A Saga de Ares - Santuário de Sangue escrita por Ítalo Santana


Capítulo 46
Capítulo 43 - Tártaro


Notas iniciais do capítulo

A passagem para o Tártaro foi aberta e Seiya e os outros desceram para o mundo de trevas, mas ao chegar lá eles vão entender que o mais difícil não é entrar no Tártaro, o mais difícil será permanecer vivo.
Na Terra, Ares faz um anúncio inusitado de guerra que desperta a ira dos deuses no Olimpo, fazendo a deusa da Lua se manifestar.

Nove dias. Esse é o prazo para a batalha final.



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3º Arco da História – Tártaro

A Guerra Santa contra Hades chegou ao fim e o Santuário teve uma grande perda de combatentes. Somando os cavaleiros mortos na rebelião de Saga e os que morreram na batalha contra Hades, cerca de vinte e oito cavaleiros perderam suas preciosas vidas, restando no Santuário apenas trezes guerreiros vivos, sendo duas amazonas de prata e onze cavaleiros de bronze.

Afim de erguer um Santuário forte novamente, Atena nomeou Seiya, Hyoga e Shiryu como os novos Cavaleiros de Ouro de Sagitário, Aquário e Libra, respectivamente, para que juntos pudessem reconstruir o Santuário. Antes de se apossarem desses cargos Oficialmente, Seiya e os outros dois treinaram arduamente durante quase dois anos até dominarem o sétimo e o oitavo sentido com maestria. Shun e Ikki também receberam a oferta para se tornarem Cavaleiros de Ouro, mas ambos recusaram e continuaram a servir ao Santuário como Cavaleiros de Bronze, mas com seus cosmos tão poderosos quanto o dos Cavaleiros de Ouro.

As armaduras de ouro que haviam sido destruídas nos Eliseos na luta contra Thanatos, foram resgatadas por Atena no momento em que saia dos Eliseos e foram estregues a Kiki, o novo reparador de armaduras, para que ele restaurasse. Kiki passou alguns anos treinando suas habilidades e seu cosmo para poder desempenhar a função de reparador. Junto com Retsu, antigo Cavaleiro de Bronze de Lince e atual Cavaleiro de Prata de Triângulo, kiki concertou as cinco armaduras de ouro que estavam mortas dando seu próprio sangue. 

Durante os dois primeiros anos após a guerra santa, o novo Cavaleiro de Altar apareceu no Santuário e assumiu o cargo de Grande Mestre, passando a auxiliar Atena a comandar o Santuário. Rigoroso com as leis e tradições do Santuário, Delfos se dedicou a trazer a ordem e o progresso ao Santuário de Atena. Ele priorizou o desenvolvimento de Atena como deusa, inclusive colocando as novas Saintias para cuidarem da deusa; Reforçou as alianças entre o Santuário e as outras nações lideradas por outros deuses; Renovou os acordos entre o Santuário da Grécia e o Governo Mundial; e registrou no acervo do Santuário, junto com Shun e Hyoga, todos os acontecimentos ocorridos, desde o golpe de Saga ao usurpar o comando do Santuário, até o fim da batalha contra o deus Hades.

Foi também no final do segundo ano após a batalha contra Hades que uma profecia, falando de uma nova guerra santa, foi proferida no Star Hill. O Oráculo de Atena, uma entidade espiritual com poderes de clarividência, revelou a Delfos que uma sangrenta Guerra Santa estava para acontecer entre Atena e Ares, mas que dessa vez Atena morreria e perderia a guerra. Decidido a mudar o rumo da profecia, Delfos criou um plano arriscado onde iria manipular a guerra, os deuses e o destino.

Quinze anos se passaram e a guerra começou como o Oraculo havia previsto. O exército de Ares invadiu o Santuário liderados por Éris, a deusa da discórdia. Infelizmente os novos Cavaleiros de Ouro ainda não tinham se apresentado no Santuário, então o exército de Atena estava formado por apenas alguns Cavaleiros de Prata, poucos Cavaleiros de Bronze e dois Cavaleiros de Ouro. Hyoga conseguiu deter Éris e o seu exército no Portão Norte, mas outros haviam se infiltrado secretamente no Santuário usando a entrada do Vilarejo de Rodorio. Em meio a invasão, os Cavaleiros de Prata foram rendidos e controlados por Anteros, o deus da manipulação. Enquanto isso os filhos de Ares, os deuses gêmeos Phobos e Deimos, invadiram as doze casas e derrotaram Shun e Seiya, que protegiam a casa de Áries e Sagitário. Chegando na Sala do Grande Mestre, Deimos e Atena lutaram mortalmente e Atena estava vencendo, mas foi apunhalada covardemente por Phobos e “traída” por Delfos, que lhe apunhalou no coração usando a adaga dourada, e Atena foi então enviada ao Tártaro. Dias depois foi revelado o plano de Delfos e então Seiya, acompanhado por outros cavaleiros, cruzou a Europa enfrentando deuses e berserkers até chegar na Alemanha e abriu a Porta da Morte. A porta que leva ao Tártaro.

Capítulo 43 – Tártaro

Queda livre em plena escuridão. Era essa a única descrição para o que estava acontecendo. Depois que passaram pela Porta da Morte, o chão desapareceu, a porta se fechou com uma forte batida e depois eles começaram a cair. Não existia paredes na lateral ou qualquer sinal de luz. Apenas uma queda que parecia não ter fim.

No início eles gritaram na súbita queda, a sensação de desespero e medo levava os nervos ao limite, mas depois pararam ao notar que a queda não parecia ter fim. O silêncio era ainda mais desesperador. Não se ouvia eco, vento ou qualquer som. Eles se perguntavam por quanto tempo estavam caindo e onde iriam cair. De acordo com o poeta grego Hesíodo, na Teogonia, o tempo que se levaria da Terra até chegar ao Tártaro seria de nove dias, mas se eles soubessem disso iriam torcer para que Hesíodo estivesse enganado. Nove dias caindo seria uma tortura.

Eles não sabiam exatamente quanto tempo passou até chegarem ao Tártaro, mas Hesíodo estava certo. São nove dias da Terra ao Tártaro através da Porta da Morte. Talvez fosse um meio de defesa do Tártaro para matar exploradores indesejados. Durante esse tempo em que eles caiam, as armaduras os envolveram com cosmo, como se fosse um casulo, e os colocaram em sono profundo afim de evitar que morressem. Eles só vieram acordar quando estavam prestes a cair em terra firme. Foi quando o casulo de cosmo se rompeu e eles acordaram como se estivessem despertando de um pesadelo. Nem desconfiavam de que havia se passado nove dias. Para eles era como se tivessem fechado os olhos por alguns minutos.

A temperatura começou a mudar. O ar ficou mais quente e úmido e o cheiro de enxofre já podia ser sentido. O vento, algo que antes não se notava na queda, apenas um silêncio perturbador, começou a apitar em seus ouvidos. Seiya tentou abrir as asas da armadura de Sagitário, mas as asas não respondiam. Era como se houvesse uma pressão em volta dele, assim como nos demais, imobilizando-o.

Aos poucos a escuridão começou a desbotar e já se podia ver um espaço de terra se aproximando e esperando por eles. O espaço então se abriu e eles puderam ver boa parte da dimensão do Tártaro. Um lugar obscuro e hostil, com planícies e montanhas negras cortadas por rios, lagos e templos em ruina.

— Tártaro! — sussurrou Henry, reconhecendo o lugar. E mais uma vez o temor percorreu seu corpo como uma descarga elétrica. O Yomotsu seria um paraíso ao lado do Tártaro.

— Nessa velocidade que estamos caindo... Podemos morrer!! — gritou Alkes, alertando aos outros.

Alkes tinha razão. A velocidade em que estavam caindo era absurdamente rápida e se quer conseguiam se mexer para tentar alivia o impacto. Mesmo sendo cavaleiros e protegidos por armaduras, uma queda naquela proporção poderia ser fatal.

Vendo a dimensão do perigo que se aproximava cada vez mais, Shun elevou o seu cosmo e o expandiu. 

— Corrente nebulosa!! — gritou Shun, formando um turbilhão de cosmo e ar.

O turbilhão os envolveu e amenizou a velocidade em que caiam, aliviando consequentemente o impacto da queda. Eles caíram em um terreno íngreme e rolaram até chegar na base. O solo era rochoso e escuro. Muito escuro. A capa negra de Henry parecia se fundir com o chão.

Ao chegar na base eles se levantaram ofegantes e tentando encher os pulmões com ar, mas o oxigênio do Tártaro não era convidativo. O cheiro de enxofre e o ar quente fazia a narina arder. Dava para sentir o ar de forma incomoda descendo pela laringe, até chegar nos pulmões e brônquios. A mudança brusca causou um choque em seus corpos e em seguida uma tontura. As escoriações causadas pela queda ardiam mais do que o normal. Isso era devido a pesada atmosfera do ambiente formada por substâncias ácidas gasosas.

— Estamos mesmo... no Tártaro? — perguntou Shun, olhando para o céu. As nuvens eram negras e vermelhas como sangue. Semelhante as nuvens que cobriram o inferno de Hades.

— Sim. Estamos. — disse Henry. — Foi esse lugar que eu vi quando o Grande Mestre arrastou a minha alma através do Sekishiki.

Seiya olhou para o céu. Para o ponto de onde eles tinham caído. Não havia sinal de portal, poço ou algo do tipo. Era tudo coberto por nuvens. Ele olhou para os arredores. Aparentemente não havia sinal de vida naquele lugar. O ambiente não oferecia a possibilidade de alguém viver ali. Era algo improvável até mesmo para os deuses. Mas, vindo de longe, ele escutou alguns rugidos e grasnos.

— Sons de monstros. — disse Alkes, vendo que Seiya prestava atenção nos ruídos. — Esse lugar não é seguro. Devemos ter bastante cautela.

— Temos que achar Atena e o Grande Mestre. — disse Eros. — Hécate disse que eles estavam no Castelo de Oberon, o filho de Hades.

Seiya virou-se para Alkes.

— Você sabe algo a respeito desse filho de Hades?

— Pouca coisa. — respondeu Alkes. — Apenas sei que ele é o deus da escuridão, é um aliado de Ares na corte da guerra e atualmente é ele quem governa a escuridão aqui no Tártaro, ocupando o lugar do deus Primordial Érebos.

— Érebos?! — disse Eros, franzindo a testa. — Então Oberon é tão poderoso a ponto de ocupar o lugar de um deus primordial?

— Quem é Érebos? — perguntou Henry, confuso.

— Acredito que não, Senhor Eros. — respondeu Alkes. — A maioria das divindades primordiais estão adormecidas e desde então deuses menores vem ocupados suas posições. — Alkes virou-se para Henry. — Érebos é o deus primordial da Escuridão, mas também é irmão e esposo de Nix, a deusa primordial da Noite, e irmão do deus primordial Tártaro. Todos esses três deuses são filhos do deus Caos, a divindade da criação. São os deuses mais poderosos e todos eles, sem exceção, habitam neste lugar. O Tártaro em si é o corpo do próprio deus primordial.

Henry colocou uma mão na cabeça e bagunçou os cabelos.

— Um pouco confuso, mas acho que entendi. Então... Se eu urinar aqui, vou estar urinando em um deus? — perguntou ele, sorrindo.

Eros revirou os olhos.

— O sarcasmo está voltando, então isso é um bom sinal. — disse Eros. — O poder de Thanatos havia aguçado o seu pior lado.

Seiya abriu as asas e voou, olhando para as terras distantes do Tártaro. Para qualquer lado que ele olhasse, a dimensão do Tártaro parecia não ter fim. Ele lembrou do reino de Hades. O mundo dos mortos parecia um parque de diversão se comparado ao Tártaro. Ele semicerrou os olhos e avistou uma estrutura de muros altos, pontos luminosos como tochas e torres no topo de uma montanha.

— Eros, você disse “Castelo”? — perguntou Seiya, voando. Eros olhou para ele e assentiu. — Estou vendo uma estrutura semelhante a uma fortaleza. Fica a alguns quilômetros daqui. Usando a velocidade da luz nós...

A visão de Seiya ficou embaçada e uma tontura tomou a sua cabeça. O seu cosmo oscilou e se apagou quando ele desmaiou, e em seguida ele começou a cair. Shun correu e o segurou antes que Seiya caísse de cabeça no chão.

— O que foi que houve? — perguntou Eros, correndo até eles.

— Eu não sei. — respondeu Shun, preocupado. — Ele está frio.

— É o tártaro. — disse Henry, olhando para Seiya. Seiya estava ofegante novamente e suando. — Ele está igual ao Grande Mestre na última vez que eu o vi.

Alkes colocou a mão no centro do peito de Seiya e elevou o seu cosmo na palma da mão, curando os danos.

— Este lugar está tentando nos expulsar. Mesmo com a proteção que recebemos, o Tártaro vai tentar nos remover daqui, mas com menos intensidade do que o normal. — explicou Alkes. Rapidamente a palidez de Seiya foi substituída por uma cor viva e ele parou de suar. — Ainda assim o suficiente para notarmos. Somos corpos estranhos invadindo o corpo de um deus.

Eros colocou a mão no ombro de Alkes.

— Então pare de cura-lo. Já fez o bastante. Se continuar a gastar seu cosmo dessa maneira, vai acabar caindo também. Sei que a armadura vai lhe fornecer poder, mas não esqueça que a armadura também é um ser vivo, então uma hora a energia dela também vai acabar.

— Eros tem razão, Alkes. — disse Seiya, acordando e segurando na mão de Alkes. — Mesmo assim eu agradeço pelo esforço.

Alkes se afastou e Seiya se levantou ainda cambaleando, mas Shun o segurou.

— Vamos ter que correr até lá sem usar a velocidade da luz. — disse Seiya. — Não só porque ficaremos sem forças, mas também não conhecemos o terreno e podemos ser atacados a qualquer momento. Vi vultos estranhos caminhando nas planícies e criaturas aladas voando entre as nuvens. Devemos caminhar nos escondendo e evitar qualquer combate até chegarmos no castelo. Não podemos chamar atenção.

 Todos consentiram acenando com a cabeça.

— Primeiro atravessamos quase toda Europa sem usar a velocidade da luz e agora o Tártaro. — Henry abriu os braços. — Adianta ter a capacidade de dar sete voltas na Terra em um segundo?! Quando tudo isso acabar, vou sair sem rumo correndo feito um louco.

Eros deu um sorriso abafado e balançou a cabeça.

— Agora vamos! — disse Eros, virando-se.

— Espere Eros! — disse Seiya. — Eu tenho uma pergunta a fazer. O que foi que você prometeu a Hécate naquela hora?

Um clima de tensão pairou por um momento. Todos se calaram e olharam para Eros que estava de costas e apenas olhou para Seiya por cima do ombro.

— Nada com que deva se preocupar. O que importa é que estamos aqui e temos que chegar o mais rápido possível ao castelo. — ele olhou nos olhos de Seiya. — Vamos?

Seiya acenou.

— Vamos!!

Seiya passou por ele e correu na frente dos demais, sendo seguido por Eros e os outros.

—...—

Santuário – Grécia – Noite da lua de Sangue. Momentos após a abertura da Porta da Morte.

A luta entre Ares e Ikki, que havia se estendido por toda a tarde até o anoitecer, terminou com a morte de Ikki. Mesmo vestindo a armadura divina de Fênix, Ikki não tinha poder suficiente para vencer o deus olimpiano da guerra. Principalmente depois que o segundo selo se rompeu e o cosmo de Ares cresceu monstruosamente.

Com o rompimento do último selo, a força de Ares e deu seus berserkers estava agora sem restrição. Todos os olhos dos combatentes de Ares estavam imersos nas trevas, restando apenas a íris em meio a tanta escuridão.

A batalha ocorreu no coliseu, o qual ficou parcialmente destruído. Grande parte da arquibancada estava em escombros. As colunas que rodeavam o coliseu estavam caídas e despedaçadas. No centro do Coliseu estava Ares, acompanhado de Dionísio, erguendo sua espada banhada com o sangue de Ikki ao lado da armadura divina de Fênix, montada de asas abertas mostrando sua imponência, enquanto o seu exército comemorava a vitória.

A espada de Ares brilhou e o cosmo do deus se expandiu pelo coliseu.

— Conseguimos conquistar aquilo que Poseidon e Hades falharam!! — gritou o deus, e seu exército se agitou. — A Terra e o Santuário nos pertence!!

Girando a espada, Ares a cravou no chão e o cosmo do deus se espalhou por todo o Santuário. As colunas e paredes do Santuário mudaram de cor, sendo tingidas por um cinza escuro, quase preto. Chamas vermelhas romperam nas tochas penduradas pelo Santuário e pôr fim a montanha onde ficam as doze casas, tremeu. No alto das doze casas, atrás do Salão do Grande Mestre, uma estátua de Ares rompeu do chão e se ergueu imponente. A imagem do deus com sua lança na mão direita e escudo na mão esquerda, pisando em centenas de soldados inimigos e olhando para o alto como um verdadeiro conquistador. Na estátua ele trajava peças da armadura de um soldado raso e sua cabeça estava coberta por elmo emplumado.

Todos no Santuário e nos arreadores olharam surpresos com a imagem do deus da guerra. Era ainda mais alta que a antiga imagem de Atena, e oposto a expressão de paz e segurança que a estátua de Atena passava.

— Mas não pretendo me conter apenas com os domínios de Atena. — declarou o deus. A espada foi retirada do chão telepaticamente e se transformou em uma lança, longa e afiada. Ares a segurou e concentrou seu cosmo nela. Afrodite olhou para Dionísio e o deus retribui o olhar de preocupação. — Asgard já é um país praticamente arrasado aproveitando uma vitória ilusória. Logo voltaremos a marchar nas terras gélidas do país nórdico, mas antes... — Ares aumentou seu tom de voz, podendo ser escutado por todo o Santuário, e até mesmo além dos limites do Santuário. — Eu declaro guerra ao Reino de Atlântida e nego o controle da Terra ao Olimpo!!

O Santuário vibrou em comemoração. Os soldados levantavam seus braços e armas gritando.

Afrodite levantou-se surpresa com o anúncio de Ares.

— O que ele está fazendo?! — perguntou ela.

— Fazendo o que um deus da guerra melhor sabe fazer. — disse Ênio, a deusa da carnificina, desembainhando a espada, assim como os demais deuses na Tribuna Imperial, e levantando para o alto. — Declarando uma guerra!

— Contra o Olimpo também?! — rebateu Afrodite. — Isso é loucura!

A luz da lua brilhou de forma mais intensa e a silhueta de um animal na entrada do coliseu chamou a atenção de Afrodite. Era uma corça branca, com cascos de bronze e chifres de ouro, com uma tiara dourada no alto de sua cabeça, trazendo o símbolo da luz crescente. Da corça emanava um cosmo branco, puro.

— Ela está aqui! — disse Afrodite, receosa. — Droga! Ela estava nos observando.

Os deuses olharam confusos pra Afrodite.

— Afrodite! — chamou Éris. — Quem está aqui?

Afrodite não respondeu. 

— Ares! — gritou ela, apontando para a corça. — Ártemis!

O deus olhou para Afrodite e em seguida olhou para onde ela apontava. A corça estava encarando Ares. Mesmo na forma de um animal sagrado, o cosmo da deusa era belo e imponente.

Ártemis?! — pensou Ares, franzindo a testa. Não. Esse é o animal sagrado dela. É apenas uma representação da deusa da caça na forma de um animal.

 “Ares... Você está declarando guerra ao Olimpo! É realmente isso o que você quer?” — perguntou Ártemis, telepaticamente.

— É assim que vocês veem as coisas? Não vou ser submisso a Apolo. Ainda mais agora que a Terra me pertence.

“Lembre-se que você iniciou essa guerra por ordens de Apolo. Derrubar Atena e ter o controle da Terra para que o Olimpo a governasse como na era mitológica.” — rebateu Ártemis. A corça deu dois passos fortes, batendo seus cascos de bronze, mostrando a impaciência da deusa.

Ártemis é conhecida por ser uma deusa rigorosa e fiel as leis do Olimpo. Possui uma forte posição no exército do Olimpo, liderando um grande exército de guerreiras chamadas satélites.

Ares sorriu.

— Não Lembro disso. Foi um acordo que fizemos? O que me pediram foi para que eu derrotasse Atena, algo que de qualquer forma eu faria quando revivesse, e matasse os cinco lendários. Punindo-os por derrotarem Poseidon e Hades.

“Ares! Não quer reconsiderar?” — insistiu ela.

Ares preparou a lança.

— Não adianta insistir, Ártemis! Se Apolo quer tanto governar a Terra, então ele mesmo deveria ter tirado a bunda do trono e lutado contra Atena. Não sou e nem serei escravo dele. É mais fácil eu subir ao Olimpo e tirá-lo do trono, do que me curvar a ele e entregar a Terra. — os olhos de Ares se acenderam com cosmo. — Volte para o Olimpo e diga ao Apolo o que você acabou de escutar. — os músculos do braço de Ares ficaram rígidos e então ele jogou a lança.

Os deuses ficaram surpresos. A lança iria acertar Ártemis? Afrodite tentou gritar “não”, mas o grito não saiu. O animal sagra Dionísio tentou impedir, mas o olhar de Ares o repreendeu antes que ele agisse. Afrodite viu a lança cruzar o coliseu e passar por cima da arquibancada, cortando o céu e caindo no mar. Ela soltou o ar aliviada.

A lança não era para acertar Ártemis, era um aviso ao reino no fundo do mar, Atlântida, de que uma nova Guerra Santa estava sendo anunciada. Mesmo assim Ártemis pareceu ficar ofendida. A corça voltou a pisar forte no chão.

“Essa sua arrogância é infantil. Medidas severas poderão ser tomadas, Ares. Fique avisado”. — disse a deusa, em tom de ameaça.

A corça deu a volta e correu, sumindo na escuridão da noite.

— Será que foi uma boa atitude? — questionou Dionísio.

Ares olhou para a lua e sorriu.

— Não. — admitiu ele. — Foi uma conversa arriscada e que provavelmente nos trará problemas, mas foi uma conversa entre dois líderes de exército. Nenhum de nós dois iria ceder. — Ares virou-se e caminhou para a tribuna. Afrodite olhava para ele irritada. — Mas contra ela... Pelo visto vou ter que ceder. 

Dionísio sorriu.

— Você é miserável da mesma forma que os mitos narram suas batalhas! — disse Ápis, o Cavaleiro de Ouro de Touro, se levantado. Ares e Dionísio pararam.

 Ápis cerrou os punhos com força. Estava com ódio de Ares.

— Tão ganancioso e cruel. Tomou a Terra e agora quer tomar o Oceano. Todo esse derramamento de sangue não saciou você?! Vai mesmo tingir as águas com sangue?! Isso é sádico demais, até pra você.

Ares sorriu e olhou de lado com expressão de desdém.

— O que foi que você falou, Touro? Acabei esquecendo que você estava ai.

— Como se eu quisesse ser notado por um demônio como você! Você se banha na carnificina de homens inocentes, anda por cima dos corpos como se fossem grãos de areia no seu caminho... — os músculos de Ápis se enrijeceram e seu cosmo dourado se elevou. — Eu vou terminar o que o Senhor Ikki começou! Serei seu adversário, Ares!!

Ares zombou e materializou sua espada, apontando para Ápis.

— Você já tentou uma vez e falhou. Viu que nem mesmo o Fênix vestindo uma armadura divina, conseguiu fazer algo significativo contra mim.

Ápis pisou firme no chão e cruzou os braços. Seu cosmo aumentou com mais intensidade e seus cabelos se agitaram.

Na Tribuna Imperial, Oberon, o deus da Escuridão, observava Ápis atenciosamente, apreciando a força e determinação do Touro.

— Tentar uma segunda vez não tem problema! Só assim vou saber se realmente não consigo acabar com você! Seja esmagado pelo meu... Grande Chifre!!

Na velocidade da luz, Ápis descruzou os braços e os estendeu, disparando uma poderosa rajada de cosmo na forma de um touro que seguiu seu percurso contra Ares rasgando o solo. Ares preparou sua espada e cortou o golpe ao meio, mas logo em seguida notou que Ápis havia desaparecido. Ares estava tão seguro de si que não percebeu a tempo a estratégia de Ápis, que reapareceu ao lado do deus com o punho cerrado e subindo com um soco direto, mas o punho de Ápis foi detido. Não por Ares, mas por um berserker.

— Que tática interessante, Touro. — disse o berserker, olhando para Ápis com um olhar altivo. Sua íris dourada era a única cor viva em meio a esclera negra. Olhos de um berserker sem restrição em seu cosmo. — Mas não posso deixar que continue a perturbar o Senhor Ares.

Ares olhou para Ápis e sorriu ao ver a expressão de surpresa e raiva no rosto do Cavaleiro de Ouro.

Surpreendido com a defesa repentina do berserker, Ápis saltou para trás, tomando uma distância segura do berserker e de Ares.

Droga. Ele se moveu tão rápido que nem ao menos consegui notar a sua chegada. — Ápis cerrou os dentes. — Quem é você?

O berserker removeu o elmo, revelando cabelos curtos e brancos como a neve.

— Me chamo Nyctea, de Coruja. Berserker do exército do Terror e atual líder do batalhão do Senhor Deimos no lugar de Hayato. — respondeu o berserker, enquanto dezenas de esferas negras se formavam ao seu redor. — Já você, não perca seu tempo dizendo o seu nome. Logo morrerá e seu corpo será jogado de um penhasco.

— Espere um momento, Senhor Nyctea!! — gritou um berserker, saltando da arquibancada acompanhado de mais dois berserkers e correndo em direção a Nyctea.

O berserker de Coruja estreitou o cenho, confuso, com a intromissão dos berserkers.

— Permita que nós cuidemos dele. — disse um berserker, que carregava um punhal em cada mão.

— Teremos o prazer de fatiar esse sujeito. — disse o outro berserker, de corpo curvado e unhas afiadas.

Nyctea não protestou. Os três berserkers se posicionaram na frente de Nyctea e Ares, encurralando Ápis por três direções.

— Vamos Touro. Queremos ouvir seus ossos se quebrando e seus músculos sendo rasgados. — disse o berserker do meio. Ele tinha mais de dois metros de altura. Era tão alto quanto Ápis.

Na tribuna imperial os deuses continuavam assistindo.

— Aqueles três berserkers são do seu exército, Phobos? — perguntou Alala, a deusa do grito de vitória.

Phobos negou balando a cabeça.

— São do exército de Deimos. — respondeu o deus.

Oberon, que continuava a observar Ápis, olhou para Deimos e viu um semblante confiante. Isso poderia ser um sinal de que aqueles três berserkers eram fortes o bastante para vencer o Touro, mas ao olhar novamente para Ápis, Oberon ficou em dúvida.

Os berserkers do exército de Deimos são os mais sanguinários. Com certeza eles lutariam com toda força para estraçalhar Ápis, mas havia algo no Touro que não só deixava Oberon com dúvidas a respeito do resultado, mas Dionísio também.

— Nyctea, eles são seus subordinados também. — disse Dionísio. — Não seria mais prudente ordenar que eles recuem? — Ares olhou para Dionísio e em seguida olhou para Ápis, curioso para saber o que preocupava Dionísio. Mas Nyctea permaneceu em silêncio. — Algo no Touro está...

Os berserkers avançaram e saltaram. Os três atacando ao mesmo tempo, vindo de direções diferentes.

— Vamos começar arrancando os seus braços! — anunciou o berserker que carregava um punhal em cada mão.

Ele atacou Ápis pelas costas, mas antes que ele desse notasse, Ápis se moveu e saltou aplicando um forte soco no peito do berserker e um chute no rosto do outro berserker de garras afiadas. Ambos foram arremessados para a lateral, atingindo a parede do coliseu com bastante intensidade.

O terceiro berserker ficou surpreso com a força e velocidade de Ápis e não teve tempo de reagir ao perceber tarde demais o punho de Ápis envolvido com cosmo que descia em sua direção. Aplicando um potente soco do alto, o punho de Ápis desceu atingindo e despedaçando a cabeça do berserker e continuou seu percurso até partir o berserker ao meio. O punho de Ápis só parou quando encostou no chão abrindo uma cratera. As duas partes do berserker tombaram, e uma chuva de sangue caiu sob Ápis.

A plateia ficou atônita. Oberon esboçou um sorriso satisfeito, mas Deimos cerrou o punho irado.

— Ele matou um berserker e ainda derrubou os outros dois. — comentou o Cavaleiro de Capricórnio, que assistia a luta em pé e de braços cruzados ao lado da tribuna imperial.

Por debaixo do elmo de capricórnio, escorria seus longos cabelos negros e seus olhos de íris vermelha analisavam os movimentos de Ápis minuciosamente.

O Cavaleiro de Escorpião, que também fazia a guarda dos deuses ao lado do Cavaleiro de Capricórnio, permaneceu em silêncio apenas observando a luta.

— Não vai ser com berserkers fracos que você vai me deter. — disse Ápis, olhando para Nyctea, limpando o rosto melado de sangue.

Nyctea sorriu.

— Apenas esperei os fracos serem exterminados. É algo natural em uma batalha. Os mais fracos sempre caem. — Nyctea olhou com desprezo para os outros dois berserkers que apenas foram arremessados e depois voltou sua atenção para Ápis. — O próximo será você.

As esferas negras que flutuavam ao redor de Nyctea investiram contra Ápis como uma chuva violenta de meteoros. Ápis foi bombardeado e uma coluna de cosmo negro emitindo um brilho roxo escuro se ergueu, levantando destroços.

 A íris dourada de Nyctea brilhou e ele olhou sorrateiramente para uma coluna.

— Não adianta se esconder. — disse Nyctea. — Estou lhe vendo. Conseguiu escapar da colisão e ainda tentou esconder a sua presença. Para um homem do seu tamanho, você é bem ágil, mas não vai conseguir fugir por muito tempo.

— E não pretendo. O meu próximo golpe, será para acabar com você. — o cosmo de Ápis se elevou e o chão embaixo dos seus pés brilhou reagindo ao seu cosmo. Aparentemente a terra havia se transformado em lama, mas aquela massa mole emitia calor e escorria emitindo um brilho vermelho.

Larva? —pensou Nyctea, enrugando o cenho.O calor do cosmo dele está vertendo a terra em larva?!

Ares estreitou os olhos curioso. O chão abaixo de Ápis estava derretendo e se transformando em larva. Emitia um calor que faria a pele de um humano normal ficar repleta de bolhas, mas Ápis com certeza não era um humano normal. O calor se quer o fazia suar.

Nyctea, mate logo esse desgraçado. Temos coisas mais importantes para resolver. — bradou uma voz.

Um pentagrama formado por chamas azuis se formou no centro do coliseu e uma coluna de chamas se levantou, girando e se dissipando. No centro do pentagrama estava Anatole, com sua nova Onyx, carregando Hugo, morto, nos braços.

— Phobos... — chamou Alala. — Aquele não é o...

— Hugo. — respondeu o deus, em tom ríspido.

Ares olhou para Phobos. Hugo era o berserker mais fiel a Phobos e o deus, ainda que fosse frio e calculista, sentia afeto pelo servo.

— Hugo?! — disse Nyctea, surpreso. — Quem foi que...

— O Cavaleiro de ouro de Leão. — respondeu Anatole, de imediato.

Ápis parou, surpreso, ao ouvir sobre Jake. A larva esfriou, solidificando, e seu cosmo se apagou.

Jake está... vivo?! — pensou ele, feliz.

— Senhor Ares... — Anatole deitou o corpo de Hugo no chão e se ajoelhou diante de Ares. — Trago relatório sobre a missão no Castelo de Hades. Tudo não passou de uma emboscada criada por Seiya e os outros Cavaleiros. Thanatos, o deus da morte, não estava no mausoléu do castelo como pensávamos. A caixa que selava os deuses gêmeos foi removida do mausoléu e levada para outro lugar antes mesmo que o nosso exército acampasse no jardim do castelo. Acredito que tudo isso também tenha sido previsto pelo Grande Mestre.

Ares segurou tão forte no cabo de sua espada, que a espada chegava a tremer.

— Ao chegar na Alemanha, depois que enfrentaram Kami, o grupo de rebeldes se dividiu em dois grupos. Um grupo, liderado pelo Cavaleiro de Ouro de Gêmeos, foi para o castelo no deter, enquanto acobertavam a ida do grupo de Seiya até onde Thanatos estava. E ao que parece... — Anatole hesitou em falar. — Eles abriram a Porta da Morte e desceram até o Tártaro.

— O quê?!! — a ira de Ares se manifestou através do seu cosmo. — Está me dizendo que aqueles insetos nos enganaram e ainda foram ao Tártaro?!! — todo chão no centro do coliseu se desprendeu.

— Hugo, os outros berserkers e eu tentamos ir atrás do grupo de Seiya, mas ficamos presos dentro de uma distorção dimensional criada pelo Cavaleiro de Gêmeos. O senhor Polemos foi selado e os outros berserkers estão todos mortos.

Anatole esperava que Ares fosse explodir em ira, mas o deus sorriu.

— De nada vai adiantar aqueles imbecis irem ao Tártaro!! A Terra já me pertence e não há nada que eles possam fazer!!

— Não está com medo, Ares? — perguntou Ápis, com desdém. — Deveria estar. Você não esperava que eles conseguissem, mas conseguiram.

A mudança de humor foi nítida. Ares olhou para Ápis com os olhos arregalados de ódio e avançou contra ele, girando sua espada contra o pescoço de Ápis, mas uma espada negra deteve o ataque, ainda que com muito esforço.

— Acalme-se Ares! — pediu Oberon, defendendo Ápis.

— Saia do caminho, Oberon! Caso contrário a minha espada partirá você e a sua espada em dois!! — Ares não estava blefando. A espada do deus da guerra estava trincando a espada negra de Oberon. — Se continuar a defender esse cavaleiro de ouro, você será visto como um traidor! — disse o deus. — Agora afaste-se!

— Não seja impulsivo, Ares! Não se esqueça que sou eu o atual deus que rege a escuridão no Tártaro! — disse Oberon. — Ainda que Thanatos tenha dado permissão a eles para irem ao Tártaro, um mortal não pode abrir a Porta da Morte.

Ares aliviou a força contra Oberon e recuou.

— E como eles puderam passar?

Oberon respirou aliviado e abaixou a espada.

— Se Seiya e os outros realmente passaram pela porta, então algum deus o ajudou. Contudo, o tempo que se leva da Terra ao Tártaro pela Porta da Morte são nove dias.

Ápis olhou para Oberon, que estava de costas pra ele, com um olhar de espanto.

Nove dias? — pensou ele. Isso tudo? Em nove dias Ares vai promover um banho de sangue ainda maior!

— Em outras palavras, eles ainda não chegaram no Tártaro. — concluiu Oberon. — Temos tempo o suficiente para matarmos Atena antes que eles cheguem lá. Quando pisarem no castelo, é capaz deles encontrarem a cabeça de Atena pendurada em uma lança.

Ares esboçou um sorriso largo e deu uma risada doentia.

— Quanto mais eles tentam salva-la, mas eles a condenam para o fim. — Ares virou-se para Oberon. — Vá! Prepare-se para ir ao Tártaro e acabe com Atena, o Grande Mestre e todos os cavaleiros que seguiram Seiya, mas não o mate. Traga o famoso matador de deuses vivo.

Oberon se inclinou, fazendo reverência.

— Como o senhor desejar, mas... — Oberon virou-se para Ápis. — Em troca do serviço, eu quero o Cavaleiro de Ouro de Touro para mim.

Ápis deu um passo para trás, sentindo uma forte ameaça vindo de Oberon. O deus o olhou como se estivesse olhando para uma mercadoria. Uma mercadoria preciosa que ele almeja muito.

— Como?! — perguntou Ápis, confuso.

— Não sou um deus que possui um exército, mas não escondo que fiquei impressionado com o seu poder, Touro. Tê-lo seria uma preciosa aquisição para o meu castelo. Por isso o quero como um servo e ainda me ajudará a matar Atena e os outros.

Ápis elevou o seu cosmo.

— Eu jamais irei me aliar a você. Muito menos levantar a mão contra Atena.

Ares deu as costas para eles e caminhou para a tribuna imperial.

— Leve-o Oberon. Faça o que quiser. Eu não me importo. — disse Ares. — Mas não me decepcione. Anatole! Tire o corpo de Hugo daqui e o leve para o necrotério no subterrâneo do Santuário.

— Sim senhor!

— Quantos aos outros... — gritou Ares, para os que estavam na arquibancada. — Aproveitem a noite! Amanhã começaremos a esquematizar os próximos ataques. Afiem suas espadas, lanças, flechas e machados. Preparem os cavalos e bigas. Quando a ordem for dada, o exército já deve estar pronto para partir.

“Sim senhor!!” — gritaram os soldados, berserkers e cavaleiros.

Oberon volte-se para Ápis, elevando seu cosmo negro e estendendo a mão para o Cavaleiro de Ouro.

— Touro... Não estou lhe dando a opção de escolha. — o cosmo negro de Oberon envolveu o corpo de Ápis e o Touro caiu de joelhos, sem conseguir controlar o seu corpo. A arquibancada agora já estava vazia e os deuses já haviam se retirado. O corpo do berserker morto por Ápis também já havia sido removido. Agora restava apenas os dois na arena. — Não adianta resistir.

 Ápis encarou os olhos azuis de Oberon. O deus era sombrio, mas seus olhos eram puros como deveriam ser os olhos de um anjo. Parecia não haver maldade alguma nele. Mas se ao invés de olhar para os olhos, olhasse para o coração, veria uma escuridão mórbida e fria.

— Diga-me Touro, você acredita que possa existir um coração limpo, livre de qualquer gota de escuridão? — perguntou o deus, tocando na testa de Ápis. Ápis não conseguia mover um músculo. Estava paralisado e com uma sensação de medo, mas outros sentimentos pareciam aflorar em seu peito. — Na verdade não existe. Em qualquer criatura, seja divindade ou humano, a escuridão pulsa viva e forte. Algumas escondidas, dormentes, mas outras são dominantes. Há quinze anos atrás, aqui no santuário, havia um homem que em seu coração escondia uma silenciosa escuridão, a qual depois o dominou e ele tentou matar Atena. A escuridão dele se manifestou pela ambição, mas e a sua? Como a sua escuridão vai se manifestar? Me mostre!

Os olhos de Oberon brilharam e Ápis sentiu seu corpo ficar totalmente paralisado. Com os olhos arregalados para o deus e de boca aberta. Do seu peito romperam fios de cosmo negro que cresceram e o envolveram, tingindo com trevas o seu cosmo e a armadura de ouro. O cosmo dourado agora brilhava em roxo espectral. Seu cosmo se acendeu violentamente e ele se levantou pisando firme no chão. Era como um alto muro inviolável, com mais de dois metros de altura, cheio de um poder esmagador capaz de pulverizar seu oponente.

A armadura de ouro perdeu seu brilho vivo e dourado, e se tornou escura e fantasmagórica. Agora ela brilhava como a joia do submundo. Uma surplice.

— A sua escuridão se manifestou pelo ódio que você sente por Ares. O brilho da surplice lhe cai bem melhor, Touro. — disse Oberon. Ápis se ajoelhou diante do deus e curvou a cabeça. — Com toda essa sua força você esmagará a cabeça dos rebeldes. Fará isso mesmo que não queira, pois não vai ter controle do seu próprio corpo. Verá a sua escuridão dominando-o cada vez mais, até que você se torne apenas uma fraca consciência. A partir de hoje... Você é Ápis de Asmodeus, a Estrela Celeste do Ódio. O meu espectro.

—...—


Asgard – Palácio Valhalla — 1º dia após a segunda lua de sangue

Hyoga acordou assustado e sentou na cama. Ele olhou para o quarto tentando entender onde estava. A cama era larga com lençóis grossos feitos de pele de urso. As paredes do quarto eram de pedra e a iluminação vinha de altas janelas por onde passava a fraca luz de sol. Do outro lado do quarto havia uma criada sentada na poltrona. Ela estava dormindo. Provavelmente passou a noite inteira acordada acompanhado ele.

Hyoga tentou se levantar, mas bateu uma tontura e ele caiu sentado na cama. A criada acordou assustada e correu até Hyoga.

— Senhor Hyoga?! O senhor acordou! — disse ela com tom de surpresa e felicidade. — Graças a Odin! O senhor está se sentindo bem?

— Sim. Um pouco. — respondeu Hyoga, com a mão na cabeça. — Minha cabeça dói e meu coração... — Hyoga colocou a mão no peito. — Sinto finas pontadas.

A criada se afastou e foi até a porta.

— Preciso avisar a senhorita Hilda! Espere um pouco, por favor!

Com um rápido aceno, a criada deixou o quarto e fechou a porta. Hyoga tentou se levantar novamente e caminhou a passos lentos até parar na frente do criado-mudo espelhado. Ao se olhar no espelho ele não se reconheceu. Seus cabelos estavam mais longos e sua barba estava bastante cheia. Vestia uma camisa branca de botão e calça branca folgada. Parecia estar mais magro. Ele começou a se questionar quanto tempo havia passado dormindo.

Antes que Hyoga voltasse pra cama, a porta se abriu e três mulheres entraram no quarto acompanhadas por duas criadas. As duas primeiras mulheres eram Hilda e Freiya, mas a terceira mulher ele não conhecia. Ela era esguia, de longos cabelos dourados e usava um vestido longo de tecido fino que parecia oscilar em cores vivas como uma aurora. Seus olhos, como cristais refletindo a luzes da aurora boreal, eram serenos e aconchegantes.

Hyoga fez reverência cumprimentando-as.

— Você acordou! — disse Freiya, feliz.

— Quanto tempo passei dormindo?

— Semanas, Hyoga. — respondeu Hilda.

— O quê?! Semanas?! — a surpresa fez com que a tontura voltasse mais forte. Ele se segurou no criado-mudo e as criadas correram para ajudá-lo a voltar para cama.

— Hyoga, acalme-se. Você ainda está um pouco debilitado. — disse a mulher que acompanhava Hilda e Freya. — Não faça muito esforço. Você gastou muita energia lutando contra Draco. 

Hyoga sentou na calma e olhou para a mulher.

— Perdoe-me, mas quem é a senhorita?

A mulher esboçou um sorriu.

— Eu sou Eos, deusa da Aurora.

— Eos salvou você após sua luta contra Draco. — explicou Hilda, vendo que Hyoga parecia estar confuso. — Você estava na beira da morte, caído na rua coberto de neve e sangue, quando ela te encontrou. Eos curou suas feridas e salvou a sua armadura de ouro que também estava quase morta. Ela trouxe você até aqui quando o exército de Ares se retirou.

Hyoga olhou para Eos e acenou com a cabeça.

— Obrigado. — agradeceu ele, e a deusa o respondeu com um sorriso. — Mas Hilda, e Asgard? Vencemos?

— Sim. Vencemos. Deimos se retirou no final, junto com Éris.

Hyoga olhou espantado para Hilda.

— Éris?! Mas eu a selei em um caixão de gelo e o afundei no mar da Sibéria!!

— Ela conseguiu sair e veio para Asgard. — disse Eos. — Desde então você ficou em coma. Não apresentou reações negativas. No máximo febre. Durante todo esse tempo você apenas dormiu. Talvez o seu corpo estivesse precisando de descanso.

— Mas e a guerra contra Ares? E Atena? Ela já voltou do Tártaro?

Hilda olhou para Eos e depois olhou para Hyoga. Ela parecia receosa.

— Ainda não. — respondeu Eos. — A segunda lua de sangue aconteceu ontem à noite. Os deuses estão comentando que alguns Cavaleiros de Atena conseguiram abrir a Porta da Morte e ir ao Tártaro.

Hyoga respirou aliviado e relaxou os músculos.

— Tenho que voltar para Grécia. Preciso estar lá quando Atena voltar.

— Mas você não pode ir. — disse Hilda.

Hyoga franziu a testa.

— Por que não?

— Porquê você vai morrer se fizer isso. — respondeu Eos, friamente. — Precisamos conversar a respeito dessa maldição que Éris colocou em seu peito. Infelizmente você está sentenciado a morte, Hyoga.

—...—


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Próximo capítulo: titulo indefinido.
Sinopse: indefinida.
Data de publicação: 12 de Julho

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