Os gêmeos escrita por Acid Blue


Capítulo 1
Romeu e Julieta




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Uns me chamariam de pervertido, depravado, degenerado, doente, aberração ou até mesmo de monstro. Mas eu digo que sou apenas um garoto apaixonado por algo que é visto com maus olhos pela sociedade atual. E talvez seja, realmente, algo degenerado e depravado o que eu sinto, mas eu simplesmente não posso negar essa paixão.

Eu sempre fui aquele típico aluno de primeira carteira: aplicado, esforçado, estudioso. Andava com as pessoas certas, não bebia álcool, não fumava, nunca tirei uma nota abaixo da média e nos meus treinos de natação era sempre o melhor. Mas as pessoas, principalmente os professores, não podiam deixar de comparar o meu jeito com a personalidade conturbada de minha irmã gêmea, Diana.

Ela sempre fora indomável, rebelde até o último fio de cabelo ruivo, não gostava de receber ordens e fazia as próprias regras. Diana fumava, bebia, ia a festas e só voltava de madrugada, não se esforçava nos estudos (apesar de não tirar notas baixas), andava em más companhias e estava sempre metida em alguma confusão.

Apesar de todas as diferenças nós sempre fomos muito próximos. Até uma tarde, quando tínhamos doze anos, que nosso primeiro contato romântico aconteceu e nós nos afastamos.

-Nico.

Diana e eu estávamos sozinhos em casa, nossos pais haviam ido a um jantar de negócios. Olhei para ela de soslaio. Uma faixa de luz solar alaranjada tocava seus cabelos ruivos e ondulados, fazendo com que eles parecessem em chamas, as sardas no rosto davam-lhe um ar inocente e os incrivelmente grandes olhos verdes me encaravam espoletos.

-Diana?!

Naquele dia estávamos assistindo um filme de romance que passava na televisão. Havia muitos beijos e abraços em cada cena. Eu não gostava, mas era a vez dela de escolher o canal e eu não tinha mais nada para fazer. Então acabei ficando por lá mesmo. Além de sempre ter apreciado a companhia da minha irmã.

- Você já beijou igual nos filmes?

Encarei-a para ver se estava brincando, mas a pergunta havia sido séria. Eu corei no instante que notei que deveria responder. Não era o tipo de coisa da qual eu falava, meus amigos até iniciavam esse assunto, mas eu rapidamente me afastava, não gostava de falar daquilo. Eu era apaixonado pela mesma menina desde que me entendia por gente e, para mim, era uma traição falar de outras garotas.

-Não. – respondi por fim. – E você?

- Também não. Eu queria muito saber como é. – Ela ficou algum tempo em silencio e parecia que algo estava maquinando em seu cérebro. – Você quer saber como é?

- Sim.

- Não tem problema se nós nos beijarmos, seria fraternal... sem... sem segundas intenções, só para saber como é... Você... me beijaria? – Seu rosto estava corado e ela olhava para baixo, parecia tímida e envergonhada por dizer aquilo, mas não retirou o que havia dito.

Eu estava realmente confuso. Ela era minha irmã, mas mesmo assim eu sentia vontade de beija-la. Sempre senti, não era apenas por curiosidade ou pela proposta repentina, que eu estava confuso. Mas por finalmente notar que o amor que eu sentia por ela não era apenas fraternal, era uma paixão, uma vontade de sempre estar junto dela, de beija-la.

E também não era de agora que eu pensava nesse amor. Eu já havia pensado nessa atração que eu sentia por ela, mas sempre espantava o pensamento de minha mente. Afinal era errado se sentir atraído por sua irmã gêmea, é algo antinatural, nojento e depravado. Mas eram meus sentimentos, apesar de tudo.

Não disse uma palavra sequer. Aproximei-me dela, segurei-lhe o queixo com a mão tremula e levantei-lhe o rosto. Ela me olhava seria com os olhos verdes levemente arregalados, ela era tão linda, tão encantadora e misteriosa. Estando tão perto dela eu podia sentir seu cheiro: sabonete de baunilha e perfume de rosas. Um cheiro tão doce, inocente e atraente. Sua presença e seu cheiro me hipnotizavam me prendiam naquele momento, que eu desejei ser eterno.

Lentamente aproximei meus lábios dos dela, apenas tocando-os com os meus num primeiro momento. E com os olhos fechados selei nossos lábios em um beijo. Era um beijo calmo, curioso, como se quiséssemos aproveitar completamente a companhia um do outro. Mas aquilo teria de acabar, e quando nossos pulmões clamaram por ar nos separamos.

Depois do beijo ficamos alguns minutos nos encarando. Eu com um sorriso assustado e afoito, já ela parecia estar encantada, como se houvesse descoberto o mundo secreto das fadas. Diana sempre foi a menina mais travessa, gostava do proibido e nada a impedia.

E ela me beijou de novo. Passamos boa parte da tarde assim, trocando beijos proibidos no sofá.

Mas depois desse dia, depois de tantos beijos, nada foi o mesmo. Eu não conseguia mais falar com ela, nem se quer olhar em seu rosto. Não por nojo ou algo assim, mas por medo. Medo de que ela me odiasse, medo que ela se sentisse suja por ter me beijado, medo das consequências daquela tarde.

Mas eu não deixei de pensar naquele dia, nos beijos que trocamos. Eu gostei, foram bons, eu não posso negar, mas não era algo com o qual eu podia lidar. Eu sentia como se precisasse reprimir aqueles sentimentos de forma tão profunda que eles nunca alcançassem a superfície novamente. Mas eles sempre alcançavam e eu me via perdido em minha paixão.

Mas três anos depois do ocorrido estávamos, de novo, sozinhos em casa, assistindo a um filme de romance no mesmo sofá.

O silencio na sala estava terrivelmente incomodo e eu simplesmente não podia continuar naquele lugar nem por mais um segundo. Aquele clima estava me massacrando. E apenas para sair daquele lugar, resolvi fazer pipoca, aquilo me daria alguns segundos para me acalmar.

- Eu vou fazer pipoca – anunciei me levantando do sofá – Você vai querer? – Perguntei me apoiando no arco que separava a sala da cozinha.

Diana me encarou, os olhos verdes pareciam tão perturbados quanto os meus. A ansiedade estava estampada em nós dois. Afinal, uma pergunta não saia de nossas mentes: “O que vai acontecer a seguir?”. E quem ousaria responder?

- Você se lembra?

Assim que ouvi aquela pergunta meu coração disparou. Uma pergunta um tanto tola. Como eu poderia esquecer o meu primeiro beijo, como poderia me esquecer daquele dia que eu me senti como se estivesse nas nuvens, como me esquecer de como o meu coração se acelerou? Eu me lembrava, apesar de uma parte de mim querer esquecer. Mas eu sabia que no fundo eu sempre lembraria e nunca seria uma lembrança ruim.

Mas eu não sabia como responder. Eu tinha medo de responder sim, e também não queria dizer que não. Eu não queria magoa-la, eu a amava tanto.

- Sim. – sussurrei.

Os olhos dela se encheram de algo que eu considero maligno. O último mal a sair da caixa de Pandora, aquilo que leva homens a abismos profundos ou o que pode tirar um de lá. Esperança. O monstro da espera, o monstro da credulidade, da irracionalidade.

Ela se levantou e se aproximou de mim. Seu quadril se movendo de forma sensual apertado pelo short jeans curto, a blusa preta com renda no decote delineando suas curvas bem distribuídas e o cabelo ruivo bagunçado. Ela era linda assim: de short jeans, blusa simples, sem maquiagem e os cabelos bagunçados.

Ela chegou tão perto de mim dando-me, novamente, a oportunidade de sentir seu cheiro. Na ponta dos pés com os lábios na altura do meu queixo. Olhando nos meus olhos daquela mesma forma de anos atrás: espoleta. Ela sussurrou:

- Eu quero te beijar de novo.

Ela tão perto, seu cheiro tão inebriante, seu corpo tão quente, seu rosto tão lindo. Mas eu não podia, ela era minha irmã. Pelo menos era o que o meu cérebro dizia, mas meu corpo, meus instintos, diziam “Vai! Vai! Vai!”. Infelizmente eu ouvi a razão naquele momento e dei um passo para trás.

- Eu não posso. Nós não podemos, somos irmãos. Aquele dia foi muito bom, você beija tão bem. Mas não. – Minha voz saindo firme, contrariando os sentimentos dentro de mim.

Diana me olhou com escarnio, como sentisse decepção e nojo de mim. Deu o seu passo para trás e se virou de costas.

- Tanto faz, você é um merdinha mesmo. Vou sair, não me espere seu idiota. – Ela disse tudo isso e saiu.

E mesmo sabendo que tudo aquilo que ela havia dito era verdade, eu simplesmente me virei e fui fazer a minha pipoca.

Eu era um merda por não enfrentar os meus sentimentos, eu era um merda por dizer não ao único amor que eu teria em toda a minha vida o que eu sentia. Eu era um idiota por me matar de ciúmes ao vê-la toda semana com um namorado diferente, eu era um idiota por não lutar por ela.

Três anos depois desse dia eu continuava afastado e apaixonado por ela. Diana continuava distante e com seu jeito incontrolável, ainda era a mesma com a beleza rara.

Mas algumas coisas haviam mudado minha mãe e meu pai haviam se separado, pois nosso pai estava traindo minha mãe com a secretária do hospital onde ele trabalhava. E ela estava passando por uma depressão profunda, tomando remédios que a deixavam fora de si em alguns dias e ela vivia depreciando minha irmã por ser do jeito que ela era. Mas ainda me tratava como seu tesouro por ser sempre um “bom menino”.

Com a prática da natação eu havia conseguido um corpo bronzeado, forte e alto. Meus cabelos ruivos agora puxavam mais para o ruivo acastanhado, eu sempre deixava minha barba levemente mal feita. Diana continuava com os cabelos alaranjados, as curvas muito bem desenhadas ficavam a cada dia mais bonitas, o rosto delicado e inocente continuava o mesmo, a pele leitosa de nada havia mudado.

Naquela noite minha mãe estava no quarto dela dopada de tantos remédios para depressão e para dormir. Diana havia ido para mais uma de suas festas regadas a muito álcool, drogas, cigarros e sexo. E eu fiquei em casa relendo o livro para a prova de segunda-feira.

Eu estava deitado olhando para o teto esperando o sono chegar quando ouço um barulho de algo se quebrando na sala. Desço as escadas e me deparo com Diana bêbada deitada no chão perto de um vaso quebrado.

Ela estava tentando se levantar, mas a bebida havia afetado seu equilíbrio. Ajoelho-me perto dela e a ajudo a se levantar, passo um braço pela sua cintura a carregando até o banheiro. Ela cheirava a maconha, cigarro, urina e whiskey. No banheiro coloco-a sentada na privada e tiro seus coturnos imundos.

- Eu não quero tomar banho. – Falava com uma voz manhosa e arrastada. A boca pintada de carmim apertada em reprovação.

- Faz bem e a água está quentinha. – Argumentei tirando-lhe as meias

E mesmo não tendo discutido verdadeiramente comigo ela pareceu cansada o suficiente para não continuar a falar. Assim que coloquei as mãos no botão do seu jeans rasgado e sujo de terra eu tomei consciência do que estava fazendo e meu coração começou a bater mais rápido. A excitação correndo pelas minhas veias, a ansiedade me preenchia, os hormônios tomando o poder na minha mente. Baixei os jeans dela revelando suas pernas alvas e torneadas, e sua calcinha preta de renda com lacinhos vermelho sangue. Tirei sua blusa negra de alcinha deixando seus seios medianos expostos. Quando coloquei minhas mãos dos lados de seu quadril, ela segurou-as e com a voz arrastada protestou:

- Eu vou ficar nua. – ela me encarava com os olhos verdes envoltos pela tradicional camada de maquiagem preta.

- Não me diga. – revirei os olhos ao dizer a frase.

Diana tirou as mãos das minhas e eu retirei a sua ultima peça de roupa. O corpo cheio de lindas curvas, a pele alva e sem um pelo sequer. Ela era linda e quando eu pude finalmente a ver os meus hormônios de um adolescente de 18 anos subiram-me a cabeça. Mas eu não iria fazer nada com ela naquele estado, se tivéssemos um contato mais intimo eu queria que ela estivesse consciente, que ela aproveitasse também.

Liguei a torneira da banheira e quando já estava completamente cheia eu imergi minha irmã na água quente. Deixei-a ali na banheira e sentei-me na privada observando-a se lavar, mas o sono retomou as rédeas depois de algum tempo e eu acabei adormecendo.

Abri meus olhos e me deparei com minha irmã sentada na banheira dormindo. Ela parecia tão serena com os olhos fechados, os cílios alaranjados e longos chamavam a atenção em sua pele pálida e os desenhados lábios cor de sague entre abertos.

Assim que me levantei e fui abrir a porta senti uma mão úmida tocar meu pulso me segurando. Olhei para Diana e seus olhos ainda estavam enevoados pelo sono. Ela parecia ser a sereia mais bela olhando para mim, convencendo-me sem nem dizer uma palavra a entrar n’água e deixa-la levar-me para a morte certa – sugando minha alma e meu amor.

Ela se aproximou de mim, saindo da banheira. Novamente nossos corpos perto um do outro, nossos olhos fixados nos olhos alheios, nossos cheiros se misturando e aquele imã invisível que nos atraia fazendo seu trabalho.

Diana se ergueu na ponta dos pés, apoiou as mãos em meu peito, e sem nem ao menos dar-me tempo de pensar ou negar, beijou-me. E dessa vez não como nosso primeiro beijo, aquele fora cheio de luxuria, desejo e até mesmo desespero.

Minhas mãos seguraram sua cintura desnuda, puxando-a para mim, colando seu corpo molhado e quente ao meu. Separei nossos lábios por um instante, apenas o suficiente para segurar-lhe as coxas grossas e ergue-la em meu colo, suas pernas rodeando minha cintura.

Quando Diana já estava em meu colo e esperando por nosso terceiro beijo, eu a vi sorrir para mim daquela mesma forma que sorria quando aprontava alguma de suas peripécias. Eu era um menino apaixonado. E sem pensar novamente ou reparar em algo tomei seus lábios para mim novamente.

Segurando-lhe apenas com um dos braços abri a porta do meu banheiro, entrando em meu quarto e deitando minha idêntica em minha cama.

Naquela manhã nos tornamos um, cometemos um pecado, mas também nossa salvação. Pois era um no outro que encontrávamos paz e luz nesse perdido mundo escuro. Nos gemidos um do outro nós chegamos ao céu juntos.

Estávamos deitados na cama ofegantes, suados e com sorrisos embasbacados estampados em nossos rostos. Ela deitada sobre mim acariciando meu peito e eu com uma mão apoiada em suas costas afagava-lhe a pele macia. Eu estava feliz como se finalmente as peças do mundo se encaixassem e o livro mais confuso do mundo se tornasse o mais claro.

- Eu te amo. – disse ela.

E mesmo sabendo que aquela confissão não precisava de uma resposta, pois nunca havia sido de seu perfil cobrar nada de ninguém, eu lhe respondi. Afinal era o que eu sentia, e colocar aquelas palavras para fora trouxeram um alivio para o meu peito gigantesco.

- Eu, também, te amo. – Falei beijando-lhe o topo da cabeça.

E para o nosso espanto a porta do meu quarto fora escancarada com uma força tremenda. Minha mãe estava ali parada olhando-nos, mas sua expressão não mudou em nada. Ela saiu, deixando eu e Diana sentados lado a lado, com o lençol cobrindo nossos corpos, olhando para a porta, ambos sem reação.

Por fim minha mãe voltou com uma arma nas mãos e os olhos cheios de lágrimas. Primeiro atirou em minha irmã, fazendo-me a ver cair em minha cama deixando uma marca de sangue no lençol. E o segundo perfurou o meu peito.

E assim como Romeu e Julieta nosso fim foi trágico, um amor proibido sem a possibilidade de um final feliz.


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