Acasos escrita por kitsunerys


Capítulo 1
[Coculto 7] Para Azalee: Acasos


Notas iniciais do capítulo

Primeira fic de ambos os fandoms e a minha primeira fanfic crossover, então, peguem leve ;) Espero ter feito jus a esse livro maravilhoso e esse mangá-anime tão perfeitos. ♥

E agradecimentos especiais à Andreia Kennen que foi minha beta-quase-co-autora nessa fic. Senpai, sem você, essa história não seria nem sua metade. Você é a melhor! ♥



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Sakura fechou o guarda-chuva branco que trazia nas mãos recobertas por luvas vermelhas assim que se abrigou embaixo da proteção da entrada de uma loja. Estava chovendo desde cedo. O tempo frio e chuvoso não era um dos seus preferidos, mas se aquele era o clima predominante da região não havia muito o que se fazer a respeito.

Adentrou o pequeno Café, decidida a descansar do longo dia de compras que tivera. Andara todo o Beco Diagonal atrás de presentes e lembrancinhas, mas ainda não conseguira se decidir o que comprar para o pai e para amiga Tomoyo. Sempre que se resolvia por alguma coisa outro objeto lhe chamava mais atenção e na dúvida acabava por não levar nada.

Ficou surpresa quando recebeu o convite para participar da Quinquagésima Oitava Edição da Convenção para Renovação dos Termos da Aliança formada entre mundo humano e mundo mágico. Era um evento de grande importância e que reunia grandes lideranças de ambos os mundos.

Viera com uma caravana asiática, pois o evento ocorria fora do seu país, no Ministério da Magia, na Inglaterra.

As duas semanas haviam ido embora muito rápido e a jovem japonesa percebeu que passara a maior parte do tempo no Ministério ouvindo os grandes líderes discursarem sobre direitos, igualdades, entre outros assuntos, enquanto ativistas de determinados segmentos protestavam a favor de melhorias nos termos de suas categorias. Um dos grupos mais barulhentos foram o da Sociedade Protetora dos Animas Mágicos que reivindicavam mais rigor na punição para quem comercializasse ovos de dragões na clandestinidade. Eles ainda pediam que outras partes dos animais entrassem na lista de “Artigos Não Comerciáveis Classe A”, pois algumas espécimes já estavam entrando em extinção devido ao uso em demasia de seus chifres, garras ou escamas em poções mágicas.

Decorrido os dias e depois de todos os termos serem tratados e as condições dos mesmos restabelecidas, era hora de voltar ao Japão. Mas antes de voltar, a maga japonesa pensou em fazer turismo e comprar lembrancinhas para todos da família e os amigos. Mas, infelizmente, Sakura não dispunha de muito tempo, pois não havia prestado atenção na data do retorno que seria em dois dias. Desesperou-se, principalmente pelo fato de que não parava de chover em Londres e por esse motivo não teria como apreciar a paisagem ou visitar pontos turísticos. Sendo assim, decidiu que iria apenas passear pelo comércio afim de fazer as compras.

Afinal, ela mesma já estava morrendo de saudades do pai e não via a hora de voltar pra casa.

Adentrou a Cafeteria na qual se deteve em frente e sentou-se numa mesa alta, retirou as luvas e apanhou o cardápio que descansava em cima da mesa trabalhada em madeira rústica. Leu distraída os nomes dos pratos oferecidos e decidiu-se por um chocolate quente e uma fatia de bolo. Olhou em volta para chamar um garçom, mas seus olhos prenderam-se na figura conhecida que entrava no Café.

Sorriu ao reconhecer a bruxa que conhecera em meio ao evento e acenou animada quando a ruiva levantou os olhos em sua direção. Ela sorriu e veio ao seu encontro, sentando na outra cadeira da mesa.

- Oi, Hermione-san. - cumprimentou a garota que deveria ser pouca coisa mais velha que ela.

- Hey, Sakura. Fazendo compras? - Hermione apontou as sacolas que descansavam aos pés de Sakura.

- Sim. - Sakura assentiu enquanto observava a inglesa tirar o casaco e acomodá-lo nas costas da cadeira. - Vou partir depois de amanhã para o Japão e estou comprando lembrancinhas.

- Ah? ­– Hermione exclamou com ar de decepção. - Você já vai voltar? - questionou um pouco desapontada, ela queria ter tempo de conversar mais com a japonesa e conhecer mais sobre a magia usada por ela.

- Pois é. Queria passar mais uns dias e poder conhecer os pontos turísticos, mas tenho tarefas de casa para fazer. Além disso, estou com saudades do meu pai e.... sinto um pouquinho, bem pouquinho, falta do meu irmão. - Sakura confessou, ficando com as bochechas levemente rosadas. - E você, Hermione-san? Está fazendo compras?

- Só vim atrás de um livro novo - ela respondeu com um sorriso. - Então, seu pai é um grande mago lá no Japão? - Hermione perguntou curiosa, enquanto erguia a mão para chamar de um garçom conhecido.

- Não. Bem, não inteiramente. A história é um pouco complicada - Sakura riu ao pensar em seu pai fazendo magias. - Meu pai é professor universitário, na verdade. Eu sou a única maga na minha família.

- Ah. Não fique assim. Eu também passo pelo mesmo problema. Ambos meus pais são trouxas, o meu pai é dentista. - Hermione sorriu ao pensar nos pais.

Sakura piscou para a jovem ao ouvi-la chamar os pais de “trouxas”, mas apesar do nome parecer pejorativo, ela se recordou que era assim que as pessoas que viviam no mundo mágico nomeavam as pessoas comuns, que não tinham nenhum poder mágico. Pensar que ela poderia chamar o irmão mais velho de “trouxa” era uma ideia bem divertida, mas ao pensar na sua amiga Tomoyo, no pai e nos colegas de escola achou a ideia ruim e sacudiu a cabeça para prestar atenção na pergunta que Hermione fazia.

- Seu pai é professor de que matéria?

- Ah, ele dá aula de arqueologia. - explicou, orgulhosa do pai.

- Mesmo? Deve ser incrível! - Hermione comentou animada, já com uma dúzia de perguntas prontas para serem disparadas. - Ele é especializado em arqueologia japonesa ou...

As duas engrenaram em uma longa conversa enquanto comiam guloseimas e tomavam chá, e no final do dia estavam andando juntas.

- O que acha desse aqui para o seu pai? - Hermione perguntou.

Curiosa, Sakura virou-se para ver ao que ela se referia. Quando falara para Hermione que estava com dificuldade em escolher os presentes de Tomoyo e do seu pai, ela rapidamente oferecera ajuda. Sakura ficou muito contente e se apressou em aceitar o auxílio.

Agora as duas estavam em uma das lojas mais cheias e barulhentas do Beco Diagonal e, por mais que a japonesa não gostasse de entrar em lugares tão abarrotados, estava se divertindo. Já tinha conseguido comprar o presente de Tomoyo graças a ajuda de Hermione. A bruxa inglesa a levara numa loja de roupas e lá encontrou o vestido perfeito para a amiga. O tecido leve do modelo mudava de cor de acordo com o humor da pessoa que o vestia e podia ser cortado e modificado inúmeras vezes, que os cortes se adaptavam conforme o desejo do dono.

Mas ainda faltava o último presente, o de seu pai. Não conseguia achar nada de interessante. Queria encontrar algo que a fizesse pensar no pai do jeito que acontecera com o presente de Tomoyo. Já haviam vasculhado toda a loja onde estavam, mas parecia impossível.

- O que é? - perguntou olhando os óculos que Hermione segurava.

- É um óculos. Isso é bem óbvio, né? Mas tem um encantamento nele que faz a pessoa que o estiver utilizando, ler muito mais rápido. Por exemplo, sem os óculos ler um livro de... trezentas páginas, por exemplo, poderia levar horas e até um dia todo! Mas, com eles, o leitor consegue matar 300 páginas no máximo em vinte minutos! - Hermione explicou, colocando o objeto delicado nas mãos da nova amiga.

- Sério? Isso parece mesmo incrível. - Sakura olhou surpresa para a armação de metal fino. A lentes eram tão delicadas que quase não dava para vê-las.

- Sério - Hermione assentiu. - Experimenta para ver. A visão não muda em nada, mas na hora de ler, é como se seus olhos agissem mais rápidos. E como o encantamento está no objeto, qualquer pessoa, mesmo sem dons mágicos, consegue usufruir dos seus benefícios.

Sakura colocou os óculos com cuidado e olhou em volta, notando que, realmente, não mudava nada na visão e a armação, de tão leve e fina, parecia nem estar ali.

- Nossa! Nem parece que estou de óculos - comentou, olhando em volta.

- Se eu não soubesse que você está com eles, também não ia notar. - Hermione sorriu, achando engraçado o comportamento animado de Sakura. - Então, o que me diz?

- Meu pai ia gostar muito disso, com toda certeza! E.... iria facilitar o trabalho dele - Sakura respondeu, tirando os óculos e observando o objeto pensativa. - Acho que esses óculos aqui e mais aquele livro de culinária que eu vi no andar de cima iam ser perfeitos.

- Então, vamos lá pegar o livro e passar no caixa. Não sei você, mas eu não aguento mais a barulheira desse lugar. - Hermione pegou a mão de Sakura e puxou-a pelo meio de magos e turistas que lotava a loja.

Instantes depois, as duas estavam do lado de fora da loja.

- Nossa, aquela fila dava uma nova definição para a palavra “enorme”! - reclamou Hermione quando as duas conseguiram finalmente sair da loja.

- Pelo menos deu tempo de você achar um livro para você enquanto eu estava na fila. - comentou Sakura, caminhando lado a lado com a inglesa.

- Sim, isso é verdade. Aliás, desculpa tê-la deixado sozinha na fila. Mas parece que ouvi esse livro chamando o meu nome. – Hermione riu, tirando o livro da sacola e mostrando-o a amiga.

- Mesmo? - Sakura apanhou o livro que lhe era estendido e ao observar a contracapa se espantou. Não poderia ser possível... Mas conhecia bem aquele círculo com o sol e a lua. - Ei, eu conheço esse símbolo!

- Conhece? - Hermione perguntou, curiosa ao perceber os olhos arregalados da japonesa.

- Sim, é o símbolo do mago Clow! - explicou, passando a mão enluvada pelas linhas da ilustração. - Posso abrir?

- Pode, claro - Hermione apressou-se em responder ao ver a reação de Sakura.

Com certo receio e cautela, Sakura abriu o livro e vagarosamente passou a capa. A primeira folha estava em branco, como era comum em muitos livros. Continuou folheando até encontrar a primeira frase. Estava em inglês. Respirou fundo. O receio aumentando, mas a palavra descrita simplesmente saiu da sua boca em um sussurro: “Inversion...” e no momento seguinte o livro estremeceu e começou a brilhar.

Sakura sentiu o livro aquecer em suas mãos e apavorada não soube como reagir, foi Hermione quem o agarrou na tentativa de tirá-lo das mãos da nova amiga, mas assim que o apanhou o mundo em torno das duas girou. Sakura sentiu seu âmago revirando. Olhou para Hermione por um único instante e percebeu que amiga devia estar sentindo o mesmo. Então, no instante seguinte, tudo se apagou.

...



Hermione sentiu a cabeça latejar e respirou fundo, tentando conter a ânsia no estômago. Ainda de olhos fechados, tentou entender o que tinha acabado de acontecer, mas a ausência de sons exteriores a fez imaginar que não estava mais no Beco Diagonal, isso a fez abrir os olhos e sentar num pulo, fazendo o colchão sob si se mexer. Colchão?

Assustada, olhou em volta, a luz fraca de um abajur iluminava o ambiente, mas era perceptível que do lado de fora era de noite. Notou também que estava em um quarto pequeno e confortável, fofamente decorado. Que lugar era aquele? Perguntou-se, erguendo as mãos para passá-las pelos cabelos num gesto frustrado.

Porém, seu espanto aumentou ao sentir os cabelos curtos, morrendo na margem do pescoço. O que havia acontecido? Será que tinham cortado enquanto ela dormia? Mas porque fariam isso? Tinha sido sequestrada? Mas que tipo de sequestrador a manteria presa num quarto tão... Bonitinho? E...

A luz acendeu de repente, e ao se virar para onde ouvira o estalo, viu algo estranho flutuando diante dos seus olhos.

- Oi, oi, Sakura! O que está fazendo acordada a uma hora dessas? Você dorme como uma pedra. Porque perdeu o sono? - Hermione ouvia alguém falar, mas não entendia de onde vinha.

Virou-se de um lado a outro a procura da fonte daquela voz, mas a única coisa que encontrou foi um bichinho de pelúcia amarelo com asas brancas pairando no ar. Mas, porque ele estava se mexendo? Estaria pendurado em algum tipo de fio de náilon? Bichos de pelúcias não se mexiam por vontade própria. E de onde vinha aquela voz?

- Sakura? - o bichinho perguntou, mudando a expressão para uma expressão de preocupado e se aproximando do rosto dela tocou-lhe na testa. - Está se sentindo bem?

Hermione gritou e saiu da cama ao perceber que aquele bichinho de pelúcia mexia sim por vontade própria! Ou seria um animal? Seja-lá-o-que-fosse estava falando com ela.

Perguntava-se mentalmente que tipo de brincadeira era aquela enquanto seguia para a porta em uma tentativa de fuga, mas quando passou pelo espelho do quarto e viu um reflexo conhecido e se deteve.

Aproximou-se do espelho e ergueu uma das mãos para tocar o rosto e viu a figura no espelho repetir o gesto. Passou a mesma mão pelos cabelos e sentiu-os curtos mais uma vez, iguais aos do reflexo. Mas aquele reflexo não era o seu. Quem estava no espelho era Sakura.

- Sakura? Por que gritou? Se seu pai não estivesse viajando com certeza ele teria acordado! - advertiu o bichinho de pelúcia voador mais uma vez, agora fitando-a com um olhar bem desconfiado.

- Eu... - Hermione encarou o pequeno ser de cor amarela e se esforçou para respirar fundo e fazer o que sabia de melhor: pensar antes de agir. - Eu não sou a Sakura.

- Hã? Como não? Quem é você, então? - perguntou o outro.

- Hermione Granger. Mas não se preocupe, sou uma bruxa também, como a Sakura. Sou da Inglaterra. E.... você? Quem…, ou o que, é você? - questionou, realmente curiosa. Afinal, ela não lembrava de ter visto nenhuma descrição de um espécime como aquele em lugar algum.

- Sou Kerberos! - o bichinho se apresentou com orgulho, enquanto estufava o peito. - Sou o guardião do selo onde dormem as cartas mágicas da Sakura, criadas anteriormente pelo grande mago Clow.

- É um nome bastante imponente para um bichinho de pelúcia.

- Eu não sou de pelúcia! – ele esbravejou, mas ao notar o olhar indiferente da menina que lembrava o da própria Sakura, suspirou. - Bem, já que é amiga de Sakura. Se quiser, pode me chamar como ela me chama, “Kero”.

- Combina melhor com você, Kero - afirmou Hermione com um sorriso. - Então, me chame também pelo primeiro nome, “Hermione”. É um prazer. - ela estendeu a mão para ele e Kero correspondeu ao cumprimento apertando o dedo indicador dela.

- Certo, então me diga, Hermione, o que está fazendo no corpo da Sakura? - Kero perguntou, acenando para que a garota se sentasse ao seu lado na cama.

Hermione suspirou fundo e tentou explicar tudo desde o começo, conforme ela ia se lembrando. Kero ia assentindo. No final, ela explicou sobre o estranho livro que encontraram.

- Então, saímos da loja de volta para as ruas do Beco Diagonal e eu mostrei para ela o livro que comprei. Ela disse que o símbolo na contracapa do meu livro era igual ao símbolo do mago Clow. Mas quando ela abriu e leu a primeira palavra do livro, tudo se apagou e eu acordei aqui. - explicou Hermione.

- Hmm... - Kero resmungou, balançando a pequena calda de um lado a outro. – Mas o que seria Beco Diagonal?

Hermione revirou os olhos nas órbitas e mais uma vez suspirou, percebendo que aquela explicação iria demorar mais do que imaginava. Só esperava que onde quer que seu corpo e Sakura estivessem, estivessem bem.

...



- Hermione! Ei, Mione! - Sakura ouviu alguém chamando pela amiga ao seu lado, um grito meio sussurrado.

Franziu o cenho ao notar que não ouvia mais o barulho de antes e nem sentia a presença de Hermione. Abriu os olhos e observou em volta, assustando-se ao notar que estava em algum tipo de sala feita toda de pedra. Como uma masmorra. Estava sentada num longo banco de madeira antiga, com uma mesa a sua frente cheia de instrumentos e ingredientes estranhos. Tinha até um caldeirão.

- Hermione? - Olhou para o lado de onde a voz vinha e quase pulou de susto ao se deparar com aquele garoto ruivo a olhando com um ar de estranhamento.

Antes que pudesse abrir a boca para questionar quem ele era, foi interrompida:

- Rony, quieto! O Snape vai ouvir e vai chamar sua atenção!

Sakura olhou para o outro lado e se deparou com outro garoto, esse era moreno, usava óculos, tinha os olhos verdes claros e uma estranha cicatriz em forma de raio na testa. Aquela marca era familiar. Tinha ouvido falar sobre ela e sobre o portador dela durante as palestras que estivera no Ministério da Magia. Como era mesmo o nome dele? Jerry? Larry?

- Desculpa, Harry! Mas a Mione apagou do nada! - Rony explicou, ainda olhando-a com estranhamento.

Isso mesmo! Harry Potter! Sakura se lembrara. A própria Hermione tinha lhe falado que era amiga dele e também tinha falado sobre o rapaz ruivo. Ronald Weasley e Harry Potter eram seus melhores amigos dela na Academia de Bruxo chamada Hogwarts.

Mas o que ela, Kinomoto Sakura, estava fazendo ali?

- Hm... Então... estou mesmo ouvindo ruídos inconvenientes no meio da minha aula, não é mesmo? - Sakura sobressaltou ao ouvir a pergunta vinda de uma voz profunda atrás de si. Virou-se com os olhos arregalados e se deparou com um homem alto, com cabelos negros e escorridos e um nariz avantajado e empinado. - A matéria deve estar muito fácil para que o senhores fiquem de conversas aleatórias durante minha explicação - ele comentou. – Se é assim, então me digam, quais são os 4 ingredientes necessários para o preparo da “Poção Wiggenweld”, senhor Weasley?

Sakura virou-se para o ruivo, notando que as bochechas dele coraram, ressaltando as bonitas sardas que tinha no rosto. Mas ele negou com a cabeça.

- Ah, certo. Então, talvez, você saiba, senhorPotter? - Snape virou-se para Harry e Sakura pode notar nele um olhar frio ao se direcionar ao garoto cujo ele fez questão de enfatizar bem o nome.

Mas Harry mostrou-se seguro e apenas respondeu com sinceridade.

- Não, eu não sei, professor Snape.

- Por que não me surpreendo? - Snape desviou os olhos com escárnio e olhou para aluna, notando os olhos arregalados anormal da menina. - Senhorita Granger?

- Não sei... também? - Sakura respondeu sem fazer a mínima ideia do que eles estavam falando.

Snape franziu o cenho, não só ele, mas o espanto foi geral, normalmente Hermione tinha as respostas na ponta da língua. Olhou a aluna com mais cuidado. Ela parecia bem, apesar do comportamento inusitado.

- Ah... eu não estou me sentindo muito bem. - mentiu Sakura, querendo sair de perto daquele homem sombrio. - Posso ir para a enfermaria?

- Nós podemos levá-la. - ofereceu-se Rony, sem pensar. - A aula já vai acabar mesmo.

Snape olhou o menino com desgosto. Aquele comportamento informal e um tanto quanto descerebrado parecia ser nato da família Weasley. Checou o horário e confirmou que, realmente, a aula estava prestes a acabar.

- Pois bem. Saiam da minha aula! E levem essa... estranha senhorita Granger com vocês. Mas em vez de escrever um metro de pergaminho de dever de casa, vão escrever o dobro. - adicionou, sorrindo friamente.

Os dois garotos não ousaram contradizer o professor, mas não gostaram nada do acréscimo no dever. Sakura levantou-se e os dois garotos a seguiram e os três deixaram a masmorra.

- Hermione, onde você está indo? A enfermaria fica para o outro lado. - Harry perguntou ao ver a amiga virar em um corredor errado enquanto eles seguiram direto.

Sakura parou e virou-se para os dois, que se detiveram olhando-a em estranhamento devido sua expressão séria. Respirou fundo preparando-se para explicar o que tinha que explicar.

- Não sou Hermione. - soltou de uma vez. Ao ver Rony abrir a boca mostrando que iria interrompê-la, completou: - Meu nome é Kinomoto Sakura, sou amiga da Hermione.

- Que brincadeira é essa, Mione? Claro que você é você. - Rony riu, coçando a cabeça.

- Ou pelo menos, você era você até o café da manhã. - Harry comentou, olhando a amiga atentamente. Realmente, a postura estava diferente. E a expressão que ela fazia também.

- Alguma coisa aconteceu quando estávamos juntas fazendo compras no Beco Diagonal. Nós trocamos de corpo. Ou acho que trocamos. Ainda não me olhei no espelho. Mas tanto vocês como o professor não perceberam fisicamente que não sou ela, isso só me leva acreditar que estou no corpo dela. - Sakura soltou uma risadinha nervosa. - Eu já vi isso acontecer uma vez com dois amigos meus.

- Mas como isso aconteceu? - Harry questionou, rodeando Hermione. Ou o corpo dela.

- Não sei bem, mas vou contar desde o começo, talvez vocês consigam me ajudar.

Enquanto Hermione-Sakura explicava o que tinha acontecido para chegar naquela situação, nenhum dos três percebeu a figura escondida numa das sombras do corredores, escutando tudo que falavam.

...



- Inversão...? É bem a cara do Clow inventar essas coisas. - Kero comentou ao compreender melhor a explicação de Sakura-Hermione.

A inglesa estava sentada na única cadeira do quarto enquanto Kero estava andando de um lado para outro na cama, pensando.

- Deve ser mesmo a obra de uma carta. Mas se a Sakura ainda não a selou, ela ainda é uma Carta Clow. Vou ter que falar com Eriol... - Kero comentou, esfregando a pata no próprio queixo.

- Se eu estou aqui, no corpo da Sakura, ela deve estar no meu corpo, certo? Isto é, se essa magia seguir algum tipo de lógica é isso que devia acontecer. - Raciocinou Hermione independente do comentário do guardião de Sakura, passando mais uma vez as mãos pelos cabelos. A sensação dos fios curtos a estava enervando, tão diferente dos seus cabelos longos e cheios. Mas então voltou-se ao animalzinho amarelo flutuante e o questionou ao ouvir aquele nome desconhecido. - Eriol?

- Sim. Ele poderá ajudar porque é a reencarnação do antigo mestre das cartas Clow. Se a Sakura leu o nome “Inversion” e vocês inverteram de corpo, esse deve ser o nome da carta. Mas eu não lembro desta carta. Então a única pessoa que pode saber dela é o Eriol. Se for mesmo uma carta Clow, Sakura terá que capturá-la e só depois tentar convertê-la em carta Sakura - explicou o guardião.

- Que ótimo! Então vamos chamar logo esse Eriol, onde ele mora?

- Na Inglaterra.

- Ah?! Ele mora no meu país? - ela espantou-se. - Por falar nisso... se esse é o quarto da Sakura.... Então estou no Japão, não é? - Hermione viu Kero assentir. - Eu sempre quis conhecer o Japão e.... esse não é o momento certo. - ela ficou séria de repente e se voltou para o Kero. - Precisamos, antes de qualquer coisa, entrar em contato com esse Eriol e reverter esse feitiço.

- Sim! Conheço uma pessoa que certamente terá o telefone dele. – disse ele voando até a cômoda de três gavetas e abrindo a última, retirando dela o que parecia um celular cor-de-rosa. - Vou ter que acordá-la é por um bom motivo. – ele comentou, colocando o objeto na cama e apertando uma sequência nas teclas e esperando o tom de ligação iniciar.

Do outro lado da linha uma voz feminina e gentil atendeu a ligação, se identificando como “Daidouji”, Hermione pode ouvir porque o aparelho estava no viva-voz.

- Tomoyo, preciso da sua ajuda! - Kero já foi falando em tom de desespero. - Você tem o telefone daquele fedelho do Eriol lá na Inglaterra?!

- Do Hiiragizawa-kun? Sim, acho que tenho sim, Kero-chan. Mas o que houve para você me ligar a essa hora? Aconteceu alguma coisa com a Sakura-chan? Você parece nervoso.

- É uma longa história...

Tanto Hermione quanto Kero suspiraram fundo ao pensar em explicarem novamente aquela longa história.

“Espero que a Sakura esteja bem. E que o Rony e o Harry consigam ajudá-la” pensou Hermione.

...



- “Inversion”? - questionou Harry.

O moreno tinha puxado Rony e Sakura para uma sala vazia para que pudessem conversar melhor. Ele e Rony estavam sentados num dos vários bancos e Hermione, ou melhor, Sakura, estava sentada do outro lado da mesa. Ela já havia explicado o que tinha acontecido, mas era difícil de acreditar.

- Era a primeira palavra do livro - confirmou Sakura, assentindo. - Acho que dentro do livro devia estar uma das Cartas Clow e quando eu li ela se ativou.

- Carta Clow? - questionou Rony erguendo ambas as sobrancelhas. - Não estou conseguindo entender nada!

- Vamos até a diretoria falar com o professor Dumbledore. Com certeza ele saberá como desfazer essa mágica - Harry sugeriu, levantando-se.

Sakura-Hermione ergueu os olhos cheio de esperanças para o garoto e abriu um grande sorriso.

- Arigatô, Harry-kun!

Os três saíram juntos da sala e de repente foram surpreendido pela aparição repentina do professor Snape.

- Vadiando pelos corredores? - o homem perguntou, empinando e franzindo o nariz como se estivesse sentindo um odor forte.

- Acabou a aula professor Snape. Desculpe-nos, mas o que fazemos no nosso horário livre não é da conta do senhor.

- É da minha conta quando os alunos estão vadiando pelos corredores sem rumo, ao invés de estarem em seus aposentos ou estudando - o homem respondeu rapidamente. - Ou estão indo para algum lugar?

- Salão comunal! - respondeu Rony ao mesmo tempo que Harry respondeu “Biblioteca!”, fazendo-os se encolherem por suas faltas de sincronia.

Snape levantou uma das sobrancelhas.

- Só não os mando para diretoria porque Dumbledore e a professora McGonall estão ausentes.

- Ausentes?

- Sim, meu caro, Potter. No Ministério da Magia ajudando nos preparativos para a convenção anual sobre a reforma nos termos das leis entre mundo mágico e humano. Aliás, convenção cuja a senhorita Granger também está escalada para participar como representante dos alunos da Grifinória, não é, senhorita Granger?

Sakura arregalou os olhos ao ouvir sobre a convenção. Se ela ainda não havia acontecido, significava que também tinha voltado no tempo. Depois de algum tempo observando aquele homem de ar arrogante, ela assentiu.

- Hm - confirmou apenas com aquele resmungo, desviando-se dos olhos avaliativos dele.

- Bem, ao invés de ficar vadiando com esses dois inúteis por aí, deveria se reunir com os representantes das outras casas para acertarem detalhes da viagem que será essa noite. Aliás, a senhorita conhece o representante da Sonserina, vai ficar surpreso em revê-lo. Agora, se me derem licença.

Snape deu as costas para o trio, deixando-os com o ar de espanto para trás.

- Não esqueçam dos três metros de pergaminho com a pesquisa que pedi - o professor acrescentou sem se voltar para eles.

- Não eram dois?! - Rony contradisse, desesperado.

- Se eu ouvir sua voz mais uma vez, senhor Weasley, irei dobrar para seis!

- Ora, seu.... !

- Melhor ficar quieto, Rony - Harry o advertiu.

- Mas, Mione! Desde quando você conhece alguém da Sonserina?

Sakura olhou confusa para Rony.

- Mas eu...

- Ela não é a Hermione, Rony. Esqueceu? E agora temos um grande problema. Sem o Dumbledore ou a professora McGonall aqui, precisaremos encontrar outra forma de ajudá-la!

- Aquele professor... - Sakura iria sugerir, mas já foi interrompida pelo esbaforido Rony.

- Nem pensar! Ele não é de confiança. Ele quer ver eu, o Harry e a Mione, mortos!

Sakura não compreendeu muito bem o que Rony quis dizer com “mortos” e nem pode questioná-lo porque naquele mesmo instante ela sentiu algo e arregalou os olhos mais uma vez.

- Essa presença.... - Ela franziu as sobrancelhas, incrédula. - É a presença do mago Clow.

- Mago Clow? O tal das cartas? - questionou Rony, olhando em volta, assustado. - Aqui em Hogwarts?

- Esse mesmo e aqui sim - confirmou Sakura, também olhando ao redor, atrás de algum sinal da presença. - Acho melhor ir procurá-lo.

- Vamos, então! Para onde? - perguntou Harry, já que não sentia nada diferente no ar, mas acreditava na Sakura-não-Hermione.

- Por aqui. - Sakura se virou na direção de onde a presença vinha e foi se guiando de acordo com a intensidade da sensação que sentia. Não conhecia nada daquela escola e para ela tudo parecia igual, longos corredores, ladeados por uma enorme estrutura de pedra.

Segurou-se para não aumentar o ritmo da sua corrida, não queria chamar atenção e nem se perder de Harry e Rony que vinham logo atrás de si. Depois de andar por alguns minutos estava convencida que estava andando em círculo.

- Por que estamos indo para a biblioteca? - perguntou Rony, ao notar a direção que iam.

- Fica por aqui? - Sakura perguntou, olhando por cima do seu ombro, sem deter a corrida.

- Sim. Se seguir em frente e dobrar a direita uma vez entrará na Biblioteca. - respondeu Harry.

- É de lá mesmo que está vindo a presença! - Sakura animou-se e apertou o passo até virar no fim do corredor. Parou um momento para encarar admirada as altas portas de madeira trabalhada da biblioteca. Era possível ver que lá dentro tinham intermináveis estantes abarrotadas de livros.

Sacudiu a cabeça, e focando novamente em seu objetivo, entrou na enorme biblioteca. Seguiu por entre as estantes até o final da sala e se deteve na última fileira de prateleiras. A presença estava atrás da estante a sua frente.

- O que está esperando? - sussurrou Harry, parado atrás de si. - Por que parou?

Em vez de responder, Sakura respirou fundo e deu um grande passo à frente. Ali estava uma mesa e quatro cadeiras estofadas. Na mesa havia quatro xícaras de chá quente e um açucareiro. Mas o que mais surpreendeu Sakura foi a pessoa sentada em um das cadeiras, vestido com o mesmo tipo de uniforme que os meninos ao seu lado usavam, mas com detalhes em verde e o emblema no casaco era de uma serpente.

- Estava ansioso para me reencontrar com a senhorita.

- Eriol?!

...



- Então, deixa eu ver se entendi tudo. Esse tal de Eriol é o atual mestre das Cartas Clow e é o único que pode nos ajudar. Ele mora na Inglaterra, mas tem uma casa aqui no Japão de arquitetura inglesa que possui uma lareira que é interligada a Rede de Flu e que vai dar na sua outra casa em Londres? - perguntou Hermione para Kero que estava dentro da bolsa que ela carregava em um dos ombros, enquanto seguia pelo caminho apontado por ele. - Parece bom demais pra ser verdade.

- Mas é isso mesmo - Kero afirmou. - Pelo que o fedelho inglês disse por telefone, se essa carta for a carta a qual ele está pensando, ela tem a mesma finalidade de outra carta feita por Clow, a carta “The Change”. Então, caso você e Sakura não troquem de corpo no prazo de 24 horas, não conseguirão mais destrocar. Por isso ele sugeriu a viagem via rede de Flu.

- Pelas barbas de Merlin!

- Você pegou todas as Cartas Sakura, né?

- Sim, estão todas aí na sacola - assentiu Hermione.

- Aquela é a casa! - Kero apontou para o topo de uma residência que já vinha surgindo.

- Uau! Você tem razão, Kero! É mesmo arquitetura inglesa. Mas... como vamos entrar?

- O fedelho disse que a janela do segundo andar fica aberta. Agora é comigo, segure-se! - advertiu Kero ao sair da sacola voando e apanhar a Sakura-Hermione pela gola da parte de trás da camisa e com muito esforço a elevar até a altura do segundo andar da casa.

- Minha nossa, Kero! Você é bem forte para um bichinho de pelúcia. Ah, estou vendo! É aquela janela, está aberta. - ela apontou.

Resmungando que “não era bicho de pelúcia e que já tinha visto”, Kero entrou junto com Hermione pela janela aberta.

- A lareira fica na sala na parte debaixo - Kero falou, buscando recuperar o fôlego.

- Ah, certo! - ela assentiu e os dois saíram por uma porta que dava para um corredor de onde já viram a escada.

Desceram rapidamente e Kero, que estava voando, foi na frente.

- Aqui está! - exclamou ao encontrar a sala com uma grande lareira.

O guardião voou para a estante ao lado da lareira, a procura do pote cheio de pó que Eriol dissera que estaria ali.

- Ah, deve ser isso aqui o tal de Pó de Flu. - apontou o um pote rústico, na segunda prateleira.

- Traz ele pra mim, vamos, rápido! - pediu Hermione já parada diante da lareira. - Que endereço devemos dizer? - ela perguntou com as mãos estendidas na direção dele.

- Segundo Eriol: “Mansão Hiiragizawa, Inglaterra” e só. - explicou Kero, carregando o pote com certa dificuldade, já que o objeto parecia ser mais pesado que a Sakura-Hermione que ele tinha acabado de carregar.

- Me dê aqui. - Hermione pegou o pote com ambas as mãos, notando que era mesmo pesado, colocou-o debaixo do braço, destampou-o e guardou a tampa em cima da lareira, depois disso apanhou um punhado do pó com uma das mãos e com dificuldade guardou o pote sobre a lareira também. - É melhor você ficar no meu ombro, Kero. Deixe que eu jogue o Pó. Já sei como fazer.

- Certo. - concordou Kero sem hesitar, apoiando-se o mais confortável possível no ombro da garota.

- Pronto? - perguntou Hermione ao entrar na lareira com o punhado de pó na mão.

Ouviu o bichinho assentir com um resmungo e jogou o pó no chão da lareira gritando de forma clara: - Mansão Hiiragizawa, Inglaterra! - uma enorme labareda na cor verde se ergueu e cobriu os dois passageiros que em seguida desapareceram.

...



- Entendeu, Sakura-san? - perguntou Eriol ao terminar de explicar o plano que tinha combinado com Kero por telefone.

Os três, Sakura, Rony e Harry, que estavam sentados à mesa de chá improvisada por Eriol, assentiram. Eles conversavam baixinho para não serem percebidos, apesar de Harry ter lançado em volta deles um feitiço de distração.

Apenas Eriol estava bebendo o chá, parecendo calmo e quase entediado com a situação, mas tinha um sorriso polido no rosto e falava atenciosamente com Sakura.

- Mas como vocês pretendem invadir uma loja do Beco Diagonal? Meu pai disse que todas elas tem feitiços poderosos a prova de ladrões – comentou Rony.

- Além disso, como irão sair daqui e irem para o Beco Diagonal sem serem pegos? - Harry também quis saber.

- Para sair daqui é bem simples - Eriol falou calmamente, devolvendo a xícara ao pires. - Como a senhorita Granger e eu somos participantes da convenção que irá acontecer, temos permissão para sair do castelo durante esse período. Então, podemos ir para o Beco Diagonal usando a Rede de Flu - explicou o mago, dando de ombros. - Para entrar na referida loja, podemos usar o poder das Cartas Sakura, Kero está trazendo-as. A maioria dos feitiços anti-ladrões das lojas do Beco Diagonal são barreiras mágicas, nada que uma carta como a “The Sword” não resolva.

Sakura assentiu, concordando com o plano. Parecia bem simples, se tudo desse certo. O momento difícil seria capturar a carta... Principalmente estando no corpo errado. Mas esse detalhe ia ter que ficar para depois.

- Espera, espera - Harry sacudiu a cabeça, tentando entender todo aquele plano envolvendo simples cartas. - E nós? - apontou para si mesmo e Rony.

- Sinto muito - se desculpou Eriol. - Mas vocês vão ter que ficar e esperar o resultado aqui mesmo. Apenas eu e Sakura temos permissão para sair do castelo.

Sakura notou o olhar de preocupação de Harry e a postura tensa de quem não concordava em nada com aquilo. Sentiu pena dos dois, que estavam preocupados com a amiga, e entendia o sentimento deles de não poder fazer nada.

- Obrigada pela ajuda que me deram até agora, Harry-kun, Rony-kun! - agradeceu Sakura, se levantando da cadeira onde estava sentada para fazer uma reverência curta aos dois grifinórios ao modo oriental.

- Não fizemos nada demais - Harry respondeu, suspirando. - Queria fazer mais, mas já percebi que vocês tem tudo sobre controle. Vamos ficar por aqui e esperar que tudo dê certo. Você é muito gentil, Sakura.

- Boa sorte, Sakura - Rony desejou, sorrindo gentilmente.

Sakura desfez a postura e virou-se para olhar Eriol, notando que o amigo já estava de pé.

- Assim sendo, é melhor irmos andando. Kero e a Senhorita Granger já devem estar chegando. Sei qual lareira podemos usar - Eriol fez um aceno curto de despedida a Harry e Rony, antes de oferecer o braço para Sakura. - Vamos?

- Vamos! - Sakura enlaçou o braço no de Eriol e antes de caminhar para fora da biblioteca, virou-se mais uma vez e acenou para os dois novos amigos.

Rony e Harry só acenaram de volta, ainda estranhando aquele tipo de postura e expressão no corpo da melhor amiga.

...



- Então isso aqui que é o Beco Diagonal? - Kero perguntou, flutuando ao lado da cabeça de Hermione. - Que lugar mais antigo! - completou, observando o chão de paralelepípedos gastos e as portas e janelas de madeira rústica.

- Sim. A livraria onde comprei o livro fica nessa direção. - Hermione apontou mais adiante na rua em que seguiam. - Você acha que a Sakura e o tal de Eriol já estão lá? – questionou, enquanto olhava tudo a sua volta. Nunca fora ao Beco Diagonal tão tarde da noite, e o lugar vazio e escuro lhe dava arrepios.

- Devem estar a caminho - Kero respondeu sem olhá-la.

Continuaram seguindo por mais alguns metros pela rua mal iluminada e silenciosa. Hermione reconhecia algumas lojas, mas com todas apagadas, não conseguia nem dizer o que tinha nas vitrines.

- É aqui! - ela parou de andar e se deteve em frente a livraria onde tinha comprado o livro que criara toda aquela confusão. - Onde estão eles?

Como se esperando a deixa, a voz de Sakura, ou melhor, de Hermione, se fez ouvir, vinda de mais adiante na rua.

- Kero-channn! - Sakura, no corpo de Hermione, correu até o guardião e o abraçou, espremendo-o contra o peito. - Que saudade de você!

Kero deixou-se ser largado e resmungou algo sobre “bruxas baixinhas que se metem em confusão em qualquer parte do mundo”.

- Hermione-chan! - Sakura olhou espantada para seu próprio corpo, onde, obviamente, a amiga estava presa. Sentindo uma sensação entranha ver a si mesma e saber que não era ela. Pelo menos, não por dentro.

Hermione sorriu e abraçou a amiga apertado, tentando passar um pouco de confiança e segurança.

- Oi - disse, quando soltou-se da outra. - Desculpa, mas é muito estranho abraçar a mim mesma. - Hermione riu, olhando o próprio corpo.

Sakura concordou com a cabeça e riu também.

- Ah, esse aqui é o Eriol. - Sakura agarrou o braço do outro rapaz, puxando-o. - Eriol, essa é a Hermione. Quer dizer, sou eu, mas quem está por dentro...

- Eu já entendi, Sakura. - Eriol sorriu. - Prazer, senhorita Granger.

- Isso é incrível! - Hermione exclamou. - Eu nunca imaginei que a reencarnação do grande Mago Clow, que tanto o Kero falou, fosse aluno de Hogwarts. Ainda... aluno da... Sonserina? - ela franziu o cenho, observando melhor o uniforme.

- Ah? - Sakura mostrou-se confusa, olhando de um para o outro.

- E não sou, senhorita. É apenas um disfarce que consegui com a ajuda de... um conhecido - explicou, estreitando os olhos e os lábios em um sorriso. - Mas não podemos perder mais tempo, sugiro agirmos logo, caso não queiram ficar trocadas para sempre.

Ambas concordaram com um aceno rápido de cabeça e viraram para a entrada da livraria, que estava só com a fachada acesa, mas as luzes internas apagadas, como o restante das lojas no Beco.

- Mas... como vamos fazer para entrar sem despertarmos o feitiço a prova de ladrões? - Hermione, no corpo de Sakura, questionou, franzindo levemente o cenho.

- Como já expliquei pra Sakura, sugiro uma ação em conjunto entre as duas. A porta poderia ser destrancada pelo feitiço que abre portas da Senhorita Granger. A carta “The Sword” da Sakura pode destruir qualquer barreira, inclusive o feitiço anti-ladrões da livraria. - Eriol explicou e fez uma pausa, apontando o pingente no colar que estava no pescoço no corpo de Sakura. - O problema é que uma terá que usar o feitiço da outra.

Sakura e Hermione se olharam e como se trocassem palavra de incentivo apenas com seus olhos, assentiram, confiando uma na outra.

- Bem, para destrancar portas fechadas, você deve usar “Alohomora” - disse Hermione com a voz de Sakura. - Minha varinha deve estar em um dos bolsos do meu uniforme.

Sakura passou a mão pelas vestes de Hogwarts até sentir a forma da varinha, enfiou a mão em um dos bolsos internos e a puxou, olhando-a com admiração.

- Para fazer o feitiço, tem que se balançar a varinha num movimento que forme um “S” ao contrário, de forma bem suave, como se você estivesse desenhando no ar com a ponta da varinha. - explicou Hermione, demonstrando com a própria mão como se fazia.

- Assim? - Segurando a varinha com delicadeza, Sakura desenhou no ar como Hermione havia feito, pensando no feitiço.

Olhou para a amiga e viu ela assentir, aprovando.

- Agora diga com firmeza o nome do feitiço.

- Alo-... Alo-... Alohomora!

A princípio pareceu que nada havia acontecido, mas no seguinte segundo houve um barulho de tranca destravando e a porta se abriu.

- Perfeito! – Hermione comemorou. – Agora, é a minha vez. Como faço para usar a carta “The Sword”? - perguntou Hermione, olhando também para Kero e Eriol, que as observavam.

Uma parte da inglesa estava ansiosa por aprender ainda mais sobre magia oriental e ela estava disposta a tirar tudo de positivo que pudesse daquela estranha situação. Além disso, ela precisava fazer o seu melhor para tudo dar certo e ela poder ter seu corpo de volta.

- Bem, primeiro, você precisa despertar a chave que está no colar. - Sakura apontou o pescoço de Hermione, que rapidamente tirou a joia e segurou a pequena chave na palma da mão. - Para isso, você precisa repetir o encantamento que irei lhe dizer: “Chave que guarda o poder da minha estrela! Mostre seus verdadeiros poderes sobre nós e ofereça-os à valente Sakura que aceitou essa missão. Liberte-se!”. A chave vai se transformar em um báculo e com ele você poderá invocar o poder das cartas - concluiu Sakura.

- Deixe-me fazer uma pequena observação, senhorita Granger. - chamou Eriol, recebendo toda a atenção da curiosa estudante de Hogwarts, estampada nos belos olhos verdes de Sakura. - Procure mentalizar o fluxo de magia que corre no interior de Sakura para que esse poder flua e responda ao encantamento. Se não se concentrar, o poder não irá fluir e não responderá ao encantamento. - avisou em tom grave.

Hermione assentiu, encarando a chave na palma da sua mão enquanto se concentrava. Respirou fundo e fechou os olhos, quando os abriu, tinha uma imagem forte de Sakura na cabeça. Confiante, recitou o encantamento, vendo o pequeno pingente sair de sua mão e flutuar no ar enquanto a atmosfera a sua volta mudava, depois disso ele passou a girar e se esticar até se transformar em um báculo. Ao concluir a transformação Hermione o apanhou, sentindo uma energia abundante provir do objeto.

- Isso foi... - Hermione não sabia como completar, olhando admirada para o objeto em suas mãos. - um pouco parecido com a transformação da Poção Polissuco só que em objetos - ela concluiu sorridente.

Sakura sorriu. Apesar de já ter feito aquilo centenas de vezes era diferente vê-la invocando o poder da chave através da perspectiva de outra pessoa.

Hermione girou o báculo em suas mãos, analisando sua forma. Quando se deu por satisfeita e já mais confortável com o que segurava, virou-se novamente para Sakura.

- Próximo passo.

- Agora, para chamar a carta “The Sword” você joga ela pra cima. Normalmente eu a invoco falando: “Carta Sakura, conceda-me seus poderes mágicos e se transforme. Espada!”. Então você bate na carta com a ponta do báculo. - explicou Sakura pausadamente, para que Hermione entendesse. – Depois disso o báculo vai se transformar em uma espada, com a qual poderá romper a barreira mágica que protege a livraria. Entendeu?

- Acho que sim - respondeu Hermione, repassando as palavras na cabeça e decorando-as. - É melhor você pegar a carta, assim não erro - ela pediu, estendendo a bolsa na qual trazia as cartas para Sakura.

A japonesa apanhou a bolsa e puxou de lá o livro com todas as cartas, folheou rapidamente e puxou a carta que procurava. Entregou a carta para Hermione e colocou a bolsa no ombro, pressionando o livro contra si para se sentir mais segura.

- Certo - disse Hermione.

Novamente, a inglesa fechou os olhos para se concentrar e visualizar Sakura recitando o feitiço. Quando se sentiu pronta, começou a repetir o encantamento de invocação, jogando a carta para cima no processo e ao terminar gritou a palavra “Espada!” e bateu na carta com a ponta do báculo. Um círculo se iluminou em volta de si e sentiu o báculo em sua mão mudar de forma, ganhando a forma de uma espada de cabo dourado e corte afiado.

- Muito bom! - Sakura bateu palmas, feliz que estava tudo dando certo, e que a amiga parecia estar se divertindo com tudo.

Hermione segurou a espada com cuidado, sentindo-a pesar em sua mão, mas sem ser incômoda. Sorriu para Sakura, Eriol e Kero ao perceber que até então tudo estava indo bem.

- E agora?

- A carta dá habilidades mesmo que você não as tenha – foi Eriol quem explicou desta vez. - Basta se concentrar que ela fará com que enxergue a barreira mágica, depois de enxergá-la é só usar a espada para cortá-la. - Eriol concluiu, gesticulando para a porta já destrancada da loja.

Hermione assentiu e caminhou para a porta aberta. Deu um primeiro passo, atravessando a soleira e segurando firmemente a espada nas mãos fechou os olhos e se concentrou. Sentiu uma energia quente emanar da espada e reabriu os olhos conseguindo enxergar a barreira. Havia algum tipo de distorção, como se ali estivesse um parede feita de vidro. Sem hesitar, ergueu a espada acima da cabeça e a forçou para baixo, riscando com sua ponta afiada o que parecia o “vidro”. Por um instante a barreira cintilou e depois se desintegrou silenciosamente.

- Você conseguiu, Hermione-Sakura! - gritou Kero. - Agora vamos entrar e achar essa maldita carta para que vocês voltem para os seus devidos corpos. - bradou ele, voando na frente.

Eriol segurou a porta para as duas bruxas passarem, como o perfeito cavaleiro que era, e a fechou assim que elas entraram.

Hermione sabia exatamente aonde tinha pegado o livro e correu para estante, olhando por entre os volumes até reconhecer a capa antiga do livro que causara toda aquela confusão.

- É esse aqui! – ela apontou o livro, chamando a atenção dos outros três.

- Talvez seja mais prudente que Sakura, no seu corpo, a pegue, senhorita Granger. - Eriol advertiu, antes que a estudante de Hogwarts apanhasse o livro e espantasse a carta. - As cartas tendem a ser fujonas quando sentem o poder mágico de Sakura.

Sakura e Hermione concordaram com a cabeça. A bruxa inglesa deu um passo para trás e a japonesa foi quem se aproximou, pegando o livro com as duas mãos, bem tranquilamente. Quando o volume estava firme e seguro em suas mãos, o abriu com cuidado para não ler nada, e folheou-o até o meio, onde em vez da palavra tinha a ilustração da carta.

- É isso? - Hermione perguntou, olhando atentamente o desenho de uma carta, onde estava escrito “Inversion” na base.

- Parece que é mesmo uma carta Clow - respondeu Kero, plainando perto do livro. - Ela estranhamente tomou a forma de um livro - ele comentou curioso, olhando de soslaio para Eriol que apenas sorria com os olhos estreitados para eles, preferindo se manter imparcial.

- Devemos ler o encantamento juntas para que ela nos inverta novamente? – Hermione sugeriu.

- Não! - Kero irrompeu. - É melhor que transforme-a primeiro, Sakura! - Kero apontou para o corpo da amiga, mas que na verdade ainda era Hermione.

- Eu sou a Hermione, Kero.

- Você me entendeu.

- Então, vamos lá! - Sakura exclamou, animada. - Eu seguro o livro e você a captura, Hermione-chan. - ela disse, segurando o livro aberto com ambas as mãos e expondo-o para amiga que estava em seu corpo. - Você precisa só chamar o nome da carta e quando ela aparecer na sua verdadeira forma, use o báculo e grite o feitiço: “Volte a forma humilde que merece, Carta Clow!”.

- Certo - concordou Hermione, respirando fundo e apertando o báculo em suas mãos.

Eriol e Kero se afastaram para trás, apenas por segurança.

Concentrando-se novamente, Hermione, no corpo de Sakura, ao sentir o calor nas mãos provocada agora pelo báculo que já tinha voltado a forma original. Gritou o nome da carta com firmeza:

- “Inversion”!

O livro brilhou e a carta, antes uma mera ilustração em preto e branco na página, saiu dele criando um corpo substancial. Hermione se espantou ao ver a forma verdadeira da carta, que apesar de ter uma aparência de uma mulher gentil, era imensa e parecia ter uma personalidade própria.

- Rápido, Hermione-chan! Ela vai fugir!

- Ah, sim! - Hermione ergueu o báculo e depois de se concentrar mais uma vez, gritou o encantamento: - Volte a forma humilde que merece, Carta Clow!!

O báculo brilhou e o círculo mágico apareceu no chão em torno do corpo de Sakura. Fachos de luzes saíram do báculo e envolveram a carta como se fossem cordas, mas diferente do que imaginavam, a Inversion não se mexeu e com um simples gesto de braços rompeu com as amarras feitas de magia pelo báculo. Hermione olhou incrédula para os outros três presentes.

- Ela não deveria ter virado uma carta?

Sakura, no corpo de Hermione, olhou para Eriol, que por sua vez, olhou para a carta, que havia cruzados os braços no peito e agora o encarava com seriedade.

- O que houve, Kero-chan? - Sakura perguntou com a voz de Hermione, voltando-se para o guardião. - Vamos ter que usar outra carta para prendê-la? Que tal invocar a “The Wind”?

- Mas essa carta não parece hostil para usarmos uma carta de ataque - observou Kero, com a mão no queixo, enquanto flutuava ao lado de Hermione.

- Mesmo com essa cara de brava que ela tem? – Hermione ressaltou.

- Ela está brava comigo, digo, com Clow – Eriol informou, chamando atenção dos três. - Mas não é sem razão. Ela não quer voltar a ser uma carta sobre o domínio de Clow e eu até entendo o motivo. Clow a perdeu. Na verdade, por um descuido, ele a guardou dentro de um livro que havia pegado emprestado de um amigo mago e acabou devolvendo o livro com ela dentro. E ao invés de procurá-la, ele criou uma nova carta, a carta que você carrega Sakura e se chama “The Change”. A Inversion só sobreviveu esse tempo sozinha, porque se uniu ao livro que tem um pouco de magia.

- Típico do Clow - Kero comentou e esturrou.

- Que horror! - Hermione exclamou no corpo de Sakura, voltando a olhar pra carta. - Agora sei porque ela parece de mal humor. Eu também ficaria muito brava se meus pais me esquecessem em algum lugar e além de ir me procurarem, arrumassem outra filha!

A enorme moça, de expressão fechada, entendeu o que Hermione, no corpo de Sakura, dizia. Encarou-a atentamente e seu olhar suavizou, para em seguida, inclinar a cabeça suavemente na direção da inglesa, como se agradecesse pela compreensão.

- Pobrezinha... - murmurou Hermione, comovida. - Mas sei como ajudá-la. – ela disse para a moça, que a olhou curiosa. - Você está assim por se sentir sozinha. Mas se você voltar a ser uma carta novamente, poderá reencontrar suas irmãs cartas e viver ao lado delas. Clow não é mais o dono de vocês e a Sakura nunca vai esquecê-la, pois pelo pouco que conheço dela, já percebi que ela é uma garota especial, atenciosa e carinhosa. Né, Sakura?

A carta olhou Hermione e depois Sakura, que passou a mão nos olhos afastando as lágrimas que os margeavam, depois disso, afirmou para carta com um balançar de cabeça. A Inversion voltou a mirar a inglesa, dessa vez, com simpatia e agradecimento no olhar e, antes de assentir com firmeza, ela descruzou os braços e os abriu, sorrindo levemente.

- Será que essa é a deixa pra eu tentar novamente? - Hermione perguntou e a própria carta fez que “sim” com um gesto de cabeça. - Certo. Então, vamos lá. Volte a forma humilde que merece, Carta Clow!

Mais uma vez Hermione ergueu o báculo sobre a cabeça após gritar o encantamento com toda a segurança que tinha. Ao seu redor, o círculo mágico voltou a aparecer no chão, enquanto o báculo brilhava. Inversion foi envolvida pelos fachos de luz que saíram do báculo e dessa vez, permaneceu passiva, apenas sorrindo.

A carta continuou brilhando e, diferente do que esperavam, a luz não diminuiu, continuou se intensificando. Sakura, no corpo de Hermione, correu até a amiga e apanhou sua mão. No instante seguinte todos na sala foram obrigados a fechar os olhos, estavam sendo ofuscados por uma explosão de claridade que, pouco depois, virou escuridão.

...



Hermione respirou fundo ao sentir que a luz forte havia sumido e reconheceu a sensação latejante que tinha na cabeça. Hesitante, abriu os olhos devagar e observou tudo ao seu redor. Estavam de volta ao agora aglomerado Beco Diagonal. Arregalou os olhos e chacoalhou Sakura, que ainda estava ao seu lado de olhos fechados.

Sakura, ao ser chamada, abriu os olhos e ao ver onde estavam, também os arregalou.

Estavam do lado de fora da loja, no Beco Diagonal, com seu piso de paralelepípedo gasto, suas lojas antigas, as ruas lotadas de pessoas e acima delas um céu nublado familiar, já escurecendo pelo fim de tarde.

- Voltamos? – Sakura perguntou receosa, notando que estava em seu corpo. – Realmente voltamos, Hermione-san!

- Sim! E nos corpos certos! - Hermione concordou, gesticulando para si mesma e para a amiga, finalmente nos devidos corpos. - Parece que voltamos no tempo também. - completou, depois de ser agarrada por um abraço de Sakura.

Abraço que Hermione correspondeu com vontade. Juntas, as duas riram e giraram, esbarrando em alguns passantes do Beco, que olhavam as duas convencidos de que eram loucas.

- Então... vai ser como se nada tivesse acontecido? - Hermione perguntou ao soltar Sakura.

- Acho que sim. Mas é melhor entrarmos em contato com Kero e o Eriol para termos certeza, mas é bem possível que só nós duas nos lembremos. - Sakura comentou, soltando a amiga. Antes de lembrar de algo. - E a Inversion?!

Hermione agitou-se também ao lembrar da carta, mas ao olhar para as próprias mãos, viu que ainda segurava o livro onde a carta estava guardada. Esticou-o para Sakura, que o agarrou e folheou até o meio.

- Ela está aqui! Olhe!

E realmente, lá estava a carta, só que em vez de uma simples ilustração, era uma carta real, metida no meio do livro.

- Agora é só levá-la para junto das outras cartas. Quando chegar em casa vou transformá-la em Carta Sakura para ficar junto com as outras. Nunca mais se sentirá abandonada. Eu prometo. - disse Sakura, apanhando-a com cuidado e colocando-a junto ao peito. - Hermione-chan... Posso levar seu livro comigo só por via das dúvidas? É melhor que o Kero analise-o. - pediu Sakura.

Hermione olhou o livro um pouco triste. Tinha comprado porque queria realmente lê-lo e seria também uma recordação da sua nova amiga e da própria Inversion. Acabara criando um certo afeto por aquela moça enorme e de expressão tão viva. Mas concordava que era melhor o livro ir para as mãos de alguém que conhecesse-o e pudesse lhe dar o melhor destino.

- Sim, acho que é melhor - respondeu Hermione, mas não escondeu a tristeza que sentia em deixar o livro e a carta partirem.

Sakura percebeu Hermione aflita e indecisa. Sabia que a amiga tinha criado um certo apego pela Carta, que também mostrara o mesmo sentimento em relação a Hermione. Não queria deixar a amiga inglesa triste.

- Já sei! - exclamou. - Você não disse que seu período de férias iria conciliar com o fim da convenção? - perguntou Sakura.

- Sim - Hermione assentiu, sem entender onde a amiga queria chegar.

- Então, que tal você passar os primeiros dias das suas férias lá em casa? - Sakura pediu, animada. - Assim, você não precisa se separar da Inversion agora e ainda poderá ver como uso a magia para transformá-la em Carta Sakura. Se tudo sair bem, você ainda traz o livro de volta. E de bônus posso te levar para conhecer Tóquio!

- Ah? Sério mesmo, Sakura? Seria tão perfeito! - Hermione exclamou, animando-se também. - Mas não tem problema? Quer dizer, eu não tenho dinheiro para viajar de avião agora e....

- Poderíamos pedir para Eriol nos emprestar a lareira dele! – Sakura sugeriu, piscando seus grandes olhos. - Ah, vamos? Vai dar certo. Por favor? - pediu Sakura, fitando Hermione com sua melhor cara pidona.

Hermione riu com a expressão da bruxa mais nova, mas não conseguiu conter a animação.

- Não precisa pedir “por favor”. Eu estou mesmo doida para conhecer mais do Japão e da magia de lá. Mas precisamos conversar com os meus pais e o seu pai também, Sakura. Melhor termos a permissão dos mais velhos. - Hermione, sendo a menina responsável que era, a lembrou.

- Concordo. Vamos encontrar seus pais no Hotel e de lá ligamos para o meu pai e para o Eriol! Tenho certeza que todos vão concordar. - afirmou Sakura, devolvendo a carta para dentro do livro com cuidado para ela não cair.

Mas Hermione a impediu.

- Espere um pouco!

- O quê?

- Ela foi esquecida aí dentro, é melhor deixá-la no seu livro de magia, junto com as outras.

- É verdade! – Sakura entregou a carta e o livro para Hermione. – Segure um pouco pra eu pegar o outro.

Hermione concordou com a cabeça, enquanto olhava sorridente para a figura estampada na carta. Depois que Sakura apanhou o livro e o abriu, Hermione tocou a figura, como se fizesse um carinho com a ponta dos dedos e sorrindo a agradeceu.

- Obrigada por tudo, Inversion. Por ter nos trazido de volta e por ter aceitado ser uma carta Sakura. Obrigada por ter me proporcionado essa aventura – ela disse, e a carta brilhou em resposta. Hermione ainda sentiu um calor sob seus dedos, notando que era a forma da carta demonstrar que havia entendido. - Quando chegar no Japão conversaremos mais, eu prometo – disse, guardando-a dentro no livro de Sakura, em cima das outras cartas de cor rosa.

Depois disso Sakura fechou o livro com cuidado e o guardou em sua bolsa, guardou também o que estava com Hermione e então enlaçou o braço da amiga e a puxou para andarem mais rápido. As duas seguiram em direção aonde os pais da inglesa estavam hospedados.

Hermione sorriu com a animação da mais nova e apertou o passo para acompanhá-la. Estava cansada depois de tudo que tinha acontecido, mas feliz pelo resultado. Tinha feito novos amigos, boas recordações e aprendido muito mais sobre magia. E agora ia poder aprender um pouco mais sobre a cultura e principalmente a magia usada em outro país. Um acaso desses não poderia ter acontecido de forma melhor.

Fim.


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Notas finais do capítulo

Se vocês gostaram desta fic, comentem-na agora mesmo!



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