Wish you well

A garota estava parada, chocada demais para falar qualquer que fosse a palavra; e por menor que esta fosse. Seus olhos estavam arregalados enquanto segurava uma carta em mãos. Para a maioria, ver a doce e gentil tenente daquela forma era um tanto perturbador. A mesma garota que antes era tão feliz e simpática com todos estava, agora, completamente petrificada.

Não conseguia acreditar no que via. O seu capitão, antes morto – sim, ela e todos haviam visto o cadáver – estava ali, parado, olhando e sorrindo para ela como se nada tivesse acontecido. Como se tudo aquilo tivesse sido apenas um pesadelo ruim.

– Aizen-taichou... – Foi a única coisa que escapou de seus lábios. Não conseguia dizer direito se estava mais surpresa ou feliz; talvez os dois. Era como se toda aquela dor que havia sentido ao ter visto o seu corpo gélido e sem vida houvesse finalmente acabado, dando lugar apenas aquela sensação tão conhecida que aparecia em seu coração toda vez que via o seu capitão.

– Me desculpe, Hinamori-kun. – Sua voz, sempre tão doce. Não conseguia acreditar como havia esquecido a forma gentil que ele a chamava, sempre bem educado e respeitoso.

Sua voz, suas palavras. Elas sempre acalmavam a alma de Hinamori, não importa o quão triste ela esteja sentindo-se por dentro. Era como um remédio, um calmante imediato.

Ah, esse realmente era o seu capitão Aizen.

Correu para abraçá-lo, sentindo como se nada mais importasse no mundo. Para a jovem Hinamori, seu capitão era como o sol; quente e gentil, sempre protegendo e iluminando a todos.

– Por alguns motivos, tive que forjar minha própria morte. – O ouvira falar novamente. Não, não tinha problema. Enquanto tivesse o seu Aizen-taichou por perto, não se importaria com mais nada.

Apenas ele importava no mundo.

– Não, não, - Sorriu levemente, apertando o seu abraço enquanto olhara para cima, apenas para fitar a face do homem. – Não tem problema, taichou... O que quer que você tinha que fazer, eu entendo.

Mas você vai voltar agora, não é mesmo?

– Obrigado, Hinamori-kun. – Ele sorriu. – Realmente, ter você no meu esquadrão foi uma das melhores ideias possíveis... Obrigado, Hinamori-kun.

– E adeus.

Quando a morena menos esperava, a lâmina da espada de seu capitão havia perfurado o seu peito, tornando a respiração cada vez mais difícil para a pequena; mas nada se comparava ao por que dele ter feito isso.

Seus olhos castanhos arregalaram-se, seus lábios rosados entreabriram-se, não conseguindo proferir nenhuma palavra. Nem mesmo o nome do seu amado capitão.

Por que ele havia feito isso...? Por quê? Por...

Lentamente, sentiu seu corpo cair. A sua dor física nunca iria se comparar a dor que estava sentindo em seu coração.

O brilho lentamente desaparecia de seus olhos, sua respiração lentamente desaparecia – também. Até que, em algum momento, ela simplesmente parou por completo; deixando a garota falecida ali no chão, sozinha.

~ x ~

O ex-capitão encontrava-se em seu castelo, sentado em seu trono após ouvir alguns dos tediosos – mas importantes – relatórios de Ulquiorra. Havia construído um exército para os próprios fins, para que finalmente pudesse conseguir o seu objetivo de destruir a Soul Society e então fazer a sua própria chave real.

Suspirou – finalmente o relatório do quarto Espada havia acabado. Após todos terem se retirado, o moreno ficou sentado por alguns minutos a mais; obviamente, esperando Gin sair da sala, também.

– Distraído, huh, Aizen-taichou? – Ouvira a sua voz irônica perguntar; a mesma voz que, ainda assim, não causara nem um efeito no homem. De certa forma, era bom ter Gin por perto. Mesmo sabendo que ele queria o matar.

Até o diabo tinha os seus favoritos, afinal.

– Não, Gin.

– Está na hora de ir fazer a sua função de vigiar Las Noches.

Nem se dera o trabalho de olhar para o menor, sabia que ele havia entendido o recado. Calmamente, Aizen se levantara de se trono, saindo da sala principal e indo direto em direção aos seus aposentos.

De certa forma, Gin estava certo. Ele, de fato, estava distraído. Pensando naquele mesmo dia em que havia deixado todos saberem, finalmente, de sua traição.

E, que também, o dia em que havia matado a sua tenente.

Aizen abriu sua gaveta, tirando de lá uma pequena caixa com vários papeis dentro – mas apenas um realmente relevante.

Tirou do envelope o papel de carta, começando a ler o seu conteúdo.

Hinamori-kun,

Você se lembra da primeira vez em que nos vimos diretamente? Não, não foi no dia em que passei com Gin na Academia Shinigami. Foi no dia em que salvei você, Hisagi e Abarai. Você estava tão assustada por apenas alguns hollows fracos; o que era divertido, por um lado, mesmo sabendo que eu que planejei aquilo tudo.

Depois daquilo, fiz com que você trabalhasse duro até virar minha tenente.

Não me leve a mal – nunca pensei em alguém mais para ser meu tenente do que Gin. Mas ainda assim, você trabalhou duro para me impressionar – porque eu fiz você fazer isso.

Eu te manipulei até você ficar completamente dependente de mim. Até você não conseguir mais pensar ou saber viver sem mim ou a minha presença perto de você.

E eu consegui isso.

Fiz você se distanciar de todos os seus amigos, inclusive – e principalmente - Hitsugaya Toushirou. Por quê? Eles seriam apenas pedras no caminho.

Forjei minha morte e forjei uma carta para que você acreditasse que Hitsugaya era o culpado. Vou ser sincero, esperei que duvidasse ao menos um pouco. Mas não, você foi direto tentar mata-lo. Significa que obtive sucesso nisso; mas já o esperava, foi extremamente fácil consegui-lo.

Por último, deduzi que não havia mais utilidade e logo tratei de fazer Gin a matar. Mas você não conseguia, não é mesmo? Realmente não queria ter de usar minha própria lâmina para te perfurar.

Mas ainda assim o fiz. Fiz-te minha, até o último dia de sua vida.

Mas eu não te desejo mal, Hinamori-kun. Apenas fiz o que tive de fazer. Inclusive escrever esta carta que, por razões óbvias, nunca será entregue a você. E nem a mais ninguém.

Porque, quer você queira ou não, eu lhe respeitei. Acredite em mim, se não tivesse lhe respeitado, teria feito que nem fiz com Abarai e lhe mandado diretamente para outro esquadrão.

Por isso, Hinamori-kun, eu te desejo bem.

Desejo que, aonde quer que você esteja; que esteja feliz e com aquele sorriso doce no seu rosto. E que se eu chegar a morrer algum dia – embora seja pouco provável – que me abrace e me chame de Aizen-taichou mais uma vez.

Desculpe-me,

Aizen Sousuke.

O moreno simplesmente sorriu de canto após ler a carta que ele mesmo havia feito um dia depois da morte de sua antiga subordinada, achando a mesma um tanto quanto irônico – ele mesmo havia a matado, afinal.

Mas ainda assim, aquele seria o único fragmento de honestidade que o moreno deixara tão abertamente.

Com o mesmo sorriso, Aizen lentamente rasgou o papel até deixa-lo em pequenos pedaços, colocando todos de volta na caixa.

Não haveria ninguém que iria saber de seu lado honesto, afinal – sabia que Gin espiava seu quarto e mexia em suas coisas sem permissão muitas vezes.

Aquilo ficaria só consigo. Com ele mesmo, e com Hinamori.