Te Odeio Por Te Amar escrita por TamY, Mazinha


Capítulo 21
Capítulo 21 - Revelações O jantar


Notas iniciais do capítulo

Oie meninas! Demoramos mas chegamos! rs .
Aí está mais um capítulo novinho em folha para vocês cheio de emoções e esperamos que gostem...
Desculpem pela demora mas para compensar, temos este capítulo giganteSCo que pagará a nossa divida pelo atraso! :p
Boa leitura! :*



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#Carlos Daniel narrando #

Estacionei minha Carlsson Mercedes-Benz CK63 RS em frente à mansão de Paulina e sai arrumando meu terno Armani perfeitamente alinhado, tinha demorado mais que o normal para me arrumar, esse não seria um jantar qualquer. Encostei-me em meu carro enquanto tirava meu celular para enviar uma mensagem a Paulina.

Mensagem enviada:

Cheguei, estou te esperando!

Depois de apenas alguns minutos ela respondeu, então fiquei esperando-a enquanto observava o movimento da rua e quando vi a portão principal se abrir desencostei do carro e segui em direção a porta para recebê-la.

Céus, ela estava divina em um vestido azul escuro que acentuava ainda mais sua bela forma e com um decote que me deixou hipnotizado e parei a alguns metros da porta enquanto esperava que se despedisse de sua irmã e aproveitei para admirar a bela mulher.

Ela seguiu até mim e tudo parecia em câmera lenta, não pude deixar de notar o seu jeito elegante de andar e enquanto ela se aproximava a mim senti meu coração dar uma acelerada e sem nem me dar conta suspirei enquanto a observava.

– Você está linda! – Disse-lhe quando me aproximei.

– O-obrigada! - Ela agradeceu o elogio e o som doce de sua voz encheu meus ouvidos fazendo meu coração já acelerado dar um salto.

E então não podendo me conter, aproximei-me mais e lhe dei um beijo no rosto, meu objetivo era seus lábios, mas já conhecendo-a como a conheço sabia que se o fizesse não sairíamos nem do jardim de sua casa, isso se eu conseguisse voltar para minha casa andando.

– Vamos? - Perguntei quando me afastei olhando-a nos olhos.

– Claro! - Ela disse dando um leve sorriso e seguimos lado a lado até meu carro.

Abri a porta para que ela entrasse e em seguida tomei meu lugar ao seu lado dando partida no meu conversível que soou alto preenchendo o silencio.

– Aonde vamos? - Ela me perguntou depois de um tempo em silencio.

– Digamos que é uma surpresa! - Disse olhando-a rapidamente e sorrindo-lhe.

Ela parecia menos falante. Bom, ela sempre era muito misteriosa, sempre que se dirigia a mim era para me ofender de alguma forma e confesso que estávamos progredindo, já que ainda não tínhamos soltado ofensas.

Estacionei em frente ao luxuoso restaurante e sai rápido para abrir a porta para ela e a ajudei a sair.

– Nossa... É lindo! - Exclamou enquanto observava a incrível fachada do restaurante.

– Você então vai se encantar quando entrarmos! - Disse posicionando-me a suas costas, próximo demais para meu deleite.

– E-então vamos? - Ela perguntou me olhando séria e seguindo em frente.

A segui enquanto depositava minha mão em suas costas conduzindo-a até a entrada do restaurante.

Fomos recebidos pelo metre que nos acompanhou até nossa mesa e enquanto seguíamos pelas mesas pude notar os olhares, tanto de homens quanto de mulheres que a mediam de baixo à cima, uma grande ameaça eu diria, afinal Paulina tinha roubado a cena naquele restaurante e todos os homens a olhava com cobiça.

Puxei a cadeira para que se sentasse e em seguida sentei-me em sua frente e logo o metre me entregou a carta de vinhos.

– Por favor, Romanée-Conti! - Disse sorrindo enquanto lhe devolvia a carta de vinhos e voltava minha atenção para Paulina que me olhava, parecia pensativa.

– Tentando me impressionar? - Ela perguntou assim que o metre se afastou.

– Está funcionando? - Perguntei sorrindo. Essa Mulher era impressionante mesmo, não deixava nada passar.

– Nem um pouco! - Rebateu sorrindo enquanto observava em nossa volta.

– Hum... Uma pena! - Disse sorrindo enquanto a olhava sem conseguir desviar meu olhar.

Ficamos alguns instantes em silencio, notei que ela estava evitando me olhar e já estava incomodada com meus olhares, então decidi que o melhor era iniciarmos uma conversa antes que eu começasse a ter idéias.

– Conte-me um pouco sobre você! – Disse-lhe olhando-a com curiosidade, estava realmente interessado em conhecer essa misteriosa mulher, uma novidade até mesmo para mim que pouco me importava com a vida ou interesse das mulheres com quem costumo sair.

– Não tenho muito do que contar sobre mim! - Ela disse olhando-me séria. – Apenas que estudei alguns anos fora e agora ajudo meu pai em sua empresa! – Continuou, sendo o mais sucinta possível.

Essa mulher não dava uma chance mesmo e pelo que vi, não era de se abrir facilmente ou isso era algo pessoal e eu acreditava na minha segunda opção.

– E você? - Ela devolveu a pergunta enquanto apoiava o cotovelo sobre a mesa encostando o rosto nas mãos e me olhava com aqueles marcantes olhos verdes. – O que pode me contar além do que já sei sobre você? - Indagou dando um leve sorriso para amenizar suas palavras.

– Hum... O que você já sabe sobre mim que eu não sei? - Perguntei divertido.

– Não vai querer escutar minha opinião sobre você! – Ela respondeu sorrindo.

– Já tem uma opinião sobre mim? - Perguntei fingindo surpresa. – Mas nem nos conhecemos ainda! - Argumentei.

– Opiniões foram feitas para serem mudadas! - Rebateu divertida.

– Bom, se te conheço acredito que suas opiniões não são muito favoráveis – Disse brincalhão enquanto a observava com cautela e pela forma que me olhou acho que acertei em minha conclusão. – Então podemos começar a mudá-las! - Completei olhando-a.

– Claro! - Ela concordou e então o metre voltou com nosso vinho e depois de me servir, tomei um gole degustando e após de aprovar fiz sinal para que o servisse.

– Este é um ótimo vinho! – Disse-lhe enquanto a observava calmamente.

– Sim, é um dos meus favoritos! – Sorriu enquanto levava a taça até a boca.

A observei tomar o vinho com afinco e fixei meu olhar sua boca, sedento por provar aquele vinho em seus lábios. Céus, essa mulher estava me enlouquecendo e nem ao menos poderia me aproximar se quisesse que essa noite chegasse à sobremesa. Não pude deixar de sorrir com esse pensamento, era engraçado apesar de frustrante.

– O que é engraçado? - Questionou olhando-me seriamente.

– Não é nada demais! - Disse olhando-a também sério. – Só que você está conseguindo o que nenhuma mulher conseguiu! - Completei agora divertido.

– E o que é que estou conseguindo? - Ela me questionou curiosa.

– Que tenhamos um jantar! – Respondi olhando-a nos olhos. – Geralmente vamos direto para cama! – Continuei com o meu olhar fixo no seu esperando ver sua reação a minha revelação.

Por um momento vi um lampejo de irritação? Medo? Não sei bem como definir sua reação, mas ela tratou de mascarar sua atitude a respeito de minha confissão.

– Não me surpreende! - Retrucou dando de ombros enquanto tomava mais um gole do vinho. – Conheço bem o tipo de homem que você é! – Completou com tom sarcástico, porém amargo.

– Conhece? - Perguntei erguendo uma sobrancelha questionando-me mentalmente.

– Vamos pedir? – Sugeriu mudando drasticamente de assunto.

– Claro! - Disse sorrindo enquanto fazia sinal ao garçom.

Fizemos nossos pedidos e enquanto esperávamos, continuamos nossa intrigante conversa.

– E então...? – Chamei a sua atenção olhando-a intensamente nos olhos. – Como conhece o tipo de homem como eu? Diz isso por experiência própria? - Perguntei curioso.

– Hãã... Digamos que sim! – Respondeu-me alarmada. – Será que esse jantar vai demorar muito? - Perguntou tentando mais uma vez mudar de assunto.

– Bom, acabamos de pedir, então acredito que demore um pouco! - Disse sorrindo enquanto a observava nervosa.

Ela não disse nada e apenas voltou a correr os olhos pelo salão, observando as outras pessoas, tinha tocado em um assunto que ela provavelmente não queria conversar, então achei que devia deixar isso para lá, pelo menos por enquanto.

– Me diga uma coisa! - Pedi chamando novamente a sua atenção. - Porquê me deu aquela joelhada? - Mudei de assunto, imaginava que esse também não era um assunto que ela gostaria de tocar, mas pela maneira que o sorriso formou-se em seu belo rosto, pude ver que se divertia em infligir dor nas pessoas.

– Porque você mereceu! - Contestou sorrindo enquanto afastava os cabelos castanhos de seu rosto deixando-me hipnotizado com cada movimento seu.

– Eu apenas te dei um beijo! - Rebati fingindo estar ofendido.

– E você acha isso pouco? - Ela perguntou rindo. – Nem nos conhecíamos e não gosto que tomem liberdades comigo! – Foi objetiva olhando-me irritada e senti em seu tom uma advertência.

– Mas você correspondeu ao beijo! - Disse olhando-a sempre nos olhos e pude ver seu nervosismo com meu comentário.

– Eu... Eu... - Tentava se justificar nervosa. – ...Não tenho que te dar explicações e será que podemos mudar de assunto? - Perguntou irritada.

– Você é uma pessoa bipolar! – Afirmei divertido.

– Me convidou para jantar para me ofender? - Ela me perguntou seriamente, chateada.

– Não, claro que não! Só que ao mesmo tempo em que você é amável, é cheia de espinhos assim! - Disse estalando os dedos.

– Não serei cheia de espinhos se você não me provocar! - Rebateu irritada.

– Certo, me desculpe se te provoquei! – Desculpei-me sorrindo.

Ela já estava com uma resposta mal criada na ponta da língua quando o garçom voltou com nossos pratos. Salvo pelo gongo! Pensei enquanto observava sua cara de irritação.

O assunto acabou ficando esquecido enquanto começávamos a comer. Às vezes um comentário sobre a comida era feito por ela, que parecia ser uma amante da gastronomia também.

Terminamos o jantar e então continuamos a conversar trivialidades por algum tempo, logo uma música calma começou a tocar e alguns casais se dirigiram até uma pista de dança e eu, claro, não perderia minha oportunidade de tê-la tão próxima a mim novamente. Levantei-me e estendi minha mão a ela convidando-a para dançar.

Ela me olhou por alguns instantes indecisa, mas acabou aceitando meu convite e então a conduzi até a pista de dança. Parei a sua frente e olhando-a me aproximei envolvendo-a pela cintura. Ela desviou o olhar e achei engraçado em como ela parecia tímida, nunca a imaginei como uma mulher tímida, realmente eu não conhecia em nada essa mulher em meus braços e tê-la assim novamente foi uma sensação ímpar. Sua bela forma tão próxima a mim, seu perfume invadia meus sentidos, nossos rostos a apenas alguns centímetros e a única coisa que conseguia pensar naquele momento era em beijá-la, em mais uma vez poder sentir seu sabor.

E por um momento nossos olhares se encontraram e pela terceira vez nessa noite meu coração disparou... “Que significado poderia ter isso?” Pensava enquanto mergulhava em seus lindos olhos verdes.

E quando ela quebrou nosso contato visual e deitou sua cabeça em meu ombro, sorri alegre. Ela era uma mulher muito intrigante e esse pequeno gesto dela fez mais uma vez meu coração soltar em meu peito.

“Tenho que ir a um cardiologista!” Pensava enquanto a conduzia pela pista de dança. Dançamos até a música se findar e então nos afastamos. Bom ela bem que tentou se afastar, mas a mantive o mais próxima que conseguia.

– O que foi? - Perguntou olhando-me com a testa franzida.

– Nada! Só que é bom estar assim... – Disse-lhe deixando a frase morrer imediatamente, onde estava com a cabeça para dizer essas coisas a ela?

Ela me olhou em silencio, a surpresa estampada em seu rosto e então se afastou voltando para a mesa, tive que me apressar para acompanhá-la.

Ela sentou-se em silencio na mesa e virou o restante do vinho que tinha em sua taça. Eu apenas a observava com um sorriso bobo nos lábios.

– A-acho que já está tarde! - Ela disse enquanto olhava para o delicado relógio de ouro branco em seu pulso.

Eu apenas acenei em concordância. Realmente estava bem tarde, nem ao menos vimos as horas passarem, ainda tinha a intenção de propor-lhe algo mais e então fiz um movimento chamando o garçom e pedi a conta. Depois de pagar a conta a acompanhei até a porta e enquanto esperávamos que o manobrista buscasse meu carro a observei calmamente.

Elegante, inteligente, linda, extremamente atraente! Essa mulher estava me enlouquecendo, disso não tinha dúvidas mas com ela era diferente e enquanto a olhava procurava as razões por ter essa idéia estúpida de que com ela era diferente.

– Vamos? - Ela perguntou despertando-me de meus devaneios, nem tinha me dado conta que o carro havia chagado.

– Claro! – Respondi sorrindo enquanto lhe dava a mão e a conduzia até a porta do carro abrindo-o para ela.

Rapidamente ocupei meu assento atrás do volante e dei vida ao motor.

– Paulina, eu gostaria te levar a um lugar antes de te levar para casa! - Disse a ela calmamente enquanto seguíamos pelas ruas já desertas do México, realmente não sabia o porque eu pensei nisso, nunca imaginei que a convidaria para que conhecesse um lugar que marcou tanto a minha vida, na verdade, nunca imaginei que pudesse voltar lá novamente.

– Acho melhor deixarmos para uma outra oportunidade! - Ela disse seriamente. – Isso se houver outra oportunidade! - Completou

– Prometo que você não vai se arrepender! - Disse sorrindo enquanto esperava por sua resposta, queria que ela dissesse um sim, existia uma necessidade desconhecida dentro de mim de leva-la aquele lugar tão importante.

– Acho melhor me levar para casa ou eu posso chamar um taxi! - Ela era uma mulher de opinião forte, eu podia ver, mas eu não era o tipo que desistia facilmente.

– Porque não se permite dar uma chance de confiar nas pessoas? - Perguntei olhando-a intrigado.

– Eu confio nas pessoas! – Rebateu rapidamente enquanto parávamos no sinal vermelho. – Só não acredito em você! - Completou em tom frio.

– Prometo que não farei nada se assim você desejar! - Disse olhando-a sinceramente. – Quero apenas te mostrar uma coisa, uma coisa muito especial para mim - Completei esperançoso em convencê-la.

Ela permaneceu em silencio por apenas alguns instantes, seu olhar preso no meu, parecia tentar ler minha mente e então a fitei com o olhar mais inocente que poderia ter esperando por sua decisão.

– Está bem! - Disse vencida. – Espero que não me arrependa!

O sorriso veio largo e fácil ao meu rosto quando ela finalmente aceitou e assim que o sinal ficou verde tomei velocidade fazendo a volta e seguindo o caminho até esse lugar especial para mim.

Seguimos o caminho quase que todo em silencio, eu me sentia nervoso, ansioso, aflito, apreensivo, inquieto mas de uma certa forma eu me sentia feliz e seguro, ela estaria ali comigo e isso para mim era um diferencial grande, era o que me fazia ficar mais tranquilo, apesar de estar tenso pela ideia maluca de ultima hora.

– Porque me trouxe ao... mirante? - Ela perguntou assim que estacionei o carro.

– Você verá! - Respondi enquanto a olhava sobre a fraca luz da noite. – Vamos? Perguntei-lhe com um ligeiro sorriso, estendendo a minha mão para ela.

* Paulina narrando *

Paramos no mirante da cidade, ficava um pouco distante mas eu o conhecia, já havia passado por lá muitas vezes mas nunca tinha parado para olhar a vista, que por sinal era muito linda. Eu não queria parar porque já estava muito tarde e o tempo dava indícios de uma forte chuva, o céu estava sem estrelas e nuvens escuras carregadas sobre o horizonte.
Ele me conduziu até um corrimão do mirante e lá estava todas aquelas luzes que representavam a cidade, de lá podíamos ver toda a cidade e realmente era uma vista muito linda, eu estava encantada com aquela visão, pude sentir a brisa fresca e a inspirei profundamente fechando os meus olhos soltando o ar novamente pelas minhas narinas deixando que o vento espalhasse os meus cabelos, não me importei que os bagunçasse, aquele lugar me inspirava paz, gostei.
– Muito linda! – Disse ele ao me olhar intensamente, seus olhos mais escuros do que de costume e podia senti-lo ainda mais cafajeste, mas de uma outra forma que eu não sei explicar.
– Sim, muito linda! – Disse fingindo não perceber a que ele se referia, olhando para aquela imensidão de luzes que se insinuavam em meio à escuridão que havia entre elas. – Inspira paz... – Continuei ainda admirando aquele lugar.
– Sim, muita. – Respondeu quase inaudível, voltando o seu olhar para as pequenas luzes da cidade.
– E porque me trouxe aqui? – Perguntei sem desviar meu olhar da cidade.
– Nem eu sei ao certo, nunca trouxe outra pessoa aqui mas esse lugar me recorda alguém muito especial para mim. – Suspirou.
– Alguém especial? – Perguntei com curiosidade, não sei porque mas meu coração gelou naquele mesmo instante, senti uma ponta de receio de sua resposta.
– Sim, na verdade duas pessoas especiais pra mim. – Respondeu me fitando com um sorriso de menino sonhador nos lábios e eu podia ver um certo vazio em seu olhar, era a primeira vez que o via assim.
– Hmm... – Murmurei antes de lançar uma pergunta. – Era alguma... namorada sua? – Perguntei sem querer, aquela palavra escapou de meus lábios sem que eu nem percebesse.
– Não! – Rebateu rispidamente, fiquei um pouco sem graça, talvez ele não queria falar sobre isso e eu já estava me intrometendo em sua vida pessoal.
– Desculpa! – Respondi olhando-o, uma leve irritação tomou conta de mim, ele era um gentleman, não posso negar mas também conseguia se converter em um ogro quando queria.
– Não, eu que peço desculpas. – Olhou-me um tanto preocupado com a minha reação. – Era a minha irmã, Maria Luíza. – Respondeu-me de uma só vez, sua voz já embargada.
– Você tem uma irmã? – Perguntei-lhe surpresa.
– Tinha, ela morreu num acidente de moto há quase dois anos. – Disse num fio de voz.
– E-eu sinto muito. – Disse-lhe olhando-o, seus olhos estavam completamente marejados e pareciam tremer ao segurar as lágrimas que insistiam em se formar.
– Engraçado. – Sorriu com o canto da boca deixando-me confusa no momento, o que poderia ser engraçado nisso tudo? - Ela tinha a idade de Sophia quando sofreu o acidente e é incrível como elas são parecidas. Malu era linda, forte, divertida, cheia de vida e falava pelos cotovelos. – Olhou-me formando um sorriso ainda maior em seus lábios. – Malu não tinha medo de nada, nunca a vi cabisbaixa nem preocupada com os problemas da vida, perdemos o nosso pai quando ela ainda era muito pequena e ele me pediu antes de morrer que cuidasse dela, ela não teve um apoio paterno na vida, mas eu cuidava muito dela quando ela como se fosse o seu próprio pai, mesmo não tendo idade para isso, às vezes ela brincava me chamando de pai quando eu a advertia em algo, mas a nossa cumplicidade só aumentava, nós éramos muito próximos. Malu era alto-astral e não se importava com o que os outros pensavam, não olhava para os lados e sempre para a frente, e me induzia a seguir em frente também. Nunca me dei bem com a minha mãe e depois que nosso pai morreu a nossa relação se esfriou ainda mais. – Continuou olhando para os pontos iluminados a nossa frente com sua voz embargada, estava chorando e eu não sabia o que fazer, não sabia se o deixava continuar, via que era doloroso falar sobre esse assunto.
– Carlos Daniel não precisa... – Era a primeira vez que eu dizia o seu nome assim tão naturalmente, não percebi quando segurei a sua mão que estava sobre o corrimão e a afaguei transmitindo-lhe apoio.
– Não, eu quero! – Disse rapidamente e o respeitei, deixei que continuasse, de certo modo parecia estar se libertando de algo, não parecia ser o tipo de homem que saía contando sobre sua vida pra todo mundo e deixei que continuasse. – Quando eu era moleque, meu pai me trazia aqui sempre que podia para respirarmos a brisa da noite e admirarmos as luzes das estrelas que contrastavam com as luzes da cidade e ele sempre me contava que cada luz ali embaixo representava uma estrela que caía do céu e todas aquelas luzes eram estrelas cadentes as quais haviam caído sob o pedido de pessoas que tinham esperanças de que fossem realizados, por acreditarem que as estrelas cadentes os ajudariam a realizar os seus pedidos e por isso que essas estrelas se mantinham acesas e serviam como luzes iluminavam a cidade, representavam os desejos concretizados. – Parou por um instante e secou as lágrimas que já rolavam por seu rosto fazendo-me sentir impotente naquele momento, não sabia como confortá-lo, não tinha armas para isso mas como um ato involuntário, minha mão voltou a tocar a sua e para transmitir-lhe força entrelacei-as, fazendo-o olhá-las com um sorriso agora tímido, agradecido. – Era um conto bobo, mas meus olhos de menino me faziam ver tudo com a mesma intensidade que ele me contava e era todas as vezes que vínhamos aqui no mirante. Quando ele faleceu eu passei a vir sozinho e aqui eu me sentia mais perto dele, podia ouvi-lo contando novamente o conto das estrelas e uma certa vez eu estava vindo pra cá quando Malu me pediu que a trouxesse, ela ainda era uma criança, tinha seus 8 anos mas era muito inteligente, não pude trazê-la esse dia porque minha mãe não deixaria que eu a tirasse de casa tão tarde da noite e prometi que a traria outro dia. Combinamos secretamente para que minha mãe não tomasse conhecimento e quando finalmente chegou o dia de trazê-la, ao ver todas as luzes iluminando a cidade, pude ver em seu olhar o deslumbramento, ela estava encantada com tudo, e admirava como se jamais houvesse visto algo igual, sorri ao ver aquele sorriso em seus lábios e aquele olhar sonhador diante da visão que ela estava tendo e lhe contei o conto das estrelas assim como papai me contava e todas as vezes que eu a trazia aqui, ela me pedia que eu repetisse a história e a escutava como se a desconhecesse, este lugar tornou-se nosso lugar secreto, o que já era especial para mim também passou a ser para a minha irmã. – A emoção já estava tomando conta de mim ao escutar tudo aquilo e Carlos Daniel apertava ainda mais a minha mão, senti algumas vezes ele trêmulo quando falava de sua irmã e quando fiz menção de dizer algo, ele continuou. – A ultima vez que estive aqui foi com a Malu uma semana antes do acidente e dessa vez foi diferente, ela me pediu que ela mesma me contasse aquela velha história das estrelas e eu atentamente a escutei como se fosse a primeira vez, estava sem tempo para vir frequentemente com ela como costumávamos fazer por causa do meu trabalho e eu precisava viajar para outros países à trabalho e se eu soubesse, aproveitaria cada instante com ela, não tinha ideia que seria a ultima vez que viríamos ao mirante juntos e antes de partir, Malu estava vindo para cá, estava aborrecida e pegou uma moto que eu lhe dei de presente em seu aniversário de 17 anos, ela não tinha idade para isso eu sei, mas tínhamos combinado de que ela só a pilotaria sem mim quando tivesse idade para isso mas ela pegou a moto e saiu sem rumo a principio, e quando já estava longe, desviou o caminho no intuito de vir para cá mas foi aí que... – Senti que ele apertou a minha mão com mais força, realmente não era fácil para ele falar sobre aquilo e eu não entendia o porque ele o estava fazendo, tentei impedi-lo de continuar, senti vontade de abraçá-lo mas resisti e ele insistiu em continuar, então e eu o respeitei. -... ela passou por uma curva que ficava a beira de um precipício e perdeu o controle da direção sem conseguir desviar a tempo, a moto caiu ribanceira abaixo e ela sofreu sérios ferimentos, por sorte não era um lugar inabitável e ali haviam alguns lavradores cuidando de suas terras e estes a ajudaram de imediato chamando uma ambulância para socorrê-la, ela foi levada as pressas para o Hospital e foi submetida a uma cirurgia de emergência mas não resistiu. Nem tive tempo de me despedir da minha irmã, de dizê-la o quanto a amava e sobre a sua importância pra mim. Quando cheguei ao Hospital já era tarde demais, assim que cheguei pude presenciar um médico dando a noticia ela já estava em óbito e foi aí que o meu mundo desabou, eu estava completamente perdido, já não tinha o meu pai e agora perdi a minha irmã e o peso da culpa perseguia a minha consciência como uma sombra, não conseguia raciocinar direito, parecia que o tempo havia parado ali e eu estava mergulhado naqueles sentimentos, quando fui desperto rapidamente pela pergunta cautelosa do médico, por ter tido morte encefálica, os órgãos de Malu poderiam ser doados, salvando assim a vida de outras pessoas que estavam a espera da esperança para uma nova vida e o médico sugeriu que os doássemos mas a minha mãe não aceitou de imediato, tentei convencê-la, com certeza Malu assentiria diante de uma decisão dessas e minha mãe não podia ser tão egoísta assim, consegui convencê-la e assim foi feito. – Carlos Daniel já estava inundado em lágrimas e eu não estava diferente, assim como um ato involuntário o tomei em meus braços e o abracei com força, toda a força que eu tinha, senti a necessidade de confortá-lo, acalmá-lo, protegê-lo daqueles sentimentos que tanto o machucavam, não entendia esses sentimentos que agora me dominavam também mas eu apenas agi conforme o que o meu coração pedia e mantive abraçada a ele, sentindo o calor de seus braços e ficamos assim por um tempo até quando senti seus batimentos e sua respiração normalizarem e me afastei dele, já sentindo falta de seu abraço.
– Eu realmente sinto muito, Carlos Daniel. – Disse-lhe olhando-o com a emoção que ainda estava presente ali entre nós dois.
– Não quero que sinta pena de mim. – Respondeu desviando o seu olhar de mim, olhando mais uma vez para as luzes da cidade.
– Não estou com pena de você, muito pelo contrário. Te admiro. – Disse chamando a sua atenção de volta a mim.
– Me admira? O que há num homem como eu para que admirem? – Perguntou olhando-me rapidamente, parecia que debochava de si mesmo.
– Sua atitude, achei que tomou a atitude mais prudente possível. – Respondi-lhe com sinceridade, queria dizer mais mas não tinha coragem de dizer o que ele havia despertado em mim mediante aquela história.
– Obrigado Paulina! – Disse-me sorrindo sem graça, acariciando meu braço deslizando sua mão até a minha segurando-a, fazendo-me estremecer dos pés a cabeça com o olhar penetrante que ele havia me lançado.
– M-mas pelo quê? – Perguntei-lhe após senti a minha face inteira esquentar diante de sua atitude.
– Por estar aqui comigo, por me escutar... – Continuou aproximando-se mais ainda de mim com intimidade. - ...por me fazer sentir assim... – Sussurrou ao meu ouvido lançando uma onda de sensações por todo o meu corpo. -...diferente. – Fiquei paralisada com aquelas sensações que me possuíam enquanto meu corpo ansiava por seus beijos novamente mas não precisei reagir porque ele imediatamente tomou os meus lábios e eu o correspondi no mesmo instante, seus lábios explorando os meus com suavidade, calma, lento e quando dei abertura para que ele invadisse a minha boca completamente, entrelacei uma de minhas mãos em seus cabelos e a outra enfiei dentro de seu paletó com o objetivo de me aquecer um pouco do frio que já estava sentindo por causa do tempo enquanto ele segurava com uma de suas mãos pela minha cintura e a outra por meu pescoço tomando total controle daquele beijo. Nossas línguas se enfrentavam e se chocavam deliciosamente, aquele beijo molhado e tão maravilhoso só fazia com que eu desejasse por mais, mas o ar já nos era vitalício quando precisamos encerrá-lo e ele deu um beijo no canto dos meus lábios e acariciou a minha bochecha olhando-me profundamente nos olhos e logo em seguida esboçando um lindo sorriso em seus lábios e quando fizemos menção de iniciar um outro beijo, o que eu tanto queria naquele momento, fomos interrompidos com uma garoa que se manifestou.
– A-acho melhor irmos. – Disse-lhe sem graça, tentando disfarçar o meu desespero por mais dele.
– Tem razão, vai cair um temporal. – Respondeu ainda com sua mão grudada em minha cintura, conduzindo-me ao carro e confesso abrindo a porta para que eu pudesse entrar. Lá dentro o ambiente estava muito mais agradável e aquecido e senti vontade de agarrá-lo novamente mas me contive, além de estar tarde e ser perigoso dirigir no escuro e com chuva forte também não queria transparecer a necessidade que eu sentia dele, não queria que ele soubesse que desperta em mim sentimentos assim e muito menos sem nem conhecê-lo bem.
– S-sim, e já está tarde. É melhor irmos antes que a chuva aumente. – Disse enquanto envolvia o cinto de segurança em volta do meu corpo, olhando para o lado de fora.
– Claro, vamos! – Deu partida no carro e seguimos o caminho inteiro em silencio. Eu não sabia muito o que dizer a ele e ele parecia pensativo, talvez arrependido de ter me contado aquela história sobre a sua vida.
– Carlos Daniel, obrigada por confiar e contar tudo aquilo. – Disse olhando-o seriamente.
– Eu que agradeço por ter me escutado, Paulina... Confesso que não sei porque te contei se eu nunca falei sobre isso com ninguém. – Disse-me olhando-me rapidamente, logo voltando a sua atenção para a pista.
Não pude responder mais nada, essa descoberta havia me deixado um tanto tensa, entre mim e ele estavam sendo criados laços que eu não conseguia decifrar e ele tinha confiança em mim, não entendia o porque se eu apenas o repreendia. Ele estava me deixando cada vez mais confusa e apesar de tentar fugir ao máximo que podia desses tipos de sentimentos, com ele já era diferente, algo que eu sabia que não tinha mais volta atrás, eu já estava envolvida demais com ele e sentia medo, mas não queria parar.

...


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?
Comentem, recomendem...