Estava entrando no carro quando minha mãe me avisa que eu tinha esquecido meu celular em cima da mesa. Quando fui pegar, vi meu reflexo na tela dele. Estava com olheiras terríveis, mas os meus grandes olhos verdes disfarçavam um pouco. Meu cabelo longo, preto com mechas loiras estava todo bagunçado, e eu pedi para minha mãe me esperar, pois iria penteá-lo.

Fiz isso e percebi o quanto sou pequena perto dela, ela deve ter um metro e setenta, e eu, um metro e sessenta. Nós estávamos indo à escola, primeiro dia de aula, junto do meu irmão de 10 anos chamado Luke, o único que tenho, graças a Deus, porque não suporto criança. Do nada ele pergunta:

– Leslie, você já contou para a mamãe que o seu namorado vai estudar com você? – diz Luke

– Olha aqui garoto, não me irrita porque se não eu te bato! – Berro. Ele está naquela fase que faz piadas idiotas o tempo todo. Eu já estou cansada disso.

– Não precisa ser grossa desse jeito com seu irmão. Ele só queria conversar com você. Aliás, o que aconteceu com você para estar tão nervosa? – diz minha mãe.

– Mãe, não enche também não – respondo.

– Você ainda é minha filha, e só tem 17 anos para ficar falando desse jeito comigo garotinha. Você vai ficar uma semana sem seu notebook, e não adianta se arrepender, pois não vou voltar atrás. – diz minha mãe furiosa comigo.

Meu irmão começa a rir da minha cara, e eu dou um tapa na testa dele. Ele começa a chorar, e minha mãe começa a brigar e dar um sermão, falando de como nós devemos estar unidos, porque somos irmãos, e manda a gente se abraçar e pedir desculpas um ao outro.

Chego à escola e sinto aquele alívio, de ficar longe do meu irmão por algumas horas, mas isso não sacia a minha sede de isolamento. Hoje, a primeira aula é de física, com um professor magro, alto e moreno. Eu mal entro quando ele começa a chamada. Ele fala todos os nomes daquelas pessoas que eu conheço. Olho para eles, nenhum aluno novo entrou. Quando chama o nome do meu namorado, Josh Ellet, procuro-o, mas ele não responde.

Josh é magro, alto, cabelos cacheados cor de bronze, olhos cor de mel e pele clara como neve. Vejo minha melhor amiga Persefany, e a chamo para sentar na minha frente, pois não tinha ninguém sentado lá.

– Geralmente eles faltam no primeiro dia – Diz Persefany. Ela é ruiva, dos olhos castanhos, com algumas sarnas nas bochechas, e é mais ou menos do meu tamanho. Ela é simpática, e amigável.

– É verdade – Digo – Eles parecem que só pensam em dormir e jogar vídeo game.

– É normal – ela diz.

Não, isso não é nada normal, eu sou a namorada dele, e não o vídeo game – penso.

– E ai Pê, está preparada para enfrentar o ultimo ano do ensino médio? –Pergunto, sabendo a resposta óbvia que ela iria dar.

– Um pouco, lógico que eu queria estar em casa agora, dormindo – Ela ri.- E o Josh, onde está?

– Também queria saber, acho que ele não vem hoje.

Assisto à algumas palestras de início de ano, dos professores novos que entraram, sobre o manual da escola, e nos apresentamos para toda a escola. Eu tenho aula integral, e o dia hoje foi realmente ruim. Eu não costumo conversar na sala de aula, somente quando necessário. Quando acabou a aula eu fui embora.

Quando chego em casa, minha mãe realmente não estava mentindo sobre confiscar o meu notebook. Ela guardou em algum lugar desconhecido da casa, porque eu procurei em todos os lugares possíveis de estar, mas não o encontro.

Resolvo deixar isso de lado e ligo para o Josh, para saber por que ele não foi a aula hoje. A ligação chama bastante, mas ele não atende. Depois de mais três tentativas, ele finalmente atende.

– Oi amor, boa noite – Ele diz com uma voz meio rouca.

– Oi amor, está em casa? – respondo

– Sim, meu celular estava na sala, e eu estava tomando banho – ele fala.

– Como você está? Eu estou morrendo de saudades de você. Desde que você voltou de viagem eu não te vi. – falo.

– Estou muito bem, lá é lindo, como tinha te dito antes. Eu também estou morrendo de saudades de você.

– Porque você não foi para a aula hoje? – pergunto – Eu fiquei preocupada.

– Amor, eu não posso falar agora, meus pais estão aqui perto. Amanhã cedo eu prometo que te contarei. Agora tenho que ir. Beijos! – ele fala

Eu sei que não está bem, será que ele não foi para ficar com outra, será que ele estava doente, uma coisa eu tenho certeza absoluta, tem alguma coisa estranha nisso. Eu fiquei uma boa parte da noite pensando no que ele poderia estar fazendo, imaginando coisas ruins, coisas boas, ou talvez estivesse planejando o término do nosso namoro. Eu me esforço e consigo dormir.

Na manhã seguinte, meu pai me acorda 6 horas da manhã, para eu me arrumar para a escola. Eu vou cambaleando de sono até o banheiro, deixo minhas roupas no chão, e entro na banheira, a água estava morna, a ponto de tirar o meu sono aos poucos. Quando estou prestes a sair da banheira, meu irmão aparece do nada e começa a bater na porta, gritando e falando:

– Leslie, sai logo daí, eu quero tomar banho, já faz vinte minutos que você está ai dentro!

Eu ainda mato esse garoto – penso

– Cala a boca, eu já estava saindo – digo furiosa.

Quando saio, empurro-o para fora do meu caminho. No fundo eu gosto dele. Desço para tomar café da manhã, e meu pai fala que eu estou atrasadíssima para a escola, e pego uma maçã e vou comendo no caminho. Quando chego na escola a primeira coisa que faço é sair correndo para a minha sala, sem olhar para os lados. Procuro rapidamente o Josh, e o encontro. Ele faz um sinal com a mão, que compreendo como depois. Conversar depois. Eu fico ansiosa, roo todas as minhas unhas, estou suando, e rabiscando todo o meu caderno. Até que bate o sinal e:

– Leslie, espere – diz Josh me puxando pelo braço – Nós precisamos conversar.

– Ok. Eu gostaria de explicações. – Digo choramingando – Porque você não veio na aula ontem e me ignorou no telefone? O que está acontecendo?

– Leslie, calma, não foi nada demais. Era uma coisa que eu realmente não podia te contar naquela hora, eu menti para os meus pais, falei que fui pra aula. Eles estavam no corredor conversando, e qualquer palavra poderia ser usada contra mim, mas pelo que eu entendi eles estavam falando alguma coisa sobre mim, e acho que ouvi seu nome – ele diz preocupado – Ai, eles estavam passando na frente do meu quarto quando me ouviram conversando no telefone. Perguntaram com quem eu estava conversando, e eu falei que era com um amigo meu.

– Será o que eles estão tramando – digo, limpando minhas lágrimas - também queria saber o que meu nome está no meio disso tudo.

– Logo quando chegar eu perguntarei a eles – diz Josh

– Quero saber cada detalhe, e não se esqueça de contar tudo para mim – digo.

A regra interna da escola não permite beijar dentro dela, então tudo o que nos resta fazer é ficar de mãos dadas apenas conversando ou nos abraçando. O sino toca novamente, indicando o término do intervalo, quando digo:

– Me desculpe por pensar coisas ruins de você ok?

– Tudo bem meu amor, pode ficar tranquila.

Ele volta para o seu lugar, e percebo o quanto eu roí minhas unhas, a ponto de tirar sangue. Que nojo. A aula acaba nos despedimos e ele diz:

– Se você ficar com saudades de mim, me mande um sms! Leslinda! – ele faz um coração com as mãos, e eu retribuo com outro.

– Te amo nunca se esqueça – digo

O que eu estou sentindo nesse momento é como uma despedida para sempre, como se nunca mais fosse vê-lo. Mas ele só senta do outro lado da sala. Quando a aula acaba, ele sai antes de mim, e então saio correndo para alcança-lo, mas não consigo, pois já estava longe.

Então, chego em casa, durmo à tarde toda, quando acordo, olho para o celular, 24 sms dele, e são oito horas da noite. Quando vou olhar as mensagens, não são tão relevantes, mas uma sim, essa merece destaque.

Leslie, eu terei de servir ao SDRIS, não tenho escolha. Poderei te ver apenas nos finais de semana. Te amo Leslinda, do fundo do meu coração.

Depois dessa mensagem fico chocada, a ponto de deixar o meu celular cair no chão, fazendo a bateria saltar para fora dele.

– Ele vai me abandonar – sussurro para o meu urso de pelúcia, que me faz companhia há 10 anos.

Não consigo fazer mais nada, fico em choque, e imaginando o que eles devem ter falado de mim, provavelmente sobre como ele deveria me contar sobre isso. Acho que de tanta preocupação eu consigo dormir novamente.