Stauffenberg estava morto. Assim como Olbricht, Quirnheim e Haeften. A valquíria e sua última chance de libertar seu povo da lealdade imposta por Hitler foram abatidas. Todos os conspiradores foram executados.

Todos menos um.

O temerário.

Mate um homem e você será um assassino.

Botas pesadas batiam contra o concreto da cela mal-iluminada. A antiga nação tinha suas mãos atadas por correntes, que o suspendiam pelo teto. Seu coração pulsava contra as costelas, algumas já fraturadas. Ele precisava de ar, mas algo havia perfurado seu pulmão esquerdo. Suas mãos estavam roxas de frio e da dificuldade que o sangue tinha de circular para as extremidade de seu corpo.

"Já ouviu falar da tragédia grega de Prometeu Acorrentado, Obersturmführer Beilschmidt?" a voz que sempre acompanhava as sessões de tortura perguntou. "Aquele que deu o fogo aos homens e que, por isso, foi acorrentado e castigado para sempre?"

Silêncio. Já fazia três dias desde o fracasso da Operação Vaquíria; três dias que pareciam três anos. Eles o amarraram a um poste e arrancaram-lhe a pele de suas costas com arame farpado enrolado em pedaços de madeira, chicotearam-no por duas horas seguidas e testaram a resistência de seu corpo com água salgada e correntes elétricas de diversas intensidades.

Ele não podia culpa o homem à sua frente pelo espancamento e pelo castigo que estivera sofrendo por aqueles longos três dias. O que separava ele, Beilschmidt, de Hitler? Gilbert já esteve no lugar de seu torturador, chicoteando prisioneiros à morte, acorrentando-os ao teto, arrancando-lhes os olhos como prêmio. Sem misericórdia. Agora ele era aquele sendo despido de qualquer sanidade que lhe restara, enquanto a língua do diabo sibilava no ar e lambia-lhe a carne de suas costas esfoladas.

Mate milhões de homens e você será um conquistador.

O torturador respondeu ao silêncio do soldado albino – agora, nada mais do que um mero mortal – torcendo sua perna quebrada. A voz de Gilbert traía-o, mostrando ao oficial o quão fraco ele estava naquele momento. Os ferimentos de tiro não cicatrizavam mais. Os pequenos objetos brilhantes estavam pregados em seu peito. Sua respiração começava a ficar instável novamente, enquanto seus dentes batiam uns contra os outros. O frio lentamente devorava-lhe os dedos dos pés.

"Você não pode matar um deus," o soldado disse antes de cuspir no homem torturado e desferir-lhe um tapa. Gilbert apenas sorriu com o que lhe restara de sua força e murmurou ao homem:

"E quanto a você? Pode?"

Mate todos eles e você será um deus.