A New Life in NY ll - We're the lucky ones escrita por Sam


Capítulo 1
Love is one big illusion


Notas iniciais do capítulo

Sentiram saudades? Porque eu senti.A musica que é citada na cena do carro: Fat Bottomed Girls- Queen.Link para o look do capítulo (by May): http://www.polyvore.com/cgi/set?id=116587727Sem enrolações hoje and the Redford's crazy life is back!



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“Um sobrenome que todos conhecem, herdeira de uma fortuna enorme, já namorou os solteiros mais cobiçados do mundo, amiga de outros adolescentes conhecidos, um estilo invejável e uma beleza que poucos tem a sorte de já nascerem com ela. Claro que estou falando de Elizabeth Redford, filha do ex-Deputado e agora Senador David Redford e uma das estilistas mais citadas nos tapetes vermelhos de qualquer premiação, Penélope Redford.

A Revista Elle australiana trás na capa desse mês uma das maiores socialites do mundo em uma entrevista exclusiva que foi realizada no incrível jardim da casa onde ela atualmente mora em Sidney.

E: Já faz quanto tempo que está morando aqui?

L: Quase dois anos, mas estou voltando para Manhattan para fazer faculdade.

E: Qual você pretende cursar?

L: Foi um pouco difícil escolher, só que Yale me pareceu a melhor opção.

E: O que trem achado de Sidney? Está triste por estar indo embora?

L: Aqui é um lugar incrível, tem paisagens tropicais maravilhosas e é bem diferente de Los Angeles e Nova York onde eu já morei. Não tem como não ficar triste com isso, principalmente por ter que ficar longe dos meus primos, de amigos e dos meus avós.

E: Bom, você já namorou vários jovens bem cobiçados como o ator Leonard que está lançando um filme sobre heróis agora, Philip que é filho do Senador Collins, Chuck Bass que é herdeiro do enorme reinado de Bart Bass e rumores dizem que também teve um estudante de medicina. Você ainda conversa com algum deles?

L: Eu vi as revistas falando sobre o filme e fico muito feliz pelo Leonard, tenho certeza que vai ser ótimo para a carreira dele. Am... Eu e o Philip voltamos a ser bons amigos, eu o vi nas duas ou três vezes que fui visitar minha família em NYC.

E: Está namorando agora? Alguns sites dizem que sim.

L: Sites vivem mentindo.

E: Isso foi um não?

L: Hum... Não.

E: Com esse “não” você quis dizer que “Não, isso não é um não” ou “Não, eu não estou namorando”?

L: (risos) Entenda como quiser.

E: Sei que ainda está com apenas dezenove anos, mas muitas garotas nessa idade tem se casado ou ido morar com o namorado. Isso é algo que você pensa fazer, não agora, mas talvez em um futuro próximo se é que você está namorando ou não?

L: Não acho que queira me comprometer a esse ponto com alguém nesse momento. Sabe, é complicado pensar nisso... Envolve muita coisa em jogo levar qualquer relação a esse nível, é algo que necessita ser muito bem pensado e discutido antes que se possa dar esse passo. Mas é só a minha opinião, acho que quero terminar de estudar e ter um tempo para poder trabalhar e então me envolver tanto com um homem.

E: Com o que pretende trabalhar?

L: Amo moda, principalmente devida a influência da Redford Designers.

E: Pretende assumir a marca daqui algum tempo?

L: Nunca deixaria ela morrer, seria incapaz de fazer isso. Mas não quero ser só alguém que vai controlar algo que minha mãe criou, quero fazer outras coisas. Ser conhecida por outros feitos que eu realmente mereça os méritos.

E: É incrível como você é tão madura para alguém tão jovem.

L: Acho que foi por tudo o que eu já vivi. Sei que parece idiotice, porque não tenho nem vinte anos ainda. Só que as pessoas acham que a vida de gente como eu é fácil, só porque nascemos em uma família conhecida. O que ninguém pensa é que ás vezes isso só piora tudo. Não é legal ter fotos e fatos sobre você em revistas quase diárias ou blogs de fofocas.

E: Está animada para voltar para a Big Apple?

L: O estranho é que... Sim, eu estou.”

–x-

Liz’s POV

Dois anos. Dois anos desde que eu sofrera aquele maldito acidente, tanto tempo desde que eu quase entrei em depressão por ter perdido o meu bebê, desde que eu partira meu coração enquanto partia também o do garoto que eu amava.

Foi bom passar todos aqueles meses ali em Sydney. Meu avós eram incríveis, meus primos me acolheram como se nunca tivéssemos ficado tanto tempo longe, minha tia era uma das mulheres mais gentis que já havia conhecido e o Peter, bom.... Demorou algum tempo para ele começar a gostar de mim.

Flashback on- três meses depois de chegar

Já estava tarde e Peter me acompanhou até em casa já que ele morava ao lado.

Aquilo era torturante, nenhum de nós pronunciava nenhuma palavra e nem trocávamos olhares. Estar ao seu lado não chegava nenhum pouco perto de ser confortável.

–Por que você não gosta de mim? – perguntei por impulso.

–O quê?

–Por que você não gosta de mim? – insisti.

–Nunca disse isso.

–Não precisa dizer, eu já percebi. Ou você acha que sou cega?

–Você está louca.

–Não, não estou... Você sempre se dá tão bem com os meus primos, mas sempre me ignora.

–Quer mesmo saber? – assenti – Você é uma riquinha.

–O quê? Mas... – não fazia o mínimo sentido – Mas você também tem dinheiro.

–Não, meus pais tem dinheiro. – Peter me corrigiu – A diferença entre eu e você é que eu sei disso. E sabe o que eu gosto em gente como você? Nada.

–E quanto aos meus primos?

–Seus primos não tem um Centurion Card.

–Você não me conhece o suficiente para achar isso de mim.

–Você me escutou? Você tem um cartão de crédito que a American Express escolhe a dedo quem pode ter, é só para quem ganha muito mais de cento e cinquenta mil dólares... É loucura, você só tem dezessete anos e com os seus amigos em Nova York podia ser normal, mas não é nenhum pouco normal para o resto do mundo. Não é como as coisas devem funcionar.

Flashback off

Depois desse dia muitas coisas mudaram, ele pediu desculpas na manhã seguinte e me convidou para ir almoçar, apenas nós dois, planos que foi arruinado quando Walter apareceu e disse que queria ir, então Chris e Amber quiseram ir também.

Ficamos muito próximos com o passar do tempo e viramos bons amigos. Mas vivíamos como cão e gato, um sempre procurando maneiras de irritar o outro e isso só foi piorando no decorrer dos meses. Quem visse de fora podia achar que nos odiávamos, o que não era verdade (talvez só um pouco, ás vezes ele realmente conseguia me tirar do sério).

Deitei na cama e olhei pela janela, o gramado estava extremamente verde, um verde muito vivo. Meus primos brincavam com armas de agua e isso só confirmava minha opinião de que homens são completamente infantis e idiotas quando estão juntos.

Lembrei do meu aniversário de dezoito anos que passara ali e, por mais que qualquer um pudesse achar que estava louca, foi meu melhor aniversário. Ok, não teve uma enorme festa, musicas estrondando ou nada dessas coisas. Só que meu primos estavam lá, meus avós, minha tia, minha mãe, meu pai junto com Megan e Michael. Não era capaz de me lembrar quando houve tantos Redfords juntos.

Ok, minha mãe não era exatamente uma Redford, apenas manteu o sobrenome pelo bem da marca, mesmo assim ela se dava muito bem com minha tia Lindsay e minha avó a adorava.

Flashback on

A casa dos meus avós era realmente enorme, havia um jardim incrível e uma piscina gigantesca. Chris e Walter moravam com eles e com meus tia. Eles se mudaram um pouco depois dos meus avós e a Amber, também minha prima, fazia faculdade lá. Então ali nunca ficava vazio ou quieto.

O Peter morava na casa ao lado, igualmente grande. Mas diferente dos meus primos, ele não parecia ligar para bebidas, carros caros e ir á festas. Bom, talvez aquelas fossem características só da minha família.

Era de manhã estávamos no quintal enquanto o avião com quatro Redfords não chegava, Sr. David, Sra. Penélope, Michael e Megan.

–Não se atreva a fazer isso. – falei quando Peter me ameaçou com uma bexiga cheia de água.

–Por que não? Acho que preciso me vingar por ter me jogado na piscina semana passada. Eu estava gripado.

–Eu não sabia – menti. – Mas a culpa não foi minha, quem é que fica resfriado nesse calor?

Mas ele parecia estar realmente motivado a me atacar e por mais que estivesse um sol de trinta e um graus e nós estarmos no fundo da casa dos meus avós torrando com a temperatura, não queria levar aquela bexiga d’agua.

–É meu aniversário, não faça isso. – choraminguei.

–Ok. Eu não vou fazer, porque prometi uma trégua nas nossas brigas como presente de aniversário e também porque sou uma boa pessoa

–Mas nós não somos. – Chris disse passando pela porta de vidro que separava a casa do enorme quintal – Você está fazendo dezoito anos e precisamos comemorar.

Walter apareceu segurando um balde com algumas bexigas.

–Sabem o quanto isso não é justo? – protestei.

–Sabemos, mas não importa – Amber falou saindo de trás do Walter.

Ela era bem pequena, assim como eu, perto dos três cheios de músculos.

–Por favor, não...

–Liz, somos os Redford. Sabe que não importa o que digam, se já estamos decididos vamos fazer isso de um jeito ou de outro.

A situação era uma batalha perdida e não bastava bexigas, era preciso me tacar na piscina também. Eu estava mais do que encharcada, Peter me estendeu uma toalha e peguei-a.

–Não acredito que sabia de todo esse complô contra mim e não me contou.

–Desculpa, mas eles precisavam fazer isso... Feliz aniversário. – disse abrindo um enorme sorriso.

–Obrigada.

Flashback off

De tudo o que aconteceu naqueles dois anos, o que eu iria sempre lembrar seria daquela viajem. Sabe, é verdade que não se deve deixar amigos fazerem qualquer coisa sozinhos, ainda mais quando essa coisa é totalmente estupida. Porque pode até parecer que não, mas essas coisas estupidas são as que você vai levar para o resto da vida, principalmente se isso incluir viajar de carro até o fim do mundo.

Flashback on

Abri os olhos, o sol atravessava as finas cortinas brancas e isso iluminava todo o quarto. Era uma decoração bem diferente do que eu estava acostumada, o chão era de madeira e as paredes eram em variados tons de cinza e azul com azulejos em alguns lugares da casa.

Respirei fundo ao me levantar da cama, passar aquele tempo em Sydney estava me fazendo muito bem.

Fiz toda minha higiene pessoal, troquei de roupa e desci as escadas. Todos estavam ao redor do balcão da cozinham conversando animadamente sobre algo:

–Bom dia. – falei enquanto enchia um copo com o suco que estava em cima da mesa.

Isso fez com que todos olhassem para mim:

–Liz, – Amber falou parecendo muito feliz – nós vamos para Perth!

–Legal. – respondi enquanto mastigava um morango.

–Legal? – ela pareceu desapontada com a minha falta de entusiasmo – Como assim eu digo que vamos para Perth e você só acha “legal”?

–O que você quer que eu faça?

–O que eu quero? Eu quero que, no mínimo, você pire.

–Pirar? Mas por que eu piraria?

Minha prima revirou os olhos desistindo de tentar me deixar tão animada quanto ela e se virou para pegar algo na geladeira fazendo um coque mal arrumado com os cabelos louros bem claros e perfeitamente penteados.

–Liz, ela disse “Perth”. Sabe o que isso significa, certo? – encarei Peter tentando me lembrar de onde havia ouvido falar daquela cidade.

E não. Simplesmente não! Eles haviam perdido a sanidade, só poderia ser isso.

–Espere... Perth? Vocês estão realmente dizendo que vão para Perth? Mas de avião, correto?

–Não, nós vamos de carro.

–O QUÊ? – explodi – Não, vocês não podem ir!

–Sim, nós podemos e você vai junto. – Chris se pronunciou.

–Ah, claro. Nem em sonho eu vou. Perth fica a mais de quatro mil quilômetros daqui de Sydney! Ouviram? Mais de quatro mil quilômetros! Isso demoraria dias! É loucura querer dirigir até lá, além de que de nós cinco, só dois sabem dirigir. Portanto não, ninguém aqui vai para Perth.

–Obrigada. – Amber disse quando eu parei para poder respirar – Obrigada por pirar. Era isso o que eu queria.

A vi sorrir triunfante enquanto Chris ria de mim:

–Eu disse que ela ia pirar, ganhei a aposta. Agora me dê meus vinte dólares – ela continuou.

–Eu não vou para Perth! – afirmei.

–Sim, você vai – Peter falou.

–Mas não quero ir – respondi fazendo bico e cruzando os braços.

–O que de pior pode acontecer? – Walter se pronunciou tentando melhorar as coisas, o que não adiantou.

–Eu vou te dizer o que pode acontecer. Nós podemos ser assaltados e ficar sem nenhum dinheiro, sem o carro e nossos pais vão nos matar! Ou vamos ser presos ou vamos capotar ladeira a baixo e iremos parar no hospital. E eu digo uma coisa: eu não vou voltar para o hospital! Sabem o quão ruim é a comida de lá e como aquela cama é desconfortável? Não, vocês não sabem. Então vamos todos ficar aqui, porque a última coisa que eu quero é ter que preocupar alguém por ter ido parar em uma maca mais uma vez e minha mãe comece a achar que eu precise ir para uma clínica de reabilitação ou ainda pior: me faça voltar a fazer terapia. Eu odeio ter que ir no psicólogo, terapeuta, tanto faz o que Sr. McCord era.

–Liz, nós não vamos dirigir bêbados ou qualquer coisa assim e, se der errado, tudo bem. Você nunca foi presa, nenhum de nós nunca foi, então o que tem passarmos por isso uma vez na vida?

O quê? Eu realmente havia ouvido aquilo? Tantas famílias no mundo e eu tinha que ser uma Redford?

–Ok, Walter... Você tomou seus remédios hoje? Não acho que você esteja bem.

–Muito engraçadinha você, Elizabeth.

–É LIZ! Já disse que é só Liz! – gritei.

–O que está acontecendo aqui? – minha avó perguntou entrando na cozinha.

–A Elizabeth está de TPM.

Fuzilei Peter, ele nem morava ali e achava que tinha algum direito de ficar brincando comigo?

Meu avô riu enquanto colocava seu casaco e dava um beijo na bochecha de sua esposa:

–Vamos ter um assassinato aqui a qualquer momento. Acha que devemos fazer algo sobre isso?

–Não, querido. Deixem eles brincarem.

E os dois caíram na gargalhada com a piadinha que só eles viram graça.

–Para que todo esse escândalo? – minha tia apareceu na porta com o rosto de quem estava mais dormindo do que acordada.

–Não é nada, tia Lindsay. – afirmei rápido.

–Na verdade, nós vamos viajar. – Chris me corrigiu entregando uma grande xicara de café à ela.

–Hum... Ok. Por quanto tempo?

O enorme cabelo preto estava preso em um rabo de cavalo desarrumado no alto da cabeça, um grosso roupão escondia um corpo invejavelmente magro e em forma não apenas para uma mulher de meia idade, ela humilhava muitas de trinta anos. Ela era poucos anos mais velha que meu pai, apesar de poder ser facilmente confundida com uma irmã mais nova. Não que ele estivesse mal para sua idade, mas o cabelo havia começado a cair, uma pequena barriga começava a aparecer (já havia dito para ele parar de tomar cerveja) e algumas rugas já eram aparentes. Mas minha tia não, nenhuma ruga, cabelos perfeitos, pele impecável sem nenhuma mancha, aspectos que lembravam muito minha mãe. Ambas igualmente maníacas por yoga, entretanto Lindsay havia descoberto yogalates e vivia me chamando para ir com ela, mas yogalates? Sério? Aquilo não era normal, mesmo assim era legal falar “yogalates”.

–Talvez umas duas semanas ou menos – meu primo respondeu.

–Tudo bem.

–Tudo bem? – perguntei surpresa.

–Sim.

Aquilo estava realmente acontecendo?

–Então vamos ainda hoje! – Amber disse dando pulinhos de alegria – Vamos fazer as malas.

Eu realmente achava que as pessoas que moravam na Austrália tinham mais juízo, quer dizer, os restaurantes e até mesmo pubs fechavam cedo e ninguém bebia nas ruas. Só que eu estava enganada, lá estávamos nós prestes a pegar a estrada até o “buraco do mundo” e se tem um lugar no planeta que pode ser chamado de fim é Perth.

A cidade fica em um dos países mais isolados e que está no fim do mapa, além de se localizar a quilômetros e mais quilômetros de Sydney, a principal cidade dali. Nenhum lugar deveria ficar tão longe como ela ficava.

Não que fosse um lugar ruim ou algo assim, até porque havia mais de um milhão de habitantes e pelo o que eu sabia haviam lugares lindos em Perth. Mesmo assim, era loucura ir dirigindo.

Todos estavam indo para seus quartos para se preparem e eu corri atrás deles:

–Será que não podemos ir para nenhum lugar mais perto?

Aquilo era outra batalha perdida, sabia que ninguém mudaria de ideia e que eles haviam escolhido ir para lá justamente por ficar tão longe.

Não havia mais nada o que fazer e eu não queria ficar ali sozinha. Peguei uma mala e enchi com blusas leves de verão, t-shirts, camisas, shorts, algumas calças, casacos para estar prevenida, variados pares de sapatos e outras coisas necessárias.

Como sempre acontecia a mala não fechava, comecei a encará-la calculando alguma forma de conseguir puxar o zíper...

–Liz, está pronta?

–Amber! Senta em cima da minha mala? – ela me olhou franzindo a testa dando de ombros e fez o que eu pedi, mas não era peso suficiente.

Consegui apenas fechar a metade onde ela se sentou. Amber tentou deitar em cima da mala, mas não estava dando certo.

– Chris! Peter! Walter!

Chamei todos, algum deles tinha que aparecer.

–O que foi? – Chris chegou ofegante.

–Eu só quero que sente em cima da minha mala.

–Sentar?

–Sim – e assim o fez.

Finalmente consegui fechá-la e estávamos prontos para ir.

–Temos mesmo que ir? – tentei, mais uma vez em vão, antes de sairmos pela porta da casa.

A viajem seria cheia de paradas em cidades e vilarejos para podermos descansar, comer e reabastecer o carro.

Peter me olhou:

–Sério que vai levar tudo isso?

–Olha, eu não queria nem ir. Então é melhor ficar quieto.

Todos estavam finalmente em seus devidos lugares: Chris ao votante, Amber no passageiro e eu no meio do banco de trás entre Peter e Walter.

–Preparados? – ela perguntou parecendo muito feliz.

–Sim! – responderam em coro.

–Não. – balbuciei em um tão quase inaudível devido à música que tocava.

–Se anime um pouco, Elizabeth.

–Não, Patrick. Isso vai dar merda.

–A gente paga a fiança.

–x-

“Fat bottomed girls, you make the rockin’ world go round...”

Eu não podia. Eu simplesmente não podia continuar ouvindo aquela música, estava a odiando mais e mais a cada segundo.

–Será que alguém pode mudar a música? Melhor, peguem esse CD e me deem para eu poder quebrá-lo ao meio e cortar a garganta no Cranwell com uma das partes.

–Por que cortar logo a minha garganta?

–Porque o CD é seu, Peter. Vocês dois precisam morrer.

–Vai dizer que você odeia Queen?

–Não odeio, mas estamos na estrada há horas e todo mundo já perdeu as contas de quantas vezes ele já tocou só hoje.

Era o nosso segundo dia de viajem e “Left alone with big fat fanny, she was such a naughty nanny” já havia se tornado um tédio.

–Desculpa, Elizabeth. Nós vamos continuar ouvindo... I’ve be singing with my band across the wire the land, I seen ev’ry blue eyed floozy on the way. But their beauty and their style went kind of smooth after a while, take me to them dirty ladies every time... – ele cantava do banco do motorista.

Para piorar todos começaram a cantar o refrão:

Oh won’t you take me home tonight? Oh down beside your red firelight. Oh and I give it all you got. Fat bottomed girls you make the rockin’ world go round. Fat bottomed girls...

–É Liz! Quantos vezes preciso dizer isso?

Aquela música me lembrava... Me lembrava alguém que eu não queria lembrar.

–x-

O combustível estava quase acabando quando achamos uma cidade para reabastecermos. Claro que eu faria todos nós irmos a um hotel para descansarmos, já faziam seis horas que estávamos dentro do carro desde que saímos de um pequeno vilarejo naquela mesma tarde.

A cidade que estávamos não era nenhum pouco tão grande quanto Sydney, mas tinha um tamanho razoável. Enquanto procurávamos um lugar para passar o resto da noite vi vários restaurantes, pubs e clubs abertos e quase todos cheios.

Depois de meia hora a mais de fome e calor achamos um hotel. Claro, não era nenhum Four Seasons, um Plaza ou um Empire, mas para quem estava no meu estado era como passar o dia inteiro em um salto quinze, finalmente chegar em casa e poder tocar o chão com os pés.

Me sentei no sofá da recepção junto à Amber enquanto os garotos cuidavam da reserva.

Eles voltaram:

–Conseguimos dois quartos, o oitenta e três é o de vocês. – Chris estendeu a chave para nós duas.

–Sabe, nós podíamos ir até um club, dançar e beber um pouco... O que acham? – ela perguntou como quem não quer nada.

–Amber, estamos cansados – Peter reclamou.

–Acho uma ótima ideia. – disse animadamente só para provocá-lo e todos me olharam surpresos enquanto ele me encarou estreitando os olhos.

–Então vamos tomar banho e depois procuramos algum lugar para irmos. – minha prima falou e todos concordaram, menos o chato do vizinho deles, é claro.

Tomei um longo banho gelado em um boxi bem apertado, escovei os dentes, sequei o cabelo com o secador que havia levado, fiz a maquiagem e fui procurar o que vestir. Fucei na mala e escolhi um vestido com um decote enorme.

Os garotos bateram na porta para irmos e logo achamos um club alguns quarteirões acima de onde estávamos hospedados.

–Não arrumem briga, estamos em um hotel muito perto daqui e não vai ser difícil nos achar. – Amber nos avisou.

–Mais uma lição de vida com os Redford. – Patrick brincou.

Descemos do carro e havia uma fila na porta para entrar.

–Oi. – ouvi uma voz em um tom sugestivo vindo em minha direção.

Era incrível como homens sempre conseguiam ser uns idiotas. Haviam três caras enormes nos acompanhando e ainda havia alguém que fosse burro o suficiente para dar em cima de nós duas? Se eu quisesse mandava o Walter, com aqueles músculos enormes, ir dar algumas porradas nele.

Ok, eles não eram assim tão fortes. Mas eram todos muito altos e grandes e, quando estavam juntos, chegavam a dar medo.

Olhei para o dono do “oi”:

–Olá – respondi.

–Por que estão na fila? Não acham que são gostosas demais para ficarem esperando?

Minha prima estava se segurando para não rir, então eu tive que tomar conta da situação:

–Na verdade, eu acho. Por que não nos ajuda a acabar com essa injustiça?

–Eu até posso fazer isso, mas vai ser para ajudar só você e a sua amiga.

–Ah, deixem eles entrarem. – mas o cara parecia estar longe de ceder – Eles são nossos amigos gays.

Tudo bem, ninguém na face da Terra acreditaria que um deles era gay, mas o homem parecia meio burro.

Peter que já estava olhando para nós de braços cruzados e muito puto da vida, ficou mais bravo ainda. Enquanto isso meus primos entravam na brincadeira, Walter foi o primeiro:

–Por favor, não nos deixe aqui fora! Você é tão bonitinho, sabia? Não vamos incomodar.

–E hoje eu e o Pepe fazemos quatro meses de namoro. Precisamos comemorar. – Chris falou abraçando o Peter e todos precisaram se controlar para não rir da cara que ele fez.

Olhei nos olhos dele pedindo para que colaborasse, ele revirou os olhos, se soltou dos braços do seu “namorado” e...

–O quê? QUATRO MESES? São quatro meses e meio! Não acredito que fez isso de novo! Vai ser preciso muito esforço para eu te perdoar.

–Calma, Pepe. A gente só não precisa ficar especificando para todo mundo sobre a nossa relação.

–Ah, então você tem vergonha de mim? É isso mesmo?

–Não disse isso...

–Não disse, mas quis dizer.

–Não foi isso que eu quis dizer não, você não entendeu...

–Agora eu não sou inteligente o bastante para você? Ah, tanto faz. Não preciso de você mesmo.

–Desculpa. – ele falou cheio de remorso.

Peter o olhou:

–Tudo bem, eu te perdoo. Mas só dessa vez.

–Então, podemos entrar? – perguntei.

–Claro. – o estranho respondeu.

Entramos e o lugar estava realmente cheio.

–Posso te pagar uma bebida? – ele me perguntou.

–Claro. – respondi enquanto reparava em Peter revirando os olhos e resmungando com a minha prima.

Peter’s POV

Não conseguia acreditar no que acabara de fazer. Eu sei que todos acham que eu sou engraçado e irônico, mas nunca fingiria ser gay só para entrar em uma balada.

Por que fui fazer isso? Ela só me olhou pedindo para colaborar e... E eu fiz, sem pensar duas vezes. O que havia de errado comigo?

–Posso te pagar uma bebida? – o idiota pergunta a ela.

–Claro.

Claro? Como assim? Aquela garota iria realmente levar aquilo a sério? Eu é que podia pagar uma bebida para ela.

–Ela tem um cartão de crédito black e ainda aceita que um idiota como esse pague uma bebida? – não que queria dizer o que acabara de falar, mas eu não conseguia me controlar.

–Peter, aprenda outra coisa com os Redford: nós nunca recusamos bebida de graça. E eu sei que você está completamente apaixonado pela Liz, mas enquanto ela não volta pode começar pagando uma bebida para mim e aí eu posso servir de ombro para você chorar.

–O quê?!

–Você me ouviu. Agora anda logo e pegue alguns drinks.

Liz’s POV

Já devia fazer uma hora que estávamos conversando sobre nada que fosse realmente levar a alguma coisa. Estava começando a ficar com saudades de ter conversas inteligentes com o Ryan.

–Você está linda – o cara sem nome falou.

Só que, por alguma razão, não senti aquilo como um elogio.

–Hm... Obrigada, eu acho.

Ele se aproximou e me beijou muito rápido agarrando com força minha cintura. Estava doendo e tentei me soltar, mas era quase impossível.

–Me larga. – pedi virando meu rosto para o outro lado.

–Eu fiz você e seus amigos entrarem, o mínimo que pode fazer em troca é passar a noite comigo.

–O quê?

–Vamos pro banheiro.

–Só se for nos seus sonhos.

Eu só havia ido “para o banheiro” uma única vez na vida e fora um momento de pura insanidade que não voltaria a acontecer.

Tentei empurrá-lo e consegui me soltar, mas ele voltou para cima de mim e segurou meu maxilar com muita força.

–Para!

–Acho que temos um grande problema aqui. – Pepe, quer dizer, Peter disse em um tom cheio de raiva atrás de mim e isso fez com que o estranho me largasse.

–Por que não volta para o seu namorado, Pepe?

–Só o meu namorado me chama assim. E você acha que eu vou deixar você sair dessa? Se eu vi bem acho que ela não queria ir com você.

–Não se intromete.

–Sabe, eu tenho um grande defeito que é sempre me intrometer.

E o Sr. Idiota Estanho Sem Nome levou um soco bem no nariz que começou a sangrar.

Ok, aquela cena estava me lembrando uma outra que eu queria deletar. Um flash de algum tempo atrás veio na minha mente, eu estava em um festa, em um certo hotel e uma certa pessoa bateu em alguém para me defender. Isso me fez encolher um pouco:

–Vamos sair daqui. – concordei e foi o que fizemos.

Então lembrei também do iate, mas não era algo que me incomodava tanto como antes.

–Está tudo bem?

Respirei fundo:

–Não, nada está bem... E esse é o problema.

–O que há de errado?

–Nada. – respondi rápido tentando escapar do assunto – Vamos embora?

–Por que sempre foge de mim desse jeito?

–Do que está falando? – me fiz de desentendida enquanto caminhávamos para sair dali rápido lembrando do que Amber disse.

–Toda vez que tento me aproximar de você... Você finge que não existe nada de errado, quando eu sei que tem.

–Eu não devia ter feito tanto escândalo quanto eu fiz, ele só queria me beijar... Eu só preciso parar de me envolver com caras como ele.

–Não parecia.

–Aconteceram muitas coisas antes de eu vir para Sydney. Coisas que eu queria esquecer, mas não consigo e são lembranças que irão me assombrar o resto da vida... Era isso o que queria saber?

–Posso te perguntar outa coisa?

–Pode. – respondi sabendo o que ele queria descobrir.

–Por que foi embora de Nova York? Ninguém fala sobre isso, parece ser um assunto tão proibido.

–Porque é. – disse olhando o chão abaixo de mim e suspirei – Ninguém fala sobre isso porque ninguém sabe o que realmente aconteceu, só meus avós.

–Se não quiser conversar sobre esse assunto, tudo bem.

–É complicado... Aconteceu tanta coisa e... E eu queria poder ficar para sempre longe de Nova York.

–Achei que amava a cidade e coisas boas aconteceram com você lá, não é?

–Sim, mas coisas ruins também e não sei se o que foi bom é o suficiente para eu poder ignorar o que não foi.

Assim que terminei Amber passou ao nosso lado muito bêbada.

–E aí, meu povo? Por que já estamos indo? – ela mal conseguia formular as palavras.

Meus primos apareceram logo atrás, pegamos o carro e voltamos para o hotel.

Chegamos, pegamos o elevador e Amber, por razões desconhecidas, resolveu entrar no quarto dos garotos e não no nosso.

Eu estava cansada, só coloquei uma regata, um short e me joguei na cama. Peguei meu celular e estava prestes a entrar no blog da Gossip Girl, mas alguém bateu na porta.

Com muita preguiça me levantei e fui ver quem era:

–Peter? – ele carregava Amber no colo.

–Vim trazer um presente, mas pode dar um pouco de trabalho amanhã.

Ri e ele a colocou em sua cama.

Mas antes de sair, parou na porta e se virou para mim:

–Olha... Eu não sei quem foi o canalha que partiu o seu coração lá do outro lado do mundo, mas... Existe algum cara aí fora que vai ser perfeito para você e ele vai ser educado, vai te fazer feliz, vai te pedir em casamento em um jantar romântico e todos essas coisas que vocês mulheres sonham. Só que não vai ser porque você é linda ou por causa de um decote.

–Então vai ser pelo o quê?

–Você realmente não sabe? Porque você é Elizabeth Redford e isso significará muito mais para ele do que para qualquer outro e quando ele estiver com você ninguém ou nada se comparará.

Sorri e antes que ele saísse, só para não perder o costume de irritá-lo:

–Vai demorar muita até Perth?

Ele riu:

–Quantos anos você tem? 7? Aproveite a viajem.

Flashback off

–x-

Chuck’s POV

“Faziam dois anos.” Foi a única frase que percorria minha mente desde que acordara. A suave brisa de outono assoprava as folhas das arvores e o sol da manhã era agradável lá fora.

Parecia impossível acreditar que só faziam dois anos, parecia ter passado muito mais tempo.

Logo depois dela ter ido embora foi a pior época da minha vida. Estava acostumado com sua mania de me ignorar e discutir comigo, estava acostumado a vê-la todos os dias, com minhas diárias tentativas de conquistá-la e com nossas conversas cheias de “pés atrás” por ambos terem medo de entrar naquilo de cabeça.

Enfim, eu estava acostumado com ela, sua voz, seu rosto e seus olhos. Mas nunca achei que tudo isso me faria tanta falta quanto fez e ainda fazia.

A desejava toda manhã e isso me fazia odiar ter que acordar. O nascer do sol sempre trazia lembranças consigo, lembranças que daria de tudo para abandonar. Só que não havia como, eu já tentara e muito, mas todas as vezes foram em vão.

Que ódio, era como se estivesse em um filme antigo. Era como se estivesse dentro de My Fair Lady e eu queria sair daquilo, parecia um pesadelo. Quer dizer, era um pesadelo.

Por que o que nós tinhamos não significou nada para ela quando decidiu pegar aquele voo? Meu pai estava certo quando disse que o amor era apenas uma ilusão.


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Notas finais do capítulo

P.S. Título desse capítulo é por causa da musica That's why you go away- Michael Learns To RockComentem...



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