Madness escrita por Valentina


Capítulo 1
O Fim


Notas iniciais do capítulo

Olá gente!! Como super fã de jogos vorazes, não aguentei terminar a minha fic do TWD antes de começar essa. Estou preparando essa história há um tempinho, portanto decidi postá-la. Espero que gostem!!



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Annie... Annie...

Meu pulmão arde, e minha respiração está desregulada. Eu estou ofegante, e minha visão está completamente enevoada pelos demônios que me assombrarão a partir desse dia. O hino começa a tocar, e como água escorrendo pelo ralo, aquele volume de oceano foi se esvaindo aos poucos, e a Cornucópia, por sua vez, foi emergindo, sua ponta brilhando em resposta aos raios de um Sol que aparecera instantaneamente. Eu não enxergo nada além de trevas, e um arrepio corre pela minha espinha ao me deparar com a possibilidade da cegueira. Mas não, não é isso. Só é medo. Levo minhas mãos aos meus ouvidos, tampando-os, porque os sons de tiros de canhão ainda estouram meus tímpanos vagarosamente. A paisagem desfocada começa a tomar formas; a terra torna-se escura e úmida, como quando cheguei aqui. O céu está coberto por nuvens e reflete um azul-bebê maravilhoso, como se passasse a esperança de que tudo dará certo. Mas não dará.

O vencedor da septuagésima edição dos Jogos Vorazes é Annie Cresta, representante do Distrito 4! – diz Caeser Flickerman.

Eu compreendo suas palavras individualmente, mas juntas, elas não têm nexo algum para mim. O volume do hino torna-se cada vez mais insuportável, e eu quero gritar. De fato, devo ter gritado, mas não escuto minha própria voz. Finalmente desmaio (ou morro), cedendo aos desejos de minhas pálpebras. Talvez eu não queira mais acordar.

Annie... Annie...

Não sei dizer se estou morta. Vultos correm pela floresta que reconheço como Arena, e identifico-os como os assassinos de Leo. Eles pertencem ao Distrito 7, e carregam consigo um machado cada. Seus olhares são furiosos e amedrontadores. Eles estão me procurando, mas estou escondida no topo de uma árvore, atônita e lamuriosa. Eu não sinto as lágrimas rolarem pelo meu rosto, mas sei que elas rolam. A cabeça decepada de Leo está a poucos centímetros do resto de seu corpo inerte. Eu não pude e nem posso impedi-los. Em breve, eu serei a próxima; morrerei e me juntarei a ele, deitada para sempre em um caixão simples de madeira, imersa em um sono profundo do qual eu nunca mais acordarei.

Sinto a brisa do meu Distrito bagunçar meus cabelos e acariciar minha nuca. Ouço as gaivotas e as vejo voando, e também ouço o barulho das ondas. Meus pés estão fincados na areia macia, branca e fina. O sol está brilhando e o céu está limpo. Fecho os olhos para apreciar esse momento em toda sua magnitude, mas ao abri-los me deparo com uma luz tão intensa que se não estava cega, deduzi estar agora. Tento levar as costas de minha mão a fim de proteger minha visão, mas eu não as sinto. Não sinto nada. Ouço murmúrios, pessoas estão debatendo sobre assuntos que meu conhecimento leigo jamais permitirá total compreensão. Incisão, estável, taquicardia, seqüelas, são apenas alguns dos vocábulos utilizados com freqüência. Meus olhos rapidamente se fecham, cansados de tentar inutilmente enxergar alguma coisa.

Dessa vez, minha mente vagueia pelas lembranças pré-arena. Estou ao lado de Finnick, treinando minhas habilidades em fazer nós. Mags nos assiste com um olhar presunçoso e um sorriso sincero enquanto lê um manual de sobrevivência básica. Sinto tremores quando a mão dele toca a minha, quente e segura. Ele diz que estou me precipitando, e que o nó ficará frouxo dessa maneira. Leo treina sua mira com o tridente, mas não é muito bom nisso. Ele parece se dar melhor com facas pequenas. O sorriso de Finnick em resposta ao meu nó de diamante é largo e branco. Não consigo sorrir de volta, pois sei que não sou bonita como ele. Leo o chama para ajudá-lo com o tridente, deixando-me com as palavras sábias de Mags. Não posso ouvi-la, e de repente, tudo ao meu redor começa a derreter. Agora, estou presa em um cubículo preto.

Meus olhos se abrem, arregalados. Sinto-me desnorteada e pesada, como se meus ossos fossem feitos de chumbo. O cômodo em que estou é branco e parece limpo demais para pertencer ao meu Distrito, e, aliás, não cheira à maresia. Estou usando uma espécie de camisola, fina e confortável o bastante para fazer com que me sinta nua. Vários fios estão penetrados em minhas veias, transportando líquidos incolores que desconheço. Tudo estaria muito quieto, se não fossem pelos tiros de canhão que ainda ecoam em minha mente.

Quero me debater, sair dali o mais rápido possível; entretanto, é claro que não posso fazer isso. Não estou controlando as rédeas de mim mesma. Por que eu estou aqui? Isso seria a morte?

Ouço passos pesados se aproximarem de onde estou. O barulho que produzem de encontro ao chão fica cada vez mais audível, e meu coração acelera por não saber de quem se trata. Alguém está vindo me matar, para terminar o serviço que deveria ter sido feito na Arena? Subitamente, encontro-me desesperada. Não consigo gritar, então fecho os meus olhos com força. Contudo, a curiosidade de conhecer o visitante é maior, então eu os abro tão logo os fechei. O som das dobradiças sem óleo propaga-se pelo ambiente. A porta se fecha, e os passos se aproximam de mim – eu não consigo virar a cabeça para identificar seu dono.

“Como está se sentindo hoje, Annie?” – uma voz masculina e simpática pergunta. Pondero responder, mas não sei se ele é confiável.

Ele permite que eu veja suas feições, pondo a si mesmo bem em cima de meus olhos. O homem é um adulto de cabelos dourados e ondulados. Seus olhos são castanhos e brilhantes, porém envoltos por olheiras profundas e arroxeadas. Possui uma barba por fazer, e duas gentis covinhas nas bochechas quando sorri.

“Não consegue falar ou apenas não quer conversar?” – ele sorri novamente, mas desta vez, seu sorriso é forçado. Seu tom, no entanto, permanece o mesmo, bondoso e melodioso.

Mais uma vez, indago as conseqüências de dizer a ele o que está se passando comigo. Se ele fosse indigno de confiança, poderia dar a ele exatamente o que quer; informações para conseguir me matar de uma vez por todas. Mas se for digno, pode me ajudar a parar de me sentir pesada e tonta. Decido que é melhor me manter quieta.

“Bem, acho que ainda deve estar em estado de choque” – ele diz, levemente decepcionado. Ele se afasta do meu campo de visão, e então ouço barulhos de bipes e alarmes baixos. Presumo que está manuseando as máquinas que estão cuidando de mim. Há um som de papel sendo rabiscado, e finalmente, os passos pesados abrem a porta.

Quero me levantar. Reúno todas as forças restantes em meu corpo, mas não consigo erguer os chumbos dentro de mim. Bufo e me dou por vencida. Não quero fechar os olhos, pois temo o que há atrás deles. Repentinamente, ouço uma gritaria. Duas pessoas estão discutindo, cada uma elevando o tom o máximo que pode. Estão brigando, e posso distinguir os socos das agressões verbais. Os pés de alguém parecem afundar o chão, e pelo modo como consigo escutá-los perfeitamente, acho que estão vindo para o meu quarto. Meu coração dispara novamente, e a sensação de morte invade o meu ser; na verdade, essa sensação já está impregnada em mim, mas em certos momentos, torna-se mais presente. A porta se abre bruscamente, e então há uma paralisação. Eu quero muito saber quem é.

“Annie” – um sussurro triste paira no ar. Eu sei quem é. – “Annie” – ele repete com mais clareza, e não pode se conter de onde está, e percebo que caminha em minha direção.

“Finn” – minha voz soa rouca e incrivelmente baixa. Deve fazer muito tempo que eu não a utilizo, e desde que minha garganta está áspera, não poderia esperar um resultado melhor que esse. Mas sei que foi o suficiente, pois sinto uma mão quente e segura pousar sobre a minha. Quero me mover, abraçá-lo, dizer a ele as coisas terríveis que aconteceram comigo. Porém, eu mal posso pronunciar seu nome.

“Eu estou aqui” – ele reconfortou-me.

Não consigo segurar minhas lágrimas, que teimam furiosamente em escapar pelos meus olhos. Elas caem desesperadamente, e me vejo soluçando. Preciso chorar.

“Tudo bem, tudo bem” – ele afaga meus cabelos, e leva seus lábios até a minha testa. Posso ver seu rosto depois de tanto tempo, e não me surpreendo por não notar diferenças. Continua belo como sempre foi, e sempre será. – “Você está viva, e é o que importa” – ele sorriu gentilmente, como quando nos conhecemos.

“Não vá embora” – eu quero dizer muitas coisas, mas no momento, sei que o mais importante é isso. Estou frágil e não quero que ele me deixe por puro egoísmo. Não quero que ele solte minha mão, e receio que tudo não passe de um sonho. Sinto-me prestes a explodir com o pensamento de acordar na Arena.

“Não, não” – ele entrelaça seus dedos nos meus com força e encara fundo nos meus olhos. Sinto-me segura. – “Prometo que nada irá acontecer com você” – ele se contorce para puxar uma cadeira, pois logo ele está sentado.

Sei que ele me encara, mas infelizmente não posso fazer o mesmo. Será que ele está orgulhoso? Para estar aqui, eu devo ter vencido os jogos. Como eu venci? Não me lembro de nada. Tudo realmente acabou? Tão difícil de acreditar.


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Notas finais do capítulo

Não costumo escrever capítulos tão grandes, espero que não percam o ânimo pra ler.
Beijos!!



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