A Saga de Ares - Santuário de Sangue escrita por Ítalo Santana


Capítulo 71
Capítulo 65 - Campo de guerra: Entre rosas e fogo


Notas iniciais do capítulo

Eros invoca o Jardim de Rosas Diabólicas para enfrentar o berserker Ascalaphos de Mothra, enquanto Kiki e os outros invadem o Santuário e são recebidos pelos berserkers. Nas Doze Casas, Atena usa as passagens secretas do Santuário para ter vantagem, mas Ares, que a espera em seu antigo templo, tem outros planos para a deusa. O confronto entre os Cavaleiros de Atena e os Berserkers de Ares inflama no Santuário, mas as lutas são interrompidas quando um cosmo poderoso se ergue no céu ma forma de um grande pássaro flamejante.



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 Capítulo 65 - Campo de guerra: Entre rosas e fogo


Monte Etna, Ilha Sicília – Poucos minutos antes do retorno de Atena

Circundando os 140 km de circunferência do vulcão, a mais de 3.343 m de altitude, centenas de soldados angelicais faziam a vigília do Etna. Organizados em círculos, dezenas de soldados formavam uma alta e extensa coluna armada.

Os soldados usavam armaduras brancas com detalhes dourados. Seus elmos eram prateados e fechados, ocultando seus rostos, e acima de suas cabeças brilhava uma aureola dourada. O símbolo vivo e sagrado da guarda do Olimpo. Em seus pés havia pequenos pares de asas que davam a eles a habilidade de voar.

No centro do cerco havia um anjo pairando imponente. Seus cabelos eram dourados modelados em dreads, seus olhos eram azuis e afiados, e acima da sua cabeça brilhava uma aréola dourada. Seu traje, chamado de Glória, era diferente dos demais anjos, sendo prateado com detalhes brancos, e de suas costas brotavam um par de asas brancas. Preso no ombro de sua armadura, havia um manto branco que descia por seu tronco e terminava em sua cintura, formando uma saia, semelhante ao traje que os gregos usavam na Grécia Antiga.

O vento do crepúsculo soprava forte agitando seu manto e seus cabelos, enquanto ele mirava seus olhos para a boca do vulcão.

No interior do Etna, no coração da montanha, uma forte ressonância abafava as batidas da forja do deus Hefesto e se expandia para fora da vulcão.

  — Essa sensação ... — disse Ikki, no interior da Oficina do deus da forja, sentindo seu cosmo palpitar junto com a sua armadura, que estava dentro da urna sagrada. O som era agudo e pulsante como as batidas de um coração.

  — Atena está invocando seus cavaleiros. Isso é sinal de que ela retornou. — disse Hefesto. Um velho calvo, com poucos cabelos brancos na nuca, barba longa e branca, pele morena castigada pelo tempo e pelo sol, mas seus olhos cheios de vida eram alaranjados como o poder do sol. — Então é aqui que a gente se despede, Fênix.

— Tenho uma dívida com você, Hefesto. — disse Ikki, se aproximando da urna da armadura.

— Com certeza tem. Mas não espere que eu volte a lhe ajudar.

— E por que você me salvou?

— Gentileza gera gentileza. Quando você veio até mim meses atrás, você me tratou com respeito, apesar da maioria me tratar com desprezo mesmo eu sendo um dos doze deuses do Olimpo. Por isso eu lhe salvei. Por uma simples consideração. Mas isso não vai voltar a se repetir. Sou um deus que não se envolve em guerras ou toma partido dos humanos...

— Apesar de ser o ferreiro dos deuses e fabricar armas que ameaçam a existência dos humanos e matam os subordinados dos deuses. — concluiu Ikki.

— Cada deus exerce sua função, Fênix. Eu não promovo guerras. Apenas fornece as armas para que possa ter oportunidade de defesa. E mesmo se eu não as fornecesse, os deuses iriam guerrear de qualquer forma. Não é a arma empunhada que mata, mas sim o orgulho e  a intenção de quem a usa. Os deuses guerreariam nem que fosse com paus e pedras. O desejo de matar não é barrado pela privação de usar uma espada. Além disso... A minha posição é bastante confortável. Conhecimento é poder. Eu fabrico aquilo que os deuses têm de mais belo e poderoso: as suas armas. Então não tem ninguém melhor do que o próprio ferreiro dos deuses para saber o ponto fraco de cada arma divina e de cada deus. — Hefesto segurou seu pesado martelo grande e enferrujado, e o girou na mão.

Uma onda de cosmo flamejante passou pela ferramenta e a alterou. A ferrugem se dissipou como se fosse poeira, e o martelo se revelou prata, polido e reluzente, com símbolos dourados em seu cabo.

O deus bateu seu martelo na bigorna mais próxima, e o som ecoou pela caverna. Na parede atrás de Hefesto, surgiu o nome do deus em grego e em chamas. A parede chiou e o fogo se espalhou, revelando uma grossa porta de ferro fundida na rocha vulcânica. A porta se abriu pesadamente, revelando o interior de uma gruta.

Ikki não escondeu a surpresa ao avistar o interior do espaço. O ambiente era um arsenal de armas e armaduras. Seria escuro se não fosse a própria luz ofuscante emanada pelas peças que estavam penduradas na parede.

— Isso é...

— Meu arsenal pessoal. Para cada arma divina criada por mim, existe uma contraparte capaz de vencê-la. Uma medida de prevenção. Compreende agora por que eu não me importo de ser visto apenas como um ferreiro dos deuses?! Eu posso não estar na posição de Apolo ou de Atena, ou ter um grande exército como Hades e o Olimpo, mas não sou um deus indefeso.

— Então você tem uma arma que pode derrotar Ares?

— Existe duas. Uma está no meu arsenal. A outra já se encontra nas mãos de Atena. Eu fiz questão de forjá-la com essa propriedade quando fiz a armadura divina de Atena. — disse o deus. — Espero que Atena use-a novamente com sabedoria. Eu não sou um admirador dos ideais de Ares. Também tenho minhas razões pessoais. 

— Cuidado com o que fala, Hefesto. O Olimpo pode estar ouvindo as suas palavras. — alertou Ikki.

— O Olimpo não é onisciente. Onde a luz do sol e da lua não tocam, Apolo e Ártemis não enxergam. É bom ficar ciente disso.

Hefesto estendeu a mão para a urna da armadura Fênix, e a caixa se abriu. Apesar de não estar mais em sua forma divina, a armadura de Fênix estava restaurada, apresentando uma nova forma, e parecia ainda mais viva do que antes.

— Eu tomei a liberdade de fazer alguns reparos na sua armadura, apesar dela não precisar disso para se manter viva e forte. Misturei o novo minério obtido no submundo. O mesmo minério que estou usando para forjar as armas do Olimpo que Apolo solicitou. Quando eu misturei com as cinzas da sua armadura, o resultado foi... magnifico! Sua armadura está mais poderosa e mais resistente.  — o deus colocou a mão no bolso da calça e tirou uma pedra brilhante levemente azulada. — Entregue isso ao reparador de armadura de Atena. Será um adicional interessante.

— Hefesto...

A armadura de fênix se desmontou e voou em direção ao corpo de Ikki, que se acendeu com um cosmo flamejante e poderoso.

— Antes de ir, preciso lhe advertir uma coisa, Fênix. — disse Hefesto — A Onyx que estava sob os meus cuidados, desapareceu.

— Você tinha uma Onyx aqui?! O que tem de especial nela?

— A Onyx de Adrano é um traje parasita. Diferente dos demais trajes do exército de Ares. Qualquer homem pode trajá-la. E uma vez vestida, o indivíduo se torna uma marionete de Ares, possuindo um grande poder que faz jus ao deus que a Onyx simboliza. O deus Adrano. Uma divindade menor e esquecida que simbolizava guerra e fogo. — explicou o deus Hefesto. — Se Ares se importou em invocar essa Onyx depois de séculos, ele deve ter algo em mente. Talvez esteja visando algum cavaleiro para se voltar contra Atena.

— Um berserker a mais ou a menos não faz diferença. Qualquer um que se opor a Atena nesta guerra, morrerá.

— Tenho certeza que sim. Mais uma coisa... Tem uma recepção para você lá fora. — advertiu o deus.

Do lado de fora do Etna, a noite já havia engolido o dia, e a luz da lua brilhava majestosa no céu estrelado.

Um ponto brilhante como uma pequena chama acendeu no centro da boca do vulcão, chamando a atenção do anjo de cabelos dourados. Aos poucos a chama crescia, e se tornava mais brilhante, tomando forma.

— Soldados! — alertou o anjo, dando o comando.

Os soldados tomaram espaço, se afastando um do outro, e com isso os círculos se expandiram por toda a extensão da coluna. A tropa preparou as lanças douradas, que brilharam emitindo uma luz tão dourada e ofuscante quanto o sol, apontando em direção a ameaça flamejante que crescia e subia em direção a eles.

Eles assistiram atentos a transformação da pequena chama se tornando um grande pássaro de fogo, que abriu suas majestosas asas enquanto subia pelo centro da coluna de soldados.

— Cavaleiro de Atena... — disse o anjo, elevando seu cosmo dourado. O anjo estendeu as duas mãos em direção a Ikki, materializando dezenas de pentágonos dourados feitos de cosmo, que se alinharam mirando o alvo. — Eu, o anjo Teseu, sentencio você a pena de morte, como punição pelos crimes que você cometeu contra os deuses, e contra o Céu!

Os pentágonos se ampliaram, tomando todo o espaço do interior da coluna, e um discreto filete de cosmo dourado cruzou os pentágonos e explodiu em uma devastadora rajada de cosmo contra Ikki. O golpe colidiu com a Fênix de cosmo e fogo, mas rapidamente foi dissipado.

— O-O que?! — disse Teseu, surpreso.

 Ikki passou diante de Teseu, encarando o anjo, e seguiu seu percurso.

— Guardas! Ataquem!

Os soldados elevaram seus cosmos, concentraram nas lanças douradas, e dispararam as armas contra Ikki. Uma chuva de estrelas douradas cortou o silêncio da noite como se fosse uma nuvem de gafanhotos se aproximando para castigar os pecadores com uma dolorosa praga.

No alto, Ikki abriu os braços e a Fênix imitou os seus movimentos. O bater de suas asas criou um turbilhão de ar quente que desfez a formação dos soldados e os sugou para dentro. O turbilhão então se transformou em um furacão de chamas.

Teseu, que havia saído do alcance do ataque, fitou Ikki sem demonstrar qualquer empatia pela dor de seus subordinados. Pouco a pouco os soldados caíram em meio a chamas, como anjos sendo expulsos do céu e condenados ao inferno, até que restou apenas o Cavaleiro de Atena e o Anjo do Olimpo se encarando no ar.

— Apenas demônios queimam anjos. — disse Teseu.

— Está olhando para um. — disse Ikki. — Quem o enviou aqui? Quem será o próximo deus a ser derrotado pelos Cavaleiros de Atena?

— Continua a despertar a ira dos deuses. — Teseu avançou em direção a Ikki. Em seu percurso o anjo deixava rastros de penas douradas feitas de cosmo. — Vai morrer!

Teseu alcançou Ikki e encostou a mão no abdome do cavaleiro de Atena, emitindo um brilho dourado que golpeou o Fênix e o arremessou para o alto. Antes que Ikki recobrasse o equilíbrio, Teseu graciosamente se moveu e surgiu atrás do Fênix, golpeando suas costas. Durante a queda, Teseu se adiantou e segurou no braço de Ikki, girando-o em seguida e arremessando-o com mais força contra o chão.

Ikki foi lançado e colidiu no pé da montanha, abrindo uma cratera. Teseu parou a poucos metros acima de Ikki e elevou seu cosmo dourado novamente, materializando os pentágonos dourados que se alinharam contra seu alvo.

— Ouvi falar bastante de você, mas... é esse o nível de um dos cavaleiros lendários que desafiam os deuses? O Olimpo não deveria se preocupar tanto assim. Mas de qualquer forma, vou destruir todos os cavaleiros de Atena. Não podemos deixar que esse poder ameace o reino dos deuses.

— Ora... Com quem você está falando? — perguntou Ikki, aparecendo atrás de Teseu.

Surpreso, o anjo se virou e se deparou com Ikki sem qualquer arranhão.

— Impossível! Você... — Teseu olhou para o chão, onde Ikki deveria estar caído no centro de uma cratera, mas viu que não havia nada lá. Nem mesmo qualquer cratera criada pelo seu golpe. — Mas como...

— Golpe Fantasma de Fênix!  disse Ikki. — Eu golpeei o seu cérebro quando passei por você naquele momento.

— O-que?! Você me acertou sem que eu percebesse?!

Ikki elevou o cosmo.

— Por que está tão surpreso? — Ikki segurou Teseu pelo pescoço.

— Pare, Fênix! O Olimpo está observando sua rebeldia.

— É só isso que eles sabem fazer. São meros telespectadores que ficam enviando subordinados para fazer o trabalho sujo. E se você ameaça destruir os cavaleiros de Atena... — Ikki ergueu o outro braço e concentrou cosmo em sua mão. — Eu, como um cavaleiro de Atena, terei que matar você!

— Você está louco! Quer dizer que você não se rende ao poder dos deuses?!

— Já falamos demais!

Ikki aplicou um chute no abdome de Teseu, o empurrando contra o chão. Durante a queda, Teseu voltou a materializar seus pentágonos dourados, mas antes que ele os alinhasse Ikki avançou em direção a Teseu, tomado pelas chamas do seu cosmo, parecendo uma fênix e cerrou seu punho, concentrando seu golpe.

— Ave Fênix!!  

O golpe rompeu os pentágonos dourados e atravessou o peito do anjo, que explodiu em seguida.

— Só me fez perder tempo. Tenho que ir ao Santuário. Mas antes... Preciso encontrar as minhas caudas.

—...—


Região Leste do Santuário, Grécia

— Rosas diabólicas reais!!

Centenas de rosas vermelhas foram disparadas contra Ascalaphos, seguidas por uma bruma vermelha formada por pólen, pétalas e cosmo.

Vendo as rosas vermelha vindo em sua direção, Ascalaphos moveu suas asas de mariposa, agitando seus longos cabelos azulados, liberando brilhos azuis que se uniram e se transformaram em uma barreira esférica e cristalina em volta de todo o seu corpo.

Para evitar contato com a barreira, Eros abriu os braços e desviou o trajeto das Rosas Diabólicas, fazendo com que elas passassem pelas laterais da barreira.

— Eu sei o que você está querendo fazer. — disse Ascalaphos, ainda protegido pela barreira, e agora flutuando a menos de meio metro acima do jardim. — Você analisou seus companheiros e concluiu que você seria o mais indicado para me enfrentar, pois suas rosas não são golpes de grande impacto como os golpes de Touro, Gêmeos e Virgem, mas... Você se enganou. De todos, você é menos indicado para me enfrentar. Você não tem recursos para me vencer. E você logo saberá por quê.

A barreira foi desfeita e Ascalaphos avançou sobrevoando o jardim. O avanço do berserker rasgou o campo marcando seu percurso, deixando para trás um rastro de pétalas, pólen e uma cicatriz escura na terra.

De punho cerrado e braço contraído, Ascalaphos surgiu diante de Eros e desferiu um soco que foi bloqueado pelos braços cruzados do Cavaleiro de Ouro frente ao corpo.

— Ele é forte. — pensou Eros, ao sentir a força do impacto do golpe e ser arrastado para trás.

O berserker seguiu atacando, mas Eros foi ágil e bloqueou os punhos de Ascalaphos, contra-atacando com os punhos também. Apesar do empate, o cavaleiro de ouro continuava sendo pressionado a dar passos para trás, enquanto o berserker seguia golpeando na velocidade da luz.

Repentinamente o berserker saltou para trás, pousou rasgando o solo, elevou o cosmo preparando impulso, e avançou mais uma vez de punho cerrado. Eros pisou firme para ter apoio e cruzou os braços mais uma vez, mas não foi rápido o suficiente. O punho de Ascalaphos passou pela brecha da defesa e acertou o rosto de Eros, arrancando o seu elmo e arremessando o dourado.

Durante o percurso, Eros foi surpreendido por uma sequência de socos e por uma rajada de cosmo, atingindo-o em cheio e chocando-o contra a montanha, abrindo um buraco.

— Como ele conseguiu se mover mais rápido do que eu?! — pensou Eros, caindo de joelhos e cuspindo sangue. — Eu estava acompanhando os movimentos dos seus punhos, mas depois...

O cosmo dourado de Eros se elevou, juntamente com o cosmo vermelho do jardim. Centenas de rosas vermelhas se ergueram e levitaram, mirando Ascalaphos mais uma vez.

— Vai tentar outra vez?

Sem responder, Eros atacou.

— Rosas Diabólicas Reais!!

As rosas vermelhas foram disparadas contra Ascalaphos, seguidas por uma bruma vermelha formada por pólen, pétalas e cosmo. E mais uma vez o berserker moveu suas asas de mariposa, liberando brilhos azuis que se transformaram em uma barreira.

— De novo... — pensou Eros, redirecionando as rosas mais uma vez, para que elas não atingissem a barreira.

— Evitar me atingir não vai lhe tornar vencedor desse combate. Assim como não adianta tentar me envenenar com essa bruma de pólen e perfume. Eu sei que essa técnica pode envenenar com o contato das rosas ou inalando o pólen, mas eu sou imune a venenos, pois assim como você, eu também produzo um tipo de veneno. O que também o torna imune a mim, já que mesmo depois de ser atingido diretamente e entrar em contato com a minha Onyx, você não sofreu hemorragia ou perdeu a capacidade motora. Em outras palavras...

— Nossos venenos se anulam, e essa minha técnica é ineficiente contra você.

— Isso mesmo. — afirmou o berserker. — E então, o que fará?

Eros não respondeu, e também não desfez o jardim. Continuou parado, encarando o berserker.

— O que ele pretende fazer? — pensou Ascalaphos. — Ele está me analisando?! Não... Ele está procurando brechas! — concluiu. — Não vai me atacar, Peixes?

Ascalaphos anulou a barreira e abriu suas asas, elevando seu cosmo e disparando dezenas de rajadas. Eros desviou de cada uma e avançou, tentando se aproximar.

Notando a aproximação, Ascalaphos expandiu seu cosmo e se moveu, saindo do campo de visão de Eros. Surpreso, o cavaleiro de peixes procurou pelo oponente. Seu sexto sentido lhe alertou sobre uma aproximação hostil vindo do alto.

O berserker desceu em uma investida. Eros saltou para trás, mas ainda foi pego pelo impacto da explosão quando Ascalaphos atingiu o chão, abrindo uma cratera e espalhando pétalas de rosas.

— De novo! — pensou Eros. — No início eu consigo acompanhar seus movimentos claramente, mas instantes depois ele se torna mais rápido do que eu. Seria isso uma brecha?! Um padrão que se repete?!

Ascalaphos saltou e desferiu um soco no peito de Eros, lançando o cavaleiro de ouro contra o chão. Eros caiu rasgando o solo, mas rapidamente se levantou com o cosmo elevado e avançou contra o berserker. Os punhos de ambos se chocaram, criando uma onda de choque que desprendeu o chão abaixo deles e se estendeu por todo o jardim, levantando uma cortina de pétalas.

Ascalaphos concentrou cosmo em suas mãos e disparou uma rajada. Eros desviou do golpe e se teletransportou, surgindo atrás do berserker, desferindo um soco no rosto. Ascalaphos foi arremessado e Eros saltou, disparando dezenas de rajadas de socos contra o berserker.

 Eros pousou rasgando o solo, e avistou Ascalaphos se levantando e vindo em sua direção. Rapidamente o dourado tocou no jardim e manifestou sua vontade nas rosas, fazendo com que as rosas mais próximas do berserker o atacassem. Ascalaphos imediatamente parou e movimentou as asas de mariposa, materializando a barreira em sua volta outra vez. Eros interceptou o golpe, e fez as rosas desviarem.

— Por que insiste com essa técnica inútil? — questionou o berserker. — Está me fazendo perder tempo.

A barreira foi desfeita e Ascalaphos partiu para o ataque novamente. Eros deu um fino sorriso no canto da boca, e avançou também, estalando os dedos e invocando trepadeiras que romperam o solo e se enroscaram nas pernas do berserker.

Pego de surpresa, Ascalaphos ficou detido. Antes que o berserker se soltasse, Eros surgiu diante dele aplicando uma sequência de socos em seu rosto, removendo o seu elmo, e finalizando com um golpe que arrancou o berserker das trepadeiras e o arremessou para trás rodopiando.

Ascalaphos girou no ar e aterrissou rasgando o jardim, tentando se equilibrar.

— Ele me atingiu. — pensou, surpreso.

— Se o meu golpe é inútil, então por que continua se escondendo atrás dessa barreira? — questionou o dourado. — Por acaso você só possui um golpe ofensivo útil se o seu oponente golpear a barreira?! Continue! — disse Eros, avançando de punho cerrado.

Ascalaphos avançou também, e ambos chocaram seus punhos. Socos e chutes foram trocados com intensidade. Eros desferiu um golpe no rosto de Ascalaphos, lançando a cabeça do berserker para trás, e em resposta o dourado foi golpeado com um chute que o jogou contra o chão.

Ascalaphos desceu para enterrar Eros em uma cratera, mas trepadeiras de rosas brotaram cobrindo o dourado e interrompendo o berserker. Com as mãos erguidas para o alto, o berserker concentrou cosmo e disparou uma rajada que consumiu as trepadeiras, mas Eros já havia desaparecido.

O jardim de rosas reagiu novamente, emitindo um brilho vermelho e intenso, e em seguida milhares de rosas se ergueram. Ascalaphos não conseguia enxergar onde Eros estava, mas voltou a mover suas asas, para materializar a barreira ao seu redor.

Dentro da barreira então surgiu uma fenda dimensional, e dela saiu uma mão dourada que segurou Ascalaphos pelo braço e o puxou para dentro, deixando a barreira vazia.

No alto do jardim, na linha de rota do avanço das rosas, uma outra fenda dimensional se abriu e dela surgiu Eros segurando Ascalaphos pelo pescoço.

— Peixes?! — disse o berserker, surpreso, com sangue escorrendo no canto da boca.

— Caia e morra! — disse Eros, se inclinando pra cima do berserker.

Eros encostou a palma da mão no peito de Ascalaphos e disparou um golpe, lançando o berserker violentamente contra o chão cuspindo sangue. Na medida em que ele caia, as rosas iam subindo e o acertando. Apesar da sua onyx o proteger na maior parte do seu corpo, as pequenas áreas desprotegidas foram acertadas pelas rosas.

O berserker caiu com um forte estrondo. Agora no chão, ele tentou se levantar, mas foi surpreendido pelo segundo ataque de Eros.

— Rosas Adagas!

As rosas vermelhas que haviam se erguido até o céu mudaram de cor, se tornando azuis, e então desceram de forma concentrada, bombardeando Ascalaphos. O berserker urrou ao sentir as rosas atravessando seu corpo nas regiões desprotegidas e nas áreas em que a onyx apresentava fissuras. Era uma verdadeira chuva de adagas afiadas.

Seu maior grito de dor foi quando uma das rosas penetrou seu olho esquerdo. Com a mão tremula e gemendo de dor, Ascalaphos removeu a rosa e a jogou no chão. Sangue escorreu pelo seu rosto.

— Você disse que é imune ao meu veneno...  E eu digo que você é um tolo que não sabe o que diz. — disse Eros, pousando. — As rosas diabólicas reais não são simples rosas venenosas. Desde a Era Mitológica, essas rosas nascem no Santuário com a missão de proteger Atena contra qualquer invasor que se aproxime do templo da deusa. O veneno é incomparável. Nem mesmo o seu veneno ou o veneno do espectro de Deep podem se sobrepor ao veneno das rosas diabólicas. Ainda mais se as rosas estiverem nas terras do Santuário, onde o poder delas é ampliado ao máximo, criando uma cosmo energia própria para o jardim. — disse ele, se referindo ao cosmo vermelho que o jardim emanava junto a bruma. — Além disso... Você possui um padrão em seu ataque. Você não consegue se defender e atacar ao mesmo tempo. E quando você desfaz a sua barreira, seus movimentos ficam reduzidos por alguns segundos, mas mesmo assim você ataca, passando para o seu oponente uma falsa impressão de que ele pode rivalizar com você. Mas segundos depois suas habilidades voltam ao normal, e aí você surpreende seu inimigo, desferindo golpes mortais. — Eros pegou o seu elmo no chão e colocou de volta em sua cabeça. — E você ainda diz que eu não sou o mais adequado para lhe enfrentar?!

— Você...

— O mesmo golpe não funciona duas vezes contra um cavaleiro. — disse Eros. — Deveria saber disso, já que vem enfrentando os Cavaleiros de Atena há séculos. É nossa especialidade estudar os movimentos do oponente até encontrar uma brecha.

Ascalaphos se levantou.

— Então quer dizer que seu veneno é mais forte que o meu?!

— Sim. E dentro de alguns instantes você perderá os seus sentidos e a sua consciência. É uma morte benevolente para alguém como você, berserker.

O cosmo obscuro do berserker se elevou.

— Então não me resta muito tempo. — As asas emitiram um brilho azul intenso, e seus longos cabelos azulados se agitaram.

— Sinto uma forte determinação emanando dele. — pensou Eros. — E também... Uma sensação de perigo. — a rosa vermelha que ele trazia em sua mão se tornou negra. — Devo matá-lo antes que....

— Arauto da morte! — proferiu Ascalaphos, e disparou em direção a Eros.

Os movimentos de Ascalaphos superavam a capacidade de Eros em acompanhar, deixando-o surpreso. O berserker voou de um lado para o outro enquanto avançava, fazendo um zigue-zague, até atingir Eros uma vez. Duas vezes. Dezenas de vezes. Centenas de vezes.

O cavaleiro de ouro se viu encurralado em meio a uma sequência mortal de golpes que vinha de todos os lados, sem qualquer padrão ou precisão. Eros não teve qualquer chance de defesa. A Rosa Negra em sua mão foi desfeita. A cada golpe a intensidade aumentava, e o impacto ficava mais forte. Ele não conseguia se concentrar para materializar suas rosas novamente, invocar trepadeiras ou abrir uma fenda para recuar.

Nem a forma física do berserker era mais visível. Ele ficava cada vez mais rápido. Só o seu percurso era perceptível, pois por onde ele passava deixava um rastro de cosmo negro e do brilho azul de suas asas.

Eros estava sendo jogado de um lado para o outro. Sofrendo danos a cada golpe. Até mesmo a sua armadura começou a sucumbir aos ataques. Rachaduras começaram a se formar, e elas aumentavam a cada golpe. Seu elmo se quebrou em pedaços, e um dos socos de Ascalaphos atingiu sua cabeça. Sua visão ficou turva, e ele sentiu um líquido quente escorrer pela lateral do seu rosto. Eros achou que ia morrer, até que Ascalaphos disparou um último socou em seu estômago e parou, pousando arfando.

Eros não tinha notado que, em meio aos golpes, seu corpo foi erguido para o alto por cada soco desferido. O cavaleiro de peixes começou a cair. Ele não sentia seu corpo, sua visão estava cada vez mais escura, sua armadura estava encharcada de sangue e repleta de danos. Eros caiu, e rapidamente uma poça de sangue se formou.

— Em todos esses meus milênios de servidão, eu nunca caí em batalha sem levar um cavaleiro comigo. — disse Ascalaphos, cuspindo sangue, sofrendo a hemorragia provocada pelo veneno das rosas vermelhas. — Com você não seria diferente.

O berserker se inclinou para frente, vomitando sangue. Seu corpo também estava emanando um forte calor. Seu toque no jardim fez as rosas pegarem fogo e se tornarem cinzas instantaneamente.   

—...—


Colina do Yomotsu Hirasaka – Dimensão do submundo

Uma fenda se abriu no topo de um penhasco, e dela surgiu Henry, seguido por Delfos, Selkh, Shun, Seiya e Atena.

— Então aqui é... O Yomotsu?! — disse Seiya, espantando com o lugar.

— Sim. Aqui é a entrada para o antigo Mundo dos Mortos. — respondeu Henry. — Graças a vocês, não existe mais nada naquele buraco, além de um vasto limbo onde as almas ficam rodopiando em um descanso eterno.

— Essas pessoas que estão caminhando até lá...

Havia centenas de fileiras de almas caminhando lentamente em direção ao topo da colina. Com expressões de dor e tristeza.

— São aqueles que estão na beira da morte. — disse Henry. — A alma reflete o estado do corpo no momento. Quando pisarem naquele buraco e caírem, aí sim estarão definitivamente mortos, e toda a dor que estão sentindo agora ficará para trás. Milhares passam por aqui, dia após dia. Mas essa guerra intensificou a quantidade de mortos. Nunca vi tantos.

— Que estranho. — disse Atena, observando as fileiras.

— Algum problema, Atena? — perguntou Delfos.

— Os berserkers e os soldados de Ares são guerreiros imortais. Quando morrem, eles vão para o Limbo, onde ficam esperando o retorno do deus da guerra na próxima guerra santa. Então não é comum que eles venham para o Yomotsu. A alma deles já fizeram esse trajeto uma vez. O normal seria que caíssem direto no Limbo. Então... Por que tem soldados berserkers entre os mortos caminhando até a colina?

—  Eu... Eu não sei responder. — disse Henry.

— Apesar da estranheza... Temos que seguir em frente. — disse Delfos. — Aquela é a barreira que cobre o Yomotsu.

O Grande Mestre apontou para o céu escuro, onde havia uma barreira semi-translucida, que emitia um brilho dourado opaco repentinamente e sumia na escuridão.

— A barreira impede que invasores entrem nas doze casas através da passagem que liga o Yomotsu e a casa de Câncer. — disse Atena.

— Então apenas os usuários do Sekishiki podem atravessar essa passagem? — pergunto Shun.

— Qualquer pessoa pode atravessar, desde que o Cavaleiro de Câncer, Atena ou o Grande Mestre autorize. — respondeu Henry. — Apenas nós três temos autoridade sob a barreira. Nem mesmo os espectros e berserkers, que podem transitar entre o mundo dos vivos e dos mortos graças a Surplice e a Onyx, conseguem atravessar essa barreira sem permissão.

— Ares desconhece a existência dessa barreira. — disse Atena. — E acredito que nenhum dos seus subordinados possuem habilidade para vir até essa específica dimensão, apesar de poderem transitar entre as dimensões. Apenas o deus Oberon poderia ter acesso, mas ele não pisou aqui.

Henry ergueu o dedo para o céu e abriu uma passagem.

— Vamos em frente. Atena...

A deusa saltou em direção a fenda, seguida por Delfos, Seiya e Selkh.

Shun deu alguns passos e encarou a barreira. Estava receoso. Talvez a barreira o impedisse de entrar por causa do acordo com Hades. Mas ele precisava afastar aquele pensamento da sua memória.

— Algum problema, Andrômeda?

— Não. — e saltou, atravessando a fenda.

Henry também correu e saltou. Durante o percurso, ele observou a fileira de mortos caminhando para o topo da colina, e dentre os mortos, na metade do caminho que dá para a entrada do antigo mundo dos mortos, havia alguém que chamou a atenção do dourado. Seu corpo inteiro foi tomado por um calafrio e seu coração acelerou.

Henry arregalou os olhos.

— Eros?! Não! Não! Não pode ser! Eros!! — gritou.

O Yomotsu ficou para trás. Agora Henry estava pousando na casa de Câncer. A qual ele é o natural guardião.

— Está tudo bem, Henry? — perguntou Atena, notando a expressão de preocupação estampada no rosto do cavaleiro de ouro.

— Eros... A alma de Eros... — disse ele. — Eu o vi na fileira dos mortos. Isso significa que ele...

— Os cavaleiros vão ao Yomotsu com mais frequência do que você possa imaginar. — disse Selkh. — Vivemos na beira da morte diversas vezes.

— Você quer mesmo me ensinar como funciona o Yomotsu? — perguntou Henry.

— Estão sentindo esse cheiro? — perguntou Seiya. — Parece...

— Carne queimada e... sangue. — concluiu Henry, que teve sua atenção desviada. — Eu sinto... Cheiro de morte. Uma grande quantidade. 

Henry estalou os dedos, e milhares de almas surgiram pairando na casa, com gemidos e frases de lamentações. As almas não estavam apenas visíveis e audíveis para Henry. Atena e os outros também estavam vendo e ouvindo a dor de cada alma.

— Essas almas são...

Atena e os outros saíram de um dos corredores laterais da casa de câncer e se depararam com a fonte daquele forte cheiro. O salão principal estava ocupado por centenas de pilhas de cadáveres amontoados. Algumas pilhas alcançavam o teto da casa. Sangue escuro e denso escorria e se espalhava pelo piso, se estendendo até a saída da casa, escorrendo pela escadaria.

Todos os cadáveres estavam trajando peças de onyx, e eram jovens, com idade entre quatorze e dezoito anos.

— Esses são... Os soldados que derrotamos?! — questionou Seiya.

— Exatamente, Sagitário. — a resposta veio do fundo da casa, em uma área coberta pelas sombras internas da residência.

— Esses garotos foram mortos por vocês a poucos minutos atrás, lá nas montanhas do leste. — disse outra voz, também vindo das sombras.

Das trevas da casa surgiu dois homens. Ambos trajavam uma onyx negra e tinham aparência física semelhante: Pele negra, olhos vermelhos, barba escura e alinhada com os ângulos da mandíbula, cabelos negros, e estavam armados com longas espadas encurvadas.

— Proioxis e Palioxis. — disse Selkh, reconhecendo-os. —  Os gêmeos Espíritos da Guerra que personificam investida e retirada. Ataque e fuga.

— Ares não possui soldados tão novos em suas tropas. — disse Atena, sobre os adolescentes mortos.

— Houve um novo recrutamento, Atena. — disse Proioxis. — Jovens do mundo inteiro foram trazidos até o Santuário. Tirados de suas casas. Para prestar serviço militar ao Senhor da guerra.

— Sequestrados... Você quis dizer. — disse Seiya.

— Estamos em guerra, e o deus da guerra precisa de soldados. — disse Palioxis. — A única função que esses vermes tinham era de servir de munição para carregar o poder destrutivo de Ascalaphos. Sabíamos que seus cavaleiros iriam se empolgar para matar os soldados.

— Não passam de inúteis. — disse Proioxis. — E você verá mais desses insetos mortos até chegar onde o Senhor Ares está. Centenas de corpos foram espalhados nas doze casas para guiá-la até o nosso senhor.

— Presente do senhor Ares. — disse Palioxis.

— Atena... — disse Henry. — Os soldados mortos que vimos no Yomotsu...

— Sim. Eram eles. — disse a deusa. — Quantos foram recrutados? — perguntou.

— Milhões. — respondeu Proioxis.

— O suficiente para encharcar a montanha do santuário com sangue. —  disse Palioxis.

Angústia e tristeza apertou o coração de Atena. Seus olhos arderam, mas ela segurou firme em seu báculo para não esmorecer.

— E Ares enviou os mais fracos dos Espíritos da Guerra para me dar essa mensagem? — perguntou a deusa.

Os gêmeos franziram o cenho com o insulto.

— Não somos mensageiros. — disse Palioxis.

— Atena... Você, o Pégaso, Andrômeda e o Grande Mestre tem autorização para seguirem em frente, mas quanto aos outros dois... — Proioxis girou a espada encurvada e a segurou apontando para Selkh e Henry. — Eles não podem subir. O Senhor Ares foi bem claro quanto a isso.

Henry avançou repentinamente, se movendo na velocidade da luz, e surgiu diante de Proioxis, desferindo um soco no rosto do Espírito da Guerra.

— Não vem com essa conversa de que alguém não pode subir!! Eu já estou cansado dessa ladainha! — gritou.

— Um soco que não consegue fazer o meu rosto se mover um centímetro se quer, não me intimida. — o cosmo de Proioxis se elevou e se expandiu repelindo Henry. — Não passa de uma criança birrenta que acha que pode resolver tudo no grito.

Correntes negras se materializaram das sombras para prenderem Proioxis, mas o Espírito da Guerra se defendeu com sua espada, cortando as correntes e saltando para não ser pego por elas.

— Selkh... — chamou Atena. — Derrote Palioxis.

— Sim senhora.

Enquanto Selkh avançava contra o outro Espírito da Guerra, a luta de Henry com Proioxis seguia.

Em um dos seus saltos para fugir do alcance de Henry, o Espírito da Guerra acabou sendo pego por uma corrente que saiu de trás do pilar e se enroscou em sua perna. Proioxis a cortou, mas outras duas correntes se enroscaram em seus braços.  E antes que ele as partisse, outras correntes o alcançaram. Mas em questão de resistência eram inúteis perante o poder dele. Uma a uma foram rompidas pela força do Espírito, mas quanto mais ele as rompia, mais correntes se materializavam e se enroscavam nele.

Proioxis não conseguia se teletransportar, já que as correntes negras restringem esse tipo de fuga do oponente.

— Fim da linha. — disse Henry.

— Garoto, você vai precisar de um truque melhor se quiser dizer isso com seriedade.

Proioxis soltou a lâmina, que ao invés de cair, ficou levitando. Os olhos vermelhos do Espírito brilharam, e em resposta, a lâmina se moveu rapidamente, rompendo todas as correntes. Agora liberto, Proioxis avançou desarmado e alcançou Henry, desferindo um soco que foi bloqueado pelos braços cruzados do cavaleiro.

Henry foi arrastado para trás rasgando o piso da casa de câncer. Seu cosmo então se expandiu, para repelir Proioxis, mas para o Espírito da Guerra aquela expansão não passou de uma brisa. Proioxis continuou golpeando. Henry desviava de alguns golpes, e bloqueava outros, mas sua velocidade da luz não era suficiente para evitar todos os golpes.

Os Espíritos da Guerra estão em um patamar acima dos berserkers. E se comparados ao exército de Atena, os Espíritos são mais poderosos que um Cavaleiro de Ouro “comum”.

Henry aproveitou uma brecha de Proioxis e desferiu um soco, mas o reflexo do Espírito possibilitou que ele desviasse do punho dourado. Proioxis segurou Henry pelo braço e o girou, lançando-o contra a parede. Henry estendeu a mão para a sombra de um dos pilares, e dela surgiu uma corrente negra que se enroscou em seu punho, lhe dando estabilidade no ar.

Agora estável, Henry pousou na parede e correu por ela, saltando de um pilar para outro, indo em direção a Proioxis, que o observava. Henry estendeu a mão para a sombra de outro pilar, solidificando mais uma corrente que se prendeu em seu punho. Agora no meio do salão, Henry cruzou os braços com força diante do seu corpo e puxou as correntes, deslocando as colunas nas duas extremidades do salão afim de colidirem com Proioxis no centro.

Proioxis atacou, saindo do trajeto dos pilares que se chocaram atrás dele. Henry saltou para trás, fugindo do alcance do oponente, correu pela lateral da casa, saltou de um pilar para o outro novamente, girou atrás do Espírito e aplicou um chute. O golpe atingiu Proioxis, mas o guerreiro segurou Henry pela capa e o puxou contra o chão, surgindo em cima dele e aplicando um soco no rosto do cavaleiro de ouro. O elmo de câncer foi arrancado, e Henry afundou no chão, abrindo uma cratera.

Henry tentou revidar com um chute, para expulsar Proioxis de cima dele, mas o Espírito desviou tranquilamente, vendo a perna do cavaleiro de ouro passar rente ao seu rosto. Henry se levantou, e uma nova sequência de troca de socos e chutes foi iniciada.

Proioxis então mirou uma das pernas de Henry, na qual ele estava apoiando todo o peso do seu corpo para poder aplicar um chute, e girou, a fim de derrubar o cavaleiro de ouro, mas Henry foi ágil e saltou para trás. O Espírito da Guerra, porém, seguiu atacando. Henry bloqueava com os braços e desviava na medida do possível. Sem sucesso para fazer qualquer novo ataque.

Em uma das investidas, Proioxis concentrou cosmo em seu punho e disparou um soco envolvido por uma rajada de cosmo. Sem chance para desviar a tempo, Henry elevou o cosmo e bloqueou o golpe com seu braço esquerdo, provocando danos na peça da armadura, que rachou e perdeu alguns pedaços.

— Ele conseguiu danificar a minha armadura?! 

— Você é fraco.

— Não me subestime. — disse Henry, invocando chamas azuis em sua mão direita e indo pra cima de Proioxis.

A espada negra voou até a mão do Espírito da Guerra e ele atacou, cortando e dissipando o golpe flamejante disparado pelo cavaleiro de ouro. Proioxis segurou Henry pela cabeça e o puxou para baixo, indo de encontro ao seu joelho. Um forte golpe foi aplicado no rosto do cavaleiro de ouro, que sentiu uma forte ardência na região de nariz e testa. Sua visão ficou turva e um forte gosto de ferro preencheu sua boca momentos antes dele cuspir sangue.

Notando que seu oponente estava atordoado, Proioxis desferiu diversos socos no abdome e no rosto de Henry, finalizando com um golpe no queixo que arremessou o cavaleiro de ouro para o alto.

Shun deu um passo para intervir, mas Atena colocou o báculo diante do Cavaleiro de Andrômeda e balançou a cabeça, negando a atitude de interferir.

— A luta de um cavaleiro deve ser justa. — disse Atena. — Um contra um.

— Sua filosofia mata seus cavaleiros ao monte, Atena. — disse Proioxis.

— Não perca tempo com isso, irmão. — disse Palioxis, que enfrentava Selkh. — Acabe logo com isso.

— Concentre-se no seu oponente. — disse Selkh, surpreendendo o Espírito da Guerra.

Palioxis atacou com um golpe de espada, mas Selkh segurou a lâmina com dois dedos e pressionou, partindo-a ao meio. Surpreso por ter sua arma quebrada, Palioxis avançou para um ataque físico direto. Selkh também avançou, fazendo suas unhas crescerem.

Palioxis atacou, mas Selkh bloqueou os ataques, acertou alguns socos e aproveitou a brecha que o Espírito da Guerra deu, rasgando a garganta do oponente. Sangue escuro jorrou e Palioxis cambaleou para trás.

— Ganância de Ammit! — disparou Selkh.

A imagem de uma criatura apavorante surgiu atrás do Cavaleiro de Ouro. O demônio era uma quimera, possuindo a cabeça de um crocodilo, torso de um felino, e sua parte traseira era de um hipopótamo.

O golpe caiu sob Palioxis exercendo uma pressão violenta. Era como se aquela criatura estivesse sobre ele, esmagando seus membros. Suas pernas tremeram e cederam com o peso, e sua coluna foi obrigada a curvar o tronco para frente. Os músculos dos seus braços se contrariam forçando estabilidade.

Ele suportou o peso até onde pôde. Os seus ossos começaram a trincar e a se quebrar. O som e a dor era enlouquecedor, mas o Espírito da Guerra cerrou os dentes e se negou a gritar mostrando fraqueza.

— Ammit é um demônio que habita o submundo egípcio e devora o coração dos perversos. — disse Selkh. — O que você sente em seu corpo é o peso dos seus atos. Em pouco tempo seu coração irá parar de bater, pois Ammit irá se alimentar dele.

— Des-Desgraçado. — disse Palioxis, cuspindo sangue. —  Você não chegará vivo até o final dessas doze casas.

— Não importa quem Ares colocou em cada uma das doze casas. Seja lá quem for, ficará na mesma condição que você.

— Irmão?! — disse Proioxis.

— Você será o próximo?! — perguntou Selkh.

— Não se meta na luta, Escorpião. — disse Henry, se levantando. — Esse miserável é meu.

— Você mal consegue ficar em pé, garoto. Arrancarei a sua cabeça

 Henry se inclinou para trás, tirando seu corpo do alcance de Proioxis, e ao mesmo tempo livrando seu pescoço do trajeto da lâmina negra que estava prestes a cortar a sua garganta. E em seguida saltou, quando Proioxis mirou suas pernas.

No ar, o cavaleiro de câncer girou em seu próprio eixo e desceu com um chute duplo tomado por chamas azuis, atingindo o peito do Espírito da Guerra.

Proioxis foi apenas arrastado por alguns metros, e então parou.

— Já conheci cavaleiros de ouro mais fortes que... — o Espírito parou e se inclinou vomitando sangue. — Mas o que...

Henry atacou, aplicando um chute, mas Proioxis desviou para trás. O dourado girou mais uma vez e atacou. O Espírito da Guerra passou a espada para a mão esquerda e bloqueou o chute com o braço direito, e em seguida desceu a espada para cortar a perna de Henry.

Faltando poucos centímetros para decepar o membro, uma corrente negra segurou a espada e a removeu das mãos de Proioxis.

— Hehe! Não dá para lutar com uma perna só, né?! — disse Henry.

Henry empurrou Proioxis para trás, que saiu rasgando o solo. O Espírito da Guerra estendeu a mão para frente e disparou dezenas de rajadas de cosmos. Henry cruzou os braços para suportar os golpes, mas acabou sendo atingindo em cheio e teve sua defesa rompida.

Correntes voltaram a ranger. Dessa vez foram as correntes divinas de Andrômeda. Mas as correntes tiveram seu percurso interrompido por Henry, que as segurou com a mão.

— Solte a corrente, Henry. Ou ela arrancará o seu braço. — alertou Shun.

— Ouça o conselho de Atena. Não interfira. — disse o cavaleiro de Câncer, soltando a corrente.

Henry ergueu o braço e a ponta do seu dedo brilhou. As milhares de almas que estavam na casa de câncer voltaram a aparecer.

— Se eu derrotei Deimos com essa técnica... Qualquer merdinha menor que ele vai cair também.

— Esses são...

— Pois é, cara. Os moleques que você disse servirem apenas como “munição”. Eles voltaram. Está na hora do acerto de contas. Colheita do Yomotsu!

As almas se uniram em um turbilhão de cosmo e espírito que avançou contra Proioxis. Os milhares de jovens mortos, expressando fúria e lamento.

O Espírito da Guerra puxou a espada para a sua mão e tentou romper o turbilhão, mas foi inútil. A arma foi quebrada em pedaços. Proioxis foi engolido pelo golpe e arremessado para o alto, sendo pressionado no centro enquanto tinha sua carne devorada pelos espíritos furiosos. O Espírito da Guerra gritava, enquanto seu sangue tingia o turbilhão de vermelho.

Henry então estendeu a mão para o turbilhão, controlando a grande concentração de poder, e separou a alma do Espírito da Guerra dos demais espíritos, afastando os soldados mortos.

O que sobrou do corpo vazio de Proioxis caiu no chão da casa de câncer. Estava em um estado irreconhecível.

— Eu poderia te prender dentro da joia também... — disse Henry, para Proioxis. —  Mas preciso garantir que tenha espaço para um desgraçado que eu vou selar. Então só me resta...  Explosão Demoníaca.

Chamas azuis foram conjuradas e disparadas em direção ao centro do turbilhão, engolindo a alma de Proioxis e fazendo o Espírito da guerra gritar enquanto sua alma era queimada até não restar qualquer resquício.

— Quanto a vocês rapazes... — disse Henry, se virando para as almas dos soldados. — Obrigado pela ajuda. Sério mesmo. Vocês foram foda. E merecem descansar. — o dourado ergueu o braço mais uma vez. — Vão para o Yomotsu e durmam eternamente. Daqui pra frente eu dou conta do recado.

O portal do Yomotsu se abriu e sugou as almas para dentro, fechando em seguida. Henry cedeu de joelhos.

— Henry... — chamou Atena.

— Podem ir. — disse ele. 

— O-O que? — perguntou Shun.

— Sigam em frente.

— Pretende descer as doze casas e ir até Eros? — perguntou Shun.

— Isso não faz diferença para você ou Atena. — O dourado estava encarando a entrada da Casa de Câncer. Ele sentia um aperto no peito. Queria sair dali e ir até Eros. Temia pela vida do amigo. — Minha função aqui era abrir a passagem do Yomotsu até a Casa de Câncer, não era?! Então. Está feito. Sigam em frente.

— Você está errado. — disse Atena. — Delfos poderia ter feito isso. Ele também é usuário do Sekishiki. Eu trouxe você comigo porque Phobos está no topo das doze casas, protegendo Ares, e você tem que selá-lo para que você não quebre o juramento que fez.

Henry ficou surpreso com a intenção de Atena. Ele achava que a deusa estava sendo egoísta em levá-lo com ela.

— Eu sei o que você está sentido. — disse Seiya, se aproximando. — Na subida das doze casas, quando um de nós ficava para trás e sentíamos o cosmo de um companheiro enfraquecendo, a gente parava no meio do caminho com vontade de voltar e ajudar. Isso acontecia o tempo todo. Mas precisamos ter fé em nossos amigos e sempre lembrar que lutamos dando nossas vidas pelas milhares de pessoas que não podem se defender. Mas... Se você quiser ir até ele, nós não iremos lhe impedir. Vamos compreender.

Seiya deu as costas e se juntou a Atena e os outros, que esperavam por ele. Ele olhou para Henry por cima do ombro, mas o cavaleiro de câncer continuava parado.

— Vamos. — disse Seiya, para Atena e os outros.

—...—


Casa de Áries – Santuário

Parada na entrada da primeira casa, Alecto estava acompanhada pelos berserkers Tier e Brontë.

— Sinto alguns cosmos se aproximando no horizonte. — disse Tier, olhando para o céu.

— Cavaleiros e ex-cavaleiros continuam a se dirigir ao Santuário respondendo ao chamado da deusa. — disse Brontë

— Sim. Posso sentir. — reafirmou. — Mas há um cosmo diferente...

— E parece que os cavaleiros sobreviveram ao ataque de Ascalaphos. — disse Alecto, interrompendo os rapazes. — Sinto um grupo numeroso avançando. Ao mesmo tempo em que o cosmo de Ascalaphos está diminuindo, juntamente com o cosmo de algum cavaleiro que ficou para trás.

— Estão morrendo?! — perguntou Tier

— Mas não é apenas isso. — a berserker virou-se e fitou a casa de Leão. — Posso sentir o cosmo de Atena neste momento cruzando a quinta casa, se movendo para a casa de Virgem.

— Atena... Na quinta casa?! — perguntou Brontë, surpreso.

—  Sim. E ela não está sozinha. Há um grupo de cavaleiros com ela. Além disso... Os cosmos de Proioxis e Palioxis se extinguiram na casa de Câncer.

— Como ela poderia chegar na quarta casa sem passar pelas casas anteriores? — questionou Brontë — Devido o selo do senhor Ares, ninguém além de nós, berserkers, pode se teletransportar ou distorcer dimensões nessa região. Nem mesmo Atena.

Alecto sorriu.

— Esquecemos do Yomotsu. — disse ela. — Os cavaleiros de câncer podem ligar a entrada do mundo dos mortos com a quarta casa. Fomos negligentes por não notar essa brecha. Foi uma ótima jogada, Atena. — sussurrou a berserker, virando-se para a casa de Leão e direcionando suas palavras até a deusa. — Veremos o quanto você realmente é inteligente daqui pra frente, deusa da guerra. Esse seu desvio trará severas consequências para o seu exército. — o cosmo da pequena berserker se elevou. — Senhor Ares... — disse telepaticamente. — Mudança de planos!

—...—


Topo do Santuário, antigo templo de Atena – Grécia

Ares estava sentado em um trono diante da sua estátua. Havia uma espada vermelha encostada na lateral direita do trono, e um escudo vermelho e dourado na lateral esquerda.

O vento frio agitava seus cabelos castanhos esbranquiçados enquanto seus olhos vermelhos encaravam a lua, como se pudesse ver Ártemis lhe observando.

— Senhor Ares... — a voz de Alecto soou na mente do deus, falando telepaticamente.

A berserker relatou ao deus o que estava havendo nas doze casas, o trajeto que Atena estava tomando, e o movimento dos cavaleiros que haviam sobrevivido a armadilha de Ascalaphos.

— Compreendo. — disse o Ares.

— Você disse alguma coisa, Ares? — perguntou Dionísio, que subia as escadas em direção ao deus, levando uma taça de vinho na mão.

— Atena acha que pode me enganar, mas dessa vez eu estou dois passos à frente dela. — o deus se levantou e elevou seu cosmo, acendendo o brilho vermelho dos seus olhos. — Através das doze casas eu pretendia matar cada cavaleiro que está acompanhando Atena, para que ela chegasse aqui sozinha para ser finalmente derrotada, mas ela arrumou uma forma de burlar o caminho. Então eu mesmo matarei o pequeno grupo que a segue quando chegarem aqui.

— E os berserkers e Espíritos da Guerra que estão nos templos do zodíaco? — perguntou o deus do vinho.

— Olhe você mesmo para as doze casas. — disse Ares.

—...—


Saída da Casa de Leão, Santuário – Grécia

As escadas estavam como os Espírito gêmeos haviam falado. Repleta de corpos e sangue escorrendo. O cheiro de ferro que vinha do sangue era forte a ponto de arder as narinas. Atena parou repentinamente olhando para trás, ao receber a mensagem de Alecto.

— Atena?! — disse Delfos, curioso.

— Aquela berserker... Alecto. — disse Atena. — Ela estava me aguardando na Casa de Áries.

— Como pensei. Há guardiões nas casas, mas nem todas estão sendo protegidas. — disse Seiya. — Leão estava vazia e parece que Virgem, que está logo mais na nossa frente, também está.

— É apenas disso que precisamos para chegar em Ares sem maiores interferências. — disse Atena, voltando-se para a casa de virgem que estava logo mais a frente depois de alguns lances de escadas.

Selkh estreitou os olhos.

— Mas parece que existe guardiões nas casas posteriores. Vejam!

Cosmos negros e vermelho sangue se ergueram nas casas de Libra, Sagitário, Capricórnio e Aquário, e subiram ao céu como estrelas cadentes, cruzando do Santuário em uma velocidade e potência espantosa.

— Estão vindo em nossa direção?! Não! Estão indo para a entrada das doze casas! — disse Seiya. — Será que o grupo de Kiki está tentando subir?

— Não. Kiki e os outros ainda não chegaram nas doze casas, mas... — Delfos fez uma pausa, observando os berserkers cruzando o céu noturno. — Claramente são reforços. Mas o que Ares pretende? Está deixando as doze casas desprotegidas.

— Não sei o que ele espera com isso, mas ainda que as doze casas estejam completamente vazias, eu ainda não tenho a intenção de atravessá-las. E também... — Atena bateu com seu báculo no chão. A cascata de sangue que escorria pelas escadas se afastou, abrindo caminho para Atena. — Não irei pisar no sangue de inocentes como ele espera que eu faça.

—...—


Caminho montanhoso da região Leste – Santuário, Grécia

Liderados por Kiki, os cavaleiros saíram da região leste do Santuário, que é cercada por montanhas, e chegaram ao espaço aberto central do Santuário. Onde se encontra as edificações que servem de moradia para os cavaleiros de bronze, prata e soldados que residem no Santuário.

Alguns metros à frente, os berserkers esperavam por eles.

— Seguirei em frente, em direção ao Coliseu. — avisou Tithonos, o antigo cavaleiro de câncer, ao grupo. — Como Atena planejou. E lembrem-se, vocês devem levar os corpos dos berserkers para o Coliseu. 

— Sim senhor! — disse Kiki. — Alkes, Tourmaline, acompanhem o senhor Tithonos. Os demais, me sigam!

Tithonos se afastou do grupo, indo pela lateral.

No alto de um dos edifícios gregos, observando atentamente o pequeno grupo se distanciando, havia um homem de pele pálida e cabelos negro com fios prateados. Ele trajava uma onyx negra e uma capa preta de pele de animal presa em seus ombros. 

— Parece que alguns ratos estão se afastando do grupo. — disse Lycaon, o berserker de Licantropo. Da sombra do berserker surgiu dezenas de olhos vermelhos. — Anatole... Seguirei aquele pequeno grupo. — disse colocando seu elmo. Uma coroa negra com uma pedra da lua no centro.  O cosmo daquele velho me é familiar.

Lycaon então saltou e seguiu o pequeno grupo de Tithonos, se espreitando na escuridão da noite. De longe Shina avistou o berserker se movendo.

— É ele. — disse ela, se afastando do grupo.

— Shina, espere! — gritou Marin, que seguiu a amiga.

Mas a amazona não deu ouvidos. Shina tinha uma dívida para cobrar de Lycaon. Ele havia matado Retsu de Triângulo, e ela queria vingança.

Mesmo vendo as duas amazonas se distanciando, Kiki nada podia fazer. Os berserkers estavam esperando por ele e os outros cavaleiros. E entre eles estava Anatole de Quimera.

O berserker estava com a mesma aparência de quando enfrentou Shalom pela ultima vez nos arredores do Castelo de Hades na Alemanha. Após ter seu espírito de luta da serpente derrotado pelo Cavaleiro de Virgem, Anatole agora incorporava o segundo espírito de luta da sua Onyx de Quimera. O bode alado. Seus olhos estavam completamente negros e sua pele estava cinza. Entre seus cabelos azul acinzentados havia um par de chifres negros contorcidos e em suas costas possuía um par de asas negras de dragão.

As asas se abriram e ele então saltou e pousou no meio do caminho, e rapidamente os demais berserkers e soldados se aglomeraram atrás dele. Do outro lado, o grupo liderado por Kiki seguia avançando em direção aos berserkers. Anatole então deu um fino sorriso, e avançou, seguido pelos demais.

Não houve diálogo. Não houve pausa para provocações. Não houve estratégia. Não houve planos. Era a hora do desfecho final. As duas massas correram um contra o outro, elevando seus cosmos. Ao som de gritos de motivação, de fúria e juramento aos seus deuses, as tropas fecharam seus punhos e se chocaram, atacando uns aos outros deliberadamente.

— Lycaon!! — gritou Shina.

O cosmo dela se acendeu, e a amazona avançou em direção a ele. Shina saltou, e raios violetas energizaram em seu braço.

— Vingarei a morte de Retsu! Garras Trovão!

A descarga elétrica foi disparada a fim de perfurar o berserker, mas o rei licantropo não se deu ao trabalho de bloquear o ataque. Lycaon recebeu o golpe em cheio, controlou a descarga com sua força de vontade, e a disparou contra Shina, que recebeu a descarga e a canalizou, redirecionando para o alto e relampeando no céu. 

Nesse período de tempo, Lycaon avançou contra a amazona para aproveitar a brecha que ela havia dado. As garras afiadas miraram o pescoço de Shina, mas Kiki surgiu diante da amazona através de teletransporte e interviu.

— Muralha de Cristal!!

A parede dourada e cristalina se ergueu diante do mestre de Jamiel e interceptou Lycaon. O berserker porém não se intimidou e atingiu a muralha. Ele cravou suas garras na muralha e a rasgou.

— Não deveria chamar isso de muralha. — disse Lycaon. — É patético ser esse o nível da defesa de um cavaleiro de ouro.

— A Muralha de Cristal não é apenas uma técnica de defesa. — disse Kiki, elevando seu cosmo.

A muralha reluziu e explodiu em pedaços, repelindo Lycaon e o lançando para trás rasgando o solo. 

O cavaleiro de Prata de Cérbero, Dore, surgiu e disparou seus globos de ferro, ao mesmo tempo em que Marin também apareceu disparando seu golpe “Meteoro”.

Lycaon segurou as correntes e puxou Dore, usando-o como escudo para se proteger do golpe de Marin, e em seguida golpeou o cavaleiro de prata no peito, arremessando-o contra um pilar. Ryuho então se juntou ao grupo. O cavaleiro de bronze se defendeu das garras do berserker usando seu escudo, que acabou sendo danificado, e aproveitou a aproximação para desferir um chute.

Lycaon saltou para se esquivar, mas ao mesmo tempo Kiki avançou com a Revolução Estelar, Shina com as Garras Trovão e Ryuho como Cólera do Dragão.

Lycaon bloqueou o golpe de Ryuho, desviou da descarga elétrica de Shina mais uma vez, e disparou uma rajada cósmica que colidiu com a chuva de estrelas lançadas por Kiki.

— Vocês cavaleiros de bronze e de prata não passam de moscas zumbindo nos meus ouvidos. — disse Lycaon, movendo seu braço livre e lançando uma onda de cosmo que repeliu Shina e os outros, restando apenas ele e Kiki em uma colisão de técnicas. — Venha, Áries!

Próximo a eles lutavam Kastor e Clown de Pennywise. Clown aplicou um chute mirando as costelas de Kastor, mas o cavaleiro de ouro bloqueou o ataque com o braço esquerdo e girou para aplicar um chute no rosto do berserker. Clown foi atingindo e arremessado para o lado. No ar, ele girou e se equilibrou, pousando e partindo para o ataque novamente.

Os olhos do elmo de gêmeos brilharam e Kastor abriu os braços:

— Outra dimensão!! 

Kastor tentou engolir Clown em sua Outra Dimensão, mas o berserker foi furtivo e escapou pelas sombras.

— Golpes dimensionais são inúteis contra mim, Gêmeos. — disse o berserker.

Com receio de abrir a Hiperdimensão e acabar sugando os companheiros mais próximos, Kastor se conteve. Clown apoiou suas mãos no chão e girou para aplicar um chute em Gêmeos, mas Kastor desviou, segurou a perna do berserker, e o arremessou.

Clown rodopiou, se apoiou em um pilar, e partiu para o ataque mais uma vez. Dessa Kastor abriu os braços para lançar a Explosão Galáctica, mas Ápis de Touro surgiu no caminho para a surpresa de ambos, e cruzou os braços, emitindo um forte brilho dourado em seus olhos.

— Grande Chifre!! 

A rajada de cosmo na forma de um furioso touro dourado foi disparado e atingiu Clown em cheio.

O berserker tentou conter a técnica com os braços, mas a potência do Grande Chifre estava fazendo seus braços cederem. Sem conseguir suportar a técnica, Clown foi envolvido pelo golpe e arremessado até colidir com uma sequência de pilares. Uma parte do edifício desmoronou.

 O berserker porem se ergueu rapidamente, levitando as colunas caídas e arremessando contra Ápis e Kastor. Durante o trajeto os pilares foram destruídos por Asterion, que em seguida projetou a sua imagem em milhares de duplicatas por toda a área, prendendo Clown no centro, e uniu a sua técnica Um milhão de fantasmas com sua técnica ofensiva Galáxia Girassol.

Asterion intensificou e concentrou o seu cosmo no centro de suas mãos, e em seguida feixes de luz foram disparadas pelas suas réplicas. Os feixes de luz giraram ao redor do seu adversário, e uma gigantesca galáxia dourada foi formada, se expandiu e rodopiou, prendendo Clown em um turbilhão de cosmo que se ergueu em uma coluna, causando uma poderosa explosão.

Mas para a surpresa de todos, Clown permaneceu em pé, no centro da explosão, gargalhando.

— Uma técnica poderosa demais para ser usada por um cavaleiro de prata... — reconheceu Clown. — Mas fraco demais para vencer um berserker como eu. Guizos de fobia!!

Os guizos pendurados em suas ombreira e elmo vibraram, emitindo um som ensurdecedor. Tampar os ouvidos foi um esforço inútil. O som alcançava os tímpanos e afetava as ondas cerebrais, comprometendo os sentidos e o sistema nervoso central. Até mesmo Kastor estava sofrendo com o efeito.

— Arrancarei as cabeças dos Cavaleiros de Touro e de Gêmeos, e darei ao Senhor Ares! — gritou Clown, avançando para o ataque.

Clown estava a poucos metros de Kastor e Ápis quando a imagem de um anjo dourado feito de cosmo surgiu diante do berserker e estendeu a mão em direção a ele.

— Ingnis Iudicio. — proferiu o anjo, mas a voz que saiu da boca do ser angelical pertencia a Shalom.

A noite se tornou dia por um breve momento quando uma coluna de fogo invocada por Shalom de Virgem desceu diante de Clown, impedindo o avanço do berserker. Clown deu um largo salto para trás quando sentiu o calor das labaredas, que pareciam ser atraídas pela presença perversa do berserker.

Vendo que seus companheiros estavam a salvo do efeito dos guizos e das garras do oponente, Shalom manipulou as chamas contra um grupo de berserkers que corriam em sua direção. Anatole de Quimera, que estava entre os berserkers, parou no meio do caminho, deixando o grupo seguir em frente.

As chamas engoliram os berserkers, que gritaram em agonia enquanto eram consumidos dentro dos seus trajes, mas elas não cessaram e avançaram em direção a Anatole.

Sem demonstrar preocupação, Anatole elevou o cosmo, que crepitou em chamas azuis, e estendeu a mão disparando uma rajada de cosmo flamejante, colidindo com as chamas sagradas de Shalom.

— Eu disse que na próxima vez que nos encontrássemos, teríamos uma revanche e que você morrerá. — disse o berserker.

— O único que vai morrer aqui, será você, Anatole!! — gritou Alec, o cavaleiro de prata de Lagarto.

— Alec! Não! — gritou Shalom

— Tempestade das Trevas!! — disparou o cavaleiro de prata.

Mas Anatole não se deu ao trabalho de se defender. O berserker elevou o cosmo e anulou o golpe de Alec, enquanto mantinha a colisão de chamas com Shalom.

— Não tenho tempo para vinganças baratas, garoto. 

— Alec, saia daqui. — disse Shalom, temendo pela vida do cavaleiro de prata.

— Não! Esse desgraçado matou a Pavlin de forma covarde! Eu vou mata-lo!! — gritou Alec, avançando para um ataque direto. 

— Idiota. — disse o berserker.

Anatole elevou o cosmo e intensificou as suas chamas, anulando as chamas sagradas de Shalom e empurrando o Cavaleiro de Virgem para trás, que ficou surpreso com o poder do berserker.

O berserker de Quimera então virou-se para Alec, que corria em sua direção de punho cerrado. Anatole desviou do punho de Alec e segurou o cavaleiro de prata pelo braço:

— Impacto Imperial!

Anatole girou Alec contra o chão junto com a força esmagadora do seu golpe, abrindo uma imensa cratera.

— A sua namorada lutou melhor do que você. — disse o berserker. — Fique no chão. Posso matar depois. Primeiro tenho que derrotar o Cavaleiro de Ouro de Virgem.

— Ele está diferente. — pensou Shalom, observando o berseker. — A segunda personalidade dele é totalmente diferente da primeira. Ele agora está mais sério e violento. E mais poderoso também. 

— Está pronto, Virgem?! — perguntou o berserker.

Alguns metros a frente, Jake e os demais cavaleiros seguiam tentando avançar pelo Santuário, enfrentando os outros berserkers e os cavaleiros de prata e de bronze que estavam sendo controlados pelo deus Anteros.

— Eu não estou vendo ela. — disse Jake para seu mestre, Chertan de Girafa. — A berserker... — se referindo a Alecto.

— Concentre-se nos que estão diante de você. — disse Chertan, aplicando uma chave de braço no pescoço de um berserker mediano até quebrar o pescoço do oponente.

— Está perdendo seu tempo procurando a senhorita Alecto entre nós. — disse um berserker que corria em direção a Jake para ataca-lo. — Mas se quer tanto vê-la, posso leva-lo agonizando até ela na Casa de Áries.

— Galope do Unicórnio!! — Jabu atacou o berserker aplicando um chute no peito do oponente e o arremessou contra a parede de um templo. — Agora você já sabe onde ela está. — disse Jabu. — Você pretende ir até lá?!

— Sim.

— Ótimo. Eu também estou indo para as doze casas. — disse Jabu. — Não vou ficar aqui embaixo novamente e deixar Seiya e Shun resolverem as coisas sozinhos com a senhorita Atena. 

 — Se vão até lá... — disse Chertan elevando o cosmo e concentrando-o em seu punho. — Pelo menos matem os berserkers que aparecerem no caminho. Lança de Pardolis! — Chertan disparou um soco envolto em um cosmo branco que cruzou o campo de batalha como se fosse uma lança prateada cortando e perfurando tudo aquilo que estivesse em seu caminho.

— Eu vou na frente! — disse Jake.

Os cavaleiros de ouro tentavam se ocupar com os berserkers mais poderosos, a fim de evitar uma baixa no exército de Atena caso algum cavaleiro de prata ou de bronze fossem pegos pela elite do exército de Ares.

O combate contra os berserkers se tornava difícil devido o nível de proteção dos seus trajes. Causar um dano físico aos berserkers era um obstáculo até mesmo para os cavaleiros de ouro. Os cavaleiros portadores de técnicas ou armas com efeitos especiais tinham mais vantagens, como Marcel de Perseu, que estava utilizando o escudo da Medusa como recurso de vantagem, conseguindo petrificar alguns berserkers.

Mas o que ninguém esperava era que Ares iria enviar reforços.

Do alto das doze casas, saindo do antigo templo de Atena e das casas do zodíaco, dezenas de estrelas fantasmagóricas voaram em direção ao centro da batalha.

— Tomem cuidado! —  gritou Kiki, que ainda lutava com Lycaon, em tom de alerta. — Há mais berserkers se aproximando!!

Uma das estrelas caiu a poucos metros do ariano, e da cratera se ergueu um homem alto, de pele acinzentada quase negra, olhos vermelhos, cabelos curtos e expressão facial dura.

— Berserkers são os menores dos seus problemas. — disse Kydoimos.

Com a chegada do Espírito da Guerra, Lycaon se aproveitou da distração e deu meia volta, avançando pelo caminho percorrido por Tithonos, Tourmaline e Alkes de Taça. Shina correu atrás do berserker. Kiki tentou impedi-la, mas Kydoimos surgiu diante do Mestre de Jamiel.

—  Afaste-se, Senhor Kiki! — disse Miguel, o Cavaleiro de prata de Cães de Caça. — Esse homem diante do senhor é Kydoimos, o Espírito da Guerra que personifica a batalha.

— Esse cosmo... Então esse é o poder de um Espírito da Guerra?! — pensou Kiki.

— Você disse, Kydoimos? — perguntou Kastor. — Lembro de Polemos ter falado sobre ele. Ele havia assumido o posto de líder dos Espíritos da Guerra temporariamente. Ocupando o lugar de Makhai, o atual líder do grupo. Para alguns, ele é o mais poderoso. Para outros, seu poder se iguala ao de Makhai.

— Isso significa que ele não é um oponente para se enfrentar sozinho. — disse Johan de Corvo, cercando Kydoimos.

O Espírito da Guerra desembainhou sua espada e elevou o seu cosmo.

— Tanto faz quantos de vocês eu terei que enfrentar. Venham! Matarei todos!

Kydoimos avançou. O Espírito da Guerra girou e desceu com um golpe de espada. Kiki desviou para o lado e projetou uma lança de cristal materializada com o cosmo.

— Esse lança não vai lhe servir. — disse Kydoimos, golpeando consecutivas vezes, até quebrar a arma. — Morra!

 — Revolução Estelar!!

O golpe foi disparado, mas teve seu percurso paralisado.

— O que?!

— Eu assumo o combate com o mestre de Jamiel, Senhor Kydoimos. — disse um berserker se aproximando, com a mão estendida para a técnica paralisada de Kiki. — Foi um pedido explicito do Senhor da Ares.

O berserker tinha cabelos dourados, olhos roxos mergulhado na esclera negra, pele parda e trajava uma onyx negra com detalhes dourados. O berserker estalou os dedos e o golpe foi desfeito, deixando Kiki surpreso.

— Serenus de Baku. — disse o Espírito da Guerra, reconhecendo o berserker.

— Um usuário de poder psíquico. — pensou Kiki. — Ele é bastante poderoso.

— Exatamente. — respondeu Serenus, mentalmente, após ler o pensamento de Kiki. — Eu estava aguardando você nas doze casas, mas ao notar que você não estava acompanhando Atena, o Senhor Ares ordenou que eu fosse até você. Sua morte é requisitada, reparador de armaduras. — Serenus olhou ao redor. — Está bastante movimentado aqui. Vamos para um local mais calmo.

Os olhos do berserker emitiram um brilho roxo obscuro, e de sua testa ele emitiu ondas circulares que distorceu o espaço abaixo deles.

— Ibra K’dibra. — sussurrou o berserker.

O espaço distorcido se ampliou e engoliu Serenus e Kiki, fechando em seguida.

— Senhor Kiki! — gritou Johan.

— Considerem ele como morto. — disse Kydoimos, voltando a atacar.

Kastor expandiu seu cosmo e afastou Johan e Miguel, para evitar que ambos fossem mortos pelo Espírito da Guerra. Sem uma arma na mão, restava para Kastor apenas desviar das investidas de Kydoimos e procurar uma brecha para acertá-lo.

Com uma excelente desenvoltura no manejo de espada, Kydoimos seguia tentando cortar o cavaleiro de gêmeos ao meio. Em uma das esquivas do cavaleiro de ouro, Kydoimos se aproveitou e saltou, aplicando um chute no peito de Kastor, fazendo-o cambalear.

Nesse momento a espada voltou a descer. Kastor tentou desviar, mas a lâmina o acertou de raspão no braço, danificando sua armadura. Kastor girou e aplicou um soco, que foi desviado, e então contra-atacou com um segundo soco. Kydoimos se lançou para trás e aplicou um chute mirando o queixo de Kastor, mas o cavaleiro de gêmeos se esquivou.

Notando que apenas se esquivar não seria suficiente, o cavaleiro de gêmeos passou a usar a extensão dos seus braços para golpear o braço de Kydoimos e assim impedir o completo trajeto da espada.

Mas Kydoimos era extremamente ágil. E sua força provocava fortes impactos, estendendo a força dos seus ataques por todo o membro do oponente, fazendo músculos e ossos absorverem o dano.

Kydoimos então aplicou uma cotovelada no queixo de Kastor, lançando o geminiano para o alto. No ar, Kastor elevou o cosmo e abriu os braços. Uma grandiosa e imponente galáxia surgiu no céu, tomando toda a área. Era como se o sistema solar estivesse se reunido no céu do Santuário, mas com seus planetas em pico de destruição.

—  Explosão Galáctica!!

Os braços de Kastor se cruzaram diante do seu corpo e os planetas avançaram em colisão contra Kydoimos.

O Espírito da Guerra estendeu a mão para o alto e elevou o cosmo. O golpe de gêmeos caiu com um poder destrutivo colossal. Uma cúpula de cosmo se ergueu e se expandiu, repelindo as pessoas mais próximas e consumindo tudo ao redor, pulverizando templos e rochas, seguida por uma coluna de energia que subiu até o céu. As nuvens foram dissipadas, e o céu ficou limpo.

Quando a poeira abaixou, lá estava Kydoimos, no centro de uma cratera, protegido por uma barreira de cosmo que ele havia erguido usando sua espada.

— Incrível, Gêmeos. — disse Kydoimos. A espada trincou e se despedaçou, anulando também a barreira.  Mas não é o bastante para me atingir. Mesmo que tenha derrotado Polemos e seja um semi-deus, seu poder não pode fazer nada além de me impressionar e quebrar uma espada.

Seu cosmo rodopiou na palma da mão, se concentrando em uma pequena esfera. Kydoimos apontou para Kastor que flutuava no ar, e disparou uma poderosa rajada de cosmo.

Kastor elevou o cosmo e atacou, disparando mais uma vez sua Explosão Galáctica. A colisão provocou uma devastadora onda de choque que tremeu toda a região e se propagou, revirando o solo e arremessando tudo pata o alto.

Até mesmo Kastor e Kydoimos estavam sendo arrastados para trás. O Espírito da Guerra estava prestes a se lançar contra o Cavaleiro de Gêmeos quando uma cosmo energia quente e poderoso caiu sob o Santuário seguido pelo grito fino e estridente de uma ave flamejante que queimava o céu noturno em direção ao Santuário.

Todos sentiram a potência daquele cosmo. A caminho das doze casas, Jake, Jabu e Chertan pararam e viraram perplexos ao sentir aquele cosmo que ardia no céu.

— Esse cosmo... — disse Jabu. — Ele chegou!

— Você conhece o dono desse cosmo? — perguntou Jake.

— Poucos não conhecem. — disse Chertan. — Esse homem... É uma verdadeira lenda desde quando conquistou a armadura. Guilty ficaria satisfeito em ver o homem que aquele garoto se torno.

Nas doze casas, na casa de Áries, Alecto observava com atenção, e com um fino sorriso no rosto, as gigantescas asas de fogo que se abriram ferozmente acima do campo de batalha.

No interior da casa de Virgem, uma pesada porta dourada se abria pesadamente diante Atena e os outros, dando acesso ao Jardim das Arvores Sala Gêmeas. Antes de cruzarem a porta, eles puderam sentir aquele cosmo poderoso que havia chegado no Santuário, e reconheceram de imediato a quem pertencia aquele cosmo tão intenso. Por um instante, o vento frio daquela noite escura se tornou quente como as brisas do verão.

—  Irmão! —  disse Shun, surpreso e animado ao mesmo tempo.

— Ikki?! — disse Seiya.

Atena deu um fino sorriso satisfeita. 

— Ikki... Você finalmente chegou. — disse a deusa.

— Achei que o Fênix estivesse morto depois de lutar contra Ares. — disse Selkh.

— Conhece a história né... — a voz veio de trás deles. Todos se viraram surpresos. — A Fênix volta das cinzas e tal.

— Henry!! — disse Atena. 

No topo das doze casas, Ares se ergueu do trono ao avistar as labaredas que iluminavam o horizonte do Santuário como se fosse o nascer de um sol vermelho e ardente.

Aquelas chamas furiosas, alimentadas pelo cosmo daquele homem que semanas atrás o enfrentou com afinco no Coliseu, era como se estivessem ateando fogo no Santuário. E somente aquele homem seria capaz de tamanho estrago.

—  Ele voltou. —  disse o deus, surpreso.

Phobos, Dionísio e Anteros acompanhavam o clarão igualmente admirados e atônitos.

No campo de batalha, a ave flamejante pairou acima. As asas se abriram com esplendor em meio a mais um grito estridente emanado por aquele cosmo intimidador. As caudas da Fênix também se agitaram, e daquela figura majestosa surgiu cincos cosmos ardentes que desceram em direção ao centro do campo de batalha.

O som da melodia de Lino de Lira pairou no ar quando ele se revelou em meio as chamas, seguido pela amazona de bronze de Raposa, Kitsune, o cavaleiro de bronze de Fornalha, Nicolas, e o cavaleiro de prata de Eridanus, Acher. O turbilhão de fogo girou com mais intensidade e subiu ao céu, se dissipando e revelando o dono de todo aquele imenso cosmo:

— Ikki de Fênix?! — disse Kydoimos, surpreso. — Você deveria estar morto.

Ikki estava trajando a nova armadura de Fênix, que preservava seu estilo clássico, mas apresentava traços de um traje divino. O perfeito equilíbrio estampado na armadura de um homem que pode ir do nível humano para o nível de um deus em um bater de asas.

— Eu não sou do tipo de homem que morre tão fácil. — respondeu Ikki, caminhando. Alguns olhavam para ele com admiração, outros com temor. Ikki olhou em volta. — Onde está Kiki?

— Kiki foi levado por um berserker para lutar em outro local. — respondeu Kastor.

Ikki olhou para o Cavaleiro de Gêmeos por cima do ombro e em seguida olhou para os demais.

— E Atena, onde ela está?

— Nas doze casas, senhor. —  respondeu Dore de Cérbero, se aproximando. Ikki olhou para o cavaleiro de prata e o reconheceu. Dore havia sido libertado do controle de Anteros graças a Ikki. — Ela foi enfrentar Ares. Mas ela não foi sozinha. A senhorita Atena está acompanhada pelo Grande Mestre, pelo Cavaleiro de Escorpião, pelo Senhor Seiya e pelo Senhor Shun.

— Seiya e Shun estão com Atena?! Então não tenho com o que me preocupar. Mas ainda assim é para lá que eu devo ir. Kitsune! — disse chamando a amazona de bronze de Raposa. — Procure Kiki. Veja se ele precisa de suporte. Lino! Você e os demais darão suporte aos cavaleiros aqui. 

"Sim senhor" — responderam Lino e Kitsune.

— Ora, ora o que temos aqui. — disse Clown, saltando para o topo de uma coluna e se agachando para encarar Ikki e seus discípulos. — Não me surpreende o Fênix estar vivo, afinal se trata de um cavaleiro lendário, mas aquele garotinho ali... Esse sim me surpreende. Lino de Lira!! — gritou Clown. — Eu achei que tinha matado você, garoto covarde!! — gargalhou. — Mas dessa vez vou me certificar. — disse com um tom mais amenizado. — Fênix, você tem um discípulo covarde e patético.

— Desgraçado! — disse Lino, cerrando o punho.

— Foi esse o berserker que matou a June? — perguntou Ikki.

— Sim. — respondeu Lino.

— Será você o meu oponente, Fênix?!

Ikki deu um sorriso abafado.

— Se você ainda está vivo, então o meu irmão provavelmente não sabe que June está morta ou que você a matou. Apesar dele ser misericordioso, ele não pouparia a sua vida. Eu lhe garanto que o seu coração irá parar de bater ainda hoje, mas não será pelas minhas mãos. — disse Ikki, caminhando. — Há uma outra pessoa infiltrada no Santuário que irá matar você. 

— O-O que?! — disse Clown, confuso.

— Espere Fênix!! — gritou Kydoimos. — Não posso permitir que você suba as doze casas.

Ikki parou.

— Realmente você não pode. Você não tem esse tipo de autoridade sobre mim. — o cosmo de Ikki se elevou, causando uma pressão no campo que forçou Kydoimos e os demais berserkers a se curvarem. — Nenhum de vocês tem. Que isso fique bem claro. Mas no seu caso, Kydoimos... — o cosmo de Ikki crepitou e chamas voltaram a se formar em volta dele. — Temos um acerto de contas pendente. Pelos dias que você me torturou.

— Deixe-o comigo, Ikki. — disse Kastor.

— Se preocupe com os outros berserkers e Espíritos da Guerra, Gêmeos. — disse Ikki, e seu como se intensificou, criando um círculo ao redor dele e de Kydoimos. — Quanto aos demais, lembrem-se que estão em uma guerra! Então se espalhem! Posso sentir... O Santuário está infestado de berserkers. Então voltem a lutar e matem os berserkers! Agora!!

Os cavaleiros obedeceram sem contestar e se espalharam. 

— Vão! — ordenou Kydoimos aos berserkers que haviam ficado.

Ikki caminhou até Kydoimos e parou frente a frente ao Espírito da Guerra.

— Farei a sua morte ser tão dolorosa quanto os meus dias na prisão. — disse Ikki.

—...—


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: Capítulo 66 - Campo de sangue: Aliança de guerra

Sinopse: Indefinido.

Data de publicação: indefinida

Olá galera!! Tudo bom com você?! Espero que sim.
Vou deixar abaixo para vocês a previsão dos próximos e ÚLTIMOS títulos da fanfic:

— Capítulo 67: Os cavaleiros sagrados de Ares
— Capítulo 68: Deuses da guerra em combate - Parte I
— Capítulo 69: Deuses da guerra em combate - Parte II
— Capítulo 70: Apolo

Obrigado a todos que acompanharam até aqui. Obrigado por tudo ♥

E como vocês já sabem, a critica de vocês é sempre bem vinda e fundamental para a história. Motiva bastante a escrever e caprichar.

Beijos e abraços!! Até o próximo capítulo!



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