caminhava em direção a Clown. O cosmo do berserker rodopiou ao redor de Perses e o alimentou repetidas vezes, já Clown ia ficando cada vez mais fraco e desgastado. Seu aspecto agora era de enfermo. — Você perdeu. E agora eu vou lhe mostrar do que eu realmente sou capaz.

Perses ergueu o braço e fez seu cosmo explodir e se elevar, concentrando uma massa de energia na palma da sua mão. Uma gigantesca esfera de cosmo se formou, se transformando em uma estrela supergigante portadora de um forte brilho vermelho. O poder emanado pela estrela era esmagador, e o brilho era tão intenso que converteu as nuvens em um vermelho sangue.

— Agora eu entendo por que você fez questão de que ninguém estaria presente em nossa luta. — disse Clown, ainda ajoelhado sem forças. — Você não queria que vissem esse seu poder. Que vissem a sua habilidade e o seu estilo de luta. Você é um parasita desalmado que drena a energia vital do seu inimigo e se fortalece com a dor dele. Você pode até ter a imagem de ser alguém puro e indefeso com um olhar bondoso e misericordioso, mas no fundo você é perverso e sádico. Se comporta semelhante aos seus inimigos.

Perses olhou para Clown por cima, mirando um olhar altivo, e deu um leve sorriso.

— E por acaso eu disse que não era?! — Perses saltou e disparou o golpe. —  Estrela Grenat!!

O golpe foi arremessado como uma estrela cadente e atingiu Clown em cheio, ampliando seu poder devastador enquanto formava uma profunda cratera, e por fim explodiu, erguendo uma coluna de energia que dissipou as nuvens e permitiu que a luz da lua iluminasse o local totalmente destruído.

Perses pousou na beira da cratera e observou o berserker caído no centro. Ele estava vivo, mas aquilo não surpreendeu o Cavaleiro de Cefeu. Ele havia se contido. Não atacou para matar. Lhe dava prazer ver o berserker tentando se levantar enquanto sofria e gemia de dor.

— Por eu ser filho do homem mais bondoso do Santuário, as pessoas automaticamente acham que eu sou tão puro quanto ele. Mas eu não sou. Não tenho a mesma misericórdia do meu pai. E você estava errado em mais duas coisas. A primeira foi em dizer que eu sou como meus inimigos, pois eu não sou. Vocês são covardes que fazem pessoas inocentes sofrerem. Já eu sou um cavaleiro que fui treinado para matar pessoas covardes, como você, e proteger os inocentes.

— E qual foi o meu segundo erro?

— Ter achado que esse meu último golpe ou o meu método de luta eram a razão para eu ter afastado Lino e os outros. — a corrente cósmica do braço direito desapareceu, mas a do braço esquerdo finalmente se moveu. — Nem todos compreenderiam.

Clown lembrou-se da explicação sobre a corrente esquerda e arregalou os olhos. Era o seu coração que agora estava acelerado. Ele estava com medo. Clown estava sendo assolado por aquilo que ele despertava nos os outros.

—  Era exatamente isso que eu queria ver nos seus olhos no final dessa batalha. —  disse Perses. —  Medo. Eu quero que você se lembre de todas as pessoas que você já matou nessa guerra. Minha mãe, o Senhor Tatsumi e as crianças da Escola Meteoro.

A corrente de cosmo foi disparada e se multiplicou, se enroscando violentamente nos membros e pescoço de Clown, lacerando a pele.

— Garoto...

— Você é fraco e covarde. E o seu medo é fracassar. Sacrifício do Rei!!

Perses segurou firme nas correntes e as puxou. O atrito dilacerou a carne, desmembrando o berserker lentamente. Clown se debateu entre gritos de dor e sangue, tentando se desvencilhar, mas Perses pisou firme no chão e segurou as correntes com toda força. Os olhos arregalados de Clown estavam imersos em lagrimas. Ele se sentiu impotente sem forças para atacar ou se teletransportar. O urro de agonia cessou quando a cabeça foi arrancada e rolou. A corrente afrouxou e o corpo deslizou caindo sem vida no chão em uma poça de sangue.

— Ele está morto?

A pergunta veio de trás de Perses. O cosmo do Cavaleiro de Prata recuou imediatamente e ele virou-se surpreso, se deparando com uma garota de longos cabelos laranja claro e usando uma máscara branca com traços vermelhos.

 Kitsune?!

A amazona de bronze de raposa estava em projeção astral, flutuando a poucos centímetros do chão.

— A quanto tempo você está aí? — perguntou Perses.

— O brilho vermelho do seu golpe me atraiu. Eu vi tudo, mas isso não importa. Me encontre no Templo dos Cavaleiros de Prata. Devo continuar na busca pelo Senhor Kiki. Lino e os outros estão lhe esperando.

—...—


Região sul do Santuário de Atena

O cosmo de Kiki se intensificou e ele disparou na velocidade da luz, segurando Serenus pelo pescoço e o empurrando em direção ao chão com uma força psíquica poderosa e esmagadora. Uma profunda cratera se abriu quando eles caíram. O berserker reagiu e acertou um chute que jogou Kiki para o alto. O som de um disparou pôde ser ouvido milésimos de segundos antes de Serenus surgir diante de Kiki de punho cerrado, mas novamente a Muralha de Cristal foi erguida e bloqueou o soco.

Ciente de que seu oponente sabia qual era o ponto fraco da barreira, Kiki não esperou que a muralha fosse desfeita. Ele mesmo a destruiu disparando uma chuva de estrelas douradas que atravessaram a defesa e golpearam Serenus bombardeando-o contra o chão.

Uma coluna de poeira de levantou e do centro dela surgiu Serenus subindo acompanhado de centenas de rajadas de cosmo. O golpe foi disparado e Kiki ergueu sua segunda barreira defensiva.

— Espelho de ouro!

Dezenas de barreiras cristalinas com formato octogonal se materializaram formando uma gigantesca muralha. Os ataques de Serenus colidiram e imediatamente foram repelidos com o dobro da potência. O berserker porem desviou de cada rajada enquanto elas caiam bombardeando mais uma vez a região.

Kiki então desceu e acertou um soco no rosto do berserker, que revidou com um soco no estômago do cavaleiro de ouro. O cavaleiro de Áries segurou no braço de Serenus e o jogou para o lado, colidindo com a cúpula dourada que havia sido erguida. Na colisão uma poderosa descarga psíquica atingiu o berserker que gritou de dor.

Com as mãos unidas Kiki disparou uma rajada de cosmo. Serenus rapidamente reagiu e abriu um buraco negro na palma da mão esquerda, que sugou o golpe, enquanto concentrava energia na outra mão e disparou na forma de uma lança cósmica.

A lança assobiou cortando o ar em seu trajeto, mas Kiki se esquivou com teletransporte. Houve uma explosão quando ela atingiu o domo. Toda a cúpula estremeceu e oscilou, mas não se quebrou. Kiki surgiu entre as chamas protegido por uma barreira esférica. Ele anulou a defesa e sugou as chamas da explosão para a palma da mão, e em seguida alastrou o fogo como um arco consumidor que avançou em direção ao berserker.

Serenus não foi tolo e se teletransportou, surgindo atrás de Kiki e aplicando um chute, mas o golpe não atingiu o Cavaleiro de ouro, que também se esvaiu. Enquanto isso as chamas que haviam sido direcionadas por Kiki atingiram o solo e provocaram uma segunda explosão, queimando as árvores mais próximas.

— Áries!! — gritou Serenus.  Ibra K’dibra... Espada cósmica!!

Uma gigantesca espada feita de cosmo surgiu acima do berserker e foi disparada em direção a Kiki. O Mestre de Jamiel estendeu a mão para o lado e moveu o braço, trazendo para diante de si o Espelho de Ouro que ele havia materializado instantes atrás. E mais uma vez a barreira cumpriu com sua função, bloqueando e repelindo em uma explosão cósmica avassaladora.

Uma forte onda foi propagada e arremessou Serenus contra o domo novamente, enquanto revirava o solo e agitava as águas do rio na medida em que avançava. Mais da metade de toda aquela região ficou completamente destruída.

— Esse é o poder do Mestre de Jamiel?! Fantástico, Áries!!

Serenus se moveu na velocidade da luz e surgiu diante de Kiki. Ele encostou a mão no peito do Cavaleiro de Ouro e aplicou um golpe que disparou o ariano contra o chão. Mas Kiki não colidiu. Ele parou durante o percurso exercendo pressão com o seu cosmo e retomou o equilíbrio flutuando, deixando o berserker levemente surpreso.

Serenus se teletransportou e surgiu atrás de Kiki. O cavaleiro de Ouro sentiu a presença do inimigo, mas não conseguia se mexer. Estava completamente paralisado.

— Vou mostrar a você a diferença entre nossos poderes. — disse o berserker agarrando a cabeça de Kiki com uma das mãos e subindo até o limite da cúpula. — Olhe bem para o Santuário, Áries. Essa será a última vez que você poderá contemplar essa vista. — disse soltando Kiki para uma queda livre.

Kiki não conseguia se teletransportar ou se mover. A paralisação psíquica de Serenus era forte demais. E era assim que o berserker o queria. Sem condições de reagir.

— Rede de Cristal!! — gritou Kiki

Uma rede de fios cristalinos se formou rapidamente se prendendo nas paredes do domo, interrompendo a queda do Cavaleiro de Ouro.

— Inteligente, mas é inútil. — disse Serenus flutuando acima de Kiki. O berserker elevou o cosmo e modelou a espada gigante mais uma vez.Espada Cósmica!!

O golpe foi disparado, mas no meio do percurso a técnica teve sua trajetória alterada e voltou-se contra Serenus. O berserker tentou se esquivar, mas se viu preso em uma rede cristalina semelhante a que Kiki havia conjurado.

— O-O quê?! Barrei...

O Berserker tentou erguer uma proteção, mas não conseguiu a tempo. Não foi rápido o bastante para pensar e reagir. O golpe atingiu Serenus em cheiro. A potência do ataque foi tão forte que rompeu a Rede de Cristal e arrastou o berserker contra a cúpula erguida por Kiki, pressionando-o com força e depositando sobre ele a descara elétrica psíquica emanada pelo domo.

A Onyx de Baku foi danificada, e o berserker perdeu suas forças. Seu corpo relaxou e ele começou a cair, mas Kiki o segurou no ar usando seu poder psíquico. Agora em pé na Rede de Cristal que havia materializado, Kiki estendeu o braço em direção a Serenus e elevou o cosmo. A rede cristalina brilhou intensamente e se desfez em centenas de fragmentos de cristais, deixando o Cavaleiros de Áries flutuando no ar.

— Você escolheu o oponente errado para apoiar a sua soberba. — os fragmentos de cristais se modelaram tomando a forma de lanças, e uma delas voou em direção a mão de Kiki, que a agarrou com força. — Que as estrelas guiem a sua alma imunda para o outro mundo! Lança estelar!!

— Áries... Ainda que você não morra pelas minhas mãos, a sua morte já está lhe espreitando nas sombras.

Kiki arremessou a lança em direção a Serenus, que foi seguida pelas outras centenas que rodeavam o Cavaleiros de Áries. As armas cristalinas se dissolveram em luz e atravessaram as rachaduras presentes na Onyx de Baku, perfurando e transpassando o berserker violentamente. Sem vida, o corpo de Serenus caiu.

Cansado e ofegante, Kiki pousou entre as ruinas de um templo antigo e se encostou em um dos pilares. Ele ficou ali encarando Serenus por alguns instantes, esperando algo acontecer, mas nada ocorreu. O berserker estava morto e talvez as suas últimas palavras tenham sido apenas blefe. Ou não.

O sexto sentido de Kiki o alertou indicando que havia alguém ali. Bastante próximo. Observando nas sombras como Serenus havia falado. Kiki recobrou a postura e ficou atento. Talvez o indivíduo estivesse ali o tempo todo. Talvez fosse o plano de Serenus desde o início. Ou talvez tivesse sido atraído pelo duelo. Mas isso não importava. Sair de um combate acirrado e entrar em outro é um grande risco. Ele precisaria de um tempo para repor as energias.

— Quem está ai?

Ao invés de se apresentar verbalmente, o inimigo optou por revelar a intensidade do seu espírito de luta. Era algo gigantesco, emanando uma violência absurda e um desejo forte de matar.

— Você vai lamentar não ter morrido pelas mãos de Serenus. — disse uma criatura saindo da floresta e atravessando a cúpula cristalina.

De longe a silhueta parecia ser de um homem, mas a sua forma era bestial. Apoiado nas patas traseiras com cascos de ferro, a criatura tinha o peito aberto expondo suas vertebras e vísceras. A carne era podre e escorria sangue e secreção esverdeada. O corpo era uma mistura de homem e animal, mas a cabeça era de lobo com chifres de cervo.

— Essa aparência... Lembro de Jabu ter relatado o encontro que teve com um berserker bestial na Alemanha. Não pode ser!! — pensou Kiki. —  Você não deveria estar vivo. Seiya matou você.

— Você também não deveria estar. — disse o berserker, elevando o cosmo e mudando de forma. — Eu sou Kami de Wendigo, servo do exército do Medo.

 Kami agora era um homem alto e muito magro, de pele pálida, cabelos castanhos e olhos vermelhos mergulhados na esclera negra. O elmo de sua Onyx assumiu a forma de um crânio de lobo com chifre de cervo.

— Eu sei quem você é.

Kiki estendeu a mão e elevou o cosmo. Todo o domo brilhou reagindo ao seu poder e estremeceu. A cúpula diminuiu até rodear Kami, prendendo o berserker em uma capsula.

— Morra!! — disse Kiki, fechando a mão.

A capsula brilhou com mais intensidade e explodiu, erguendo uma coluna de fumaça e poeira.

— Terá que ser mais rápido que isso. — disse o berserker surgindo atrás de Kiki.

Kami aplicou um soco, mas Kiki girou e segurou o punho do berserker. Era uma força monstruosa. O Cavaleiro de Áries sentia que os ossos do seu braço iam se quebrar em pedaços.

—...—


Base dos Cavaleiros de Prata – Região Central do Santuário, Grécia

 O teto do salão principal era estrelado, representado as 24 constelações que protegem os Cavaleiros de Prata. Nas laterais do salão havia estatuas de Cavaleiros e Amazonas de Prata Lendários. Homens e mulheres que se destacaram em suas gerações por feitos, respeito ou poder, como Jaga de Orion e Odisseu de Ophiuco, e também Daidalos de Cefeu e Orfeu de Lira, que foram homenageados por Shun e Seiya, respectivamente, por seus sacrifícios e valores.

Kitsune estava sentada meditando no centro do templo em posição de lótus. Seu cosmo lhe rodeava lentamente, lhe cobrindo como se fosse um véu dourado.

— Nenhum sinal do Senhor Kiki? — perguntou Lino para Acher, o Cavaleiro de Prata de Eridráno.

Acher é o mais alto do grupo de discípulos de Ikki, e também mais forte fisicamente. Apresentando uma fisionomia mais corpulenta. Seus cabelos eram brancos e curtos, seus olhos eram azuis-serenity, e sua pele era negra.

— Nada até agora. Ela ativou a habilidade “Kiko” e desde então... — Acher estava parado diante da amazona lançando um olhar aflito.

— Não se preocupe, grandão. — disse Nicolas encostado na estátua de Jaga. Ele tinha algumas escoriações no rosto e nos braços. Lembranças do rápido encontro com Clown. — Já vimos ela fazer isso inúmeras vezes.

— Por que os ratos estão se escondendo aqui? — perguntou um cavaleiro parado na entrada do templo.

Ele estava usando a armadura de prata de Auriga. Era um jovem de porte médio, pele parda e cabelos curtos castanho amarelado. E estava acompanhado por outro cavaleiro.

— Quem são vocês? — perguntou Acher.

— Pelas armaduras são Cavaleiros de Prata. — respondeu Lino.

— Eu sou Haldus de Auriga.

— E eu sou Acrux de Cruzeiro do Sul².

Acrux era alto e forte, de pele morena, cabelos escuros curto em cima e raspado na lateral.

— Os olhos deles estão prateados. É sinal de que estão sob o controle do deus Anteros. — disse Lino.

— Então sendo controlados, mas não são burros. — disse Nicolas, de braços cruzados. — Então saiam daqui. — O cavaleiro de bronze abriu uma das mãos e conjurou uma pequena chama. — Se derem um passo em direção a ela, eu não vou me segurar.

— Um Cavaleiro de Bronze ameaçando um superior... — disse Acrux. — Não se espelhe na sua geração anterior que se rebelou contra os Cavaleiros de Prata. Nem todo bronze é um prodígio, e nem todo Cavaleiro de Prata é um fracassado.

Nicolas cerrou o punho concentrando a chama e se afastou da estátua caminhando até Acrux, mas Acher se colocou no caminho do amigo.

— Calma Nicolas.  Eles são nossos companheiros. Não são nossos inimigos.

— Está enganado. — disse Haldus de Auriga preparando seus discos. — Se estão contra o Senhor Ares, então não somos companheiros.

— Por favor, colaborem. — disse Acher.

— Afaste-se Acher! — gritou Nicolas avançando. — É inútil dialogar.

O Cavaleiro de Bronze de Fornalha disparou uma sequência de socos flamejantes contra Haldus. Eram mais de mil socos por segundos. Mas Acrux de Cruzeiro do Sul interveio se lançando diante de Haldus e bloqueando o golpe de Nicolas com uma rajada de ar frio, que arrastou o Cavaleiro de Bronze para trás.

— Eu cuido do esquentadinho. — disse Acrux.

Nicolas elevou seu cosmo ardendo em chamas e avançou contra Acrux, saltando e aplicando um chute. O Cavaleiro de Prata o recebeu com um escudo de gelo bloqueando o ataque, ao mesmo tempo em que concentrou cosmo em sua outra mão e disparou rajadas de cosmo.

Nicolas saltou se esquivando, girou criando um círculo de fogo no chão e estendeu os braços projetando uma onda de chamas que avançou contra Acrux. O Cavaleiro de Prata ergueu o braço com seu cosmo congelante rodopiando e disparou um golpe cortante que dividiu as chamas ao meio e atingiu Nicolas, arremessando o Cavaleiro de Bronze contra a parede.

— Nicolas está tendo dificuldade com esse cara... — pensou Lino. — Mas por que ele estaria se segurando? Será que ele... Lino olhou para Kitsune.

— Bem que eu ouvi falar que os discípulos do Fênix eram arrogantes. — disse Acrux. — Acabe com eles, Haldus.

— Se não se mexerem, será melhor. — disse Halgus. Os discos giraram em suas mãos. — Prometo que será apenas um golpe.

O Cavaleiro de Auriga se preparou para atacar, mas foi detido por uma linha de chamas que rompeu diante dele, marcando uma divisão.

— Isso é...

— Conhece a história. — disse Nicolas, em pé novamente. — Sabe como seu antecessor morreu. Não queiram testar. Qualquer um que atravessar essa linha...

Haldus sorriu.

— Garoto, você não chega aos pés do seu mestre para nos fazer esse tipo de ameaça.

— Lino... — chamou Nicolas. — Proteja a Kitsune.

Nicolas esperava que Haldus cruzasse a linha, mas foi Acrux quem a atravessou sem hesitar. Em resposta a provocação, Nicolas elevou seu cosmo convertendo-o em chamas e disparou contra o Cavaleiro de Prata.

Acrux estendeu a mão disparando centenas de fragmentos de gelo. Afiados o suficiente para transpassar uma armadura de bronze. Mas Nicolas desviou com precisão sem recuar. O Cavaleiro de Bronze usou suas chamas para impulsionar um salto e em seguida desferiu um chute. Acrux tentou se defender erguendo um escudo, mas a defesa foi quebrada e o Cavaleiro de Prata foi atingido no peito, sendo arremessado contra uma coluna que desabou sobre ele.

Nicolas então correu, saltou diante de Acrux e girou, aplicando um chute no rosto do Cavaleiro de Prata. O Cavaleiro de Cruzeiro de Sul tentou aplicar um soco, mas Nicolas desviou e agarrou o braço do seu oponente, desferindo uma joelhada no estômago de Acrux e finalizou com um soco que lançou o prateado para trás.

— Vai quere testar a sorte também? — perguntou Nicolas para Haldus.

— A luta ainda não acabou, bronze.

Nicolas foi surpreendido por uma rajada de cosmo disparada pelos punhos de Acrux que havia se levantando. O Cavaleiro de bronze resistiu ao golpe e o bloqueou cruzando os braços.

— Foi um golpe de sorte. Não vai se repetir. — Acrux fez um sinal de cruz no ar, desenhando a sua constelação guardiã. Quatro pontos brilharam como se fossem estrelas e se ligaram projetando um escudo de cosmo.

— É só isso que você sabe fazer? Escudos? — perguntou Nicolas, erguendo os dois braços e concentrando cosmo entre as mãos.

— Cruz Sagrada do Sul!

Os quatro pontos da constelação brilharam com intensidade concentrando cosmo no centro e disparando uma rajada congelante destrutiva. O golpe rasgou o piso do templo enquanto avançava, deixando um rastro de cristais de gelo.

— Incineração cósmica!!³

Nicolas estendeu os braços para frente e disparou uma poderosa rajada de cosmo em chamas, formando um turbilhão. O golpe emanava uma temperatura tão alta que derretia o chão e tornava o ar tão quente que mal dava para respirar.

As duas técnicas colidiram provocando um forte tremor que fez todo o templo estremecer. Nicolas e Acrux agora estavam sustentando o choque de duas energias totalmente opostas, mas que por um milagre haviam encontrado um equilíbrio no centro. Contudo, o menor deslize poderia matar todos ao redor. Incinerados ou congelados.

O fio de Acrux supera -200ºC. É uma temperatura baixa o suficiente para congelar uma armadura de bronze junto com seu usuário, ou até mesmo uma armadura de prata. Mas o calor emanado por Nicolas é equivalente a 1200ºC. Nem mesmo a armadura de Cruzeiro do Sul conseguiria proteger Acrux desse poder infernal.

Mas aquilo estava indo longe demais. Os dois estavam nivelados e dispostos a irem até o final. Nicolas tinha a quem proteger, mas Acrux não tinha com quem se preocupar.

— Pessoal! Vocês precisam sair daqui! — gritou Nicolas. — Tirem a Kitsune daqui. Agora!!

— Seus amigos não vão a lugar algum. — disse Acrux. — Se eles derem um passo para fora daqui, Haldus cortará a cabeça deles.

— Não seja idiota!! Se continuarmos com isso, todos irão morrer. Inclusive você.

— Não era isso que você queria? Me matar?! Aqui está a oportunidade. Faremos desse templo o nosso túmulo.

— Temos que fazer alguma coisa. — disse Acher para Lino. — Não podemos ir embora e deixar o Nicolas. Não vou perdê-lo também.

— Mesmo que eu coloque os dois em sono profundo... Aquela energia vai se espalhar. — disse Lino.

— Morreremos então. — disse Haldus, com os discos nas mãos. — Mas vocês não vão sair daqui.

— Não hoje. — disse Acher. — Eu resolverei isso.

Acher estendeu os dois braços e elevou o cosmo, ampliando por todo o salão. A energia concentrada entre Nicolas e Acrux começou a oscilar, liberando filetes de cosmo que serpenteavam em direção ao Cavaleiro de Prata de Eridráno, como se o golpe estivesse sendo sugado.

— O-O que está acontecendo? — perguntou Acrux intrigado.

— Acher... Você por acaso... Não faça isso, Acher! — implorou Nicolas. — Talvez você não suporte.

— Já suportei poder maior. — respondeu o Cavaleiro de Prata.

Toda energia cósmica foi drenada pelo cosmo de Acher, até que a técnica de ambos fosse anulada e eles foram repelidos para trás. Agora Acher era como uma bomba. Ele drenou tudo para isso, mas não conseguiria sustentar aquela força por muito tempo.

Acher viu Acrux se levantar e correr em sua direção, sendo seguido por Haldus que havia lançado seus Discos Mortais.

— Me desculpem, rapazes. Livre Fluxo!

Acher concentrou toda energia acumulada entre suas mãos e a disparou em uma poderosa rajada. Era como um gigantesco rio feito de cosmo jorrando um poder obliterador e engolindo tudo pela frente.

Acrux e Haldus foram atingidos, mas não em cheio. A maior parte do golpe passou entre eles, provocando danos superficiais, e atravessou a porta, arrastando os cavaleiros de prata com a força do deslocamento e pulverizando a entrada do templo e outros edifícios mais próximos em uma distância de pelo menos 100 metros.

Exausto, Acher caiu de joelhos e deu um sorriso para Nicolas, que o observava impressionado.

— Eu disse que conseguia.

— Eles estão bem? — perguntou Lino, se aproximando do amigo.

— Estão sim. Apenas vão ficar inconscientes por um tempo.

— Você poderia ter morrido. — disse Nicolas.

— Ou ter nos matado. — disse um cavaleiro entrando no templo.

— Perses?! — disse Lino, surpreso. — Você...

— Sim. Eu consegui. — disse jogando o elmo de Clown banhado em sangue no chão. — Eu matei aquele desgraçado.

— Estão todos bem?! — gritou um cavaleiro, correndo em direção ao templo. Ele tinha cabelos longos ruivos e olhos verdes. — Eu ouvi a explosão... — disse ofegante. — Achei que os berserkers estavam atacando a base dos Cavaleiros de Prata.

— Você é aquele garoto que falou com o Mestre Ikki quando chegamos no Santuário... — disse Nicolas.

— Ele é Dorie de Cérbero. — disse Acher.

— Vocês já se conhecem? — perguntou Nicolas.

— Já fomos companheiros de treinamento durantes os poucos dias em que Acher esteve no Santuário. — explicou Dorie. — Antes dele ser enviado para a Ilha da Rainha da Morte. Na época eu achava que também iria, mas fui enviado para o Vale da Morte, na California, e... — Dorie avistou Kitsune. — Está acontecendo alguma coisa com ela?

Todos se voltaram para a amazona de raposa. O cosmo ao seu redor oscilou e se agitou. As mãos de Kitsune estavam trêmulas.

— Ele está com medo. — disse Nicolas se aproximando. Ele se abaixou diante dela e a tocou lentamente pousando sua mão sobre a dela. — Ela está vendo alguma coisa muito ruim. Venha... — disse sussurrando. — Você precisa seguir a minha voz.

— Nicolas, tome cuidado. — disse Lino. — As vezes ela...

Lino não teve tempo de completar a frase. Os olhos da máscara de Kitsune brilharam e o cosmo dela, que se comportava como um véu dourado ao seu redor, se expandiu arrastando Lino e os outros para trás. Com exceção de Nicolas, que suportou o deslocamento do cosmo e estendeu os braços para segurá-la.

— Você está bem?! — perguntou o Cavaleiro de Fornalha.

— Estou. — disse com um tom de voz de preocupação. Kitsune se apoiou nas mãos de Nicolas e se levantou. — Precisamos nos apressar. O Senhor Kiki está correndo um grande perigo.

— Onde ele está? — perguntou Acher.

— Em um lugar atrás da montanha do Santuário. Tem floresta ao redor e alguns templos antigos. Também vi outra montanha no fundo. Com um templo no topo.

— Esse é o bosque de Atena. — disse Dorie. — É uma área antiga do Santuário, cortada por rios que dizem fluir de uma fonte gerada por uma lagrima derramada pela deusa Atena na Era Mitológica.

— Então você vai nos guiar até lá. — disse Kitsune.

—...—


Informações adicionais: 
* Corrente Espiritual¹:
 O golpe é uma referência a uma técnica chamada "Corrente Espiritual Negra" que pertencente a Daidalos de Cefeu no jogo Saint Seiya Awakening. A habilidade de fortalecer Perses de Cefeu também é uma referência a uma outra técnica do jogo chamada "Corrente Espiritual Sagrada"

* Acrux de Cruzeiro do Sul²: é um cavaleiro brasileiro, nascido no Estado de São Paulo. "Acrux" é o nome de uma das estrelas da constelação de Cruzeiro do Sul, a qual na bandeira do Brasil representa o Estado de São Paulo.

* Incineração Cósmica³: Um dos golpes mais poderosos de Nicolas de Fornalha foi criado pelo leitor Rafael Alves. Deixo aqui os devidos créditos e o meu humilde agradecimento pela colaboração.


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Notas finais do capítulo

Título do próximo capítulo: "Capítulo 68 - Campo de guerra: A benção da deusa da lua."

Olá galera!! Tudo bom com você?!

Espero que sim. Perdão pela demora (mais uma vez). Talvez vocês estivessem esperando pela luta de Atena com Ares, mas terão que segurar a ansiedade. Tenho algumas lutas laterais para mostrar a vocês. No próximo capítulo teremos Tourmaline vs Lycaon, Shalom vs Anatole e algumas outras surpresas.

Não esqueça de deixar sua opinião sobre o capítulo. Isso incentiva demais o autor à escrever.



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