Gypsy escrita por Arabella


Capítulo 22
Indiana Jones.




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Sentados à mesa estava a mãe de Finn e um senhor meio carrancudo, que eu presumo que seja seu pai.

– Nossa! Porque demoraram tanto? – pergunta a mãe de Finn – Quase que a comida esfria, e assim iria ficar in-tra-gá-vel!

– O que importa é que já chegamos – Finn respondeu – Pai, esta é Rachel Berry, uma amiga minha de Nova York.

– É um prazer, Senhor Hudson. A casa de vocês é linda – me apresso em dizer, pois são gentilezas como essa que pessoas finas como os pais de Finn gostam de ouvir quando recebem visitas em suas casas. Talvez o Senhor Hudson não esteja incluído nesse grupo.

– Igualmente. – ele respondeu sério – Agora, sentem-se vamos almoçar logo de uma vez.

Não sabia dizer ao certo se ele gostou ou não de ter minha humilde presença almoçando na sua mansão, para ser bem sincera acho que ele estava totalmente indiferente a isso.

– Que tal começarmos pelo foie gras, querida?

– Hum, não sei... – pondera a Senhora Hudson – Acho que vou preferir um pad thai de inicio, e você Finn, o que vai querer?

– Pizza.

– Não tem pizza no menu de hoje, Finn! – sua mãe exclama meio nervosa.

– Mas eu pedi pizza ontem, e sobrou, vou querer ela – ele fala sorridente enquanto sai da mesa se encaminhando para o outro extremo do cômodo. Me deixando sozinha com seus pais. E apavorada.

– Ele sempre foi assim... – começou a Senhora Hudson – Tudo tem que ser do jeito dele. É um incorrigível esse meu filho... Incorrigível! - Ainda bem que Finn vou voltou rápido de onde quer que ele tenha ido. Estava com uma caixa do Pizza Hut na mão e interrompeu o discurso da mãe sobre as peripécias dele.

– E você Rachel, o que vai querer?

– Acho que vou te acompanhar na pizza – respondi aliviada ao saber que pelo menos havia algo ali que eu sabia pronunciar o nome e principalmente, sabia como comer.

– Eu sabia! Trouxe um pedaço para você também. - Depois de Finn me servir um sofisticado pedaço de pizza de pepperoni, o almoço transcorreu aparentemente tranqüilo. Aparentemente. Cerca de dez minutos de refeição sem muita conversa o Senhor Hudson resolve por um assunto em pauta.

– Esses dias liguei para a sua empresa, me disseram que você não estava. Onde é que você estava hein? Mal começou e já está caindo na gandaia?

– Eu deveria estar resolvendo outros assuntos – Finn respondeu sem dar muita atenção, não desviando seus olhos da pizza.

– Não, me informaram que sua ausência não tinha nada a ver com os negócios. Estava de licença, por motivos pessoais. Ora veja, como você pode estar de licença em sua própria empresa? “Não há nada mais pessoal do que sua vida profissional” era o que me dizia seu avô, Finn e lembre-se disso, talvez isso coloque algum juízo nessa sua cabeça.

– Eu tenho sócios que se provaram perfeitamente capazes de segurar as pontas quando não estou – Finn tentou justificar.

– Mas isso não justifica! – bradou o pai – Você é o dono e tem que agir como tal, quando tudo vier por água abaixo, é o seu nome que vai para o lixo.

– Só que isso está bem longe de acontecer, não é? – comentei com bom-humor, ou melhor, tentei parecer bem humorada, a verdade era que eu estava um pouco indignada – Pelo que eu andei lendo sobre a empresa, ela vai muito bem, com direito a premiações e tudo mais...

– Isso pouco importa. Não é assim que as coisas funcionam no mundo dos negócios. Não se vive de glórias passadas, temos que olhar para o futuro, obter lucros! – contrapôs o pai de Finn.

– Tudo bem, pai. Eu vou tentar melhorar – disse Finn muito sério, com um olhar bem firme. Eu conhecia aquele olhar. Ele pertencia ao Finn workaholic que eu conheci no elevador, e agora eu estava entendendo o porquê dele existir. Não posso dizer que gostei dessa descoberta.

– Você é bom, Finn – falei e tinha consciência do olhar inescrutável que o pai dele lançava sobre mim – só está passando por alguns problemas.

– Está vendo? É disso que eu estou falando, você deixa os problemas te abaterem! Se você fosse mais obstinado, seria o melhor de Nova York e não “Um dos 10 empresários mais bem-sucedidos”. Não estaria morando no Village, e sim numa cobertura suntuosa na Quinta Avenida, porque teria milhões!

– O que seu pai está querendo dizer, Finn é que você tem que se esforçar mais. Nós não criamos você para ser um perdedor. Ele só está preocupado porque gosta de você e que seu bem – a Senhora Hudson falou, tentando apaziguar a tensão que enchia aquela enorme sala. Seu discurso não deu muito resultado. Principalmente em mim.

– Ele não precisa de milhões para viver! – contrapus – Ele só precisa qu–

– Eu já terminei de comer – Finn me interrompeu – Você também já terminou, não é Rachel? Acho que já podemos ir! - E imediatamente se levantou da mesa.

– Mas vocês não comeram nem a sobremesa! – exclamou a mãe dele – Tem profiterólis, E daqueles que você adora!

– Não vai dar tempo, mamãe, temos que chegar em San Diego logo, a mãe de Rachel está nos esperando. E, além disso, eu não gosto tanto assim de profiterólis, essa é a sobremesa preferida do papai, a minha é brownie.

– Jura?! A minha sobremesa preferia também é brownie – digo entusiasmada na esperança de descontrair o ambiente, pois Finn me puxava pela mão novamente, me arrastando para fora da sala dessa vez – Foi um prazer você conhecer vocês e obrigada pelo almoço, estava ótimo – falo para os pais dele instantes antes de cruzar a porta de saída.

– Não há de que, querida – gritou a mãe dele em resposta – e volte sempre! Adoramos quando Finn trás visitas aqui!

– Pena que eu não posso dizer o mesmo – resmunga Finn, assim que chegamos ao lado de fora – e agradeça ao Pizza Hut, foram eles que fizeram sua comida. - Olhei para ele e percebi o quanto ele estava tenso e aborrecido. Certamente, ele não estava exagerando quando disse que não agüentava mais.

– Não vou nem perguntar quem são as outras vistas que você trouxe aqui – disse na centésima tentativa de descontrair o ambiente enquanto entravamos no carro.

– Por favor, não pergunte. São dois dias seguidos de discussões intermináveis. Não acho que quero entrar em outra. - E por isso, só por isso eu aceitei ficar quieta sobre o assunto. Mas que eu senti uma pontinha de ciúme quando ouvi o comentário da Senhora Hudson era inegável...

Durante o caminho de volta não houve muitas conversas. Entre Finn e eu, quero dizer. A maior parte do tempo ele passou no celular, ligando para diversas pessoas, a maioria era da empresa. Ele dava ordens, analisava informações e tomava decisões.

Eram coisas de importância vital ele dizia para as pessoas no outro lado da linha. E eu comecei a ficar preocupada.

– Finn... – comecei a falar assim que ele deu uma trégua nas ligações – Não precisa se preocupar tanto, afinal de contas, hoje é feriado. Não é porque seu pai falou aquelas coisas que você tem que se desesperar...

– Quando ele tinha a minha idade ele já tinha acumulado três vezes mais que eu. E ele não era rico, não teve uma educação tão boa quanto a minha...

– Mas pensa comigo – falei me preparando para um longo raciocínio que era muito lógico. Pena o celular ter me interrompido.

– Um minuto – Finn pediu enquanto atendia o aparelho estridente.

Obviamente não durou mais que um minuto. Muito, muito mais. E quando chegamos na porta da minha casa ele ainda estava com o aparelho colado a orelha.

– Chegamos – anuncio em uma entonação que mais ou menos queria dizer “desliga essa porcaria” Que bom que ele entendeu. E com um “ligo mais tarde”, guardou o celular no bolso.

Apresentar Finn para minha mãe não foi uma tarefa fácil, pois como vocês lembram, saí de casa sob pretextos de emergência e meu paciente em questão parece muito saudável no momento, apertando a mão de mamãe com vigor e um sorriso nos lábios.

– Pelo visto você já está bem melhor – comenta minha mãe aliviada.
Finn parece confundido e eu aterrorizada. Por fim, ele percebe o olhar de pânico que lanço para ele e colabora com a minha farsa.

– Pois é, Senhora Berry... O que aconteceu não foi tão grave, mas foi suficiente para me desestabilizar. Senti algumas dores e não soube o que fazer, esse é o lado ruim de ter uma médica tão atenciosa quanto Rachel cuidando de você, a dependência. Eu não nem sequer imaginei que, talvez, se eu tomasse um simples analgésico ele iria aliviar a minha dor. Dá pra acreditar?! - Sinceramente... Não. Essa foi uma das mentiras mais mal contadas que ouvi em minha vida, mas eu tinha que seguir a corrente.

– E para evitar que isso aconteça novamente e eu tenha que me despencar para Laguna Beach no meio da madrugada, achei melhor trazê-lo. Tem problema?

– Claro que não minha filha, – respondeu mamãe, sempre muito bondosa – será um prazer ter debaixo do meu teto o primeiro paciente que minha filha curou.

– É muita generosidade a sua – disse Finn agradecido.

– Imagine, vamos entrar logo de uma vez.

E assim se instaurou um clima de admiração mutua entre eles dois. Minha mãe quis saber tudo sobre ele e seu trabalho. E ele contou tudo com extrema simpatia, principalmente sobre se trabalho que parece ser a prioridade da sua vida agora. Depois de minutos (que pareceram horas) de um papo chato sobre sua empresa e o que ele faz nela, mamãe estava fascinada, mas por sorte resolveu mudar de assunto.

– Mas me diga, Finn – nem uma hora de conversa e ela já estava intima – como alguém consegue ser atropelado em uma garagem?!

Eu contei a história do acidente para ela, meramente para ilustrar o caso. Só que naturalmente, não mencionei minha participação nele, afinal, o assunto era a doença dele, não como ele a descobriu!

– Improvável, não é? – Finn comentou guiando seu olhara para mim – Foi uma ciclista louca, que não olhou por onde andava. Como existe gente desastrada nessa mundo, não é mesmo?

– Rachel que o diga! – acrescentou mamãe – Só hoje ela quebrou dois copos e prato.

– É mesmo?! – perguntou Finn divertido – Porque não estou impressionado?

– Ah, então ela já deu mostras dos desastres dela para você?

– Algumas... – Finn disse pensativo enquanto coçava a barba por fazer, me afundei no sofá, e isso porque eu nem imaginava o que vinha pela frente – Teve uma vez que ela ia sair com os amigos, mas antes disso tinha que passar para me ver e dar os meus remédios e chegou lá toda arrumada e posuda com seus saltos altos. Era uma pena que ela não sabia andar com eles direito e de alguma forma que até hoje eu não entendo como, ela caiu justo em cima de mim.

– Ah meu Deus! E o que aconteceu? Você se quebrou mais ainda?

– Não, na verdade... Não aconteceu nenhuma tragédia, até que foi divertido. - Começa a circular muito sangue pelo meu rosto, sinto meu rosto arder e quando Finn joga outra vez aquele olharzinho de canto de olho para cima de mim, minhas bochechas ficam em chamas.

Não é a melhor hora para memórias desse beijo rondarem a minha cabeça. Vão ser mais ou menos 24 horas ao lado de Finn sem poder tocá-lo, esse não era o melhor jeito de cumprir essa tarefa. Por isso, dei a ideia de vermos Indiana Jones, mais um que meu pai gostava de assistir. E durante a primeira metade do filme tudo funcionou como o planejado. Fiquei absorta nas aventuras do explorador, deixando um pouco de lado a vontade de beijar Finn. Porém, chegando ao final do filme, em uma das cenas preferidas de papai, sofri outro atentado da minha memória, dessa vez não com Finn, com o meu pai.

Me lembrei de como ele sabia todo o diálogo dessa cena e sempre que assistíamos juntos ele, a recitava para mim com as exatas mesmas entonações que o protagonista. Sem nem ao menos saber que lembrava, comecei a recitar baixinho aquelas falas. Mas não levei muito tempo para perceber que eu não era a única acompanhando Indiana, mamãe também falava. Ela também se lembrava. E com certeza, assim como eu, também sentia falta. Antes que eu pudesse me reprimir meus olhos se encheram d’água. Se encheram e transbordaram. Mentiram para mim, não melhorou com o tempo, a saudade continua a mesma. E eu quero meu pai de volta.

Fui puxada para o peito de Finn e ali me senti ainda mais a vontade para aliviar toda aquela opressão que sentia no peito. Nesse momento não me importei com que minha mãe descobrisse que entre ele e eu há algo mais do que deve haver com um paciente e uma médica. No entanto, acho que mesmo assim ela não percebeu. Porque ela também estava chorando. No outro lado do ombro de Finn.


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