A manhã do primeiro programa chegou depressa. Davi pulou da cama às 7h, sem sono para continuar dormindo, mesmo que não tivesse dormido quase nada na noite anterior.

Aparou a barba com cuidado, deixando-a curta e apresentável. Pegou a roupa que a mãe havia comprado e separado para a ocasião. Uma camisa jeans, camiseta branca e calça jeans escura. Colocou os tênis novos e caminhou para a cozinha, encontrando toda a família ao redor da mesa do café, que estava fartamente servida.

_ Madrugaram também? – perguntou o rapaz, sentando ao lado do irmão.

_ A gente te conhece Davi, sabíamos que você não ia dormir muito. Queríamos te fazer companhia. – sorriu Matias, dando um soquinho no braço do irmão – E eu queria desfrutar do bom humor da dona Rita, e desse café da manhã maravilhoso que ela preparou em comemoração ao seu grande dia.

_ Sem ciúmes Matias, não precisa disso. – repreendeu a mais velha – Só queremos apoiá-lo filho.

_ Muito obrigado mãe. – ele beijou a mão dela, enquanto eles começavam a se servir.

Quando foram sair de casa, às 9h, a rua toda estava esperando com faixas, cartazes e ovações. Davi foi cumprimentado por todos, e recebeu desejos de boa sorte.

_ Rapaz? – Herval o chamou, atraindo sua atenção – Tem mais algumas pessoas querendo desejar boa sorte.

Observou todos os seus alunos, atuais e que já haviam se “formado”, enfileirados e sorrindo para ele. Um deles, o mais novo, chamado Daniel, correu até o ex-professor com um notebook velho em mãos. Ele passou para Davi, que estava ajoelhado a sua frente.

_ Você conhece o código, professor. Foi você que ensinou. – ele sussurrou bem próximo ao ouvido do rapaz, antes de abraçá-lo e correr de volta para junto dos colegas. Davi deu um sorriso enorme, antes de abrir a tela do notebook.

Digitou o código que ensinava a todos os alunos em sua primeira aula, e o computador começou a roda um vídeo. Fotos de suas aulas, de seus alunos, mensagens de agradecimento e de como ele havia mudado suas vidas com o que ensinava. Das crianças atualmente, aos jovens que já haviam sido essas crianças, Davi pode ver ali quantas vidas ele havia tocado e, acreditava, mudado para melhor.

_ Muito obrigado gente, de verdade. – ele agradeceu a todos – Vocês não sabem quanto a torcida de vocês é importante.

_ Nós sabemos que você consegue. – garantiu um dos vizinhos – Todos te conhecemos Davi, e conhecemos seu potencial. Esse reality já é seu.

_ Eu não teria tanta certeza assim. – todos suspiraram ao ouvir a voz azeda de Glaucia, que se aproximava com toda a gangue, incluindo Danilo – O Davi pode ser um hackerzinho bom. Mas o Danilo é um Marra, tem o sangue e o talento do tio. Quem vai ganhar essa fortuna, é ele.

_ Não é uma fortuna que está em jogo, mas o controle de uma empresa que pode mudar cada vez mais o mundo. – lembrou Rita, e a loira falsa fez sinal de descaso.

_ E tudo isso se resume em: dinheiro. E esse dinheiro será do meu neto, tão bom e genial quanto o pai dele. – garantiu ela, apertando a bochecha de Danilo – Agora, se nos dão licença, nossa limusine nos aguarda.

Todos a observaram se equilibrar nos saltos ridiculamente altos, enquanto andava até o carro preto da Marra, que de limusine não tinha nada. Danilo a seguiu de perto, com os pais atrás. Danusa foi a última a partir, passando ao lado de Davi e sorrindo.

_ Dá uma surra nele por mim, por favor. – pediu, fazendo o rapaz rir.

_ Pode deixar, terei o maior prazer com isso. – ele prometeu, enquanto a via correr atrás dos familiares.

_ Pronto para ir? – perguntou Dante, abraçando o filho adotivo.

_ Que comece a minha nova vida. – sorriu Davi, retribuindo ao abraço do pai, enquanto caminhavam para o outro carro da Marra, que esperava a família de Davi.

~*~

Megan acordou depois das 14h, como era usual. Levantou, fez sua higiene e tomou um longo banho de sair e espuma, caminhando até o armário e separando a roupa que havia escolhido especialmente para a ocasião.

Resolveu prender os cabelos para um lado só, e caprichou na maquiagem. Escolheu bem as joias que usaria, todas muito diferentes e chamativas, e os saltos mais altos que possuía. Desceu as escadas, encontrando Pamela a sua espera.

_ Achei que já estaria in the studio. – comentou, mas a mãe negou.

_ Resolvi esperá-la honey, para que fossemos together. – ela pegou a mão da filha, as duas saindo de casa

_ Daddy já está lá? – perguntou a garota, entrando no banco traseiro com a mãe.

_ Sim, foi logo de manhã. – sorriu Pamela – Acho que está mais ansioso que os participantes.

_ Mom, você percebeu algo estranho no daddy? – Pamela arqueou a sobrancelha – I don’t know... Nos últimos dias, ele está tão carinhoso comigo. More than ever.

_ Acho que ele só está preocupado baby girl. Com Danilo, Alex... Ele não quer que você break your heart again.

_ Parece more than this. – suspirou ela – Ele me abraça toda vez que me vê, me chama de “minha filha”. Ele never fez isso.

_ Mas você também está calling him daddy, o tempo todo.

_ He start, eu apenas continuei. – a loirinha deu de ombros – Parece que isso o deixa very happy.

_ Ele te ama muito Megan, you know that.

_ I know. E eu também love him, muito. Mas eu to preocupada que tenha algo errado com ele. – confidenciou Megan – Algo que o esteja fazendo sad.

_ Eu vou tentar descobrir, ok? I promise. – Pamela abraçou a filha, as duas em silêncio.

~*~

No estúdio do reality, o clima era de tensão. Davi estava calado, um pouco amuado pela presença de Manuela. Apesar de ainda se sentir diferente pela garota, o fato de serem oponentes nesse jogo tão difícil, só esfriava o contato entre ambos, por mais que a jovem se esforçasse para se aproximar.

Eles já estavam prontos e arrumados, quando um assistente de palco se aproximou de Davi.

_ Reis? – o rapaz virou-se para ele – Acho que isso é para você.

O homem lhe estendeu um papel dobrado ao meio, com um D floreado, e se afastou. Davi desdobrou a folha, encontrando uma caligrafia desconhecida.

“Me encontre no terraço, agora. M”

A letra era floreada, então ele deduziu ser feminina. Correu os olhos no local, não encontrando Manuela. Olhou o relógio de pulso, e constatou não ser mais que 16h... Teriam tempo.

Saiu correndo, perguntando onde era o terraço. Foi sendo encaminhado, e logo chegou a uma porta de metal. Suspirou profundamente, colocando a mão na maçaneta, enquanto o estômago gelava.

Baixou a tranca e abriu a porta.

~*~

Megan chegou ao estúdio perto das 15h, e se irritou por não poder ficar com Danilo. Jonas pediu que eu ela fosse prudente, afinal, ele ainda era um participante do reality, e ela a filha do maior juiz.

Ficou algum tempo na sala para a família Marra, conversando com os pais. Mas Jonas estava muito ansioso e Pamela muito animada. Uma combinação terrível, que Megan definitivamente não aguentava.

Pediu ao pai por um lugar vazio, onde pudesse ficar com seu celular sem ser atrapalhada. Ele avisou do terraço, e disse que o sinal lá era excelente. A loirinha agradeceu, saindo aos pulos.

Até que lhe ocorreu a ideia.

Pegou uma folha e floreou um D. Escreveu uma mensagem e dobrou ao meio, pedindo que um dos ajudantes de palco levassem para o participante com aquela inicial. Disse que era urgente.

Megan correu para o terraço, sentindo a brisa fria se arrepiando o corpo. Ouviu passos na escada de ferro e virou-se para a porta, ansiosa.

Ouviu a trinca baixar e a chapa de metal ser empurrada. Não esperou nem que o peguete saísse, antes de se atirar sobre ele e selar seus lábios.