– Papai... Por que o senhor me deixou?

Continuei andando pelas ruas. Deixei todas as lagrimas rolarem livremente pela minha face. Não chorava fazia muito tempo, e eu realmente precisava disso. Eu queria me sentir humana novamente, e não apenas um pedaço de carne ambulante andando por aí. As ruas estavam totalmente vazias e não tinha uma viva-alma andando por elas. Eu estava sozinha, como sempre.

Eu vivi todos esses anos em uma mentira de que eu não ligava mais para nada, de que eu tinha superado a morte de meu pai, de que eu tinha esquecido o que eu passei em KHS, de que eu tinha esquecido tudo que minha mãe fez para mim...

Era tudo mentira!

Eu apenas tinha escondido essas lembranças no fundo da minha mente, mas elas ainda estavam lá, apenas esperando eu acordar. Eu estive dormindo todo esse tempo, escondida naquela pele de “Menina Maluca”. Não era eu. Agora eu acordei. A Sakura que tem sentimentos voltou. Eu realmente avia esquecido o que é ter sentimentos... Eu me tornei fria durante esse tempo.

Agora eu realmente me senti como uma menininha de 10 anos. Eu estava com medo, assustada, com vontade de me esconder para sempre. Eu queria... Alguém que me entendesse. Eu queria fugir. Konoha, pela primeira vez na vida, parecia uma ótima escolha de cidade. Eu queria, ou melhor, precisava da liberdade de lá.

Eu queria viver.

Eu queria ultrapassar todas as barreiras que esse mundo idiota cria. Eu queria fugir. Eu queria voar.

Ser livre.

Realmente é isso que eu quero.

Pensando bem, faz vários anos que eu não escrevo um poema. Sorri com esse pensamento, peguei meu skate e voltei para casa. Hoje o dia promete!

Quando cheguei, minha mãe e Mira ainda estavam dormindo. Entrei em meu quarto com cuidado para não acordar Mira e fui ate à estante.

Remexi em alguns caderninhos que estavam ali, ate achar um caderninho azul-claro. Abri o mesmo e vi lá meus antigos poemas. Sorri e fui para sala, peguei uma caneta e me sentei no sofá.

Comecei a escrever...

Liberdade...

É difícil de conseguir,

E fácil de perder.

Por isso aproveite.

Tente alcançar as estrelas,

Pinte o céu de qualquer cor,

Aprenda a voar,

Corra pelas águas,

Conte os grãos de areia,

Viagem para a Lua,

Deixe o vento te levar.

Viva e aprenda que o amanhã te aguarda,

Que a vida é de escolhas,

Que o Céu não precisa ser azul,

Que não é impossível voar,

E que a Liberdade nem sempre vai te esperar.

Depois que terminei, abri um largo sorriso. Tinha me esquecido completamente de como escrever me faz bem.

– Ficou bacana, Saky!- Mira apareceu atrás de mim, me fazendo pular do sofá pelo susto.

– Mira! Não me assuste mais assim!

– Não sabia que você escrevia poemas... Por que nunca me contou?- Ela ignorou completamente meu ultimo comentário.

– Ah, bem... Faz alguns anos que eu não escrevo...

– Serio?

– Sim, é que eu tinha me esquecido...

– Hum... Bem, eu vou indo. Ate mais, Saky!- Dito isso, ela saiu de casa.

Meu estomago roncou. Fui ate a cozinha preparar alguma coisa para comer. Acabei fazendo o café inteiro, seria meio chato fazer só pra mim.

Quando terminei de fazer, minha mãe desceu já vestida para o trabalho. Ela assumiu a empresa de meu pai.

– Bom dia, Sakura. – Ela disse. – Nossa! Já fez o café?

– Bom dia, mãe. Já fiz sim.

– Mira já foi?- Mebuki se sentou à mesa.

– Já. Ela não quis ficar...

– Entendo... – Então ela se calou. Me sentei na frente dela. Depois de alguns minutos, eu disse:

– Mãe, a senhora já me matriculou na KHS?

Ela me olhou confusa.

– Já sim, por quê?

– Em que turno?- Cruzei os dedos para que a resposta fosse “De tarde”.

– De manhã.

Já era de se imaginar. Agora era torcer para que Ka... Como era mesmo o nome dela...? Ah, sim, lembrei! Agora é só torcer para que Karin, Matsuri, Sasori e Sasuke estejam no turno da tarde.

– Por que, Sakura? Aconteceu algo?

– Bem, é que eu acho que eles ainda estudam lá. E provavelmente ainda estudam de manhã. Então eu queria estudar de tarde...

Minha mãe olhou sorrindo.

– Como eu disse, Sakura, a escola ficou em reforma por dois anos. De manhã ficam apenas as turmas do oitavo ano pra cima, de tarde do sétimo ano para baixo. Agora não é só uma escola de ensino fundamental e médio. Agora tem desde o maternal ate o ensino médio.

Engoli em seco.

– Então quer dizer...

– Sim, Sakura, se eles ainda estiverem lá, vocês vão estudar juntos. Agora é só pedir que você não fique na mesma sala que eles.

Bufei e terminei de tomar café.

Fui para meu quarto, liguei para o Menma e para a Mira pra gente ir andar de skate. E foi assim que passou meu dia. Pra completar: Eu fiquei andando de skate na chuva.

...

E aqui estou eu, queimando de febre. Falta menos de uma semana para minha "liberdade" acabar e eu estou presa no meu quarto, tomando uma penca de remédios enquanto minha mãe arruma minhas coisas.

– Sakura, vai levar todas as suas roupas?- Ela perguntou olhando para mim, apenas assenti e voltei a dormir.

Estou completamente indisposta.

...

Passaram-se mais dois dias. O tempo estava voando! Agora eu estou aqui, lendo Romeu & Julieta no sofá da sala. Amanhã é o dia da mudança.

Aí você pensa: Não era pra você está arrumando as coisas no caminhão? Bem, não. Alem das roupas, minha mãe não trouxe exatamente nada de Konoha. Nem um livro, eu tive que comprar os que eu ainda estava lendo aqui. Então não vamos precisar levar nada. Ate nosso antigo carro ficou lá! E vai acontecer o mesmo com esse outro, pois vamos para lá de taxi.

Olhei para o relógio: 20h47min... É melhor dormir logo. Amanha vou ter que acordar cedo, muito cedo.

Fui para o meu quarto, ainda lendo o livro. Eu estava fazendo de tudo para não ter que lembrar toda hora que vou me mudar. Deitei na cama e fechei meus olhos, sentindo minha vista pesar e pouco a pouco adormeci.

Minha mãe me acordou às cinco horas da manhã. Resmunguei alguma coisa e levantei “super” animada.

Tomei um banho de aproximadamente meia hora e fui me arrumar. Peguei uma roupa qualquer: Uma calça jeans preta, uma blusa de capuz vermelha e um All Star. Deixei meu cabelo solto.

Peguei minhas malas – Que não eram poucas – e desci para esperar minha mãe. Ela desceu depois de mais ou menos uns 15 minutos. Bem, ela usava um vestido amarelo claro com detalhes em vermelho, além de uma sapatilha branca.

– Vamos?- Ela perguntou. Assenti. – Ora vamos, Sakura, anime-se!

– Mas mãe...

– Sakura, isso é por causa da escola?- Assenti um pouco nervosa e ela suspirou.

– Ah... Eu... Na verdade estou nervosa por causa do vôo!- Menti.

– Mas você já esteve em um avião antes.

– Mas não deixa de ser perigoso!

Ela me olhou desconfiada, mas logo depois ignorou e foi em direção à porta. Suspirei.

Levantei e peguei minhas malas, quatro no total, e fui ate a porta. Menma e Minato estavam nos esperando na frente de casa.

– Besta-Fera!- Menma veio falar comigo. – Tudo bem? Vou sentir sua falta...

– Uma coisa é ser idiota, outra coisa é pedir para ser idiota e passar três vezes na fila. Lembra que você vai comigo, gênio?- Revirei os olhos.

– AH! É verdade!

Depois disso, fomos para o aeroporto. Pegamos o nosso avião e entramos no mesmo.

Ótimo, pensei, vou ter que agüentar quatro horas nesse avião.

Mas pelo menos dormi durante essas quatro horas. Acordei com Menma me cutucando e dizendo repetidas vezes:

– A gente chegou! A gente chegou! A gente chegou! A gente chegou! A gente chegou! A gente chegou! A gente chegou! A gente chegou!

– Cala a boca, Menma. Eu já ouvi!

Ele riu e se levantou, e eu fiz o mesmo. Quando desci do avião, a fixa caiu.

Eu realmente voltei para Konoha.