The Perfect Weekend escrita por Rennan Oliveira


Capítulo 1
Entre o Sábado e a Segunda-feira




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O fim de semana com Sam Evans havia sido incrível, e o que Quinn Fabray entendia por “incrível” era que finalmente conseguira fazer cada uma das coisas que programara fazer. Passara a semana inteira pensando em uma maneira de gastar bem as quarenta e oito horas do fim de semana ao lado do homem que amava e chegara a boas sugestões para isso. Ohio podia parecer um fim do mundo para os moradores de Nova Iorque, entre outros, mas tinha as suas opções de lazer, e elas eram lindas.

Para aquele fim de semana em especial, por exemplo, Quinn pretendera fazer algo que envolvesse algum cenário bonito em algum lugar confortável, onde pudesse apenas estar com Sam e existir ao seu lado. Um parque verde, com árvores, grama, playgrounds e muita gente se enquadrava perfeitamente quando comparado com as suas expectativas. Pensava em se sentar ao lado de Sam e, se ele não tomasse iniciativa antes, ela se deitaria em seu peitoril que, com anos de musculação, se tornara tão ou mais macio do que um caro travesseiro de penas; um apoio para a cabeça que Quinn achava ao mesmo tempo bom e excitante. Ele poderia se deitar no chão, se quisesse, e aí ela poderia apoiar a cabeça em seu abdome. Daria a mão a ele e sentiria sua aspereza, adquirida com os anos, na delicadeza de seus próprios dedos, contando parte de uma história que ela não conhecia, que acontecera em anos em que ela não sabia que Sam era o homem que ela procurava para a vida.

E talvez contassem histórias com suas próprias vozes também, e Quinn tinha muitas histórias, se Sam estivesse interessado em ouvir. De olhos fechados, protegendo-os do sol ou das folhagens das árvores que caíam vez ou outra, e ainda deitada sobre sua barriga, ela discorreria uma narração depois da outra, mencionando acontecimentos de sua época de adolescência, da sua obsessão por popularidade e das loucuras que fizera para ser uma líder de torcida. Contaria da vez em que quase ficara grávida, um susto que a tornara mais cuidadosa durante relações sexuais. Gradativamente, lembrar-se-ia de outras histórias que não conseguia recordar agora, mas tinha certeza de que assunto era o que não faltaria, sem sombra alguma de dúvidas.

E era esperado que Sam falasse também. Por mais quieto que o homem fosse na maior parte do tempo, Sam gostava de falar, se a oportunidade lhe fosse devidamente concedida. Ele contaria histórias curiosas, adicionando um tom cômico aos relatos, como geralmente fazia quando tinha medo de parecer alguém chato e tedioso. Faria alguma imitação e essa imitação o faria se lembrar de outro relato, onde provavelmente também fizera a tal imitação, mas no qual ela não era a protagonista. Falaria dos tempos antes de conhecer Quinn. Talvez contasse histórias que ela já conhecia e que ela ouviria com o maior prazer novamente, porque o timbre da voz do namorado, por si só, era um bálsamo para os seus ouvidos e para o seu corpo. Viajaria nas palavras ouvidas e talvez deixasse o corpo em um devaneio profundo.

Ou talvez não falassem sobre nada; aproveitariam o silêncio. Claro, nem sempre o silêncio é algo bom, principalmente no que diz respeito a um casal de namorados, mas não é possível comparar o silêncio mantido durante um encontro em um parque florestal ao silêncio à mesa de jantar, não é mesmo? Óbvio que não. E esse segundo tipo de silêncio era um que Quinn e Sam já não provavam há muito tempo, da mesma forma como não provavam mais jantares à mesa. A rotina não lhes permitia esse direito, então geralmente cada qual jantava em um horário diferente, em um lugar diferente, e nunca na mesa da jantar. No final das contas, ela servia apenas de enfeite ou para receber convidados que o casal dificilmente tinha.

E por falar em comer, em algum momento do passeio, Quinn, ou Sam, sentiria fome, e por essa razão ela já teria preparado de antemão algum lanche. Pensava em wraps, um alimento leve e muito saboroso, perfeito para dias de verão. Usaria massa integral e a preencheria com frango grelhado e claras de ovos batidas com aveia e preparadas como uma omelete. Adicionaria sal a tudo. E também levaria uma garrafa de suco natural de laranja, porque Quinn se absteve das caixas de suco industrializado assim que passou a compartilhar dos mesmos hábitos alimentares – e saudáveis – de Sam. Comeria aos risos, porque Sam ficava de muito bom humor quando se alimentava bem.

Não que ele não estivesse de bom humor antes, era importante ressaltar. Sam era um homem bom e também um bom homem, então quase não havia momento em que ele não estivesse bem – exceto quando estava muito mal, e ocasiões como essas só aconteciam quando algo o feria, o chateava. Quinn costumava de falar que, para Sam, quase não havia tempo ruim. Bastava não mencionar assuntos delicados ou mal resolvidos que ele saberia levar qualquer situação numa boa.

Terminado o dia no parque, eles iriam para a casa e teriam que tomar banho. Juntos. Quinn entraria no chuveiro primeiro porque, diferentemente de Sam, não tinha problemas com os primeiros litros (frios) de água que um chuveiro despejava antes de aquecer a água por inteiro. Sam encararia a água com ela segundos depois e a puxaria para um beijo.

Quinn o beijaria e a mente deixaria a área do banheiro enquanto os lábios estivessem colados nos de Sam. Quando fechava os olhos para beijá-lo, era como se um portal para outra dimensão fosse aberto, e Quinn o acessava com uma facilidade que deixaria muita gente de olhos arregalados. Sabia do prejuízo que havia em deixar a água cair por tanto tempo, mas quem ama alguém – até mesmo quem está apenas apaixonado (ou principalmente esses) – dificilmente presta atenção nesse tipo de coisa, e Quinn não fugiria a essa exceção. Muito menos Sam.

Não tardaria até que ele quisesse penetrá-la e ela desejasse essa penetração. Sam já adentrara o chuveiro com o pênis ereto, pronto para o sexo – razão pela qual Quinn imaginava que ele fugisse da água fria –, então não era de se admirar que eles fossem fazer amor embaixo da água em algum momento. Sam a seguraria pelas nádegas e a sustentaria com seus braços fortes, mas ela não o deixaria fazer todo o trabalho duro, é claro: envolveria a cintura de Sam com ambas as pernas, cruzando-as às suas costas, e se agarraria ao seu pescoço. A proximidade de sua boca ao ouvido do namorado seria tanta que ela sussurraria palavras de amor para ele – isso quando não estivesse tentando impedir que gemidos profundos rompessem por sua garganta. Além do mais, suspiro nenhum seria ouvido por Sam enquanto ele continuasse a soltar aqueles lamentos altos e graves, então ela teria que esperar momentos oportunos, que quase nunca viriam. Viriam apenas quando ele ejaculasse. Ele a beijaria por todo o pescoço e ela o arranharia com as unhas da mão direita, não com muita força, apenas o suficiente para ele entender o quanto ela o desejava.

E então terminariam o banho.

Deitariam ambos de cabelos ainda molhados, já tarde da noite. Sam ligaria a televisão, mas não prestaria atenção nela realmente, porque manteria o rosto voltado na direção de Quinn, e ela faria o mesmo na sua direção, com a diferença de que a mão esquerda acariciaria o rosto do namorado. Falariam mais algumas coisas, alguma besteira, e ririam aos sussurros, como um casal de adolescentes que tem medo de que os donos da casa saibam que eles estavam fazendo o que não deveriam. Voltariam a se beijar e talvez fizessem amor novamente, dessa vez com mais intensidade, sem a dificuldade de fazer isso em meio à água e em pé. Dormiriam instantes depois.

E acordariam no dia seguinte, cedo o suficiente para uma rotina de corrida e caminhada pelo bairro, com a temperatura ainda fresca. Chegariam em casa uma hora depois e comeriam um café da manhã dos reis. Só voltariam a se preocupar com comida boas horas depois, mas pediriam comida chinesa – queriam aproveitar o fim de semana de uma maneira melhor do que gastando tempo na cozinha. Ficariam sem planos a partir daí, mas então Quinn se lembraria de que lera em algum guia de turismo de Ohio que havia peças de teatro em cartaz pela cidade, e o que era melhor: de graça.

Sam, que desde a última peça que assistira criara certo amor por esse tipo de arte, aceitaria a proposta da namorada sem pestanejar. Arrumar-se-iam, portanto, com pouca pressa e deixariam a casa com a van de Sam, pois Quinn alegaria que lavara a sua há pouco tempo e não queria que a poeira da cidade a sujasse.

Assistiriam, com uma plateia pouco entusiasmada, um drama de época, sobre uma mulher pobre que trabalhava para uma família rica. A peça se dizia musical, mas Quinn podia contar nos dedos de uma mão o número de canções entoadas nas duas horas da produção: cinco. Apreciara as atuações e o enredo, mas apreciara ainda mais o aconchego do braço e do ombro de Sam, que, com pouco menos de meia hora de peça, caíra em um sono profundo, dos deuses. Acordaria apenas quando acendessem as luzes e os aplausos tivessem início.

Sam não faria comentário nenhum sobre a peça, por conta do constrangimento que sentia por ter dormido durante toda a produção, e Quinn não o forçaria a falar nada; não queria estragar o fim de semana. Ao deixarem os limites do teatro, perceberiam que a noite já tivera início e quereriam jantar em algum lugar bacana. Acabariam optando por um Mc Donald’s qualquer, uma vez que o apetite que sentiam era ainda maior do que a vontade de estar em algum lugar requintado e com música ambiente. Sairiam do Mc Donald’s depois de uma hora e após diversas conversas engraçadas, que provocariam risos quase que incontroláveis em Quinn e também em Sam. Quinn imaginava que fosse o alto teor de gordura do lanche o culpado por isso.

E então voltariam para casa. Assistiriam a um filme policial na televisão e dessa vez seria Quinn a pessoa a dormir no assento do sofá. Mas Sam, diferentemente dela, a acordaria poucos minutos depois, sugerindo que fossem para a cama, e assim eles fariam. Na cama, contudo, o sono de Quinn já não existiria mais.

Razão pela qual fariam amor.

Dormiriam nus, lado a lado, o que tornaria prática a arrumação de ambos para o dia de trabalho que começava na manhã seguinte.

Agora, Quinn dirigia por Lima, fazendo entregas e pensando no fim de semana perfeito e em todos os momentos que passara ao lado do namorado, assim como nas conversas que tiveram. Lembrava-se das risadas, dos instantes de grande descontração e de como Sam parecia engraçado, mesmo quando estava sério – talvez fosse culpa do tamanho da sua boca. Pensaria na felicidade e na alegria que sentia só por estar ao lado do namorado, ainda que tivessem feito passeios simples, baratos e nada chiques, e então tentaria se alimentar do amor que sentia por Sam para tornar aquele um dia de trabalho tão importante quanto foram os dias do fim de semana.

Mas não seria muito bem sucedida na tarefa.

Porque agora percebia algo que antes não fora capaz de perceber: pensar nas memórias que tinha ao lado de Sam não eram suficiente para felicitá-la. Estar ao seu lado, fisicamente, era. Por isso que passava a semana inteira combinando fins de semana perfeitos ao lado do namorado.

Porque não havia nada e nem ninguém no mundo que pudesse fazê-la tão feliz quanto Sam, aquele homem simples, loiro, de lábios enormes e que costumava dormir em peças de teatro, fazia.

Não seria aquela uma boa hora para combinar o próximo fim de semana, então?


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Notas finais do capítulo

Outra Spin-off de When You Came To Me? Essa eu tenho mais certeza de que é rs