Tudo aconteceu em tão pouco tempo. A volta de Lee, os mútuos ataques do mesmo, a morte de Ino, tudo ao mesmo tempo. Eu estou muito abalada psicologicamente, e muito preocupada com o que pode acontecer com as pessoas que eu amo futuramente. Eu vi em seus olhos que ele não descansaria até acabar comigo por inteiro. Estou deixando Los Angeles para viver aqui em Phoenix por uns tempos, quero proteger as pessoas que são valiosas pra mim.

E, por enquanto, isso deu certo para mim. Me mudei para o sul de Phoenix faz uma semana, consegui um emprego em um mercado perto de minha nova casa, que por acaso é meio antiga e rústica. Porém, após umas passadas de tinta azul nos últimos dias, devo dizer que ficou melhor do que eu esperava. Era deserta, eu só tinha uma vizinha, que morava bem na casa ao lado: Konan. Ela era bem simpática, me ajudou a pintar a minha casa na ultima sexta-feira, e ficamos vendo uns filmes sábado a noite, que por acaso foi ontem.

Quanto Los Angeles? Sentia saudade de tudo por lá. Hinata, Chloe, Henrique, Hikaru, Naruto, Sasuke… E Ino. Sabe, era muito diferente a dor de você lembrar de uma pessoa sabendo que ela está longe, porém viva, para a dor de você recordar alguém que, a esse momento, deve estar a sete palmos do chão. Prometi a Ino que não choraria diante de sua morte, e depois daquele dia, eu cumpri a minha promessa. E também espero que o funeral não tenha passado, eu queria falar no mesmo exatamente como Ino me pediu por aquela carta.

Enfim, não mantive contato com os meus amigos. Joguei me celular pela janela do trem quando ainda estava em Los Angeles. GPS nenhum podia me localizar, até pintei meu cabelo de preto para que ninguém pudesse achar a famosa garota de cabelo rosa. E era isso que eu realmente queria.

Fui tirada dos meus pensamentos por batidas na porta de madeira da cozinha.

— Sakura, sou eu, Konan. — Identificou-se.

— Olá Konan, tudo bem? — Eu disse abrindo a porta e a observando, dando passagem para que a mesma pudesse entrar.

— Tudo. Vai trabalhar hoje?

— Vou. O gerente da loja me ligou e pediu pra chegar um pouco mais cedo, a loja está mais movimentada hoje.

— Imagino, o centro sempre fica lotado aos domingos. — Concordou.

Dito isso, logo me despedi de Konan e fui para o meu trabalho a pé. Acho que a calma existente naquelas ruas de Phoenix passavam para mim enquanto estava caminhando por elas, eu esquecia de todos os problemas que eu tinha quando estava lá.

Poderia viver em Phoenix pelo resto de minha vida sem problemas, mas sabia que por mais que esse fosse o meu plano, não era algo que eu iria conseguir fazer, eu não era forte ou fria o suficiente para largar toda a minha vida em Los Angeles para trás, e nem era desistente para deixar que Lee me vencesse daquela forma.

Eu só precisava de tempo, para botar as coisas no lugar. Sabe, a morte de uma pessoa pode mexer, e muito, com a gente, mas pelo menos nunca foi de uma forma positiva. Eu perdi os meus pais aos dezessete anos, e agora havia acabado de perder Ino. Definitivamente, aquele não era o meu momento...

Chegando lá, cumprimentei todo mundo.

— Oi Deidara, Eric. — Falei. Deidara era o caixa, ficava ali para passar as compras… Mas não pensem que ele engole sapos, já vi ele brigar muito com clientes. Ah, e vocês devem se lembrar do Eric, ou devo dizer “Romeu”? Ele estava na mesma festa em que conheci Sasuke, e encontrei-o por aqui. Não me perguntei o que ele fazia lá… Acreditem, já tentei saber, mas ele sempre ignora a pergunta.

— Olá Sakura, pensei que nunca teria ajuda. Parece que o movimento de clientes de hoje é bem maior do que o número que costumamos receber no domingo. — Disse Deidara terminando de atender um cliente. Aquele lugar estava realmente cheio, pelo menos, nunca tinha visto ele aquele jeito.

— Sabe o que eu acho, Deidara? Eu acho que você ficou com a sua rotina maluca ontem a noite, se atrasou pra chegar e agora lotou tudo por aqui. Acertei? — Perguntei. Obtive a resposta pelo seu silêncio. — Você tem que parar com essa vida de balada.

— Mas não consigo. Eu passo o dia inteiro trabalhando nessa loja, preciso descansar. Mas por sorte, amanhã estarei de folga. — Ele sorriu pra mim.

— Um dia tudo bem, mas eu já sei sua rotina toda Deidara: segunda é suruba, terça é aquelas safadezas de internet, quarta é casa de strip, quinta é garota de programa, sexta e sábado é balada! Acertei? — Perguntei, indo para trás do caixa dois para atender os clientes.

— Errou, na segunda eu passo o dia dormindo e descansando, na terça eu tenho preguiça de fazer qualquer coisa, por isso venho trabalhar daquele jeito, na quarta eu saio com alguma garota e na quinta eu tento me manter bem descansado para ir nas baladas no final de semana.

— Então você fala com o Eric porque ele disse que te seguiu durante duas semanas e você tem exatamente essa rotina que eu te falei. — Expliquei.

— Tudo bem eu admito, mas eu não faço surubas na segunda e muito menos garota de programa na quinta, não tenho dinheiro suficiente pra isso.

Olhei bem para a cara de Deidara enquanto passava as compras de uma cliente.

— Eric vem aqui por favor! — Gritei, e logo vi Deidara arregalar os olhos.

— Fala Sakura!

— Não é verdade que o Deidara vai pra suruba? — Perguntei.

— Sim. Toda segunda-feira.

— Está vendo! — Disse, satisfeita com minha vitória.

— Idiota. — Ele ficou emburrado e bufou. Eu mostrei a língua pra ele e voltei ao meu trabalho.

O dia por lá passou lentamente. Era muito cansativo ficar presa em um lugar em que você tem que aturar clientes mal educados e irritados o dia todo. Porém, você também consegue fazer alguns bons amigos com tudo isso.

Logo, Deidara e Eric foram embora e eu fiquei de fechar a loja, saindo lá pelas quatro horas. Normalmente eu saia as dez da noite, mas era domingo, e nesse dia fechamos mais cedo. Fui caminhando para casa com um sono daqueles. Tudo que eu queria fazer era ir para minha cama e dormir até amanhã.

Quando cheguei em casa tomei um banho e dormi. Konan ficou de passar aqui mais tarde para que pudêssemos ir ao cinema. Eu acho que não dormi muito, mas quando acordei notei que haviam se passado mais de 3 horas e Konan estaria aqui em casa à 10 minutos, corri o máximo que pude, tomei um banho, e optei sem pensar em um vestido branco com um tênis branco e vermelho, penteei o cabelo bem rápido, corri e me sentei no sofá, logo ouvindo batidas na porta. E depois da minha autorização para entrar, ela me olhou bem surpresa.

— O que foi? Está ruim? — Eu disse olhando em seus olhos.

— Não, eu pensei que você estaria dormindo como das outras vezes.

— Claro que não, eu acordei mais cedo dessa vez. — Disse rindo.

— Então… vamos? — Ela disse saindo.

— Claro.

E então fomos ver o “Um Porto Seguro”, um romance que nos fez chorar e rir, nos divertimos muito, rimos bastante e finalmente voltamos pra casa. Tomei banho novamente e me vesti e pude deitar novamente para descansar, amanhã seria um dia difícil, sem um dos atendentes fica mais complicado administrar os clientes da loja.

Quando me deitei para finalmente ganhar o meu merecido sono, ouço o telefone tocar. Olhei para o relógio de parede, quem ligava para os outros uma hora da manhã? Levantei-me com raiva e andei até o telefone de parede.

— Alô?

— Que saudades de você amor. — Eu tremi quando reconheci aquela voz. Pois bem, não me deixei abalar, ele não poderia me ferir pelo telefone.

— Oi amor, tudo bem com você, as crianças e as prostitutas que você contrata? — Perguntei, sarcástica.

— Estão todas bem. — Escutei sua risada. — Então, eu liguei para te avisar que não adianta se esconder, eu vou terminar o que comecei. Aliás, um dos seus amigos não está nada bem, espero que você tenha pelo menos um pouco de remorso de para poder visitá-lo. Adeus.

— Espera! — Falei, antes que ele pudesse desligar a ligação. — O que você quer de mim?! Você me falou tudo, disse que quer me infernizar, fazer eu passar a dor que você passou, mas você não disse o que eu posso fazer! Me fala! — Gritei ao telefone.

— Você sabe o que eu quero. Eu quero acabar com sua vida, isso é simples. Eu só quero que você sofra bastante. — E então ele desligou.

Depois daquela ligação, eu fiquei de cabeça cheia e com a adrenalina a mil. Ele não iria parar mesmo comigo longe, então o jeito seria ficar perto. Mas quem poderia ser dessa vez meu Deus? Sasuke? Chloe? Hikaru? Naruto? Quem esse desgraçado tava tentando matar agora?!

Chega! Vou pegar o primeiro trem para Los Angeles. Me despedi brevemente de Konan e peguei o salário que recebi hoje para ir a rodoviária. Lá, percebi que demoraria até chegar a Los Angeles, então aproveitei e peguei um cartão de telefone, indo ao orelhão do outro lado da rua para fazer uma importante ligação para alguém de confiança.

Lá, fiquei com medo de que ele não atendesse, mas logo aconteceu.

— Alô? — Chamei.

— Sakura? — Eu fiquei mais aliviada quando ele atendeu.

— Sasuke! É você?!

— Sim, aonde você está?! — Senti a preocupação na sua voz.

— Em Arizona. Sasuke, levanta agora!

— Sakura onde você se meteu?!

— Liga pra todos os nossos amigos! Chloe, Hinata, Henrique, Naruto, Hikaru, para todos! Reúna todos eles em um mesmo lugar, eu quero que todos estejam seguros quando eu chegar ai!

— Mas o que está havendo? O que aconteceu? Por que você está ai? Estou ficando preocupado, pensei que tinha morrido. — Ele estava mais aliviado de falar comigo.

— Lee me ligou! Vocês estão em perigo, eu preciso que fiquem todos juntos enquanto eu não chego ai! Entendeu?

— E quando você chega?

— Pela manhã.

— Tudo bem, vou agrupar todos.

— Ok, nos vemos na sua casa!

Falei e logo parti para a rodoviária, e após esperar alguns minutos pelo trem, o mesmo chegou. Entrei e sentei-me rapidamente. Fiquei pensando como todos me receberiam após fugir de Los Angeles daquela forma. Não deveriam ter mudado tanto em somente em uma semana, o meu medo era que eles me rejeitassem após ir embora sem dar explicações. Eu estava assustada.

Não sabia o que faria daqui pra frente, não estava preparada para as armadilhas de Lee e muito menos pelas críticas que receberia dos meus amigos, mas continuaria seguindo, tenho que protegê-los mesmo que não se importem comigo. Semana passada descobri o quanto Lee pode ser traiçoeiro, e foi por isso que, quando sai daquele trem duas horas depois, o meu coração e meu cérebro pareciam ter o peso de uma pedra.

Caminhei até o ponto de ônibus mais próximo e peguei o primeiro que apareceu. Não sabia o que me esperaria a partir dali...