Sexta, 19 de Maio de 2008

Ben

Parecia que ele demoraria horas pra responder-me. A ansiedade pulsava em meu corpo conforme o tempo passava e eu batia os dedos contra a madeira no rítimo da música que tocava em meu iPod no momento, vulgo St. Jimmy, Green Day. “E se ele não quiser falar com você? E se estiver de saco cheio de ter que aturar o garoto suicida que mora do outro lado do país?” Minha mente gritava. Porque é lógico que ele nunca mais falaria comigo depois de descobrir a verdade, ninguém fica por perto depois que descobre.

“Billie está digitando...” Sabe o quanto eu odeio essa frase? Muito, muito mesmo. Parece que a pessoa está reescrevendo os sete livros de Harry Potter enquanto eu, o idiota, espera! Que inferno! Eu poderia ficar horas e horas falando – pensando – sobre falas idiotas de salas de chat se não fosse pelo som do meu compudor bipando (N/a: bipando. Isso é uma palavra?). Logo que olhei pra tela senti o sorriso invadir meu rosto.

“Billie: Oi,” lia-se na tela.

“Ben: Pq demorou tanto? Achei que tinha esquecido de mim! E tbm, tdb?” Me apressei a digitar

“Billie: Esquecer de você? Nunca. Como eu poderia esquecer do meu melhor amigo – que mora do qutro lado do páis, mas isso são detalhes – hein?” Ele respondeu e eu corei, tudo bem. Eu posso ter ou não uma queda, de um penhasco, por ele. Mas quem liga?

“Ben: Own. Mas sério pq demorou tanto?” Mandei.

“Billie: Meu irmão me chamou e blablabla... Mas como tá a vida, a minha tá mtto boa.”

“Ben: Ta indo, uns dias melhores que os outros. Mas agora me diz qu eu tô quase morrendo aki de curiosidade, como foi o show?”

“Foi uma das melhores coisas da minha vida, só de tá la valeu a pena tudo que eu fiz. Mds foi mtto bom!” Ele disse e não pude evitar de sorrir. Era tão bom que ele não tivesse citado e nem tentado insistir em entender o acontecido...

Ainda me pego pensando nele no decorrer do dia e em como seria bom o ter por aqui sempre. Ele mora em Michigan e eu na Flórida. Distancias são uma merda, só queria o ter por perto, poder o abraçar e me perder em seus olhos quando me fala sobre seu dia... Se eu me sinto do jeito que sinto só por causa de nossas conversas escassas na internet não consigo imaginar como seria a sensação de poder abraça-lo todo dia quando o visse nos portões da escola. Eu poderia falar horas e horas sobre como essas pequenas conversas e sonhos com Billie me deixam sano, mas como todo ser humano eu também preciso comer e, graças a Deus, minha mãe gritou falando da janta. Eba. Hoje é dia de lasanha, minha favorita.

“Cara, isso é ótimo, serio msm! Mas agr tenho que ir, minha mãe tá chamando p jantar. bjs,” mandei e nem esperei pela resposta, fui descendo a escada e seguindo o maravilhoso cheiro de queijo derretido.

Me arrependi de ter sido tão obliquo em relação a tudo menos o cheiro de queijo no segundo que vi quem estava sentada na mesa conversando com minha mãe.

“Lolly...” sussurrei sorrindo.

“Oi seu idiota!” Lolly, ou melhor, Sarah respondeu vindo me abraçar. “E ai, Ben? Como vai o amor da sua vida?” Ela perguntou, eu corei e minha mãe soltou um risinho.

“Lolly!” Exclamei envergonhado. “Ele tá muito bem, obrigado. E, ah, como ele é fofo e lindo e perfeito...” eu desviei completamente do foco da pergunta, mas quem liga? E sim, meus pais sabem que eu sou gay e, sinceramente, não dão a mínima.

“Deus! Esse aí é uma causa perdida!” Lolly comentou com minha mãe.

Eu ri, mamãe riu. A atmosfera era de pura felicidade e eu me sentia bem, quase tão bem como quando eu falava com Billie pelo computador. Eu conheci Sarah no dia em que ela se mudou pra casa ao lado da minha. Na época seus pais ainda estavam casados e ela era uma perfeita francesinha. Nasceu na França, e talvez seja por isso que a chamo de minha francesinha, mas esse privilegio é só meu. É sinceramente uma das melhores pessoas que conheço, mas nunca queira a ver com raiva. Além disso tudo, ela é o mais próximo que tenho de uma irmã e uma encrenqueira de maior qualidade. E sim, eu a amo.

“Ben, vai chamar o seu pai, querido.” Mamãe pediu.

“Okay” murmurei. “PAI!” Gritei.

“Ben!” ela me repreendeu. “Se fosse pra girtar eu mesma teria!”

E eu ri. Logo papai desceu e a lasanha estava na mesa. Todos conversavam e tudo era perfeito, pelo menos por agora.