A Saga de Ares - Santuário de Sangue escrita por Ítalo Santana


Capítulo 22
Capítulo 21 - A chama da vida de Libra


Notas iniciais do capítulo

A luta clássica volta a se repetir no Yomotsu. Shiryu volta a sentir o pavor da colina dos mortos, mas agora seu anfitrião é ainda mais psicopata.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/488642/chapter/22

Capítulo 21 - A chama da vida de Libra


Cabana da Floresta Sagrada de Atena - Santuário

— E agora? O que faremos? — perguntou Seiya olhando fixamente para Asclépio.

O deus pegou a mão de Seiya, colocou a armadura de Atena na palma da mão dele e fechou.

— Segure firme essa armadura. Vocês vão fazer aquilo que Delfos orientou no pergaminho. Vão até a Alemanha barganhar com a Morte. Devem levar a esperança com vocês e entregar ela à Atena.

Jabu olhou para Asclépio e franziu a testa.

— "Barganhar com a morte na Alemanha"? O que seria exatamente isso?

Asclépio abriu a boca para falar, mas Seiya, de cabeça baixa olhando para a armadura de Atena respondeu à pergunta de Jabu.

— Thanatos. Temos que ir para a Alemanha fazer um acordo com Thanatos. — ele ergueu a cabeça e encarou Asclépio. — Não é isso?

— Sim. — disse Asclépio, balançando a cabeça concordando. — Thanatos está novamente selado dentro da caixa sagrada e se encontra na Alemanha.

O silêncio se instalou no quarto. Todos ficaram inquietos. Com exceção de Alkes e Retsu, todos os outros conheciam o terrível deus da morte. Um deus orgulhoso e perverso que matou Pandora quando ela ajudou Ikki a atravessar a Hiperdimensão e tentou matar Seika como punição por Seiya ter ousado feri-lo. Shina, que esteve o tempo todo em pé ao lado de Retsu, se afastou e foi em direção à cama, sentando-se ao lado de Seiya.

— Antes você achava que tudo estava perdido e que Atena estava morta. Mas agora na sua mão está mais uma vez a esperança.

— Tem razão. — Seiya apertou a armadura e olhou para Asclépio. — Então vamos para Alemanha agora mesmo.

— Não! — disse Asclépio.

— Mas você mesmo leu a carta de Delfos! Temos que ir o mais rápido possível para salvarmos Atena! Nesse momento a Saori... A Atena, pode estar correndo perigo.

— E ela realmente está. — disse Piton, sibilando.

— Até sua cobra falante concorda! — disse Seiya encarando Piton, que o respondeu mostrando as presas.

— Você não pode sair agora, mesmo com Atena correndo perigo. Você não entende o motivo dessa guerra. Você não entende as interferências secundarias que estão agindo no meio disso tudo. Você não entende a respeito dos berserkes, dos deuses gêmeos da guerra e muitos menos do Tártaro. Sem falar que a ferida que Deimos causou nas suas costas ainda está cicatrizando. Você está fraco por causa da prisão que drenou suas forças e por causa da sua luta com o berserker e o cavaleiro de ouro. — Asclépio se levantou e estendeu a mão para Shun, que entregou a bengala nas mãos do deus. O deus demonstrava estar impaciente. Asclépio tirou os óculos do rosto e colocou no bolso da calça. — Conversaremos sobre isso amanhã. O quarto está tumultuado demais.

— Mas...

— Descanse! — disse o deus, com um tom mais firme dando as costas e indo em direção a porta. Ele parou diante dela e olhou para a cobra. — Piton...

Piton deslizou pela urna de sagitário, onde descansava, e foi em direção a Asclépio. Se aproximando do deus, a cobra começou a se enroscar na bengala e então começou a diminuir de tamanho até se tornar uma cobra de menor porte. Ela se fundiu a bengala como se o objeto  sempre tivesse uma serpente entalhada como adorno. Asclépio saiu do quarto. Alkes, o discípulo do deus e também cavaleiro de prata de Taça, recolheu a armadura de Taça e colocou a urnas nas costas. Em seguida saiu do quarto, seguindo seu mestre.

— Retsu. — chamou Shina. — Acompanhe o Senhor Asclépio.

— Certo! — disse Retsu, saindo do quarto.

— Os demais podem sair. Exceto você Shun.

— Tudo bem então. — disse Jabu indo em direção à porta com Nachi. — Eu e o Nachi vamos fazer uma vistoria ao redor da barreira.

— Ótimo. — disse Shina

A porta foi fechada. Dentro do quarto ficou apenas Shina e Seiya sentados na cama, e Shun, que se sentou na cadeira, ficando de frente para os dois.

— Seiya, a situação não está boa para ninguém. — começou Shun. — Sei que escondi todo o plano de Delfos de você, mas foi exatamente pelo seu jeito impulsivo de agir. Delfos não poderia arriscar.

— Eu sei, mas...

— Asclépio também está com problemas, Seiya. — disse Shina encarando as próprias mãos. — O deus Apolo, o pai dele, está caçando-o desde o dia em que ele ajudou você. Aqui é o último refúgio. Asclépio e Delfos sabem o que estão fazendo. Tenha calma. Se ele disse para esperar até amanhã, então descanse.

Seiya respirou fundo e se levantou. Foi até a pequena mesa e colocou a armadura de Atena em cima. Ele se virou e se encostou à mesa, ficando de frente para Shun e Shina. 

— Amanhã partiremos para a Alemanha. Sem falta.

— Quase isso. Creio que vocês só vão poder sair depois de amanhã. — disse Shina se levantando. Seiya ia protestar, mas Shina deu as costas e o ignorou. — Agora durma.

Shun também se levantou.

— Até amanhã Seiya. — disse o Cavaleiro de Andrômeda esboçando um sorriso e fechando a porta em seguida.

—...—


Cinco picos Antigos de Rozan

— O que você fez com ele?

Ryuho estava caído entre Henry e Shiryu.

— Nada demais. Apenas atingi seu sistema nervoso e o desliguei por alguns minutos. — Henry voltou a erguer o dedo e a invocar a entrada para o Yomotsu. — Tempo o bastante para acabarmos com a nossa luta. Quando seu filho acordar você estará no Yomotsu.

O céu ficou nublado e a temperatura começou a cair. Raios e trovões ecoaram no céu. Calafrios percorriam no corpo de Shiryu. Aquela sensação de estar uma vez mais diante da porta da morte. Entrar pela passagem que leva a colina do Yomotsu é algo arriscado para qualquer cavaleiro, exceto para os de câncer, pois eles possuem a habilidade de ir e vir do Yomotsu.

— Pretende me levar para lá?! Não pretendo ir a lugar algum. Farei daqui o seu tumulo. — disse Shiryu elevando o cosmo e então ele se lançou contra Henry.

— Ora, ora, ora... — Henry se teletransportou e reapareceu flutuando próximo das águas da grande cachoeira. — Não tem para onde fugir. Olhe para o seu corpo Shiryu. Ele já está tomado pelas minhas ondas infernais.

Shiryu então percebeu que realmente já era tarde mais. O cosmo de Henry já tinha tomado seu corpo sem ele se quer perceber. Henry não tinha erguido o braço em vão naquele momento. De forma silenciosa ele chamou a atenção de Shiryu e ao mesmo tempo invocou as ondas que carregam o indivíduo ao mundo dos mortos.

— Darei a você novamente uma passagem de ida para a colina do Yomotsu. Mas dessa vez Shiryu... — Henry abriu um sorriso perverso. — é sem volta.

Os olhos de Henry foram totalmente tomados por um brilho vermelho e uma fenda dimensional se abriu acima dele. Shiryu sentia que estava sendo arrastado para dentro da fenda. Forçando seus pés no chão, ele deixava rastros no solo. Shunrei parecia gritar, mas o vento estava forte demais para ele escutar os gritos dela.

— Sabe que não adianta ficar lutando contra os efeitos do meu golpe. Uma vez pego por ele não tem como fugir. Posso tirar a sua alma e selar em algum lugar... — Henry olhou para os picos antigos e avistou a “Torre Maligna” a quilômetros de distância, onde se encontra os espetros de Hades selados. — Como naquela torre ali. Fazendo companhia para os espectros que você ajudou a selar naquele rosário. Posso também despedaçar a sua alma e espalhar os pedaços pelos quatro cantos do mundo. Enfim, com um único golpe posso dar fins diferentes a você, mas vou optar pelo mais clássico. Vá para o Yomotsu. Caia e enlouqueça. "Ondas do inferno!!"

O cosmo que se concentrou na ponta do dedo de Henry foi disparado contra Shiryu e o envolveu.

— Estou.... Estou sendo arrastado... — Shiryu gritava enquanto sua alma era arrancada de seu corpo.

— Pensando melhor, vou enviar você de corpo e alma para lá. — O corpo de Shiryu foi lançado em direção à fenda e então sumiu.

— Shiryu!! — gritou Shunrei, correndo.

Henry olhou para Shunrei e sorriu, fazendo-a parar e ficar paralisada de medo. Ele se teletransportou e voltou a parecer diante dela, passando um braço por trás de Shunrei e puxando-a para junto de seu corpo.

— É uma bela mulher. — disse Henry alisando o rosto de Shunrei, que se contorcia tentando se afastar dos toques dele. — Mas vai morrer também. — Henry ergueu o braço e desceu contra Shunrei. A jovem gritou e depois foi jogada no chão. Nas mãos de Henry estava a metade do cabelo dela, o qual ele cortou durante o golpe. — Pretendia levar seu corpo para lá, mas será um prazer o pequeno dragão acordar e ver a sua mãe caída diante dele. — Henry gargalhou. Ele olhou para a mão carregando o cabelo de Shunrei e sorriu. — Isso é o suficiente. Bem... — Henry elevou o cosmo e começou a desaparecer. — Tenho que ir ao Yomotsu, afinal, tem um convidado no meu território.

—...—


Colina do Yomotsu – Entrada para o mundo dos mortos

O Yomotsu é um lugar frio, escuro e sinistro. O terreno é irregular, cheio de crateras e rochedos pontiagudos. Um caminho plano e torto segue em direção a uma colina. Lá está a entrada para o antigo mundo dos mortos, onde hoje só resta o vazio após a “morte” de Hades. Por todos os lados existe almas que andam sem destino, sofrem, gritam de desespero e dor. Alguns conseguem achar o caminho que leva ao buraco do Yomotsu e então seguem pela estrada lamentando.

Uma fenda dimensional se abriu no céu escuro e então um homem surgiu indo em direção ao solo rochoso. Shiryu desabou no chão em um forte impacto. Ele ergueu a cabeça e arregalou os olhos. Estava novamente naquele mundo. Um local onde ele não queria jamais voltar a visitar

Shiryu se levantou e começou a andar. O Yomotsu não tem entrada ou saída. Seria necessária uma intervenção de Atena para tirá-lo de lá, já que certamente o cavaleiro de câncer não faria isso.

Henry então surgiu, cantarolando no topo de um grande rochedo. De braços abertos e com um sorriso perverso no rosto, ele respirou fundo e olhou para Shiryu. 

— Ora, ora. Não mudou muita coisa, não é mesmo Shiryu? Acho que a colina continua igualzinha desde a última vez que você esteve aqui. Pensei que teria sua alma devorada pelo golpe, mas vejo que me precipitei.

— Você é forte, não tenho dúvidas... — Shiryu se levantou e encarou Henry. — Mas peca por falar demais. Não fique se gabando. Seu antecessor morreu aqui porque era orgulhoso e menosprezava os que eram inferiores. Você está agora diante de um cavaleiro de ouro, igual a você.

Shiryu concentrou cosmo em seu punho e disparou contra o grande rochedo em que Henry se encontrava. O rochedo explodiu lançando Henry para o alto. Shiryu então saltou. Ao alcançar o cavaleiro de câncer ele disparou um soco no rosto de Henry, que foi lançado contra o chão. Shiryu aterrissou a alguns metros de distância de onde Henry caiu e então caminhou até ele, mas ao chegar lá percebeu que havia apenas uma pequena cratera. Henry sumiu.

— Atrás de você. — Henry disparou um golpe nas costas de Shiryu, que foi lançado pelo ataque e caiu no chão. — Hum!! Entre os Cavaleiros de Ouro que estão presentes nas Doze Casas, eu percebei que eu apresento o terceiro maior poder em habilidade psíquicas, empatando com o Cavaleiro de Gêmeos e ficando atrás apenas do Cavaleiro de Ouro de Escorpião. Então Shiryu, abra bem seus olhos ao lutar comigo.

— “O terceiro mais poderoso em habilidades psíquicas?!”  Pensou Shiryu espantado. Logo ele mudou sua expressão para não demonstrar brechas a Henry. — Então quer dizer que os outros cavaleiros de ouro também juraram lealdade a Ares?

— Não conheço o coração deles, mas aparentemente sim. De uma coisa eu sei, eu jurei lealdade ao Senhor Ares. Como prova disso levarei sua cabeça para ele.

Henry foi pra cima de Shiryu, que desviou dos socos e contra-atacou. Ambos se moviam na velocidade da luz, mas Henry tinha mais vantagens por poder se teletransportar com extrema agilidade. Shiryu foi atingido várias vezes, mas em um momento antes de Henry desaparecer Shiryu o pegou pelo braço e o lançou contra o chão, fazendo-o se contorcer e abrir a boca com um grito mudo enquanto todo ar saia de seus pulmões. Em uma rápida pegada de fôlego, Henry se teletransportou junto com Shiryu e reapareceu sobrevoando a planície do pé da colina. A mais de vinte metros acima do chão. Sangue escorria de sua boca e algumas escoriações marcavam seu rosto. Ele chutou Shiryu fazendo-o ir contra o chão e cair rasgando o solo.

— Morra Libra!! Com as chamas que consomem a alma!! — Ainda levitando, Henry ergueu um braço e materializou uma enorme bola de fogo azul esbranquiçado.  Explosão demoníaca!! — A enorme bola de fogo foi lançada contra Shiryu e explodiu. — Pensei que ia durar um pouco mais.

O local onde o golpe de Henry caiu estava em chamas, mas no meio das chamas uma luz dourada brilhou intensamente. Henry estreitou os olhos e sorriu com o que viu. No meio das chamas, com a pele queimada, estava Shiryu. Ele estava em pé e mantinha as chamas afastadas com o seu cosmo. Henry começou a bater palmas enquanto descia e pousava no chão.

— Incrível Shiryu! Aparentemente sobreviveu ao meu golpe! Mas saiba que meu golpe não tem como habilidade queimar apenas seu corpo, mas sim sua alma. Contudo, ainda que evite elas, as chamas vão continuar a queimar tudo ao redor enquanto você se cansa. Inclusive o seu cosmo será usado como combustível para essas chamas.

Shiryu estava arfando. O calor das chamas lhe causava calafrio, mas o fazia suar. Era uma sensação que deixava seu corpo descontrolado, acelerando o cansaço. Quanto mais ele ficava fraco mais as chamas avançavam contra ele.

— Não pense que me venceu.

— É nesse momento que Atena aparece e te salva? Shiryu, você só venceu meu antecessor porque contou com ajudas externas. O que seria de você sem a mãozinha de Atena, o esforço dos mortos ou a oração da sua amada Shunrei? Haaa... falando nela... — Henry pegou algo que estava preso em sua cintura. — Um guerreiro como você morrer agora seria um tanto que sem graça. Eu espero bem mais de um lendário. Então vou lhe dar um empurrãozinho para sentir vontade de lutar. — Henry pegou a mecha de cabelo de Shunrei e soltou no ar, direcionando os fios com o seu cosmo em direção a Shiryu.

Quando os fios de cabelo se aproximaram de Shiryu, ele percebeu a quem pertencia o cabelo. Shunrei. Ele congelou e olhou para Henry.

— Shunrei! Henry!! O que você fez com ela??!! Desgraçado!! O que você fez?!

— Eu a matei. Obvio! — Os olhos de Shiryu ficaram arregalados. Ao ver tal desespero Henry sorriu. — Calma. A alma dela deve estar por aqui... em algum lugar. Cumpro a tarefa que me dão Shiryu. E o próximo a morrer será você! Tolo de Libra!

— Hen-ry!!!

O cosmo de Shiryu arrebentou e se juntou com as chamas. De repente as chamas azuis se tornaram douradas se misturando com o cosmo de Shiryu. Um imenso cosmo crepitando como chamas avançou violentamente contra o Cavaleiro de Câncer.

— Não vou perdoar você!! — Shiryu começou a andar em direção a Henry. — Você cometeu o mesmo erro que o seu antecessor! Tocou naquilo que é mais precioso para mim! Não hesitarei em matá-lo! Vou livrar a armadura de um usuário sem caráter como você!

Shiryu correu e saltou contra Henry disparando um golpe. O salto dado por Shiryu gerou uma pressão esmagadora que abriu uma cratera. Henry estendeu a mão e parou o punho de Shiryu, mas a força do Cavaleiro de Libra estava mais poderosa do que Henry imaginava e ele acabou sendo arrastado pelo impacto do golpe até chocar as costas em um rochedo. O impacto tirou o fôlego de Henry que em seguida foi acertado por uma sequência de socos. Ele cuspia sangue todas às vezes que os socos lançavam sua cabeça de um lado para outro.

— Como um ser deplorável como você pode vestir uma armadura de ouro?! — Shiryu deu um soco que lançou Henry para a lateral fazendo-o rasgar o rochedo e desabar no chão. — Você não tem postura de cavaleiro de ouro! Não tem honra para tal cargo! Sua função como Cavaleiro de Ouro é proteger os mais fracos! Proteger a Terra! Não é se aliar a deuses como Ares! Não é matar inocentes!

Henry sorriu enquanto tentava se levantar. Sangue escorria de sua boca e testa.

— Perdeu o controle de suas emoções, Shiryu?

— Cale-se! — Shiryu o agarrou pelo pescoço e o lançou para o alto dando um soco em seu queixo. Em seguida Henry desabou de cara no chão. Shiryu partiu para dar mais um golpe, mas seu punho foi parado por uma corrente negra que saiu do solo e o segurou. — Mas o que...

 Corrente da alma! Essa corrente não prende apenas seu corpo, mas também a sua alma. Serve como selo. — Henry passou a mão na boca limpando o sangue que escorria. — Você bate bem Shiryu, mas agora é a minha vez. — disse sorrindo. — Você está sofrendo pela perda da sua esposa? Eu entendo. Está tomado pelo ódio e quer se vingar. Já senti uma dor igual sabia?

— Já... sentiu...? Um monstro como você tem sentimentos?

— Aaah já.— respondeu Henry partindo pra cima de Shiryu e dando um soco em seu abdômen, fazendo o Cavaleiro de Libra cair de joelhos. — Ouça bem a história desse monstro aqui. Nasci e cresci na zona pobre. Cresci vendo pessoas morrerem pela violência e se tornando mais um nas estatísticas. Eu sempre dizia que não queria nada daquilo... até que... vi minha família ser morta. Na... minha... frente. — Ele chutou o rosto de Shiryu, que desabou no chão. — Criei ódio por tudo e por todos. Passei a matar, não, fazia muito mais do que matar. Cacei, torturei e matei todos aqueles que tinham ligações próximas aos responsáveis pela morte da minha família. Queria ver eles sofrendo primeiro e sabendo que os próximos seriam eles. E ao encontrar os responsáveis, os assassinos... haha... Eu torturei suas filhas e esposas na frente deles. Foram dias de gritos e desesperos para eles, mas para mim foram dias de diversão. Prolonguei a dor de cada um o máximo que eu pude.

— Você é um monstro. — disse Shriyu, se levantando.

— Monstro? Não foi você que teve a sua casa invadida e foi abusado por eles!! Eu era uma criança!! Não foi você que viu sua família ser baleada na sua frente. — Henry segurou Shiryu pelo pescoço. — Você não viu sua irmã de apenas doze anos sendo levada a força por três homens, arrastada para o quarto. Não foi você que escutou os gritos dela pedindo por ajuda e dizendo o quanto estava doendo!!! — Henry voltou a chutar Shiryu fazendo com que ele caísse de joelhos cuspindo sangue. Outras correntes surgiram prendendo os braços e pernas de Shriyu. — Não foi você que viu sua mãe sendo arrastada pelo cabelo, implorando para que deixassem os seus filhos em paz e depois sendo baleada. Eles atiraram nela da forma mais brutal que eu já vi. — Ele pós o pé na cabeça de Shiryu prendendo-a no chão. — Não foi você que viu o seu pai ter os dedos cortados, de um por um, e ter a garganta rasgada. Eles deixaram o meu pai sangrar até a morte enquanto abusavam de mim. E sabe qual foi o motivo de tudo isso, Shiryu? Dívidas. Para sobreviver naquela miséria de vida meu pai pediu dinheiro emprestado e não pagou nos prazos que deram. O dinheiro acabou se tornando nossas vidas. Essa é a prioridade que os humanos dão entre a vida e o dinheiro. Da para imaginar tanta brutalidade sendo feita por “humanos”? Você não conhece a verdadeira natureza que muitos homens por aí escondem dentro de si, Shiryu!!!

— Henry...

— Para você e outros no Santuário o mundo é lindo, com pessoas puras que merecem viver, pelas quais vale a pena lutar, mas deixa eu te dizer uma coisa... — Henry se abaixou e cochichou no ouvido de Shiryu. — O mundo está podre, meu amigo. Está em uma acelerada decomposição e os deuses estão pouco se fudendo para isso. E matar é o menor crime que muitos humanos por aí cometem. — Henry chutou Shiryu mais uma vez, fazendo com que o Cavaleiro de Libra cuspisse mais sangue. — Diante de toda aquela situação... Haha... eu despertei o cosmo que dormia dentro de mim. Uma força dourada explodiu do meu corpo e repeliu eles. Consegui matar dois, mas os outros fugiram. Lembro como se fosse hoje eu controlando suas almas e torcendo seus membros apenas com a minha vontade. Eram como marionetes. Estraçalhei a alma deles até que as arranquei por completo. Daí em diante eu matei por puro prazer. Ai você quer agora dar uma lição de moral dizendo que eu devo ser gentil com as pessoas e protegê-las? Não me fode, rapaz. Passei a vida toda vendo o quanto as pessoas são imundas, inclusive matei vários, e que os inocentes só se fodem nas mãos deles. Enquanto isso um bando de deuses idiotas ficam brigando entre si por causa de ganância. Me aliei a Ares porque ele é o único que pode me conceder vingança. Matarei quantos eu quiser e da forma que eu quiser. E isso pode incluir até o próprio Ares, quem sabe.

— Não!! — O cosmo de Shiryu acendeu. — Agora entendi. Você apenas está cego por causa de tudo o que passou. Mas Henry, esse não é o caminho. Você deixou o ódio tomar seu coração e passou a generalizar todas as pessoas como perversas, mas não percebeu que você se tornou um também.

— Como é?!

— Eu tenho um amigo que também sofreu. Não tanto quanto você, mas sua infância também foi acompanhada de violência. Ele acordava e dormia em um local que parecia ser o próprio inferno. — As correntes começaram a trincar enquanto Shiryu fazia forças para se levantar. Henry tirou o pé da cabeça de Shiryu e deu alguns passos para trás, se distanciando. — Ele voltou para nós cego pelo ódio. Queria matar até mesmo o próprio irmão, mas ele percebeu que agir dessa forma estava errado. Todos nós sofremos, mas devemos aprender a superar as dificuldades. Jamais se entregar a sentimentos ruins. — As correntes se romperam. — Enquanto você deixar que a vingança te guie, você vai continuar a matar inocentes.

— Ora, ora. Não foi você quem a um momento atrás queria me matar para vingar a morte de sua esposa?!

— A diferença Henry, é que vou depositar a minha vingança diretamente em você. O assassino. Não nos outros inocentes. Prepare-se!!

— Tolice!! Você fala demais Libra! Falar é fácil porque isso não foi com você. As situações da vida modelam as pessoas. Apenas quem viveu sabe o quanto dói. Bem... É um idiota se pensa que vai me vencer! Aqui é o meu mundo! Aqui as minhas habilidades só aumentam. Sem Atena, oração da sua esposa ou ajuda dos mortos, você não é nada. — Henry ergueu o dedo indicador e novas correntes surgiram prendendo o corpo de Shiryu. — Sabe o que acontece quando uma pessoa é atingida pelo “Ondas do inferno” aqui no mundo dos mortos? Sua alma é despedaçada.

— Eu vou vencer! Pela minha família!

— Eu vou te matar! Pelo simples prazer de arrancar a sua alma.

O cosmo de Shiryu se elevou. Um cosmo dourado que iluminava aquele mundo sombrio. Henry também elevou seu cosmo e se preparou para atacar. As almas giravam ao redor dele e se aglomeravam na ponta de seu dedo. Mesmo preso, com um movimentar de mãos, Shiryu fez o trajeto de sua constelação e atacou.

— Suba aos céus!! “Cólera do dragão!!” — Um soco emanado com um cosmo poderoso foi disparado. A rajada de cosmo em forma de dragão dourado rasgou até mesmo o solo enquanto ia de encontro à Henry.

— “Ondas do Inferno!!” — Uma rajada de cosmo dourado em espiral se chocou com o Cólera do dragão.

 Nada mal. — disse Henry com um sorriso.

— Não estou de brincadeira!! — Shiryu aumentou ainda mais seu cosmo e disparou contra Henry. O Cólera do dragão rompeu o poder do Ondas do Inferno e atingiu Henry em cheio no peito, fazendo o peito da armadura de ouro quebrar e lançou o cavaleiro pelos ares, que em seguida caiu abrindo uma cratera.

Shiryu desabou em seguida. Estava cansado demais e aplicou muito de sua energia nesse golpe.

— Mas que belo golpe hein?! — Henry se levantou em meio aos destroços. Sua capa estava toda rasgada. Seu cabelo e rosto estavam ensopados de sangue.

— Como pode... Como pode ter sobrevivido ao meu golpe? — Shiryu tentava se levantar, mas não tinha forças nem para mexer suas pernas. Seus punhos e pernas continuavam presos nas correntes de Henry.

— Talvez, se sua alma não estivesse tão danificada, eu teria sido acertado de forma mais, digamos, mortal. Mesmo com todo esse poder foi capaz de causar danos na minha armadura. Em uma armadura de ouro. Não é um oponente qualquer.

— Não!! Ainda me restam forças. — Shiryu tentou mais uma vez se levantar, mas já não sentia seu corpo.

Sua visão começou a embaçar e escurecer. Sua língua passou a formigar e sua voz a sumir. Já não sentia também o cheiro de enxofre do Yomotsu. Ele estava perdendo os sentidos.

— Isso acaba aqui e agora! — Henry ergueu o braço apontando para o céu. Em seu dedo um turbilhão de fogo azul esbranquiçado começou a formar um furacão. As almas do Yomotsu eram arrastadas e sugadas pelo furacão de chamas. Henry estava cansado e ferido. Estava colocando todas as suas energias naquele golpe. Seu cabelo estava ensopado de sangue assim como sua armadura, que também estava bastante danificada. A luta com Shiryu foi mais violenta do que ele esperava.

O cosmo de Shiryu continuou a queimar e Shiryu se comunicou através dele. Agora só restava sua consciência e o sétimo sentido.

 Não me subestime.  O cosmo de Shiryu tomou todo o seu corpo e o levantou. O que o movia agora eram os seus dois últimos sentido, mas que logo também iriam desaparecer. As correntes de Henry atingem diretamente na alma do oponente e drena suas forças. Aos poucos os sentidos são tomados e a alma destruída. Até que sobre apenas uma casca vazia.  Lhe darei meu último golpe. Venha!!

 Sua deusa está morta!! Sua esposa está morta e seu filho logo morrerá... Está perdendo seus sentidos e está tão ferido quanto eu. Vá de uma vez por todas ao mundo dos mortos! Tenha sua alma devorada pelas chamas do inferno! Caia, enlouqueça e desapareça! "Ganância de Presépio!!!"

— Um milagre. É o que eu peço. — O céu escuro se transformou em um céu estrelado. Centenas de dragões dourados cruzaram o céu mostrando suas presas e indo contra Henry.  “Cólera dos Cem dragões!!”

O turbilhão do golpe Ganância de Presépio de Henry se chocou com o Cólera dos Cem dragões. Os golpes colidiram e explodiram. Toda a área foi devastada. A explosão dos golpes saiu tragando tudo ao redor. O Yomotsu foi iluminado pela explosão dourada e então tudo se apagou. Por fim uma luz dourada subiu em direção ao céu negro, como se fosse uma estrela cadente, e então desapareceu.

—...—


Casa de Virgem – Santuário

Em um dos aposentos da casa de virgem, havia um homem sentado diante de uma mesa. Jovem, de cabelos negros e ondulados nas pontas caindo sobre o ombro, pele clara e olhos verde-oliva. Na mesa havia um prato com três pães, uma jarra de vinho e um cálice de ferro. O recinto era iluminado por tochas que estavam penduradas na parede. A pequena mesa tinha duas cadeiras. Uma de frente para a outra.

O jovem pegou um dos pães e o partiu ao meio, levando um pedaço até sua boca e comendo. Uma batida na porta o fez engolir mais rápido.

— Entre — disse ele.

A porta se abriu e um homem entrou. Era um homem de cabelos longos cor de vinho na altura dos ombros, com duas tranças longas no lado direito caindo sobre seus ombros. Vestia uma camisa branca de manga curta, uma calça de algodão cor de vinho e calçava os pés de uma armadura de cor verde claro com adornos dourados, mas não era uma Onyx.

— Licença. Posso fazer companhia? — Seus olhos eram verdes e brilhantes como uma esmeralda.

— Fique à vontade. — respondeu o jovem.

O homem arrastou a cadeira e se sentou. Ele olhou para a mesa e apontou para a jarra de vinho.

— Isso é vinho?

— Apenas suco de uva na verdade. E antes que me ofereça um dos seus vinhos, não precisa. Obrigado.

— Sabe quem eu sou?

— Dionísio. Deus grego do vinho e dos delírios. Eu vi o senhor no Bacanal. — respondeu o jovem, olhando para o deus. — Meu nome é Shalom. O cavaleiro de ouro de Virgem.

— Acredito que o bacanal não tenha sido do seu agrado.

— Certamente não.

— Compreendo. Responda-me Shalom, porque um jovem como você, devoto do deus cristão, está aqui?

— Não pensei que um deus grego viesse até aqui ter esse tipo de conversa comigo. — Shalom apontou para os pães, oferecendo ao deus que em seguida se serviu. Dionísio fez surgir seu cálice e pegou o suco de uva de Shalom. — Não sei qual a minha função nessa guerra. Apenas sei que devo estar aqui.

— Entendo. Ou melhor, acho que entendo. Você pretende se aliar a um dos lados? Deve saber que rebeldes estão se levantando contra Ares. Esses rebeldes estão dispostos a continuar a servir Atena. Mesmo estando “morta”.

— Não tenho interesse em me aliar a nenhum dos lados. Não sei qual é o correto, apesar de trajar uma armadura de Atena e ter jurado serviços a Ares. Por isso, apenas vou fazer o que tem que ser feito quando o momento certo chegar. Momento qual eu não sei quando ou como será, mas sinto que terei uma certeza quanto a isso. Por isso estou aqui na casa de virgem apenas observando. Agora a pouco, em um tipo de dimensão paralela, senti dois cosmos colidir e explodir. Sinto que um dos cosmos ainda se mantém aceso, mas o outro, bem... — Shalom parou e olhou para Dionísio. — Veio até aqui realmente apenas para saber de qual lado eu estou?

— Sou um deus curioso e que gosta de conversar tomando vinho.

— Entendo. Como eu disse, fique à vontade.

— Não vai me expulsar por ser um deus “estrangeiro”?

— Me foi ensinado a respeitar as diferenças do meu próximo. E isso inclui até mesmo um deus como você.

— Há dois mil anos atrás eu conheci um “homem” parecido com você.  — Os olhos verdes de Dionísio encaravam os olhos castanhos de Shalom. — Ele tinha esse olhar puro e emanava essa sensação de paz. Também era um homem sábio e de palavras puras, mas esse homem se sacrificou por um bem maior. Você pretende tomar o mesmo caminho que ele?

— Se for necessário, nessa guerra, estarei disposto a me sacrificar. Tudo pela humanidade.

— Belas palavras. — Dionísio pegou seu cálice, sorriu para Shalom e tomou um gole. — Mas ao mesmo tempo triste. Você é novo, não conhece o terror de uma Guerra Santa.

—...—


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Grupo da fanfic no facebook: https://www.facebook.com/groups/562898237189198/

Nesse grupo você acompanha o lançamento dos capítulos e ainda tem acesso ao perfil e histórico de alguns cavaleiros.



Próximo capitulo: Asclépio explica aos cavaleiros sobre a missão de ir ate a Alemanha, sobre todo o mistério que se esconder nessa guerra santa e sobre o segredo dos berserkes. Enquanto isso Deimos prepara o seu exercito para invadir Asgard. Os terríveis berserkes do exercito de Deimos surgem para marchar com o seu deus.

Os Capítulo 22: Os preparativos da guerra nórdica. Invocação dos berserkes demônio.



brigado a todos que ainda permanecem aqui comigo e seja bem vindo você que está começando a me acompanhar. Lembre-se, opinião e sugestão são sempre bem vindas.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Saga de Ares - Santuário de Sangue" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.