Mais um dia, mais um casamento. Esse era o lema da empresa Feliz para sempre produtora especializada em eventos de classe, uma das mais recomendas da Inglaterra, apesar de serem responsáveis pela organização de vários eventos o seu carro chefe com toda a certeza era os casamentos.

Em um belo dia de primavera o enorme salão aguardava o inicio da cerimônia que oficializaria a união de duas famílias poderosas, os Namikazes e o Hyuugas se uniriam formalmente através do casamento da primogênita Hyuuga Hinata e o primogênito Namikaze Naruto.

A estrutura disponibilizada pela empresa organizadora do casamento contava com o salão cerimonial e o salão de festas localizados na propriedade pertencente a empresa, um enorme clube que contava com quadras para a pratica de diversos esportes e um lago particular, o lugar era imenso e belo especialmente no auge da primavera.

O salão cerimonial estava repleto de pessoas e a decoração impecável era uma das marcas dos organizadores, arranjos de flores brancas estavam cuidadosamente dispostos pelo local, as pétalas espalhadas pelo tapete vermelho equilibravam a cor vibrante deixando tudo mais delicado o que combinava perfeitamente com a noiva.

As mesas postas no salão de festas estavam cobertas por toalhas brancas que tinham detalhes roxos, a porcelana estava impecável e dispostas para cerca de quinhentos convidados o bolo era perfeito com detalhes em alto relevo que o deixavam delicado e chamativo.

Na cozinha o grupo de garçons era cuidadosamente instruído por Sabaku no Temari, a organizadora de casamento e filha do dono da empresa, os rapazes estavam atentos a cada palavra exceto por certo ruivo que revirava os olhos enquanto tentava ajeitar a gravata borboleta, voltou sua atenção quando ouviu a ultima palavra da loira.

- Não espero nada menos que perfeição, tomem seus postos e aguardem o inicio da festa. – Falou com voz firme e ameaçadora.

Os rapazes foram saindo até que o ruivo teve seu caminho impedido enquanto passava pela loira.

- Gaara... – A mulher estava com o braço estendido impedindo a passagem do rapaz. – Tem que levar isso a sério, sabe que o nosso pai quer que conheçamos todos os aspectos desse negocio, essa é a nossa herança.

- Sabe muito bem que eu não me importo com isso! – Respondeu abaixando o braço da irmã. – Só estou aqui para manter meu carro. – Disse seguindo seu caminho deixando a irmã para trás.

Os herdeiros da família Sabaku eram bem diferentes, primeiro vinham os gêmeos Temari e Kankuro, tinham 26 anos, a menina tem cabelo loiro e o rapaz castanho, ambos casados, desde cedo são instruídos a conhecer todos os aspectos de seus negócios, assim Temari optou por ser organizadora de casamentos enquanto Kankuro cuida de toda a parte administrativa, o mais novo é ruivo e sempre ostenta olheiras profundas por viver a vida noturna sempre em baladas cheio de garotas e álcool a vontade, tem 22 anos e uma peculiar tatuagem na testa é muito rebelde, trabalha para o pai apenas para manter seus luxos, quer ser fotografo e abomina toda a ideia de casamento por isso não quer se envolver nos negócios da família.

O rapaz ruivo caminhava inquieto enquanto mexia compulsivamente na gravata borboleta.

- Maldita forca... – Resmungava tentando afrouxar o nó. – Espero que isso acabe logo, hoje tem uma das melhores festas a fantasia do ano... – Divagava sozinho imaginando a noite de bebedeiras que tinha pela frente.

No quarto especial a noiva estava cercada pelas madrinhas, estava linda e era verdadeiramente elogiada, tudo estava perfeito, Hinata se olhava no espelho imaginando a reação de seu noivo ao vê-la, a menina era ingênua e muito recatada, quando conheceu o loiro se apaixonou imediatamente o sorriso dele a encantou e tomou o coração da garota para sempre, estavam noivos há seis meses e em seus encontros trocavam apenas beijos e pequenas caricias, apesar do casamento ser um negocio lucrativo para as famílias a menina o amava muito e acreditava estar realizando um sonho. Hinata acreditava verdadeiramente no casamento.

O noivo estava atrasado. Já havia passado uma hora do horário marcado e Naruto ainda não tinha aparecido, o celular parecia estar desligado, Hinata mantinha a esperança enquanto os sussurros começavam a tomar mais volume até mesmo entre aqueles mais próximos a noiva.

No salão Gaara já estava impaciente e sem avisar saiu do lugar procurando um ambiente mais fresco no fim de tarde, vasculhava os bolsos até encontrar a cartela de cigarros, caminhou distraído por uma pequena trilha no jardim da propriedade e chegou a uma antiga ponte que cortava o lago, aquela área era um pouco isolada e estava um tanto descuidada ainda assim era um belo espetáculo de fim de tarde, o reflexo do sol no lago atingia as flores coloridas da beira, a brisa fresca e leve fazia a natureza dançar, o ruivo sentou na ponte e acendeu o cigarro imaginando que aquele era o momento perfeito para uma foto, puxou o celular na tentativa de captar a beleza do lugar e depois de varias fotos chegou a conclusão de que estava faltando algo, ficou divagando tentando imaginar o que faltava ali para que ele conseguisse a foto perfeita.

O sorriso de Hinata começava a desmanchar enquanto ficava nítido que seria deixada ali, sozinha no dia de seu casamento, antes que pudesse deixar a tristeza tomar conta de sua expressão viu, através do reflexo no espelho, um loiro afoito entrar em seu quarto.

- Por favor. – O loiro se manifestou. – Saiam todos, preciso de um momento a sós com a Hinata.

As mulheres que ali estavam se entreolharam como se soubessem o que estava por vir, começaram a sair mesmo relutantes.

- Hinata você pode olhar para mim? – Naruto pediu vendo a garota virar devagar. – Não vai haver casamento. – Falou diretamente na tentativa de diminuir o máximo que podia o sofrimento da garota.

A partir daí o loiro começou a se explicar, dizendo todos os motivos que o levaram a essa decisão, entretanto Hinata não podia mais ouvi-lo, via seus braços se agitarem enquanto seus lábios se mexiam freneticamente, não ouviu as desculpas, os motivos, ouviu apenas a noticia de que não mais casaria com o homem de seus mais belos sonhos, Naruto terminou seu discurso e a encarou esperando alguma atitude furiosa, a morena percebeu o termino das palavras e não sabia quanto tempo tinha passado.

- Você não vai dizer nada? – Foi o que Hinata ouviu ao voltar para a realidade.

- Você pode se retirar, por favor. – Disse com classe aproximando-se do loiro com o intuito de chegar até a porta. – Pode dizer aos outros que não haverá casamento e que eu preciso de tempo sozinha? – Pediu com voz calma enquanto tocava a maçaneta.

É só isso? – Pensou confuso. A menina ouviu todo o desabafo e as confissões e era essa a atitude dela, simplesmente não faria nada além de ficar sozinha, o loiro era demasiado diferente e jamais poderia entender o sofrimento profundo que estava corroendo a pobre moça por dentro, jamais entenderia a atitude vazia da jovem e os desejos que ela lutava para manter dentro de seu peito. Ele esperava que ela tentasse mata-lo, que o humilhasse e dissesse tudo que ele sabia que merecia ouvir, acabou descobrindo que aquele silêncio o destruiria da pior forma possível e que se tornaria um grande fardo, ela transformou aquele momento em um terrível fantasma, ainda que isso não fosse sua intenção.

- É claro! – Naruto respondeu em voz baixa e quando atravessou a porta sentiu uma grande tristeza.

Hinata fechou a porta trancando-a e deslizou até o chão, não tentava controlar suas emoções queria apenas desabar em prantos, entretanto as lagrimas não saiam, encostou a cabeça na porta enquanto fitava o teto e ouviu as vozes do lado de fora.

- Não vai mais haver casamento! – Naruto comunicou seguido de vários questionamentos.

Hinata percebeu que ele não se deu ao trabalho de responder apenas foi embora. A noiva queria chorar, espernear, quebrar tudo, chorar até os olhos ficarem vermelhos e inchados, o problema era que ela não era assim, nunca teve problemas de temperamento, sempre foi muito educada e recatada, seu controle emocional era impecável e simplesmente não conseguia chorar, por mais que tentasse as lagrimas não caiam, por isso ela lidava com a dor de um jeito muito diferente ficava sozinha respirando devagar até dormir, ela nunca entendeu o motivo das lagrimas não caírem e esse foi o único jeito que encontrou de extravasar suas tristezas.

Algumas batidas na porta fizeram Hinata abrir os olhos, precisava de mais tempo sozinha e percebeu que ali seria impossível, olhou em volta e notou uma porta atrás de uma cortina branca, caminhou devagar tentando não fazer barulho esperando que a porta estivesse destrancada, para sua sorte a porta abriu devagar e sem esperar mais a menina atravessou encontrando o quintal, provavelmente uma saída de emergência que deve ter sido destrancada por medida de segurança. Parecia que somente os empregados teriam acesso aquele local, então sem medo Hinata começou a correr sem rumo, tropeçou e perdeu um dos sapatos por isso tirou o outro e jogou-o longe passando a correr descalça.

Chegou a um jardim belo e passou a dançar entre as arvores sentindo a brisa tocar a pele, a alguns metros o ruivo descobriu o que faltava naquela paisagem e sem perder tempo passou a registrar o momento. Hinata se aproximava cada vez mais daquele lago tranquilo quando estava na beira se jogou entre as flores e de braços abertos deixava o sol beijar sua pele enquanto fechava os olhos devagar.

Gaara viu a jovem parar de se mover e sem fazer barulho se aproximou ainda tirando fotos, era uma bela cena.

- Não é muito comum ver jovens noivas aqui quando deveriam estar casando. – Disse um tanto sarcástico esperando uma reação explosiva.

- O meu noivo decidiu que não vai mais haver casamento. – A menina respondeu sem abrir os olhos.

- E porque essa decisão tão repentina? – Perguntou curioso sobre as palavras que não a faziam estar chorando o que seria normal para uma moça na situação dela.

- Eu não sei. – Respondeu sentando e bufando. – Eu não ouvi! – A menina encarava o sol poente.

- E porque não chora, não briga, não pede explicações? – A pergunta era baseada nas reações comuns de uma jovem deixada no altar. – Não queria se casar? – Interpelou tentando entender o motivo de tão estranha atitude.

- Estava sonhando com esse dia desde que o conheci... – Respondeu com calma enquanto respirava devagar. – Você já amou alguém? – Perguntou encarando os olhos verdes.

- Bem... Eu... – Em raras ocasiões Gaara se sentia desarmado e era exatamente isso que estava acontecendo. – Acredito que amei somente a minha mãe. – Desviou o olhar incapaz de continuar observando os grandes olhos brancos.

- Achei que como tem esse Kanjin na testa, talvez você pudesse me entender... – A menina sorria enquanto apontava a tatuagem do ruivo. – Mas percebo que não pode. – Mais uma afirmação que deveria sair carregada de tristeza não deixa transparecer nada além de normalidade.

- O que você quer dizer? – Por algum motivo entender aquela menina passou a ser uma necessidade para Gaara.

- Eu sou estranha... – A menina sussurrou colocando a mão ao lado da boca como se fosse um grande segredo. – Eu amo todos! – Afirmou com naturalidade.

- Por quê? – Foi a única coisa que conseguiu formular e já não conseguia disfarçar seu interesse.

- Por que é preciso! – A simplicidade daquelas palavras só deixava a afirmação mais complexa.

- Mas assim você vai sofrer demais! – Exclamou como se fosse um grande crime.

- Eu não sofro como as outras pessoas! – Respondeu esticando os braços. – Foi muito bom conversar com você, mas eu tenho que encontrar outro lugar para me esconder, logo vão me encontrar aqui e a conversa não será tão agradável quanto essa então preciso de mais tempo longe. – A menina tentava se levantar.

- Não vai chegar muito longe com essa roupa! – Afirmou voltando a expressão de imparcialidade. – Eu posso te ajudar a sair daqui, mas em troca quero algo.

- E o que seria? – Perguntou desistindo de tentar levantar sozinha.

- Quero que você responda todas as minhas perguntas para podermos terminar essa conversa! – Falou cruzando os braços olhando em direção ao horizonte onde quase não se podia mais ver os raios de sol.

- Tudo bem... – Hinata estava curiosa, nunca ninguém se interessou por suas estranhezas. – Desde que sejam apenas três perguntas por dia, uma de manhã, uma pela tarde e uma de noite e eu decidirei que perguntas responder.

- Hã!? – Gaara a voltou sua atenção para o rosto da jovem que permanecia sentada. – Pra que isso?

- Gostei muito da sua companhia e a nossa conversa foi muito agradável, quero estendê-la o máximo possível e acredite depois da sua ultima pergunta você vai querer deixar de ser meu amigo. – Respondeu sorrindo de olhos fechados.

- Como pode ter tanta certeza disso? – Perguntou incrédulo.

- Com o tempo você vai descobrir o quão agitado são as profundezas de um lago calmo! – O sorriso ainda enfeitava o belo rosto.

A curiosidade do jovem foi atraída definitivamente, não era muito difícil analisar as palavras da moça a dificuldade consistia em descobrir porque ela afirmava aquilo sobre si, os segredos da menina podiam ser extraordinários ou banais, isso pouco importava a única coisa realmente importante era descobrir, disseca-los e entende-los. Gaara desejou entrar nas correntezas ocultas desse lago somente para descobrir aonde elas iriam lhe levar.

- Tudo bem... – Aceitou estendendo a mão. – Se você não quiser responder alguma de minhas perguntas quero escrevê-las para que me responda no ultimo encontro. Feito? – A proposta saiu acompanhada de um sorriso sedutor.

- Feito! – A Hyuuga apertou a mão entendida. – Meu nome é Hinata! – Apresentou-se enquanto o rapaz a ajudava a se levantar.

- Meu nome é Gaara e para cumprir minha parte no trato vou te levar em um lugar onde ninguém se importa sobre quem você é. – O rapaz sorria.

- Que lugar é esse? – A descrição do lugar era realmente animadora.

- Vou te levar na melhor festa a fantasia do ano! – Disse mantendo uma expressão divertida e sedutora.

Gaara permaneceu encarando-a até obter um gesto afirmativo que o fez sorrir abertamente, para o rapaz aquilo era realmente estranho e a sua maior duvida consistia naquele rosto calmo e tranquilo, afinal depois de tamanha decepção a maquiagem daquela garota estava intacta o que provava que a menina dizia a verdade.

Hyuuga Hinata não chorou.