Eu tentei controlar o rumo das coisas mas eu confesso ter perdido grande parte da sanidade quando Travis tocou meu rosto enquanto me beijava. Sempre tive uma quedinha por caras que pareciam me adorar quando me beijavam e era exatamente assim que o Becker fazia com que eu me sentisse. Adorada. Acho que essa palavra pode realmente descrever a sensação que eu tive. Mas como tudo na minha vida pode se tornar uma bagunça de um minuto para o outro enquanto Travis andava comigo pela sala - me beijando ainda, diga-se de passagem - nós tropeçamos no tapete e numa tentativa ridícula de me segurar eu agarrei a cortina nova da minha mãe e nós dois fomos direto para o chão. Com a cortina. Obviamente não preciso dizer que o clima foi completamente quebrado e eu voltei a minha sanidade mental na velocidade de um raio atingindo a terra.

– Porque fez isso, Becker? - Eu praticamente gritei enquanto levantava do chão o mais rápido possível e me afastava dele.

– Eu quis, você quis, eu não vi porque não ir lá e nós fazer um favor. - Travis disse tranquilamente enquanto deitava com os braços atrás da cabeça numa pose descontraída. Meu sangue ferveu e então eu precisava gritar e xingar o máximo que eu pudesse. Travis sorriu de novo e eu rosnei pra ele.

– Eu não queria beijar você. Nunca quis. Foi nojento. - Resmunguei enquanto me curvava sobre ele pra encarar o idiota. Talvez eu devesse parar com os movimentos impensados, Travis ergueu o rosto me beijou outra vez antes que eu o empurrasse pra longe e ele se levantasse pra ficar longos quinze ou mais centímetros acima de mim, ergui minha mão pra o tapa mais esperado da história e ele soltou uma gargalhada realmente feliz enquanto prendia minha mão com a sua. Travis baixou o rosto até a altura do meu enquanto eu me torci pra sair do aperto.

– Quando é que você vai admitir que gostou do meu beijo? - Ele perguntou olhando nos meus olhos o que claramente não me deu muita margem para uma mentira elaborada. Era uma piada dizer mas Travis me conhecia muito bem. Sempre conheceu.

– Quando eu realmente gostar de algo que venha de você. - Obviamente eu sou muito boa na coisa da mentira, eu não tremi nem pisquei como os caras mentirosos fazem, ao contrário, eu mantive meu olhar no dele e falei o com o máximo de confiança que eu tinha.

– Você gosta, só não vai admitir mas tudo bem, eu sempre soube que você era covarde. Eu vejo você no colégio, Mess. - Ele roubou um selinho rápido e correu pra fora da pseudo biblioteca da minha mãe. Encarei a cortina rasgada e tentei arrumar uma desculpa realmente boa para explicar o pedaço faltando pra minha mãe. Como se eu já não tivesse o suficiente.

Enfiei as mãos no meu cabelo e me agachei no meio da biblioteca, quando é que as coisas iriam ficar normais pra mim? Resmunguei uma serie de palavrões, os mesmos que eu tanto quis soltar em cima de Travis e olhei ao redor. Levantei depressa e desci as escadas correndo, eu só precisava limpar a cabeça de qualquer pensamento idiota sobre Travis Becker então eu fiz o que eu deveria fazer, corri para Zacky. Era o que eu faria a partir de agora de qualquer forma. Achei minha mãe na sala de tv e expliquei sobre como eu caí e tentei me equilibrar com ajuda da cortina e caí, ela aceitou já sabendo do quão propicia a acidentes eu sempre fui, perguntei a tia Linds sobre Zack e foi rapidamente informada de que ele tinha ido para a casa nova, pedi o numero e corri pra rua. Eu acho que corri demais no final de semana inteiro. Preciso parar com isso. Eu literalmente corri todo o curto caminho até a casa de Zacky e quando dei de cara com a porta percebi que não tinha o que dizer. "Oi Zacky, me desculpe por ter deixado você mais cedo para confraternizar com o inimigo, que tal você me abraçar agora e contar uma história legal?" não, não parece um bom começo. A porta se abriu antes que eu batesse e eu pulei pra trás assustada, Zacky saiu e parou na minha frente.

– Eu vi você pela janela, o que foi? - Ele perguntou enquanto enfiava metade da camiseta que tinha tirado no bolso de trás do short. Merda, onde a concentração foi parar? Hm, o que foi? Eu realmente nem sei porque eu vim aqui. Encarei meus pés e tentei achar algo certo pra falar.

– Eu acabei as coisas sobre o trabalho então eu quis ver se você precisa de ajuda aqui... - Eu tentei incerta e Zacky me encarou enquanto esfregava o rosto com as mãos. Se concentre, Melissa.

– Sempre preciso de ajuda. Tem umas tábuas que você pode segurar enquanto eu coloco uns pregos, achei esse buraco no porão e preciso arrumar antes que a minha mãe surte. - Ele disse e apontou pra que eu entrasse na sua frente, entrei na casa e me desfiz da camisa xadrez enquanto seguia Zacky até o porão.

– Você arrumou quase tudo no lugar sozinho ou a tia Linds te ajudou? - Perguntei enquanto puxava as mangas da camisa e olhava pra as costas largas e realmente bonitas dele. Eu acho que preferia quando ele era esquelético e andava tentando não bater nas coisas, pelo menos ele não me deixava nervosa e nós éramos amigos.

– Eu arrumei o que deu pra arrumar, eu não sei muito sobre a decoração no estilo da minha mãe então eu só joguei os móveis aleatoriamente. Anda, segura isso aqui, Lissa. - Eu segurei o pedaço de madeira que ele mandou no lugar enquanto ele usava aquela coisa monstruosa que é a maquina de pregos. Eu realmente detesto essas coisas.

– Ficou bom. - Tentei manter a conversa mas Zacky realmente não queria falar o que era novo pra mim. - Quando acabarmos aqui você quer ir comigo conhecer os lugares novos da cidade?

– Não. Eu tenho muita coisa pra fazer. - Mas que porcaria é essa? Eu desviei o olhar e encarei meus pés enquanto ele terminava com os pregos da primeira parte. Eu acho que deixei transparecer o quão chateada eu fiquei já que alguns segundos depois ele emendou - Mas você pode ficar aqui, nós temos uns filmes bons e eu ainda faço aquele sanduíche maravilhoso.

– Eu acho que vou ficar se isso não for um problema pra você ou pra tia Linds.

– Não vai é. Sua mãe te falou que minha mãe vai dormir lá hoje e amanhã? - Ele perguntou distraído enquanto em dava outro pedaço de madeira para segurar contra o assoalho.

– Você também vai? - Perguntei e tentei me segurar para não tirar a mecha de cabelo que caiu sobre o olho dele.

– Não. Vou ficar aqui, a casa não pode ficar sozinha com tudo aqui dentro e as fechaduras ainda não foram trocadas. - Ele mesmo tirou a mecha fugitiva de cabelo dos olhos e sorriu pra mim. Eu não sei quem autorizou ele a dar esse tipo de sorrisos para garotas indefesas, mas com certeza essa pessoa não sabia que efeitos esse sorriso poderia causar.

– Posso ficar também?

– Se a titia deixar. - Ele disse e voltou a atenção a tarefa com os pregos enquanto eu tentava me concentrar no que eu tinha que fazer. Senti meu celular vibrar no bolso e estiquei uma das mãos para alcançá-lo, deslizei o dedo pela tela e vi "Becker" piscar, abri a mensagem e li rapidamente o texto "Sonhe comigo, afinal você realmente não tem nada melhor pra sonhar. haha. xo" bati para deletar a mensagem e enfiei o celular no bolso outra vez.

– Era o cara de hoje cedo? - Zacky perguntou e só então eu percebi que ele me encarava.

– Sim, ele só vive para me irritar ou coisa assim. - Dei de ombros e olhei ao redor tentando me livrar do olhar dele.

– Você não pareceu assim tão contra ela hoje cedo. Você foi com ele assim que ele estendeu a mão, isso não me parece algo que você faria. - Eu segurei a resposta, eu não queria jogar na cara de Zacky que ele não me conhecia mais tão bem assim. Nós somos amigos que não sabem mais nada um do outro e ele não tem o menor direito de ir afirmando coisas sem o menor sentido.

– Eu não fui submissa se é isso que você quer dizer, Zachary. Eu fui porque eu realmente preciso da nota e eu não vou perder pontos só porque não gosto do Becker. - Eu disse irritada, larguei a tabua que ele tinha acabado de pregar e subi as escadas do porão o mais rápido que eu consegui. Achei a cozinha e abria geladeira procurando por água ou qualquer outra coisa. Puxei uma caixa de suco de laranja e bebi direto da tampa, foda-se saber de quem era.

– Você sabe, isso é meio mau educado. - Zacky resmungou enquanto tomava a caixa de suco de mim e a jogava na pia. - Eu não quis te irritar, Lissa. Eu só fiquei com medo do cara ter roubado o meu lugar na sua vida. Não deu pra ter cem por cento de confiança e eu não sabia se você realmente o detestava ou só estava sendo boba como sempre e quando você foi com ele parecia que vocês estariam bem um com o outro.

– Travis nunca vai ser isso pra mim, o posto de melhor amigo sempre vai ser seu. - Resmunguei e ele me abraçou pela cintura outra vez, apoiou a bochecha no topo da minha cabeça e respirou fundo, eu repeti o seu gesto e não me movi.

– Amo você, baixinha.

– Eu também amo você, QB.