A maior derrota escrita por Kiyoshi Takeda


Capítulo 1
Quando um escorregão é mais devastador que um soco


Notas iniciais do capítulo

Minha primeira fic de Hajime no Ippo e do personagem que eu mais gosto de toda a obra. Foi uma experiência excepcional escrevê-la e espero que seja um sentimento semelhante ao que vocês sentirão quando lerem-na



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A minha frente estava uma cama, e mais alguma coisa sobre ela, coisa esta que não era nada mais nada menos do que minha mãe. A mulher que me dera a luz, que me criara sozinho naquele hectare de terra e neve isolado, aonde até mesmo a vila mais próxima estava a mais de duas horas de caminhada, onde o solo era coberto por camadas e mais camadas de neve que podiam facilmente engolir um homem. E mesmo nesse ambiente inóspito ela conseguiu me criar.

Mas agora, eu não pude fazer o mesmo por ela. Não pude ser forte o bastante, não pude trazer o dinheiro que ela precisava para o tratamento, não pude desferir um mísero soco que derrubasse meu ultimo adversário. Fui o inútil de sempre, lhe dei esperanças de que traria o dinheiro necessário, de que conseguiria tratamento para ela, mas tudo se foi naquele segundo. No segundo em que meus pés se moveram demais para se esquivar daquele soco...

A luta estava incrível, Sendo-san era um grande oponente, e nossas trocas de golpes haviam sido de tirar o ar da plateia a nossa volta. Mesmo eu sendo um estrangeiro para eles, não houve vaias, sem xingamentos para mim durante toda a disputa, eu não era o favorito, sempre soube. Desde que eu cheguei àquele país eu nunca tive a torcida realmente a meu lado, mas havia conseguido ganhar o respeito deles, e para mim só isso bastava.

Os socos de Sendou-san eram incríveis, com um único deles ele conseguiu me levar ao chão no sétimo Round, embora eu não soubesse dizer se eram mais fortes que os do Makunouchi-san. Mas isso não importava, somente de me causar esta duvida já era um exemplo do tamanho de sua força. Mas não eram só os socos, o espirito dele também era incrível. já havíamos chegado ao nono round, na verdade passamos dele, o gongo acabara de soar e tive que me dirigir ao meu corner, sentando-me sobre o banco e apoiando minhas costas no corner.

Meu treinador continuou em silêncio, apenas enxugando meu suor e então me dando água para que eu pudesse bochechar. Era sempre assim, ele confiava em meu treinamento e em tudo que me ensinara nos últimos anos. Era como se sempre acreditasse em minha capacidade. Somente me advertindo devido a minha personalidade, mas deixando as coisas por minha conta. E eu agradecia-o por isso. Sabia o que devia ser feito, não ganhei o torneio amador atoa, e não havia chegado ali sem me arriscar e aprender pelo caminho. Ele olhou em meus olhos, terminando de secar o suor em minha testa. Eu entendi a mensagem, "ultimo round". Era o que seus olhos diziam, e eu estava ganhando por pontos. Nunca havia lutado por tanto tempo com a mesma pessoa sobre um ringue. Isso me fez olhar para Sendou-san sentado em seu corner e ao mesmo tempo me fez ter certeza de uma coisa...

O juiz ia para o meio do ringue, tive que afastar meu treinador levemente e então ficar em pé. Ele foi para trás das cordas enquanto eu andava até o centro do ringue, como meu adversário fazendo o mesmo pelo lado oposto. Nos aproximamos, pouco a pouco.

"O estádio está lotado, mas a pressão que ele esta sentindo deve ser maior que a minha" - pensei enquanto via seu olhar penetrante fixo em mim, seu olho direito inchado e semi cerrado. Mas aquilo não queria dizer que eu tinha vencido, muito pelo contrário. "Definitivamente não podia cair novamente, jurei que venceria."

Ambos estávamos cansados, ambos tínhamos levados inúmeros golpes, e ambos agradecíamos por isso mentalmente. A possibilidade de enfrentar alguém tão ou mais forte que você, exigindo o máximo de seu condicionamento e também de seu treinamento durante todo esse tempo, isso era algo inigualável e algo também que somente o Boxe me permitia sentir.

"É um homem forte." -Proclamei para mim mesmo.

Sem pensar duas vezes estendi meu braço, inicialmente com um movimento lento, para que ele soubesse que não era um jab ou um ataque parecido. E então deixei meu braço esticado, apontando para ele com o com minha luva. Sendou-san então fez o mesmo, esticando o dele. Durante aquele segundo a plateia ficou em silêncio, aquela luta que não parou por um momento, com um soco sendo dado atrás do outro durante os últimos 9 rounds pareceu ser deixada de lado. Naquele momento nós nos reconhecemos mutuamente como os boxeadores que verdadeiramente éramos. Mas então nossas luvas se tocaram, e no instante seguinte voltamos a luta. Os pontos não poderiam me garantir uma vitória, eu teria que continuar com a intenção de nocauteá-lo para que ele não o fizesse comigo.

Acertei-o com um cruzado de esquerda, Mas no momento seguinte ele fez o mesmo com um direto de direita. Uma sucessão de golpes se seguiu, ora um no torso ora um na cabeça, golpes foram bloqueados e atingiram ambos os lados, mas nenhum de nós cedeu. Continuamos sem deixar que o outro avançasse um milimetro que fosse. Jabs, Cruzados e Ganchos, diretos e sequencias de um-dois, era como uma aula sobre o básico do boxe. A guarda dele então se abriu mais, com um balanço mais longo para dar um cruzado mais potente.

"Minha chance!" Gritei em minha mente, deslizando com meu pé para frente, me aproximando em busca de um Liver Blow mais compacto possível, um golpe no figado era tudo o que eu precisava, acertando-o ali a vitoria seria minha. Mas então meu pé continuou a deslizar mesmo quando tentei parar, talvez por culpa do suor da lona. Só pude parar a queda apoiando-me com meu braço no chão, sentindo o golpe de Sendou-san passando raspando sobre minha cabeça. Um escorregão... Isso não descontava pontos, ainda bem. Mas então ouvi o arbitro proclamando.

-Queda! Volte para o corner neutro. -E em seguida começando a contagem. Levantei aturdido, aquilo não era verdade, não fora um golpe que me derrubara, tentei argumentar, mas ele só continuava a contagem. Uma queda me fazia perder dois pontos, e esses dois pontos me faria depender dos juízes. -Three... - Antes que a contagem continuasse empurrei o juiz para o lado, partindo para cima de Sendou-san, teria que derrubá-lo!

A tosse de minha mãe me trouxe de volta àquele quarto. Levantei da cadeira com pressa, correndo para o lado de sua cama. Peguei sua mão com as minhas, segurando-a firmemente.

-Estou aqui mãe, estou com a senhora. -Minha voz saiu um pouco fraca.

-Alex... Meu filho...

-Sim mãe eu estou aqui, tudo vai ficar bem. A senhora vai ver. -Meus olhos começaram a arder, comecei então a dar piscadas longas, tentando aliviar aquela sensação. Tudo que ela fez foi olhar então para mim, com aquele se sorriso habitual. Enquanto movia sua outra mão, levantando-a. -Não, não se mexa, isso vai cansar a senhora... A senhora tem que descansar, se não como a senhora vai melhorar? -Senti então o toque de seus dedos em meus cabelos. Afastando os fios de meu rosto. Não os cortava havia semanas, ou meses? Doía pensar que não sabia a quanto tempo havia voltado para a Russia. Quanto tempo eu havia estado com ela, e muito mais quanto tempo me restava com ela...

-Olhe para você, virou um homem. -O ataque de tosse voltou. Ela não parava de tossir ultimamente, e uma febre se mantinha constante, havia noites em que ela nem conseguia dormir, e tentava segurar os gemidos para que eu pudesse fazê-lo. Mas eu também quase nunca dormia, pesadelos em que eu acordava e achava-a já gélida na cama me assolavam sempre que eu fechava os olhos, e por isso grande olheiras se acometeram abaixo de meus olhos. -Tão forte... O boxe fez de você uma pessoa incrível, mas sem tirar sua doçura...

-Não Mãe, não fale. -Lágrimas brotaram de meus olhos e começaram a escorrer, tentei contê-las mas era impossível. Me curvei para frente, apertando um pouco mais a mão dela. - Eu não sou forte, não consegue dinheiro suficiente para seu tratamento. Não consegui o cinturão... Não consegui nada, somente lhe dei falsas esperanças. Tudo por culpa de um erro. Se eu não tivesse escorregado... Se eu tivesse sido mais forte...

-Alex, não se culpe... -A voz dela ficava mais fraca a cada palavra, a hora estava chegando, o médico só havia lhe dado mais uma semana de vida, e isso já fazia quase um mês. -Você... você foi ótimo filho... Tentou tudo... a seu alcance... -As pausas aumentavam e sua voz agora era quase inaudível. Me curvei mais, aproximando meu ouvido de seus lábios. As lágrimas ainda escorrendo por meu rosto. -Alex...

-Sim mãe?

-Me... me prometa... que não vai... Largar o Boxe. -Parei por um momento em silêncio sobre ela. Naquela situação, naquele momento, era esse seu ultimo pedido? -Por favor... Me prometa... -Balancei a cabeça em sinal positivo, as lágrimas ainda a cair.

-Eu prometo Mãe. Eu prometo. -O sorriso dela aumentou ainda mais. E então senti seus lábios tocarem minha testa.

-Eu rezo para o seu sucesso, meu filho... -Foi a ultima coisa que ela disse. Seus olhos se fechando em seguida. Seu sorriso continuando em seu rosto. Me mantive em silêncio enquanto olhava para seu rosto. A expressão serena e a alegria em seus lábios.

-Obrigado, mãe... -Foi tudo o que eu disse quando ela se foi. Antes de voltar a chorar sobre seu corpo. Me permitindo chorar naquele momento. Pois sabia que aquela promessa eu não quebraria enquanto vivesse.


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Notas finais do capítulo

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Desde já muito obrigado por lerem.



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