Contando as estrelas escrita por Maria


Capítulo 2
Talvez seja o Destino.




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Anne é o tipo de mulher decidida. Se ela não for com a sua cara, é melhor não tentar. Ela é durona e sempre tem aquela pose de que quer fazer isso ou aquilo. Se ela quer fazer, ela vai lá e faz. Se não quer fazer, nem menciona.

As primeiras semanas de sua viagem, ela até que se adaptou bem. Nas primeiras noites, não tinha onde dormir ainda, então, estacionava a caminhonete em qualquer beco vazio e subia no capô. Sentada com as pernas cruzadas. Observava as estrelas enquanto acendia um cigarro.

E era o silêncio, as estrelas, o fumo e ela.

O fumo queimava e ardia. Como relva sendo incinerada pelo ardente e caloroso sol, o cigarro era queimado pelo isqueiro, tragado e inspirado. Descia a traqueia de forma brutal, prazerosa e súbita. refrescava e fedia cada poro. E a sensação vívida estava lá, mais uma vez.

Anne olhava as estrelas, fechava os olhos, sentia a fumaça subir e abria os olhos novamente. Tudo fazia sentido. Tudo pairava, tudo girava. E como um estalo, Anne percebeu o que era o mundo: Apenas uma enorme bola gigante que era imensamente linda e assim como a vida tinha seus truques e segredos ocultos, o mundo tinha os seus. A verdade era que ela para o mundo não era nada. Assim como você não é nada e eu não sou nada, ela era nada. Se ela não corresse seus riscos, o mundo não a esperaria para isso.

Quando exausta, estendia o colchonete na traseira da caminhonete e dormia até o sol, cedinho, despertá-la. E como um "Bom dia! E aí está você de novo!" o sol brilhava e ela sorria.

Seus banhos eram feitos em bares e botecos. Cerca de cinco moedas era cobrado. Nada genial, nem nada muito higiênico, mas estava valendo.

Ela passava pela terceira cidade, no oitavo dia, quando a gasolina faltou. O dinheiro para os banhos, os cigarros e a comida estava faltando, então ela pegou seu Noot-book na mala e no posto de gasolina, com ele carregando, começou sua primeira fraude de cartão. O cartão foi recusado na primeira, na segunda e na terceira. O posto iria fechar em meia hora e já estava escuro. e foi então que ela teve uma ideia.

P.O.V Anne Lótus

Já desesperada, com pouco dinheiro, pedi para tomar uma breve ducha no posto. Eles deixaram e eu completei com gasolina, meus últimos quinze dólares. Com o tanque cheio e de banho tomado de verdade, pus uma meia calça rastão, um vestido vermelho bem decotado e uma maquiagem pesada. Um batom vermelho.

Dirigi até uma boate local e bem badalada e perguntei se eu poderia "trabalhar" como dançarina stripper e eles concordaram rapidamente. Me encaminharam para baixo e me deram uma lingerie branca de oncinha. Tinha uma prancha de cabelo e eu a usei para chapar o meu. Pus a lingerie com a meia calça e me senti suja. As outras meninas se concentravam para o trabalho que começaria em meia hora. Reforcei o batom vermelho, deixando-o ainda mais vívido e observei como eu estava indecente. Meus largos quadris se adaptaram àquela roupa facilmente. Meus seios sempre mais arredondados e fartos como a das maioria das meninas que conheci, estavam saltando daqueles soutienes e os saltos que pus de 15mm estavam esfolando meus dedinhos. "Foco", pensei. "Você precisa de dinheiro, não estrague isso." Observei como estava suando e percebi que aquele quarto num porão, não havia janela e era tremendamente pequeno. Observei as paredes descascando por infiltração, o chão sem piso totalmente irregular, as olheiras de algumas mulheres, algumas meninas que deviam ter dezenove anos e eu hesitei por um momento. "Será que é realmente correto isso?" E antes que eu pudesse desistir, um homem nos chamou. Formou-se uma fileira única e enquanto as meninas passavam pela porta que estava sendo ocupada pela metade por aquele homem, ele dava um tapa na bunda de cada uma e dizia variações de "nos traga dinheiro" e "boa sorte".

Eu era a última da fila e na minha vez ele me segurou pelo braço e deslizou os dedos até meus seios. Seus dentes eram amarelados e ele era bastante gordo. Tufos brancos explodiam pelas orelhas. Seu rosto vulgar e esburacado era repulsivo. Enquanto massageava um dos meus seios, me disse:

— Vai ter que fazer o teste, gata.
— Por qual motivo?
— Você é nova. Temos que avaliar.
— Então vamos logo.

Ele me levou a um quarto escuro e fedido. Transamos por algum tempo e ele me avaliou entre cento e trinta e cento e cinquenta dólares. Depois de vestida, fui até o segundo andar acompanhado por ele e o trabalho oficial começou. Naquela madrugada, tive três clientes. Cobrei cento e trinta para um, cento e cinquenta para outro e cento e vinte cinco para outro. Ao total faturei quatrocentos e cinco dólares. 40% era deles, portanto, sobrou para mim cento e sessenta e dois dólares. Após oito dias de trabalho, faturei mil oitocentos e sessenta. Saí daquela boate e nunca mais voltei.

Continuava viajando e quando o dinheiro faltava, voltava a prostituição. Realmente não me importava. Desde que eu tivesse estrelas para olhar, cigarros para fumar, café quente para beber, eu estava feliz.

Seis meses depois...

"Ninguém faz nada sozinho. Todo mundo precisa de mais um. Um parceiro, uma dupla. Um lar, alguém para incentivar. Se chegar mais um, vira amizade. Mais uma pessoa muda tudo. Muda a história, muda o clima. Faz qualquer um sonhar!"

Anne escreveu aquelas palavras em seu diário e lembrou do primeiro dia em que passou o dia fora. Da cara de seu chefe ao saber de sua demissão, daquele fino diário em branco que ela comprara no seu antigo restaurante e que agora ele estava manchado de tinta e tinha presenciado taaaanta coisa. Lembrou da primeira vez que trabalhou na casa de prostituição. Lembrou da primeira vez que um homem levantou a mão pra ela. Lembrou da primeira vez que fraudou um cartão e do medo que sentiu, coisa que agora fazia na maior naturalidade. Anne lembrava disso tudo e pela primeira vez sentiu uma pontada no estômago e pensou se não seria a hora de conhecer alguém, uma amizade, talvez...

A nova cidade estava se aproximando. Era umas três da tarde e ela resolveu parar num grande centro comercial para tomar um café, comprar um cigarro e uns chocolates, talvez. "Nem lembro mais como é o gosto do chocolate. Estou com vontade..." .

No mercado, com três maços de cigarro na mão, quatro pacotes de chocolate e bastantes preservativos, Anne estava caminhando em direção ao caixa quando de repente bateu num homem e os cigarros caíram..

—Olhe para onde anda, desgraçado!—Disse Anne, irritada.
—Olhe você, vadia! —Retrucou o homem com uma fina barba por fazer, camisa preta debaixo de um casaco verde de couro, um jeans e botas.
—Como disse, vagabundo?!—Disse Anne olhando para o sujeito com ódio nos olhos.
—Vamos Jack!— Interveio um homem que usava blusão quadriculado vermelho e jeans.

Os dois foram embora resmungando e xingando baixo. Anne pulsava de raiva, pegou os cigarros e foi xingando em alto e bom som.

No estacionamento, com o cigarro na boca e as mãos no volante, pronta para sair, um carro a fechou na porta. Ela deu uma buzinada longa e gritou "Saia daí inútil!". Quando ela foi ver, eram os dois do mercado. O tal JackPôs o dedo do meio pra fora e foi embora com seu carro. Anne observou o carro. "Nossa! Era um Impala!!!"

De noite...

Anne já havia arrumado um bordel para dançar e estava pronta. Entraria em 3 minutos e fumou seu último cigarro. Aquele processo de sempre "fileira, dança, escolher um homem, ir para sua casa, voltar no outro dia para buscar o pagamento".

Dessa vez não.

Anne estava com o sorriso estampado no rosto e dançando pela barra. Descia e subia ao som estridente daquelas músicas que Anne odiava. rebolava e percorria os olhos pela boate. Ninguém a escolheu. "Preciso desse dinheiro" pensou Anne e logo, uma ruiva se aproximou dela. Ela deu uma volta na barra.


—Eu quero você.
—Só homens, desculpe!
—Seu cafetão não me informou isso. Quer que eu avise a ele.

"Você precisa desse dinheiro"

—Vamos! Sua casa?
—Sim...

Ela era sedutora, cabelo liso, escorrido e jogado aos ombros, ruivos. Pele branca. Seu nome era Charlie.

A noite foi longa e demorada, Anne cobrou a mais por não ser aquilo original de sempre. Às 3 três da manhã, dormiram.

No outro dia, nua na cama, Anne percebeu que aquele lugar era luxuoso. Cama macia... Ela percebeu que aquela ruiva não estava mais ali. Olhou ao redor e viu as duas figuras do mercado e deixou o lençol cair ao num rápido movimento de sentar-se. Os seios estavam a mostra e ela os tapou rapidamente.

— Cadê minha cliente? A ruiva?— Perguntou Anne, confusa.
— Viajou.— Disse as figuras, num uníssono, encostadas a porta
— O café tá na mesa—Disse o que usava um casaco quadriculado, agora.
— É Jack?—Hesitou, mas enfim, Anne fez a pergunta.
— É sim, e ele é Ben.—Respondeu Jack

Anne estava confusa.


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