Please Be Mine escrita por BlazingHeart
Meu corpo me traiu naquele momento, ficou parado, paralisado. Samuel estava ali bem na minha frente. Todas as lembranças vieram como uma torrente de água; preencheram minha mente e me atordoaram de uma maneira agressiva.
— Dave. — sua voz era sutil e fria, seu sorriso parecia expressar seu deleite pelo que ocorria aqui. — Faz um tempo não?
Eu fiquei ainda mais atordoado. Sua frieza era de se admirar, como poderia se dirigir a mim com tamanha frieza?
— V-Você. — minha voz falhou, meu semblante continuava estarrecido. — Como você tem coragem? —seu sorriso aumentou e seu olhar me atingiu em cheio. — O que você quer de mim? Já não bastava o que você fez?
Minhas palavras pareciam não o atingir, e sim o divertir. Seu olhar e expressão pediam que eu continuasse. Pediam para que eu fosse a vítima, e ele o vilão malvado. No mesmo instante em que percebi isso, parei e tentei me acalmar. Olhei para trás e Alex estava olhando muito apreensivo, seu olhar não o deixava esconder isso.
Ouvi passos e rapidamente virei para frente, Samuel havia se aproximado de mim. Ele não tinha mudado muito com o tempo, seus olhos continuavam infinitamente negros, inexplorados, misteriosos. Seu rosto tinha ficado mais bonito e harmonioso com o os detalhes de sua face. Sua aproximação foi muito intensa, eu sentia sua respiração e ouvia o som característico da mesma. Ele pegou meu queixo com a ajuda de seus dedos indicador e do meio e começou a se aproximar, rompendo a zona segura que queria estabelecer. Só senti um empurrão e ele caindo no chão, tinha fechado meus olhos antes de sua invasão a minha segurança, fui abrindo meus olhos lentamente e vi a cena: Samuel estava no chão, Alex estava por cima dele, o prendendo no chão com suas pernas e elevando o rosto de Samuel pela gola da camisa com sua mão esquerda, enquanto sua mão direita estava fechada um pouco acima do rosto sádico de Samuel.
— Não chegue mais perto dele. — a raiva era presente na voz de Alex.
— Ora, ora, vemos que arrumou alguém pra te proteger? — seu tom de voz era de zombaria. — Me largue. — acrescentou, mas Alex continuara ali estático.
— Amor, ele não vale a pena. — minha voz demonstrava meu atordoamento.
— Amor!? — Samuel estava com um sorriso na face. — Interessante...
Ele não tinha intenção de continuar falando, e mesmo se tivesse não conseguiria, pois logo em seguida um soco foi desferido em sua face. Alex saiu de cima dele e veio para o meu lado, pondo seu braço a minha volta, me protegendo e expressando que eu era propriedade dele e de mais ninguém.
Samuel pôs a mão sob a face, tentava amenizar a dor desse jeito, seu sorriso sádico saiu de controle e se tornou numa expressão de raiva que o mesmo tentava não deixar transparecer tanto.
— Um namoradinho? — o tom de voz dele era imutável. — Achei que não confiaria em mais ninguém desse jeito depois do que aconteceu. — acrescentou, sua expressão de raiva reprimida era tão assustadora quanto o sadismo que tivera estampado em seu rosto.
Alex olhou bem dentro dos meus olhos, eu respondi isso com um olhar que dizia: Te conto mais sobre isso, depois. Ele pareceu ter entendido e sua mão se tornou mais firme em meu ombro.
— O que você faz aqui? — disse tentando demonstrar calma. — Achei que nunca mais voltaria, esperava isso na verdade.
— Te decepcionei? — ele realmente ria de mim e dos meus sentimentos. — Estou de volta, não pretendo sair tão cedo. Meu lindo Dave.
Aquelas palavras me atingiram de uma maneira brutal e me deixaram atordoado. Lembrei de olhar Alex, seus olhos pareciam pulverizar Samuel, reduzi-lo a nada além de pó. Eu me aproximei dele e aninhei-me no seu abraço, tentando amenizar aquilo e mostrar que eu era dele e que as palavras de Samuel eram apenas para tentar tirar nossa calma. Ele entendeu e fez o que era mais certo: me tirou dali. Eu estava muito atordoado para fazer isso por mim mesmo, então Alex me conduziu até o lado de fora e fomos para a casa dele.
— Ele não tem o direito. — gritou Alex, esmurrando a parede.
— Tenta relaxar, ele não importa nada para mim. — depois que ele desferiu socos na parede, eu fui para frente dele e olhei profundamente para aqueles olhos expressivos. — Tenho que chamar Clare, ela está envolvida nesse assunto tanto quanto eu.
Clare não demorou chegar, meu tom de voz era bem preciso quanto à gravidade do problema, e com isso, a velocidade que ela precisava chegar aqui. Sua expressão estava dividida entre um sorriso de felicidade e um semblante preocupado, ela parecia não ter dormido direito por dias. Comecei a falar tudo, detalhe por detalhe do meu encontro conturbado com o passado que tentara deixar escondido junto com minhas piores lembranças no interior da minha mente. Sua expressão ficou sombria, ela sofrera ainda mais com que Samuel tinha feito.
— Ele não pode ter voltado. — sentou e fez uma expressão assustada. — Se ele tentar de novo?
Alex me observou esperando uma resposta para isso, esperava que eu contasse tudo o que aconteceu.
— Samuel, ele nos separou. — meu olhar pousou em Clare. — Ele nos enganou. Me humilhou. — hesitei, vi os olhos de Clare marejarem. — Ele sabia que eu tinha uma paixão por ele, então decidiu me deixar aproximar e o que eu sentia foi crescendo e eu não imaginava que ele estava me enganando. — minha respiração me traiu. Não me sentia bem falando sobre essa lembrança do passado. — Ele namorou comigo por um tempo. — hesitei em continuar, meus olhos também começaram a marejar. Clare já estava chorando. — Me traiu com uma garota e me humilhou na frente de todo mundo. — os olhos preocupados de Alex continuavam ali, exigindo mais detalhes. — Me senti um lixo. — respirei profundamente, uma lágrima desceu pelo lado esquerdo do meu rosto. — Não bastava isso, ele conseguiu a confiança de Clare e humilhou ela com sua sexualidade. — Clare estava agora recomposta, olhando para o vazio. — Clare sofreu muito com isso, causou traumas nela e em mim também. — queria parar ali, mas não achei suficiente. — Ele fez tudo isso para se divertir.
Era impossível usar algum modo de medir a raiva e o ódio presentes no olhar de Alex. Ele me beijou logo depois que falei; levou seus dedos ao meu rosto e limpou a lágrima que tinha dali, escapado. Eu sorri para ele. Então saindo do meu lado, ele chegou até Clare e a abraçou. Ela pareceu surpresa, eu nem tanto.
— Vamos fazer algo juntos? Daqui a pouco? — sugeriu Alex, depois de incontáveis minutos de silencio depois da conversa.
Clare e eu nos entreolhamos e sorrimos, assentimos virando para Alex. Ele sorriu. Aquele lindo sorriso que nunca cansava de apreciar. Voltei com Clare para casa e fomos nos aprontar para nos divertimos um pouco e então, tentar esquecer uma porcentagem dos problemas que vinham com Samuel.
Depois nos encontramos com Alex. Jullie estava dormindo, tinha contraído uma gripe e estava doente aos cuidados dos pais. Aquela noite foi descontraída e nos ajudou a esquecer um pouco os problemas, tentamos não namorar tanto porque senão, Clare ia sobrar e criar um clima chato ali. Tirando isso, a noite foi perfeita. Alex foi dormir na minha casa. Dormimos abraçados naquela noite anormalmente fria, ele me protegia do frio com seu calor corporal e dos pensamentos preocupados com seu cheiro inebriante e a sensação protetora de seus braços à minha volta. Como torres me protegendo.
Passaram-se algumas semanas desde a aparição de Samuel. Me preocupava ele não ter feito nada ainda, ao mesmo passo que me aliviava. Clare estava ansiosa, mas não tinha me contado o motivo, parecia algo magnífico, pois nunca vi aquela ansiedade nela. Espero que seja algo bom, pois tudo estava correndo bem. O projeto escolar foi um sucesso, elogiaram minha liderança, estava tudo indo muito bem e esse clima calmo era meio torturando. Certa vez vi em algum lugar que: “O silêncio que precede a batalha, é tão aterrorizante quanto a própria”. Algo do tipo, isso se encaixava com o que estava acontecendo.
No fim de semana fui acordado por uma ligação.
— William! Urgente! — Clare, gritava histérica, aquilo me preocupava. — Venha aqui! Urgente!
Tentei sair o mais rápido que pude e me encontrar com Clare. Sua expressão quando a encontrei era muita coisa junta para que eu pudesse definir uma só.
— Queria contar que aconteceu algo. — sua voz era uma confusão tão grande quanto sua expressão. — Finalmente aconteceu.
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