Entrei furiosamente em meu quarto fechando a porta atrás de mim. Lágrimas rolavam por meu rosto deixando minha visão casa vez mais embaçada. Sentia meus olhos inchados e uma imensa dor que me corroia por dentro. Eu estava desolada, sem chão. Apenas deixei meu corpo cair sob os pés de minha cama e continuei ali, tremendo e soluçando. Sim, meu coração estava partido. O motivo? Mentiras.

Peter vivia me cobrindo de promessas que nunca iria cumprir. Jurando-me um amor que ele nunca seria capaz de me dar. Prometendo-me companheirismo e uma vida feliz.

Senti meus ombros pesarem, eu estava tonta, então me atirei em meu colchão. Sempre tive em mente que chorar na cama era o mesmo que assumir uma postura de derrotada. Mas era assim que eu me sentia. Como se não pudesse salvar algo que há muito já estava despedaçado. Por alguns instantes me lembrei de como era Peter no início de nosso relacionamento. Um rapaz cheio de sonhos, brincalhão, cheio de amigos e que se preocupava em fazer o bem à todos a seu redor.

Saí de meus pensamentos quando ouvi leves batidas na porta. A última coisa que queria no momento era falar com alguém, então apenas me mantive calada. Aos poucos a porta foi se abrindo e uma figura alta, com belos olhos verdes e cabelos negros passou por ela. Peter.

- Sério, o que você pensa que faz aqui? – disse rapidamente limpando minhas lágrimas me sentindo irritada por ele aparecer ali.

- Eu vim me desculpar. – senti o colchão se afundar um pouco quando ele se sentou á beirada da cama.

- Pois não deveria ter perdido seu precioso tempo. – respondia seca.

Silêncio.

- Catarina, você sabe que eu não tive a intenção de te dizer aquelas coisas.

- Mas disse. E você parecia bem certo de suas palavras naquele momento. – uma lágrima involuntária correu por meu rosto.

- Aquilo foi um erro, eu nunca iria te pedir algo assim. Só me apavorei um pouco com a idéia de ser pai agora.

- Você me mandou escolher, Peter. Entre você e meu filho. Isso é horrível. – ele me puxou contra seu corpo, e eu pude ver verdade em seus olhos, algo que há tempos eu não enxergava com clareza.

- Eu garanto, de todo o meu coração, que você e o bebê serão as duas pessoas mais amadas do mundo. – ele segurou meu queixo fazendo com que meus olhos se encontrassem com os dele.

- Prometer é uma coisa muito séria, Peter. – afastei sua mão.

- Eu sei, e estou disposto a cumprir. Essa e as outras milhões que já te fiz. Quero que sejamos como antes, que recomecemos novamente. Por favor. – ele pediu carinhosamente, e meu coração se derreteu.

- Olhando você assim, me lembro de como tudo começou. Eu, você, uma garrafa de 51 e uma pista de dança lotada. Naquela época você era bem mais divertido. – sorri ao lembrar das idiotices que ele fazia.

- Seus cabelos desgrenhados... É, me lembro bem. – sorriu ele estridente levando novamente as mãos ao meu rosto. – Eu te amo. – senti suas mãos acariciando levemente meu rosto e logo ele selou nossos lábios. Esgueirei-me mais pra perto a fim de aumentar a proximidade de nossos corpos, me sentir novamente segura em seus braços, como me sentia antes de tudo isso. Ali estava o meu Peter, me acolhendo em seus braços como antes, me dizendo que tudo ficaria bem, algo que eu queria ouvir desde quando as complicações começaram. Senti sua língua pedindo passagem, e eu cedi. Meu coração batia tão forte que parecia que a qualquer momento saltaria do peito.

O beijo parou e então acariciei seus cabelos, ele sorriu com o toque.

- Eu também amo você. Vocês. – sorri olhando para minha barriga. Novamente voltei o olhar a Peter, ele parecia perdido em pensamentos. Chamei por ele, porém ele parecia não me ouvir, sentia minha respiração ficar pesada. Logo sua imagem foi se apagando aos poucos e logo minha visão se escureceu, até que uma brecha de luz invadiu meus olhos.

Abri os olhos, meio perdida. Procurei por Peter, mas ele não estava mais ali. O quarto estava vazio. Apenas eu, e a tristeza que me corroia. Eu sentia vontade de voltar a chorar. O meu Peter não havia voltado. Ele não se arrependera das coisas que tinha me dito. Meus lábios tremiam novamente com a vontade de chorar. Então, murmurei dando-me por vencida:

- Foi apenas um sonho...